"A Maria , que lhe pedia um milagre, Jesus, segundo São João, respondeu: " Que te importa, ó minha mãe, a minha hora ainda não chegou. "
Esta declaração poderia aplicar-se à mulher neste final do século vinte. A hora da mulher ainda não chegou na história do mundo, apesar de numerosos sinais levarem a crer que essa hora não está longe.
Até à época presente, e desde as origens, a mulher ainda não falou da mulher: a mulher foi venerada, ou maldita, pelo homem, através do cérebro masculino. Ela vivia, crescia, amadurecia, ela morria num universo inteiro ocupado pelo macho.
Virá rapidamente o tempo em que a mulher será. Como dizia Rainer Maria Rilke, estas poucas palavras não significam apenas o contrário do homem, mas qualquer coisa que vale por si mesma, " a mulher na sua humanidade".
Rilke acrescentava que esse progresso transformaria a experiência do amor. O amor não será mais a relação de um homem com uma mulher, mas a de uma humanidade com outra. " Este amor mais humano, pleno de respeito e de silêncio, é o que nós preparamos . Consiste em que duas solidões se protejam, se limitem e se respeitem."
No fim do segundo milénio, asssistimos neste domínio secreto mais que em muitos outros a uma mutação nas profundezas: quem sabe se o amor , esse mistério tão ambíguo, não vai receber um novo rosto?
Então reflectindo sobre o mistério da mulher e sobre o mito da princesa, os homens compreenderão que na projecção mística e poética a que chamamos princesa, tudo está já presente, misteriosamente prefigurado. Théodore de Banville no século passado tinha cantado esse mistério da mulher elevada ao seu mais alto grau de beleza e de nobreza:
As princesas, espelhos dos céus, orientes, tesouros
Dos tempos, regressaram para nós ao mundo,
E quando o artista implora, que só as conheceu,
Ordena-lhes que nasçam e revivam uma vez mais...
Revemos num rico e fabuloso cenário,
Mortes, amores, lábios ingénuos,
Vestidos abertos mostraram as pernas nuas,
Sangue e púrpura e broches de ouro.
As princesas, de que os séculos são avaros,
Triunfam de novo sobre tecidos raros;
Vemos os claros rubis acenderem-se sobre os seus braços,
As cabeleiras sobre as fontes flamejamantes
refulgir, e os seus seios de neve animarem-se
E os seus lábios abrirem-se como flores sangrentas.
Banville chama " tríptico da perfeição " o lugar onde se encontram as três mulheres que encarnam o amor sublime e que eram para ele a mãe, a irmã e a santa."
Jean Guitton, in " Cartas Abertas", Editorial Notícias
O advento da hora da Mulher é o tempo em que estamos vivendo! Não nos restam dúvidas. Porém, irá prolongar-se por séculos e séculos, como aconteceu ao do Homem. Contudo, o Homem por este tempo que se avizinha estará mais presente, mais útil, do que a Mulher o esteve até hoje, e será por ela mais considerado do que ele a considerou no passado. Quem o duvida?!... Não seremos já, pela lei natural da vida testemunhas desse desenrolar, do grandioso espectáculo que a Vida mostrará então, mas - palavra! - gostaríamos de poder voltar, volver cá, somente para espreitar-mos um pouco, olhar como tudo estará transformado então, nem que seja para a desprezível satisfação do nosso próprio "voyeurismo"...
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