segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Noventa e dois anos de Sophia

Sophia de Mello Breyner Andresen nasceu a 6 de Novembro de 1919 (1919-2004). Completaram-se , ontem , 92 anos do seu nascimento. A poesia que nos deixou tem sido constantemente aplaudida e relembrada em todo o mundo. Hoje, também a recordamos.


As rosas

Quando à noite desfolho e trinco as rosas
É como se prendesse entre os meus dentes
Todo o luar das noites transparentes,
Todo o fulgor das tardes luminosas,
O vento bailador das Primaveras,
A doçura amarga dos poentes,
E a exaltação de todas as esperas.


Sophia de Mello Breyner,  in "Dia do Mar" (1º ed. Ática 1947, incluído no vol. I da "Obra Poética", ed. Caminho)

A anémona dos dias

Aquele que profanou o mar
E que traiu o arco azul do tempo
Falou da sua vitória
Disse que tinha ultrapassado a lei
Falou da sua liberdade
Falou de si próprio como de um Messias
Porém eu vi no chão suja e calcada
A transparente anêmona dos dias.

Sophia de Mello Breyner, in “No Tempo Dividido e Mar Novo”, Edições Salamandra, 1985, p. 67

1 comentário:

  1. Uma boa parte da vida da Sofia esteve ligada à Grécia, a sua grande paixão, e ao mar algarvio, esse mar que se avista da baía de Lagos!... Na Grécia se perdeu..., enamorada pelo encanto da mitologia, dos sadios contornos da natureza ,dos caprichos de Santorini, de Myconos e muitas mais ilhas, e vezes sem fim a elas retornou - mas "fugindo" de Atenas... - para absorver aquele azul impreganado de névoa e silêncio do Mar Egeu, pedaço do Olimpo disperso pela fecundidade de uma orografia magnânima, toda esplendor e arrebatamento. Por algumas daquelas ilhas andou, envolvida nos seus silêncios, calcorreando arribas, comendo os frutos doces que as camponesas lhe ofereciam com ternura e olhar melancólico... Por lá andou disfrutando aquele "lago" imenso, o mediterrâneo, a seus pés, com encanto e errância, com um amor ineludível, uma sensibilidade esmagante. Quando não pudia repetir os caminhos pedregosos das ilhas gregas, refugiava-se no Algarve, que assim se transformava na sua "pequena Grécia", como ela chegou um dia a designá-lo. O Porto, só em períodos curtos, esse Porto tristonho, chuvoso, cinzento, escurecido, de ruas estreitas, calçada íngreme subindo os ladeirentos regos, esse Porto que era o seu burgo natal. Mas, o seu olhar não conseguia esgotar-se na Foz do Douro... Necessitava de um sol meigo, feliz, acolhedor, e daquela brisa amornecida, temperada, suplemento para o seu corpo, dessa brisa perdida na vastidão das águas. O seu concílio com as flores, o modo delicado e o afago de que eram objecto, a ternura com que as olhava e as tocava com as suas mãos poderosas, foi outro dos seus "mundos", delicioso tempo que a ocupava horas, tardes sem fim... Obrigado, Sofia por teres gostado tanto da nossa terra Algarvia, por aqui terem nascido tantos dos teus mais belos poemas!... Recordá-la é lembrar uma das maiores - senão mesmo, a maior - das mulheres-poetas da nossa Poesia Contemporânea!... - Varela Pires

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