A felicidade e a alegria não atraem audiências. As primeiras páginas dos jornais e as aberturas dos noticiários televisivos enchem-se de tragédias. Quanto mais devastadoras mais relevo têm. Alimentar a tragédia é um cerimonial que se estende por várias sessões mediáticas. A repetição e o exagero da sua exibição tem um efeito perverso: reduz a dimensão do impacto e banaliza a dor.
As notícias não podem e não devem ser manipuladas. A tragédia humana é por demais terrível para ser explorada. Há situações porém em que a própria tragédia supera a dimensão da notícia. O que acontece no Mediterrâneo é um desses casos.
Um mar que transformou um sonho em morte. O caminho sem regresso e o negócio hediondo da fragilidade dos oprimidos pela guerra, pela fome, pela miséria, pela ausência de futuro. O opróbrio, a vileza contra a dignidade humana permitida pela indiferença de muitos governos desta velha e dita civilizada Europa. Um sonho de muitas vidas que morre às suas portas.
Todas as notícias são pobres e insuficientes para evidenciar esta profunda tragédia humana.
Fomos pesquisar e seleccionámos estas que correm mundo.
"O papa Francisco voltou a pedir à comunidade internacional que actue de forma decisiva e com rapidez para evitar tragédias como a que ocorreu este domingo, em que 700 imigrantes desapareceram depois de um naufrágio no Mediterrâneo. «São homens e mulheres como nós, irmãos que procuram uma vida melhor, (...) a felicidade», lembrou o papa(DR) «Apelo à comunidade internacional para que actue decisivamente e com rapidez, com o objectivo de evitar que esse tipo de tragédia volte a ocorrer», disse o papa. «São homens e mulheres como nós, irmãos que procuram uma vida melhor. Têm fome, são perseguidos, estão feridos, são explorados e são vítimas de guerras. Procuram uma vida melhor, a felicidade», acrescentou.
Um recente relatório do Acnur estima que, no ano passado, 219 mil pessoas fizeram a arriscada travessia para a Itália, que partindo da Líbia tem cerca de 500km. Pelo menos 3.500 teriam morrido em acidentes.
Apenas nos últimos dias, 10 mil pessoas foram recolhidas pelas equipes de resgate italiana.
A maioria dos imigrantes vem de países africanos e de regiões de conflito no Oriente Médio, como a Síria.
Pelo menos mil pessoas já morreram em incidentes este ano, um número bem maior que nos primeiros quatro meses de 2014.
Em Outubro, as autoridades marítimas da Itália anunciaram uma redução na escala de operações marítimas para tentar coibir as tentativas de travessia. No entanto, o número de pessoas arriscando a vida para fugir da pobreza ou de conflitos manteve-se no mesmo patamar. Só que agora com menos chances de resgate caso não seja possível aportar.
As autoridades agora temem um aumento de travessias, porque nos meses do verão Europeu as condições de navegação no Mediterrâneo melhoram."BBC
Contagem infinita dos mortos no Mediterrâneo
20/04 12:37
"Os primeiros corpos dos mais de 900 migrantes mortos domingo chegaram na manhã de ontem a Malta.
O navio clandestino em que viajavam, proveniente da Líbia, naufragou provocando um dos piores desastres marítimos do Mediterrâneo.
Na mesma manhã mais uma embarcação com 98 migrantes chegou ao porto siciliano oriental de Pozzallo.
Flavio di Giacomo, da Organização Internacional para as Migrações em Itália explica: “Temos cada vez mais vítimas e por várias razões. Uma delas é o tráfico de seres humanos e as embarcações em mau estado. Em segundo lugar as operações de resgate tornam-se cada vez mais complicadas devido ao enorme número de pessoas. No ano passado, tinhamos a operação Mare Nostrum realizada pelo governo italiano que permitia vigiar uma área mais vasta de mar, mas foi cancelada. A guarda costeira está a fazer um trabalho heróico. Eles arriscam constantemente as suas vidas para realizar salvamentos. Mas há tantos sinais de aflição que são simplesmente incapazes responder a todos eles.
Desde o início do ano mais de 1.500 pessoas morreram no naufrágio de embarcações frágeis, aliciadas por traficantes que prometem a travessia do Mediterrâneo com a miragem de uma vida melhor na Europa.
