Que me importa
amor
que seja dia
ou que seja noite iluminada
amor
que seja dia
ou que seja noite iluminada
Que me importa
amor
que seja a chuva
ou um novelo de paz a madrugada
amor
que seja a chuva
ou um novelo de paz a madrugada
Que me importa
amor
que seja o vento
ou a flor o fogo mais aceso
amor
que seja o vento
ou a flor o fogo mais aceso
Que me importa
amor
que seja a raiva
amor
que seja a raiva
Que me importa
amor
que seja o medo
amor
que seja o medo
Maria Teresa Horta, in «Minha Senhora de Mim" Editorial Futura, Lisboa 1974
Neste poema de M. T. Horta, distingo esta forma poética de desprezo pelo quer que seja, pelo medo, pelo dia, pela noite, pela raiva, pela chuva, pelo amor e pela madrugada, no mais profundo uma renúncia "egoística, aparente gesto de soberania que mais não traduz que a afirmação do desejo, de muitos desejos aí cifrados. Esse, "não", imanente, assim transformado em testemunha de rasgar das vestes, de ferir de carnes, de quase impropérios, de negações impulsivas, de cismas torturantes, esse repetido e insistente "que importa", assim vivo, grito e repulsa, como aguilhão a repisar a carne,quase continuamente, é a melhor razão do Ser, do Ser poeta, porque tanto transmite a ideia simplista que se desinteressa pelo que ainda não possui, como por tudo o que vivido se deseja repetir... Esguio, perfilado, em traços curtos, quase em jeito de ladaínha, assim singelo, não deixa de se poder tomar como um belo poema, traduzindo e interpelante tradutor. Ou, não?!... M. T. Horta é uma das vozes mais provocantes da Poesia Portuguesa, e como isso um valor e um enigma, para todo o leitor. Uma poetisa que soube tornar-se grande em espaço tão curto! Admirámo-la sempre!... - V. P.
ResponderEliminar