Lince ibérico |
União
Europeia cria plataforma para provar que o lobo mau só existe nos livros
Por Marta
Cerqueira
“Os grandes carnívoros estão de volta. Para evitar o
conflito com o homem, a UE juntou peritos que vão estudar soluções de
convivência.
Nos
contos infantis o animal selvagem serve sempre para criar suspense e não faltam
histórias a descrever os perigos que advinham da sua convivência com seres
humanos. Psicologia infantil à parte, algumas dessas histórias acabaram por
criar mitos e crenças erradas sobre os grandes carnívoros, que, em alguns
casos, partilham espaços próximos com o ser humano. Foi esta noção de conflito
que levou a União Europeia a criar uma plataforma para a coexistência entre
pessoas e grandes carnívoros, na qual participam organizações agrárias,
cientistas, caçadores e todos os outros profissionais que possam estar ligados
à relação homem-animal selvagem.
A
União Europeia é casa de cinco espécies de grandes carnívoros, nomeadamente o
lobo, o urso, o glutão e duas espécies de lince, o euro-asiático e o ibérico,
apesar de este último não entrar na análise. Historicamente, estas espécies
sofreram grandes perdas durante anos como consequência da actividade humana.
Uma legislação mais apertada, a par de um maior cuidado ambiental levou a que o
número de animais estabilizasse e, em alguns casos, registou-se até um aumento
da população. Apesar do regresso das espécies ser visto como um ponto positivo,
traz problemas de convivência com os ser humano que a União Europeia tenta agora
resolver. "Temos que tratar os nossos vizinhos naturais com respeito, mas
também temos que estar atentos às preocupações daqueles cujas vidas são
afectadas pela sua proximidade", explicou o comissário europeu para o
ambiente, Janez Potocnik, durante a apresentação da plataforma, que decorreu
esta semana em Bruxelas.
A
plataforma é composta por um conjunto de organizações europeias, com
representações dos vários países, que se irão reunir anualmente e organizar
encontros sobre temas seleccionados. Na base do projecto está um portal online
que servirá de ferramenta para divulgar informações sobre as actividades da
plataforma, assim como organizar manuais de boas práticas.
Evolução
Embora o quadro geral da
biodiversidade na União Europeia esteja longe do ideal - 25% das espécies estão
em risco de extinção, grande parte devido à perda de habitat natural - algumas
espécies estabilizaram e até aumentaram o número de animais. Os grandes
carnívoros identificados na plataforma estão entre as espécies que já se asseguram
a si próprias, e, nalguns casos, estão a crescer em algumas regiões. Por
exemplo, a população de ursos pardos na União Europeia aumentou 7% nos últimos
sete anos, passando de 15 800 em 2005 para 17 mil em 2012. Já a quantidade de
glutões duplicou no mesmo período, passando de 675 para 1250 indivíduos.
Portugal
De acordo com as análises feitas
pelos investigadores envolvidos no projecto, o lince ibérico continua a ser uma
das espécies mais ameaçadas. Acabou contudo por não ser incluída na plataforma
por não ser considerada uma espécie que gere problemas de convivência com o ser
humano.
Apesar
de considerar que, de facto, o lince não é uma ameaça para o ser humano,
Eduardo Santos da Liga para a Protecção da Natureza, alerta para a necessidade
de um acompanhamento cuidado da espécie. Com apenas um exemplar identificado na
zona de Vila Nova de Milfontes, o biólogo refere que a reintrodução em
território nacional, prevista para este mês, é um processo "especial e
exigente". "As áreas de reintrodução têm que ser devidamente
estudadas para que o risco do contacto com a população seja controlado",
acrescentou ao i. O especialista admite ter dúvidas sobre se esta será a
melhor altura para o regresso da espécie a Portugal, principalmente devido à
doença que atinge o coelho bravo, a principal fonte de alimentação do lince.
"Além dos factores naturais de habitat, tem que se trabalhar no sentido da
aceitação da espécie pela população, para que haja uma convivência mais
tranquila", salientou.
Quanto
ao lobo, a única das quatro espécies estudadas existente em Portugal, o
especialista aponta o conflito com o homem como a principal ameaça à espécie.
"A espécie está concentrada no Norte do país, zona em que são construídas
infra-estruturas que acabam por fragmentar as matilhas", explicou, dando
como exemplo as auto-estradas ou a Barragem do Sabor.
Francisco
Álvares, o representante português na plataforma, defende ainda que o lobo está
envolto em "mitos e crenças que não ajudam à sua preservação". O
biólogo e membro do "Large Carnivore Initiative for Europe", um dos
signatários da plataforma, aponta os ataques à pecuária a como um dos factores
que ajuda a criar uma má imagem do animal. "É preciso trabalhar na
expansão das presas selvagens como o corso ou o javali para que o lobo não
tenha necessidade de atacar gado particular", afirmou, advertindo ainda
para a necessidade de aplicar medidas de prevenção do ataque e de vigilância
dos rebanhos.
A
verificação de danos nos animais domésticos é assegurada por equipas do Instituto
de Conservação da Natureza e está prevista a compensação monetária em caso de
ataque de lobo. No entanto, e tal como refere o documento, o proprietário do
gado deve ser compensado no prazo de 60 dias, mas os atrasos chegam a ser
superiores a um ano.
Um conjunto de 18 organizações apresentou esta semana um Plano de Acção para a Conservação do Lobo Ibérico para para conciliar a protecção da espécie e a salvaguarda das populações. Em comunicado alertam para o facto de o estado de conservação da espécie se continuar a degradar em Portugal, criticando a "recorrente incapacidade das autoridades nacionais em aplicar medidas eficazes". Jornal i in Mundo, publicado em 14 Jun 2014 - 05:00
Um conjunto de 18 organizações apresentou esta semana um Plano de Acção para a Conservação do Lobo Ibérico para para conciliar a protecção da espécie e a salvaguarda das populações. Em comunicado alertam para o facto de o estado de conservação da espécie se continuar a degradar em Portugal, criticando a "recorrente incapacidade das autoridades nacionais em aplicar medidas eficazes". Jornal i in Mundo, publicado em 14 Jun 2014 - 05:00
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