Também, ontem um barco que transportava 200 imigrantes naufragou ao largo da costa leste de Rhodes, na Grécia. Por enquanto foram recuperados três corpos, incluindo o de uma criança. Cinquenta e sete passageiros foram salvos e dos restantes nada se sabe." Euronews
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Imigração: um sonho chamado “ Europa”
"O número de pedidos de asilo na União Europeia tem vindo a aumentar ao longo dos últimos anos. Em 2014, o número de pessoas a procurar refúgio num dos 28 estados-membros quase duplicou em relação ao ano anterior. Portugal foi um dos poucos países a contrariar a tendência.
Vários factores estão a contribuir para o aumento de pedidos. Desde logo, o caos político na Líbia, o avanço dos radicais do Estado Islâmico em países como a Síria e o Iraque e a instabilidade no Corno de África.
Respostas positivas e negativas aos pedidos de asilo entre 2008 e 2014
Os dados divulgados pelo Eurostat revelam que a Alemanha é o país da União Europeia mais solicitado e o que mais acolhe. Em 2014, cerca de 202 mil pediram asilo a Berlim, o que representa um terço do número total.
Em segundo lugar aparece a Suécia com 13 por cento. Segue-se a Itália e a França com 10 por cento.
This shows the percentage of postive and negative responses to initial asylum requests in 2014. Source: Eurostat
Os dados divulgados pelo Eurostat revelam que a Alemanha é o país da União Europeia mais solicitado e o que mais acolhe. Em 2014, cerca de 202 mil pediram asilo a Berlim, o que representa um terço do número total.
Em segundo lugar aparece a Suécia com 13 por cento. Segue-se a Itália e a França com 10 por cento.
Entre os que menos pedidos recebem estão países como Portugal, Estónia, Eslovénia, Eslováquia e Letónia.
Se olharmos para a evolução do número de refugiados por país entre 2013 e 2014, verificamos que a Itália registou o maior crescimento (143 por cento), seguida da Hungria (126 por cento) e da Dinamarca (105 por cento).
Portugal foi um dos cinco países da União Europeia onde o número de refugiados diminuiu entre 2013 e 2014 (-12%). As maiores quedas foram registadas na Croácia (-58%), Polónia (-47%), Malta (-40%) e Eslováquia (-25%).
Comparando com a população de cada Estado-membro, as percentagens mais elevadas de refugiados registaram-se na Suécia (8,4 refugiados por mil habitantes), Hungria (4,3) e Malta (3,2).
Pelo contrário, as taxas mais baixas foram observadas em Portugal, Eslováquia e Roménia. No total da União Europeia existiam 1,2 refugiados por mil habitantes em 2014.
Parlamento Europeu
Com o objectivo de reduzir as disparidades entre os sistemas de asilo nacionais, o Parlamento Europeu aprovou em 2013 a nova arquitectura do sistema europeu comum de asilo.
Veja o que mudou:
Procedimentos comuns
“Com vista a reduzir as disparidades entre os sistemas de asilo nacionais, as novas regras prevêem prazos comuns para dar resposta aos pedidos de asilo (seis meses, por norma), uma melhor formação dos profissionais que lidam com requerentes de asilo e um tratamento específico dos menores não acompanhados e de outras pessoas vulneráveis.”
Condições de acolhimento
“A alteração da directiva de 2003 relativa às condições de acolhimento visa garantir que a detenção de requerentes de asilo apenas seja permitida por motivos restritos e justificados (…)e assegurar que as pessoas com necessidades especiais sejam identificadas numa fase precoce do procedimento de asilo.”
Suspensão das transferências
As novas regras alteram também o chamado “regulamento de Dublin” que determina que o país de entrada na UE seja o país responsável pelo pedido de asilo. Uma alteração que tem causado problemas a países como a Itália, Grécia e Bulgária, principais portas de entrada para uma grande parte dos refugiados.
O mar da morte
As mais recentes tragédias no Mediterrâneo revelam, no entanto, que há ainda um longo trabalho pela frente nos bastidores políticos.
O fim da operação “Mare Nostrum” – substituida por uma intervenção a nível europeu baptizada de Triton – trouxe problemas acrescidos a todos os imigrantes que partem em busca do sonho europeu.
