Como uma pequena lâmpada subsiste
e marcha no
vento, nestes dias,
na vereda das
noites, sob as pálpebras do tempo.
Caminhamos,
um país sussurra,
dificilmente
nas calçadas, nos quartos,
um país puro
existe, homens escuros,
uma sede que
arfa, uma cor que desponta no muro,
uma terra
existe nesta terra,
nós somos,
existimos
Como uma
pequena gota às vezes no vazio,
como alguém
só no mar, caminhando esquecidos,
na miséria
dos dias, nos degraus desconjuntados,
subsiste uma
palavra, uma sílaba de vento,
uma pálida
lâmpada ao fundo do corredor,
uma frescura
de nada, nos cabelos nos olhos,
uma voz num
portal e a manhã é de sol,
nós somos,
existimos.
Uma pequena
ponte, uma lâmpada, um punho,
uma carta que
segue, um bom dia que chega,
hoje, amanhã,
ainda, a vida continua,
no silêncio,
nas ruas, nos quartos, dia a dia,
nas mãos que
se dão, nos punhos torturados,
nas frontes
que persistem,
nós somos,
existimos.
António Ramos
Rosa, in “ Sobre o Rosto da Terra”, Antologia Poética, Dom Quixote, 2001
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