No dia em que conquistou o prémio literário Casino da Póvoa/ Correntes d'Escrita pela sua obra "Bufo e Spallanzani" e a medalha de mérito cultural, que recebeu das mãos de um dos seus mais fervorosos admiradores e um dos responsáveis pela divulgação da sua obra em Portugal, o secretário de Estado da Cultura, Francisco José Viegas, o escritor brasileiro conquistou também o público deste Correntes d"Escritas que decorre pelo décimo terceiro ano na Póvoa de Varzim.
A entrega da medalha aconteceu no auditório municipal da Póvoa, onde uma sala a rebentar pelas costuras aguardava para ouvir Rubem Fonseca.
Foi com um grande sorriso emocionado que o escritor declarou: "Estou muito, muito feliz de estar aqui em Portugal. Eu que sou filho e neto de portugueses, nasci no Brasil mas o meu sangue é português. Agradeço, por isso, ter recebido esta medalha mais do que merecida." A frase provocatória arrancou gargalhadas e aplausos de uma plateia já rendida.
Rubem Fonseca, 86 anos, escritor brasileiro também conhecido pela sua aversão a dar entrevistas, aparecer nos media ou participar em eventos literários mostrou ontem que afinal sabe, como poucos, estar sob as luzes da ribalta sendo, ao mesmo tempo humilde, irreverente e arrebatador. O tema sobre o qual lhe pediram para falar era "A escrita é um risco total", a frase pertence a Eduardo Lourenço que, tal como Hélia Correia, Ana Paula Tavares e Almeida Faria dividia com Fonseca a primeira mesa-redonda deste festival literário. E o escritor brasileiro assumiu todos os riscos: levantou-se da mesa e, de microfone na mão, foi andando pelo palco para explicar porque é que a escrita "é uma forma socialmente aceite de loucura" e porque é que todos escritores "incluindo Eduardo Lourenço" não passam de "loucos alfabetizados".O vencedor do prémio Camões em 2003 já tinha recebido vários convites para estar presente no evento, ao longo dos anos, mas hesitou, por ser avesso a aparições públicas. No ano passado esteve quase a vir a Portugal, mas problemas de saúde impediram-no à última hora.
Apenas este ano visitou finalmente a Póvoa de Varzim, para gáudio da plateia do Casino da Póvoa, à qual Rubem Fonseca confessou o seu amor pela língua portuguesa, pela poesia e por Portugal. "Amo a língua portuguesa, lindíssima, que vai durar pela eternidade. (... Estou) encantado com esta cidade e com as pessoas daqui", disse.
E foi com Luís de Camões que Rubem Fonseca encontrou a melhor maneira de encerrar a sua curta declaração de agradecimento, declamando, perante uma plateia emocionada, o soneto "Busca amor novas artes, novo engenho", rematando a sua leitura com um "viva, viva a língua portuguesa".
Na mesma ocasião, foi revelado o vencedor do prémio literário Correntes d'Escritas, no valor de 20 mil euros: Tomás Anjos Barão, sob o pseudónimo de Duplo Arco-Íris, com o trabalho "Vergílio Vagaroso".
Antes, na abertura do certame, o prémio Pessoa 2011, Eduardo Lourenço, reflectiu sobre Portugal, dizendo que é necessário neste momento "uma espécie de luz, qualquer coisa de luminoso".
"Portugal é um velho país, não vai morrer realmente como o Titanic e também espero que a Europa, onde nós entrámos, pensámos que enfim estávamos numa casa rica, uma casa dos outros, que não precisávamos de nos preocupar no futuro, que também não tenha esse destino que se começa a desenhar no horizonte", afirmou Eduardo Lourenço, lembrando que o continente já atravessou momentos piores.
Ainda assim, o pensador português afirmou acreditar que os problemas que a Europa atravessa neste momento se devem "ao facto de as nações europeias terem feito tudo o que podiam para se autodestruir apenas há 50 anos".
Correntes d'Escritas encerra hoje e cerca de meia centena de escritores estão presentes, desde ontem, nesta 13ª edição. Muitos já estiveram em edições anteriores, mas 18 deles rumam a este encontro organizado pela autarquia local pela primeira vez, para debater ou apresentar livros.
Rubem Fonseca, Salgado Maranhão e Bia Corrêa do Lago (Brasil), Care Santos, Rosa Montero, Uberto Stabile (Espanha), Valeria Luiselli (México), Daniel Mordzinski (Argentina), Manuel Rui (Angola) e os portugueses Joao Pedro Messeder, João Bouza da Costa, Eugénio Lisboa, Fernando Pinto Amaral, José Jorge Letria, Valter Hugo Mãe e Onésimo Teotónio de Almeida foram alguns dos convidados para esta iniciativa.Fontes: DN Artes e Expresso
Como devia ser emotivo e impressionante, e momento único, poder ter estado presente no Casino da Póvoa de Varzim no momento da entrega do Prémio "Correntes d'Escritas" ao grande escritor brasileiro Ruben Fonseca, que apenas conhecemos por ler as suas obras!... Quanto a nós merece-o plenamente. Parabéns a Ruben Fonseca e ao Brasil, país onde temos sido sempre tão bem acolhidos, em todas as vezes que lá rumámos, e já não são poucas! Para Ruben Fonseca, em especial. Um escritor, enquanto continuar a escrever, a produzir obra literária, não envelhece, nunca envelhecerá...
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