A floresta de cedros
«Ninsun foi ao seu quarto, vestiu um vestido que lhe ficava bem, pôs jóias que lhe embelezavam o peito, colocou uma tiara na cabeça e as suas saias varriam o chão. Então subiu ao altar do Sol, que era no telhado do palácio; queimou incenso e levantou os braços para Shamash enquanto o fumo subia:
«Ninsun foi ao seu quarto, vestiu um vestido que lhe ficava bem, pôs jóias que lhe embelezavam o peito, colocou uma tiara na cabeça e as suas saias varriam o chão. Então subiu ao altar do Sol, que era no telhado do palácio; queimou incenso e levantou os braços para Shamash enquanto o fumo subia:
«"Ó Shamash, porque deste tu este inquieto coração a Gilgamesh, meu filho? Porque lho deste? Tu o inspiraste, e agora eis que parte para uma longa viagem para a terra de Humbaba, a viajar por uma estrada desconhecida e a travar uma singular batalha. Portanto, desde o dia em que partir até regressar, até que chegue à floresta de cedro, até que mate Humbaba e destrua o mal, que tu, Shamash, abominas, não te esqueças dele; mas que a alvorada, Aya, a tua noiva querida, to recorde sempre; e, quando o dia cair, entrega-o ao vigilante da noite que o guarde do mal." (...)
«Juntos [Gilgamesh e Endiku] desceram à floresta e chegaram à montanha verde. Ali pararam e ficaram tomados de mudez; pararam e contemplaram a floresta. Viram a altura do cedro, viram o caminho para a floresta e o carreiro onde Humbaba costumava passear. O caminho era largo e fácil de percorrer. Contemplaram a montanha de cedros, a morada dos deuses e o trono de Ishtar. A grandeza do cedro erguia-se diante da montanha, a sua sombra era bela e reconfortante; montanha e clareira eram verdes de mato.
«Então Gilgamesh abriu um poço antes do pôr do Sol. Subiu ao alto da montanha e espargiu farinha fina no chão, dizendo:
"Ó montanha, morada dos deuses, traz-me um sonho favorável."» in "Gilgamesh", versão de Pedro Tamen do texto inglês de N. KSandars,Vega
Sobre o
livro
"A epopeia de Gilgamesh é um
antigo poema épico da Mesopotâmia, sendo uma das primeiras obras conhecidas da
literatura mundial. Acredita-se que na sua origem estejam diversas lendas e
poemas sumérios sobre o mitológico deus-herói Gilgamesh, que foram reunidos e
compilados no século VII a. C. pelo rei Assurbanipal. Recebeu originalmente o
título de Aquele que Viu a Profundeza (Sha naqba īmuru)
ou Aquele que se Eleva Sobre Todos os Outros Reis (Shūtur
eli sharrī).
A sua história gira em torno da
relação entre Gilgamesh e seu companheiro íntimo, Enkidu, um homem selvagem
criado pelos deuses, para distrair o primeiro e evitar que ele oprimisse os
cidadãos de Uruk. Juntos passam por diversas missões, que acabam por
descontentar as divindades. A parte final do épico é centrada na reacção de
Gilgamesh à morte de Enkidu, que acaba por tomar a forma de uma busca da
imortalidade."
Sobre o tradutor
"Pedro Mário Alles Tamen nasceu
em Lisboa, em 1934, e estudou Direito na Universidade de Lisboa. Entre 1958 e
1975 foi director da (extinta) editora Moraes e depois assumiu o lugar de
administrador da Fundação Calouste Gulbenkian, até 2000. Foi também presidente
do P.E.N. Clube Português e membro da direcção e presidente da assembleia geral
da Associação Portuguesa de Escrito-res. A sua obra literária inclui diversos
livros publicados e alguns dos seus poemas estão traduzidos em mais de uma
dezena de línguas. Paralelamente à sua actividade de escritor tem desenvolvido
uma intensa actividade de tradutor literário pela qual foi diversas vezes
premiado."
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