"Canto porque sou homem.
Se não cantasse seria
mesmo bicho sadio
embriagado na alegria
da tua vinha sem vinho."
Eugénio de Andrade, in "As Mãos e os Frutos" ,1948, Ed. Assírio&Alvim
Se não cantasse seria
mesmo bicho sadio
embriagado na alegria
da tua vinha sem vinho."
Eugénio de Andrade, in "As Mãos e os Frutos" ,1948, Ed. Assírio&Alvim
O mês de Abril chegou. Um Abril nebuloso tal como o tempo que medeia entre a concretização do sonho e o desvanecer da esperança. Tempo que se perde nos quarenta anos que se celebram este ano. Quadragésimo aniversário de um Abril titubeante, porém radical na certeza de um Portugal diferente. A utopia alimentou a luta que fez emergir um novo tempo. E a Democracia instalou-se. Os anseios formularam-se, mas o desnorte de governações impreparadas instaurou uma crise que vitimiza e ensombra os portugueses. Contudo Abril, o Abril da aurora e do dealbar da Liberdade, será sempre tempo de celebração.
A Arte, nas suas diversas manifestações, enriqueceu-se com a revolução desse Abril sonhado.
A música, manifestação artística maior e universal , registou momentos de grande combate e de imenso louvor. Hoje, o destaque vai para as vozes de Fausto e Zeca Afonso em " Não canto porque sonho", do álbum "P'ro que der e vier", com letra de Eugénio de Andrade e música de António Pedro Braga e Fausto Bordalo Dias.
Não canto porque sonho.
Canto porque és real.
Canto o teu olhar maduro,
teu sorriso puro,
a tua graça animal.
Se não cantasse seria
mesmo bicho sadio
embriagado na alegria
da tua vinha sem vinho.
Canto porque o amor apetece.
Porque o feno amadurece
nos teus braços deslumbrados.
Porque o meu corpo estremece
ao vê-los nus e suados.
Eugénio de Andrade , in "As Mãos e os Frutos" ,1948, Ed. Assírio&Alvim
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