A operação Mare Nostrum terminou depois de Itália não ter conseguido ajuda para financiar a missão avaliada em cerca de nove milhões de euros anuais.
Coordenada pela Frontex, a operação Triton ter por missão o patrulhamento de fronteiras e custa por ano cerca de 2,9 milhões de euros.
O Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados, António Guterres, já criticou o actual sistema de vigilância que considera “insuficiente para lidar com o constante fluxo de imigrantes ilegais.”Euronews
As medidas de acção da UE para travar a tragédia dos imigrantes
"A captura e destruição das embarcações usadas pelos traficantes de pessoas no Mediterrâneo é uma das prioridades que constam nas 10 medidas de acção imediata que a União Europeia está a ponderar implementar.
As medidas de acção da UE para travar a tragédia dos imigrantes
"A captura e destruição das embarcações usadas pelos traficantes de pessoas no Mediterrâneo é uma das prioridades que constam nas 10 medidas de acção imediata que a União Europeia está a ponderar implementar.
Um pacote de 10 medidas de acção imediata - para travar a tragédia dos imigrantes africanos, que continuam a morrer ao tentarem chegar à Europa atravessando o Mediterrâneo - foi delineado esta segunda-feira na reunião extraordinária dos 41 ministros dos Negócios Estrangeiros e da Administração Interna que estiveram reunidos em Luxemburgo e será analisado, na quinta-feira, na cimeira extraordinária que reunirá os 28 chefes de Estado e de Governo da União Europeia (UE).
"As 10 ações que nós acordámos hoje são medidas directas e substanciais que vamos tomar para levar a uma mudança imediata", referiu o comissário para a Migração, Assuntos Internos e Cidadania, Dimitris Avramopoulos, citado no comunicado da Comissão Europeia.
A alta representante para os Negócios Estrangeiros, Federica Mogherini, afirmou que evitar a mortandade de migrantes no Mediterrâneo é uma obrigação moral da UE.
O pacote de medidas surge, com carácter de urgência, após o naufrágio do passado fim de semana ter causado mais de 700 mortos.
As 10 medidas de acção imediata:
1 - A UE vai reforçar as operações de patrulhamento marítimo do Mediterrâneo, denominadas Triton e Poseidon, concedendo-lhes mais dinheiro e equipamento. A UE vai também expandir o patrulhamento para uma área marítima mais ampla.
1 - A UE vai reforçar as operações de patrulhamento marítimo do Mediterrâneo, denominadas Triton e Poseidon, concedendo-lhes mais dinheiro e equipamento. A UE vai também expandir o patrulhamento para uma área marítima mais ampla.
2 - O bloco vai fazer um esforço sistemático para capturar e destruir embarcações usado pelos traficantes de pessoas, usando a "Atalanta", a operação anti-pirataria na Somália, como modelo. Os responsáveis da UE indicaram que será uma operação conjunta civil e militar, não especificando mais.
3 - O agentes responsáveis pelo cumprimento da lei da UE, pelo controle de fronteiras, as instituições encarregues da concessão de asilos vão reunir-se regularmente para trabalharem de forma mais próxima para recolherem informação sobre o modo como os traficantes operam, para rastrear o seus fundos e auxiliar nas investigações em torno deles.
4 - O gabinete da UE para apoio aos refugiados irá destacar equipas em Itália e na Grécia para um processamento conjunto das candidaturas para obtenção de asilo.
5- Os governos da UE vão registar as impressões digitais de todos os migrantes.
6 - A UE irá considerar todas as opções para um "mecanismo de relocalização de emergência" dos migrantes.
7 - A Comissão Europeia irá lançar um projecto voluntário piloto para a reinstalação dos refugiados por toda a UE.
8 - A UE vai estabelecer um novo programa para o rápido regresso dos migrantes 'irregulares' coordenado pela agência da UE Frontex para os países do Mediterrâneo da UE.
9 - A UE vai empenhar-se através da Comissão e dos serviços diplomáticos da UE para desenvolver um esforço conjunto com países vizinhos da Líbia.
10 - A UE vai destacar responsáveis dos gabinetes de imigração para fora do seu território para reunir informação sobre os fluxos migratórios e para fortalecer o papel das delegações da UE. " Expresso
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