O realizador chileno Raúl Ruiz morreu ontem, anunciou a produtora cinematográfica Clap Filmes, responsável pela última obra do cineasta, rodada em Portugal, "Mistérios de Lisboa".
Raúl Ruiz, nascido no sul Chile, em 1941, filmou grande parte da sua obra, composta por mais de uma centena de filmes, na Europa. Vivia em França, onde procurou asilo político, após o golpe militar de 1973, liderado por Augusto Pinochet, que derrubou Salvador Allende.
Em Paris, Ruiz conheceu Paulo Branco, que produziu 15 dos filmes do cineasta. A relação entre ambos prolongou-se desde 1982 até aos nossos dias e levou a que Ruiz filmasse por 9 vezes em Portugal.
Raúl Ruiz, nascido no sul Chile, em 1941, filmou grande parte da sua obra, composta por mais de uma centena de filmes, na Europa. Vivia em França, onde procurou asilo político, após o golpe militar de 1973, liderado por Augusto Pinochet, que derrubou Salvador Allende.
Em Paris, Ruiz conheceu Paulo Branco, que produziu 15 dos filmes do cineasta. A relação entre ambos prolongou-se desde 1982 até aos nossos dias e levou a que Ruiz filmasse por 9 vezes em Portugal.
"Em 1983, Serge Toubiana escrevia no "Le cas Ruiz", o seu texto de apresentação dos Cahiers du Cinéma N°345, especial Raúl Ruiz: o cineasta mais prolífico da nossa época, aquele cuja filmografia é «quase» impossível de definir tal é a sua diversidade, esplendor e multiplicidade de formas de produção há mais de vinte anos (…).Desbravando o seu caminho através das suas características imagens e sons afiados, Ruiz, é um guerrilheiro que, descomprometidamente, assalta os pré‐conceitos da arte cinematográfica. Esta quase assustadora prolífica figura ‐ fez mais de 100 filmes em 30 anos ‐ não aderiu ao estilo de filmar de ninguém. Tem trabalhado em 35mm, 16mm e vídeo, para estreias em cinema e para as televisões Europeias, e no documentário e obras de ficção.
A carreira de Ruiz começou no teatro da vanguarda, onde, de 1956 a 1962, escreveu mais de 100 peças. Em 68 acaba o seu primeiro filme – “Três Tristes Tigres” – que lhe valeu de imediato o Leopardo de Ouro em Locarno.
Ao apoiar o Governo de Salvador Allende, Ruiz foi forçado a abandonar o seu país durante o golpe fascista de 1973. Vivendo, em exílio, em Paris desde essa época, Ruiz passou, desde logo, a ser considerado o enfant terrible da vanguarda parisiense e, em 1983, a mítica revista «Cahiers du Cinema» dedica‐lhe um número especial, exclusivo, honra recebida por poucos cineastas na história do Cinema Mundial, elegendo o seu filme “L’hypothese du Tableau Volé” como um dos dez melhores do mundo, realizados na década de 70 e elegendo‐o a ele como o cineasta “francês” mais importante desde Rohmer, Bresson e Godard.
Ao trabalhar com directores de fotografia inovadores como Diego Bonancia, Sacha Vierny, Henri Alekan e Ricardo Aranovitch, trouxe, novamente, a magia da poesia realista francesa, ao explorar o mundo da manipulação, da impotência e da violência. A forma como utiliza a luz, jogando com filtros e espelhos, recria a realidade fílmica, numa espécie de caleidoscópio, que nos introduz no labirinto das suas representações e que nos familiariza com o seu exoterismo fantástico.
Raúl Ruíz é considerado um híbrido único na história do cinema, reconhecido como um dos principais cineastas, um defensor do cinema de ideias, em que ele é o protótipo do artesão que cria imagens em movimento. Para Ruiz o Cinema é uma invenção, uma alquimia em que o realizador reúne todos os elementos com que se depara e os constrói através dos planos que cria, das imagens que regista no momento, dos conceitos que reinventa. A estética de um projecto é inerente à própria obra, é conseguida através da realização. E a admiração pela obra deste Mestre do Cinema prende‐se também com a genialidade com que aceita e concretiza, com reconhecido mérito, desafios cinematográficos que pareciam impossíveis para muitos. Um dos exemplos mais significativos na carreira de Ruiz acontece em 1999, quando decide adaptar ao Cinema, no seu filme, quase de culto, “Le Temps Retrouvé”, a obra de Proust, uma das mais prestigiadas obras literárias mundiais, que já Joseph Losey e Visconti tinham tentado adaptar, mas sem sucesso. Ruiz rodeou‐se de actores como Catherine Deneuve, John Malkovich, Emmanuelle Béart, Chiara Mastroianni, e do produtor Paulo Branco, e fez uma das obras mais conhecidas do cinema mundial, tendo sido vendido para 22 países e passado, em prime‐time nas maiores televisões internacionais e tendo feito em sala mais de 670.000 espectadores.
