O ritmo é um constrangimento
«Quando se deixou o ritmo penetrar no discurso — essa violência que reordena todos os átomos da frase, que manda escolher as palavras com cuidado, que dá novas cores aos pensamentos, tornando-os mais obscuros, mais estranhos, mais remotos — sem dúvida que se obedeceu a uma utilidade supersticiosa! (…) A prece ritmada deveria chegar mais perto dos ouvidos dos deuses. Acima de tudo, porém, os homens desejavam tirar proveito desse efeito elementar e poderoso que experimentamos quando ouvimos música: o ritmo é um constrangimento; ele suscita um desejo irresistível de cedência, de adesão (…) »
F. Nietzsche, A Gaia Ciência, trad. Maria Helena R. Carvalho, e outros, Relógio D’ Água, Lisboa, 1998
O querer-dizer
« Eu tento escrever (no espaço onde se põe a questão do dizer e do querer-dizer. Tento escrever a questão: (o que é) que querer-dizer? Portanto é necessário que, num tal espaço e guiada por uma tal questão, a escrita à letra não-queira-dizer-nada. Não que seja absurda, dessa absurdidade que fez sempre sistema com o querer-dizer metafísico. Simplesmente ela tenta-se, tende-se, tenta realizar-se no ponto de sufocação do querer-dizer. Arriscar-se a não-querer-dizer-nada é entrar no jogo (…)» Jacques Derrida, “Implicações”, Posições, Semiologia e Materialismo, trad. Maria Margarida C. C. Barahona, Plátano Editora, 1975
O ritmo é alucinogéneo, impulsivo, sagaz, endógeno, ordenante... Quem se lhe opõe? Quem o consegue deter?... Quem lhe consegue - por momentos - deter-lhe a marcha?... Quanto nos absorve o querer dizer, por vezes - muitas!... - não dizendo nada! Não é?!... Não será?!... Quando tivermos dito, que dissemos? O "não-querer-dizer" é talvez o já ter dito, ou o não querer ter dito nada, absolutamente nada!...
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