Os sonhos são palavras na cabeça de uma criança. Sonhar , pensar , falar, desejar é estar no Mundo. E é nesse mundo que se registam as mais profundas reflexões, que se proclamam as mais genuínas verdades , que se escrevem as mais belas legendas da vida.
Ser criança é muito num mundo de pouco tempo.
Meninas e Meninos
Todos já vimos
nos livros, nos jornais , no cinema e na televisão
retratos de meninas e meninos
a defender a liberdade de armas na mão.
Todos já vimos
nos livros, nos jornais , no cinema e na televisão
retratos de cadáveres de meninos e meninas
que morreram a defender a liberdade de armas na mão.
Todos já vimos!
E então?
Fernando Sylvan ( Timor), in "Primeiro Livro de Poesia, Poemas para a infância e a adolescência", selecção de Sophia de Mello Breyner Andresen, Ilustrações de Júlio Resende , Ed. Caminho
A poesia dirigida às crianças, tal como se apresenta a maioria das vezes, faz-nos lembrar uma audição de boa música!... É sempre algo de muito subtil, donde emana a simplicidade, uma mestria e envolvimento inseparáveis. Os sonhos são a nossa consci~encia a formar-se dentro de nós, quando somos crianças. Todavia, nada mais propício, nada mais profundo que a música. Entre o senti-la e compreendê-la vai um abismo! Sentir é o grau ínfimo da apropriação dos sons. Ouve-se. Assim como a poesia... Ouve-se e sente-se. E surge o prazer, o deleite, quase um gostar gostando... Só a música e a poesia oferecem um certo sentimento de uma incerta angústia, uma exaltação frenética que mexe connosco, com que tocamos a face do divino com o corpo e o espírito, e um orgulho de certo modo ferido - se o podermos julgar assim... - uma vivência intolerável e desproporcionada. Momentos em que a nossa vida transpõe o limiar da morte (ó morte por onde andais?!...) e mesmo assim afronta o julgamento dos deuses (ó deuses, ó divindades por que lugares vos ocultais, em que esconderijos vos meteis?!...) Um último aceno de simpatia para a sedutora forma poética de Fernando Sylvan!... É que ser criança é guardarmos a eternidade (volumétrica e inconcebível) dentro de nós, mesmo sem conhecermos coisa alguma da vida, nem os caminhos peregrinantes do velho mundo.
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