"A parte desconhecida da minha vida é a minha vida escrita. Morrerei sem conhecer essa parte desconhecida. Como foi escrito isto, porquê, como o escrevi, não sei, não sei como isto começou. Não se pode explicar. Donde vêm certos livros? A página está vazia e, de repente, já há trezentas páginas. Donde vem isto? É preciso deixar andar, quando se escreve, não devemos controlar-nos, é preciso deixar andar, porque não sabemos tudo de nós próprios. Não sabemos o que somos capazes de escrever.
Conheci grandes escritores que nunca conseguiram falar disso – conheci Maurice Blanchot e Georges Bataille intimamente, conheci Genet, creio que menos. Eles nunca sabiam, nunca falavam disso. Penso que é errado, aliás. Há trinta anos, era uma espécie de pudor aprendido, em parte, na escola sartriana, não se podia falar daquilo que se escrevia, não era decente – e penso que em Les Parleuses é a primeira vez que alguém fala disso, pelo menos uma das primeiras vezes. É bom falar disso e, ao mesmo tempo, é muito perigoso dar a ler textos antes de estarem terminados.
(…) Após o final de cada livro é o fim do mundo inteiro, é sempre assim, de cada vez. E depois tudo recomeça, como a vida.
Quando se escreve, não se pode falar em vez de escrever. O que se passa quando se escreve, nunca se pode dizer. Eu consigo ler uma passagem, mas depressa fico assustada.
Sou mais escritora do que vivente, que uma pessoa que vive. Naquilo que vivi, sou mais escritora do que alguém que vive. É assim que eu me vejo.” Marguerite Duras, in ‘Mundo Exterior ‘, Ed. Livros do Brasil
“Tudo É e Não É “ é o novo romance de Manuel Alegre que será lançado a 15 de Abril pela Dom Quixote.
Sinopse: «António Valadares, escritor, vive submerso num sonho obsessivo e recorrente, de onde não há fuga possível. Numa derradeira tentativa de encontrar um sentido naquilo que não o tem, aventura-se a escrever sobre a sua vida onírica. Tem assim início uma viagem a um mundo repleto de situações ilógicas e incontroláveis, de intrigas e contradições; um mundo onde personagens reais e fictícias convivem e se fundem. O que António Valadares não prevê é que o seu empenho em narrar o inenarrável o aprisionará num caleidoscópio de sonhos e obsessões onde realidade e sonho, sonho e ficção já não se distinguem, e em que o próprio espaço e tempo são subvertidos, desde a discussão com Lenine e Trotsky em plena revolução russa até às manifestações em Lisboa e à Mão Invisível que invade a vida e o sonho."
“O Concerto dos Flamengos”, de Agustina Bessa-Luís vai ser lançado pela Guimarães.
Sobre o livro: «Publicado pela primeira vez em 1994, O Concerto dos Flamengos é um dos romances mais actuais de Agustina Bessa-Luís. A história chega-nos através de três mulheres: Ana Luísa Baena, a sua prima Maria Vicente, e a sua criada Serpa. O que as reuniu nesse Verão na cidade de Ponta Delgada e depois em Angra do Heroísmo foi o Concerto dos Flamengos, um acontecimento assaz importante repetido todos os anos por intermédio do mecenato das ilhas dos Açores.»
“A Imensa Boca Dessa Angústia e Outras Histórias” de Urbano Tavares Rodrigues estará nas Livrarias a partir de 22 de Abril, editado pela Dom Quixote.
Sobre o livro: «Em A Imensa Boca dessa Angústia plasma-se a trágica e convulsa crise que abala o mundo em que vivemos.
Na sua prosa inimitável, ora lírica, ora irónica, ora cáustica, Urbano Tavares Rodrigues analisa a situação actual, por vezes com dureza, mas sempre com o humanismo compassivo que caracteriza a sua escrita e com o halo mágico e fantástico dos seus melhores livros de ficção.Uma obra que ficará seguramente na memória dos seus leitores.»
Padre António Vieira,cidadão do futuro
“Desde 1851, tentou-se 15 vezes editar a obra completa do Padre António Vieira. Finalmente, até final de 2014, os 30 volumes dedicados ao «imperador da língua portuguesa» estarão nas livrarias. Um enorme projecto que teve o apoio de 500 mil euros da Misericórdia de Lisboa.
Fernando Pessoa confessou ter chorado ao lê-lo em criança e chamou-lhe «imperador da língua portuguesa». José Saramago defendeu que «a língua portuguesa nunca foi mais bela que quando a escreveu esse jesuíta». Alexandre Herculano aconselhava os jovens escritores do romantismo incipiente a «tomar caldinhos de Vieira». No caso do Padre António Vieira (1608-1697) e da sua obra, toda a exaltação será justa.
