"A vida... e a gente põe-se a pensar em quantas maravilhosas teorias os filósofos arquitectaram na severidade das bibliotecas, em quantos belos poemas os poetas rimaram na pobreza das mansardas, ou em quantos fechados dogmas os teólogos não entenderam na solidão das celas. Nisto, ou então na conta do sapateiro, na degradação moral do século, ou na triste pequenez de tudo, a começar por nós.
Mas a vida é uma coisa imensa, que não cabe numa teoria, num poema, num dogma, nem mesmo no desespero inteiro dum homem.
A vida é o que eu estou a ver: uma manhã majestosa e nua sobre estes montes cobertos de neve e de sol, uma manta de panasco onde uma ovelha acabou de parir um cordeiro, e duas crianças — um rapaz e uma rapariga — silenciosas, pasmadas, a olhar o milagre ainda a fumegar."
Miguel Torga, in "Diário II" (Abrecôvo, 27 de Dezembro de 1941) , Circulo de Leitores
Mas a vida é uma coisa imensa, que não cabe numa teoria, num poema, num dogma, nem mesmo no desespero inteiro dum homem.
A vida é o que eu estou a ver: uma manhã majestosa e nua sobre estes montes cobertos de neve e de sol, uma manta de panasco onde uma ovelha acabou de parir um cordeiro, e duas crianças — um rapaz e uma rapariga — silenciosas, pasmadas, a olhar o milagre ainda a fumegar."
Miguel Torga, in "Diário II" (Abrecôvo, 27 de Dezembro de 1941) , Circulo de Leitores
A vida nunca caberá numa teoria... Certíssimo. O Dr. Adolfo Rocha tinha, tem razão ainda. Muito próximo do Impressionismo.... Tal como Pierre -Auguste Renoir, para quem o interesse maior não era a paisagem, mas a figura humana, a aprição, o instante do "milagre". Vejamos os seus quadros luminosos e ligeiros, como o da esplanada à beira-mar, em que um homem e uma mulher se envolvem em olhares e elogios, em prováveis repetidas declarações de amor, de um amor tranquilo e feliz, quadros que visivelmente provêm de um mundo real observado atentamente num dado momento, e caracterizam o mundo como um lugar de luz e cor, onde a harmonia e a felicidade eram (são...) possíveis. Repare-se que - de um modo geral - as pessoas representadas por Renoir testemunham uma existência feliz, um viver doce e sereno. Aliás, o pintor procurava sempre modelos com formas generosas. Elas (as raparigas parisienses...) gostavam de posar para os pintores e nada tinham contra o facto de conceder os seus "favores", por alguns tempos a um amante bem apessoado e com meios de fortuna, mesmo modesta que fosse. Segundo rezam as crónicas, Renoir gostava delas, e enaltecia a sua sensualidade e beleza física. Como a natureza tão bem declarada na prosa de Miguel Torga - na ocasião da ovelha a parir o cordeiro, nos conduziu ao impressionismo, a Pierre-Auguste Renoir, o pintor!... Sempre há milagres, diga-se o que se disser, especialmente quando o que vemos, o que olhamos/pensando nos impressiona, e revolve a nossa sensibilidade!...
ResponderEliminar"A vida é o que eu estou a ver"
ResponderEliminarVivendo na fragilidade do corpo, comparo-a ao mais fino cristal.
É repleta de complexidade que vai desde o ato de respirar ao palpitar do coração dentro do peito (involuntários), do suspirar de ansiedade ao menor aperto que a dor causa pela distância dos entes queridos, a angústia que fere a alma pela falta de solução para a miséria de muitos. O ser ou deixar de ser instantaneamente em condição da morte que bate a porta ou que invade sem pedir licença.
A vida que é pura realidade vai sendo roubada pela insegurança que assalta a coragem diante do medo repentino e diário.
Todavia, vivifica-se quando na imensidão de palavras carregadas de sonhos impressionam, inspiram e impulsionam a continuar.