com frutos de tristeza
e com folhas murchas
de chorar o que ama.
O poeta é o médium
da Natureza
que explica sua grandeza
por meio de palavras.
O poeta compreende
todo o incompreensível
e as coisas que se odeiam,
ele, amigas as chama.
Sabe que as veredas
são todas impossíveis,
e por isso de noite
vai por elas com calma.
Nos livros de versos,
entre rosas de sangue,
vão passando as tristes
e eternas caravanas
que fizeram ao poeta
quando chora nas tardes,
rodeado e cingido
por seus próprios fantasmas.
Poesia é amargura,
mel celeste que emana
de um favo invisível
que as almas fabricam.
Poesia é o impossível
feito possível. Harpa
que tem em vez de cordas
corações e chamas.
Poesia é a vida
que cruzamos com ânsia,
esperando o que leva
sem rumo a nossa barca.
Livros doces de versos
sãos os astros que passam
pelo silêncio mudo
para o reino do Nada,
escrevendo no céu
suas estrofes de prata.
Oh ! que penas tão fundas
e nunca remediadas,
as vozes dolorosas
que os poetas cantam !
Deixaria neste livro
toda a minha alma..."Federico Garcia Lorca, in "Este é o Prólogo"- "Antologia Poética", Editora Relógio D'Água
Poesia
Por Henry Miller
"Se a
missão da poesia é despertar, há muito tempo que deveríamos ter acordado. É
inegável que alguns acordaram. Mas agora são todos que devem despertar - e
imediatamente -, senão pereceremos. Só que o homem jamais perecerá, fiquem
tranquilos. O que corre o risco de perecer é a cultura, a civilização, o estilo
de vida. Quando esses mortos despertarem, e é certo que despertarão, a poesia
será a própria essência da vida. Podemos arcar com a perda do poeta se em troca
preservarmos a poesia. Não se precisa de papel nem tinta para criar ou
disseminar a poesia. De modo geral, os povos primitivos são poetas da acção,
poetas da vida. Embora não nos comovam, ainda estão fazendo poesia. Se fôssemos susceptíveis ao poético, não seríamos imunes a seu modo de vida: teríamos
incorporado essa poesia à nossa, teríamos impregnado nossas vidas da beleza que
permeia as deles. A poesia do homem civilizado sempre foi exclusiva, esotérica.
Isso acarretou a sua própria extinção".Henry Miller , in "A Hora dos
Assassinos (Um estudo sobre Rimbaud)",1956 ,L&PM ed.
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