terça-feira, 11 de setembro de 2012

Silêncios


Poema sobre a recusa

Como é possível perder-te
sem nunca te ter achado
nem na polpa dos meus dedos
se ter formado o afago
sem termos sido a cidade
nem termos rasgado pedras
sem descobrirmos a cor
nem o interior da erva.

Como é possível perder-te
sem nunca te ter achado
minha raiva de ternura
meu ódio de conhecer-te
minha alegria profunda.

Maria Teresa Horta, in “Vozes e Olhares no Feminino”, Edições Afrontamento, Porto 2001


Silêncios da Fala

São tantos
os silêncios da fala

De sede
De saliva
De suor
Silêncios de silex
no corpo do silêncio

Silêncios de vento
de mar
e de torpor

De amor

Depois, há as jarras
com rosas de silêncio

Os gemidos
nas camas

As ancas
O sabor

O silêncio que posto
em cima do silêncio
usurpa do silêncio o seu magro labor.

Maria Teresa Horta ,in “Vozes e Olhares no Feminino”, Ed, Afrontamento, Porto 2001

1 comentário:

  1. Maria Teresa Horta, para além da sua enérgica intervenção política, desse combate sem tréguas contra a Ditadura, que já vem dos anos sessenta, e teve sequência no tempo do Marcelismo, espaço em que surge o Movimento de "As Três Marias", continua a ser ainda hoje uma das vozes mais lúcidas, mais claras, mais abrangentes da Poesia portuguesa!

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