O que nos acontece e o que dizem de
nós
por Baptista
Bastos
"O professor
universitário dr. Paulo Morais escreveu, no "Correio da Manhã" do dia
5, pp, um artigo que merecia a maior divulgação: "Marginais de
Sábado." Paulo Morais é um dos dois ou três (não mais) articulistas
portugueses que não baralha as coisas e redige num idioma claro e
interveniente. O "Correio da Manhã" é um matutino cercado de
preconceitos pelas bem-pensâncias cá do brejo. Devo dizer que leio o jornal com
assiduidade, e que gosto de o ler pela singela circunstância de que cumpre rigorosamente
o princípio fundamental do jornalismo: dá notícias. Numa tertúlia, "Os
Empatados da Vida", agora em "standby", muitas vezes conversámos
acerca das características do jornal, acertando nos objectivos acima referidos:
dá notícias. Os tertulianos são gente do ofício: Mário Zambujal, Fernando
Dacosta, João Paulo Guerra, António Borges Coelho, Eugénio Alves, cá o Bastos,
todos velhos estradeiros da Imprensa, todos amantes de ler o que por aí se
edita.
Não conheço pessoalmente o director do "Correio da Manhã", mas muitos
dos que lá trabalham, porque os leio, tenho-os como profissionais honrados e
probos. Ainda há semanas, num programa de televisão, assisti a um debate no
qual Octávio Ribeiro, o director do diário, com modéstia e aplicação, firmeza e
conhecimento de causa, replicou, a alguns preopinantes convidados, e cuja
soberba e embófia são conhecidas, o que entendia como Imprensa e como
informação. A clareza do raciocínio de Ribeiro esbarrou com os tatibitates dos
que se servem da retórica dos lugares-comuns para esconder a vacuidade de
pensamentos tardios.
Como o "Correio da Manhã" dá notícias que outros órgãos de
comunicação minimizam ou omitem, por presunção de uma superioridade que não
possuem, eu, modestíssimo profissional de outra estirpe, leio-o com proveito,
gosto e prazer. E foi com proveito, gosto e prazer que li o artigo do prof.
Paulo Morais. "No último fim-de-semana o povo saiu à rua. Veio clamar por
justiça rejeitar as políticas seguidas por este regime moribundo. Nas
manifestações, em Lisboa, no Porto e um pouco por todo o País, estava
representada uma maioria sofredora, todo um povo que se sente num beco sem
saída."
Prossegue Paulo Morais: "Um beco em que Cavaco, Guterres, Barroso e
Sócrates nos encurralaram. Passos Coelho prometeu que nos iria resgatar deste
atoleiro, mas apenas nos tem mantido no 'status quo', tornando-se assim
corresponsável por uma das piores faces da vida da história do País. Esta é a
geração mais espoliada nos seus rendimentos, que são transferidos pelo sistema
político para os cofres dos verdadeiros donos do regime, bancos, construtores e
promotores imobiliários. A política abastardou-se e transformou o Orçamento do
Estado um instrumento que drena os recursos dos pobres para o bolso dos
poderosos."
Enquanto noutros jornais, nas televisões e nas rádios se discute o sexo dos
anjos, consubstanciada, a "discussão", no número de manifestantes, o
"Correio da Manhã", pela pena do seu colaborador, Paulo Morais,
colocou a questão no devido lugar, relevando o que de fundamental ela comportava.
Um prazer e um acto pedagógico ler, no "Correio da Manhã", repito, o
lúcido comentário do professor universitário do Porto.
Um belo estudo de José Brandão
José Brandão tem dedicado a parte mais estelar da sua vida a duas causas: a da
liberdade e ao estudo da História, procurando a natureza do nosso destino, e as
causas da nossa decadência. Na esteira de Antero e de outros vaticinadores dos
nossos infortúnios, José Brandão, com um esforço intelectual exemplar e uma
integridade e rigor nem sempre comuns a trabalhos de académicos, tem vindo a
publicar uma obra extremamente importante, com o objectivo de esclarecer o que
fomos, a fim de perceber o que nos acontece. Agora, veio a lume "Este é o
Reino de Portugal", Edições Saída de Emergência, admirável repositório
"do que disseram, sobre Portugal e os portugueses, os estrangeiros que nos
visitaram nos últimos três séculos." É um trabalho a vários títulos
notável, a valer a atenção de quem deseja saber. Recomendo, vivamente, a
leitura deste belíssimo volume. " Baptista Bastos em Artigo de Opinião,publicado no JN, 8/03/2013
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