3.
Escrevo estes versos de grãos de terra na mão: eis a prova.
Tenho a certeza dos passos. Todos temos. Só no mais diferimos.
Era uma longa subida. Era a certeza
da nossa própria emigração. A mais bela,
a mais funda companhia. A perfeita igualdade do transporte
foi amassada em três quedas. Um braço, outro braço, um corpo
e a longa subida."
Pedro Tamen, in " o sangue, a água e o vinho ", Livraria Morais Editora, 1958
Um Fado: Palavras Minhas
Palavras que disseste e já não dizes,
palavras como um sol que me queimava,
olhos loucos de um vento que soprava
em olhos que eram meus, e mais felizes.
Palavras que disseste e que diziam
segredos que eram lentas madrugadas,
promessas imperfeitas, murmuradas
enquanto os nossos beijos permitiam.
Palavras que dizias, sem sentido,
sem as quereres, mas só porque eram elas
que traziam a calma das estrelas
à noite que assomava ao meu ouvido...
Palavras que não dizes, nem são tuas,
que morreram, que em ti já não existem
— que são minhas, só minhas, pois persistem
na memória que arrasto pelas ruas.
Pedro Tamen, in “Tábua das Matérias”, Círculo dos Leitores
palavras como um sol que me queimava,
olhos loucos de um vento que soprava
em olhos que eram meus, e mais felizes.
Palavras que disseste e que diziam
segredos que eram lentas madrugadas,
promessas imperfeitas, murmuradas
enquanto os nossos beijos permitiam.
Palavras que dizias, sem sentido,
sem as quereres, mas só porque eram elas
que traziam a calma das estrelas
à noite que assomava ao meu ouvido...
Palavras que não dizes, nem são tuas,
que morreram, que em ti já não existem
— que são minhas, só minhas, pois persistem
na memória que arrasto pelas ruas.
Pedro Tamen, in “Tábua das Matérias”, Círculo dos Leitores
Nota Bio-Bibliográfica de PEDRO TAMEN
"Pedro Tamen nasceu em Lisboa, em 1934, é casado e
licenciado em Direito pela Universidade de Lisboa. Entre 1958 e 1975 foi
director da prestigiosa editora Morais, entretanto desaparecida. Entre 1975 e
2000 foi administrador da Fundação Calouste Gulbenkian. Foi presidente
do PEN Clube Português (1987-90) e membro da Direcção e presidente da
Assembleia Geral da Associação Portuguesa de Escritores.
Possui a grã-cruz da Ordem do Infante D. Henrique, a
comenda da Orden del Merito Civil (Espanha) e o grau de oficial da Ordre
National du Mérite (França).
A sua poesia, quando reunida na sua maior parte em Tábua das Matérias
(1956-1991), foi galardoada com o Prémio da Crítica e com o Grande
Prémio Inapa de Poesia. Aos livros Horácio e Coriáceo (1981) e Guião
de Caronte (1997) foram atribuídos, respectivamente, os prémios D. Diniz
e Nicola. Memória Indescritível (2000) recebeu os prémios Bordalo
da Imprensa e do PEN Clube. Reuniu em 2001 uma colectânea actualizada
de toda a sua poesia publicada até então (Retábulo das Matérias) e,
posteriormente, em 2006, o livro Analogia e Dedos, a que foram
atribuídos os prémios Luís Miguel Nava e Inês de Castro. Em 2010
publicou O Livro do Sapateiro (a que foi atribuído o Prémio «Correntes
d’Escritas – Casino da Póvoa» e o Grande Prémio de Poesia da
Associação Portuguesa de Escritores). Em 2011, Um Teatro às Escuras e em
2013 Rua de Nenhures. Está representado na generalidade das antologias
de poesia contemporânea portuguesa. Tem poemas traduzidos e publicados em
francês, inglês, espanhol, italiano, alemão, neerlandês, sueco, húngaro,
romeno, checo, eslovaco, búlgaro e letão.
Tem desenvolvido uma intensa actividade de tradutor literário e obteve em 1990
o Grande Prémio da Tradução. Foi duas vezes finalista do Prémio
Europeu de Tradução. Em 2011 recebeu o Prémio Especial Tradutor,
integrado nos Prémios de Edição Ler/Booktailors". Site de Pedro Tamen ( adaptado)
Sem comentários:
Enviar um comentário