Pregador sacro, foi também homem de acção e de política, pragmático e tenaz, um pioneiro, um visionário. Nenhum outro conseguiu tal equilíbrio sereno mas engenhoso entre a orgânica cursiva das ideias e a propriedade e expressividade da linguagem, graças a um magistral domínio da língua. Se não, faça-se-lhe jus e leia-se o seguinte fragmento do Sermão do Espírito Santo, de 1657: «Arranca o estatuário uma pedra dessas montanhas, tosca, bruta, dura, informe e, depois que desbastou o mais grosso, toma o maço e o cinzel na mão e começa a formar um homem; primeiro, membro a membro e, depois, feição por feição, até à mais miúda. Ondeia-lhe os cabelos, alisa-lhe a testa, rasga-lhe os olhos, afila-lhe o nariz, abre-lhe a boca, torneia-lhe o pescoço, estende-lhe os braços, espalma-lhe as mãos, divide-lhe os dedos, lança-lhe os vestidos. Aqui desprega, ali arruga, acolá reclama. E fica um homem perfeito, e talvez um santo que se pode pôr no altar». Assim também e após séculos de recepção conturbada, renasce o Padre António Vieira e a sua obra, por fim em forma completa, num dos maiores empreendimentos da história editorial portuguesa.
30 volumes e textos inéditos
São 30 volumes, mais de 12 mil páginas, entre elas cerca de três mil traduzidas do latim e 3700 inéditas ou parcialmente inéditas, fruto do trabalho de uma equipa de 32 especialistas-coordenadores e 20 investigadores-assessores, portugueses e brasileiros. Projecto liderado pela Reitoria da Universidade de Lisboa, dirigido por José Eduardo Franco e Pedro Calafate, investigadores desta universidade, e editado pelo Círculo de Leitores, a Obra Completa do Padre António Vieira será publicada ao ritmo de um volume por cada dois meses, até ao final de 2014.
A edição, destinada ao grande público, dividir-se-á em quatro tomos: Epistolografia, cinco vols. de cartas; Parenética, 15 vols. de sermões e oratória; Profética, seis vols. de textos proféticos; Varia, quatro vols. que incluem escritos dispersos e diversos, entre eles, textos poéticos, dramatúrgicos, de viagens ou apócrifos. Acabam de chegar às livrarias o primeiro volume da Epistolografia, composto por Cartas Diplomáticas (sobretudo dirigidas ao Marquês de Niza) e com coordenação de Carlos Maduro, e os volumes VI e V do tomo III da Profética, com coordenação de Pedro Calafate e contendo os livros primeiro, segundo e terceiro de A Chave dos Profetas, a obra magna de Vieira (morreu enquanto a escrevia), pela primeira vez traduzida na íntegra do latim.
‘O melhor de’ em dez línguas
José Eduardo Franco atribui a esta Obra Completa a afirmação de um «Vieira global». Explica: «Vieira inscreve-se na melhor tradição universalista da cultura portuguesa. Teve uma vida imensa, viajou por muitos países e adquiriu uma visão muito abrangente da experiência humana do seu tempo, cobrindo quase todo o século XVII e toda a humanidade então conhecida. A publicação completa da obra permite o entendimento global do seu pensamento e da sua intervenção missionária e diplomática». Por outro lado, o projecto da Obra Completa terá uma segunda fase, de produção para fins pedagógicos de um dicionário multimédia dos grandes temas abordados e tratados por Vieira, e uma terceira fase, de criação de uma selecta de 400 páginas dos melhores textos, traduzida em cerca de dez línguas (entre elas, o russo, o japonês e o mandarim). «Infelizmente, nós, portugueses, somos mais diligentes a importar pensamento. Revalorizar e internacionalizar a obra do maior prosador de língua portuguesa é fazer serviço, no contexto actual, aos grandes problemas da história da cultura».
Em sintonia com uma histórica falta de investimento financeiro na edição de fontes primárias dos nossos grandes clássicos, o Ministério ou a Secretaria de Estado da Cultura apenas concederam a este projecto apoio formal no acesso a documentação. José Eduardo Franco esclarece que a viabilização foi garantida pelo patrocínio do principal mecenas, a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, no valor total de 500 mil euros e disponibilizado até 2016.
(...) Missionário apaixonado, Padre António Vieira é também menos conhecido como político e crítico social, capaz de espantoso e ainda actualíssimo realismo. Através das cartas, José Eduardo Franco distingue-o mesmo como «pensador anti-crise», isto é, «preocupado com a história de Portugal do momento, empenhado na viabilidade e independência do país e autor de ideias e sugestões completas».Vieira criticou a intolerância religiosa, a corrupção ou as discrepâncias entre ricos e pobres, defendeu os índios e os judeus. Muitas das suas propostas inovadoras soçobraram, «mas, pasme-se, o Marquês de Pombal, seu detractor, aplicará afinal muitas delas», firmando-o como um iluminista avant la lettre. Em A Chave dos Profetas, descobrimo-lo também na plenitude da sua utopia profética reconciliadora dos homens. Tal como defendeu o catedrático Aníbal Pinto de Castro, Vieira «projectou uma cidadania global do futuro». Através da Obra Completa, poderemos por fim apreender a extensão da riqueza e coragem da sua cruzada.”Fonte: Público, Filipa Melo, 8/04/13
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