Mas Ruiz sempre manifestou a sua intimidade com alguns dos maiores escritores/pensadores de sempre, levando, ao longo da sua carreira, aos ecrãs de cinema, e para além de PROUST, adaptações de Jean GIONO com “Les Ames Fortes”; P. Calderon DE LA BARCA com “La Vie est un Songe; Robert Louis STEVENSON com “l’Îlle au Trésor”; RACINE com “Berenice”; Pieree KLOSSOWSKI com “La Vocation Suspendue” e “L’Hypothese du Tableau Volé”e ainda KAFKA com “La Colónia Penal” – todos referências absolutas na história do Cinema. Ruiz é, assim, reconhecido e aclamado no mundo inteiro, tendo marcado presença, nos últimos 30 anos, nos maiores festivais de cinema do mundo ‐ nomeado 4 vezes para a PALMA DE OURO (Cannes), onde foi também júri em 2002, tendo arrecadado o LEOPARDO DE OURO (Locarno), o URSO DE PRATA (Berlim), o CÉSAR, sendo candidato ao LEÃO DE OURO (Veneza), ganhando 2 vezes o PRÉMIO FIPRESCI em Montréal, sendo homenageado em ROTERDÃO (2004) ‐ “Raul Ruiz: An Eternal Wanderer” e no Festival de ROMA (2007), com a exibição de 46 dos seus filmes." In Clap Filmes
A carreira de Ruiz começou no teatro da vanguarda, onde, de 1956 a 1962, escreveu mais de 100 peças. Em 68 acaba o seu primeiro filme – “Três Tristes Tigres” – que lhe valeu de imediato o Leopardo de Ouro em Locarno.
Ao apoiar o Governo de Salvador Allende, Ruiz foi forçado a abandonar o seu país durante o golpe fascista de 1973. Vivendo, em exílio, em Paris desde essa época, Ruiz passou, desde logo, a ser considerado o enfant terrible da vanguarda parisiense e, em 1983, a mítica revista «Cahiers du Cinema» dedica‐lhe um número especial, exclusivo, honra recebida por poucos cineastas na história do Cinema Mundial, elegendo o seu filme “L’hypothese du Tableau Volé” como um dos dez melhores do mundo, realizados na década de 70 e elegendo‐o a ele como o cineasta “francês” mais importante desde Rohmer, Bresson e Godard.
Ao trabalhar com directores de fotografia inovadores como Diego Bonancia, Sacha Vierny, Henri Alekan e Ricardo Aranovitch, trouxe, novamente, a magia da poesia realista francesa, ao explorar o mundo da manipulação, da impotência e da violência. A forma como utiliza a luz, jogando com filtros e espelhos, recria a realidade fílmica, numa espécie de caleidoscópio, que nos introduz no labirinto das suas representações e que nos familiariza com o seu exoterismo fantástico.
Raúl Ruíz é considerado um híbrido único na história do cinema, reconhecido como um dos principais cineastas, um defensor do cinema de ideias, em que ele é o protótipo do artesão que cria imagens em movimento. Para Ruiz o Cinema é uma invenção, uma alquimia em que o realizador reúne todos os elementos com que se depara e os constrói através dos planos que cria, das imagens que regista no momento, dos conceitos que reinventa. A estética de um projecto é inerente à própria obra, é conseguida através da realização. E a admiração pela obra deste Mestre do Cinema prende‐se também com a genialidade com que aceita e concretiza, com reconhecido mérito, desafios cinematográficos que pareciam impossíveis para muitos. Um dos exemplos mais significativos na carreira de Ruiz acontece em 1999, quando decide adaptar ao Cinema, no seu filme, quase de culto, “Le Temps Retrouvé”, a obra de Proust, uma das mais prestigiadas obras literárias mundiais, que já Joseph Losey e Visconti tinham tentado adaptar, mas sem sucesso. Ruiz rodeou‐se de actores como Catherine Deneuve, John Malkovich, Emmanuelle Béart, Chiara Mastroianni, e do produtor Paulo Branco, e fez uma das obras mais conhecidas do cinema mundial, tendo sido vendido para 22 países e passado, em prime‐time nas maiores televisões internacionais e tendo feito em sala mais de 670.000 espectadores.
Mas Ruiz sempre manifestou a sua intimidade com alguns dos maiores escritores/pensadores de sempre, levando, ao longo da sua carreira, aos ecrãs de cinema, e para além de PROUST, adaptações de Jean GIONO com “Les Ames Fortes”; P. Calderon DE LA BARCA com “La Vie est un Songe; Robert Louis STEVENSON com “l’Îlle au Trésor”; RACINE com “Berenice”; Pieree KLOSSOWSKI com “La Vocation Suspendue” e “L’Hypothese du Tableau Volé”e ainda KAFKA com “La Colónia Penal” – todos referências absolutas na história do Cinema. Ruiz é, assim, reconhecido e aclamado no mundo inteiro, tendo marcado presença, nos últimos 30 anos, nos maiores festivais de cinema do mundo ‐ nomeado 4 vezes para a PALMA DE OURO (Cannes), onde foi também júri em 2002, tendo arrecadado o LEOPARDO DE OURO (Locarno), o URSO DE PRATA (Berlim), o CÉSAR, sendo candidato ao LEÃO DE OURO (Veneza), ganhando 2 vezes o PRÉMIO FIPRESCI em Montréal, sendo homenageado em ROTERDÃO (2004) ‐ “Raul Ruiz: An Eternal Wanderer” e no Festival de ROMA (2007), com a exibição de 46 dos seus filmes." In Clap Filmes
Paulo Branco ficou associado aos melhores momentos da carreira de Ruiz, nomedamente através da produção de "Genealogias de Um Crime" (1997), premiado com o Urso de Ouro em Berlim, e "O Tempo Reencontrado", a ambiciosa adaptação da obra de Marcel Proust.
Ambos colaboraram em "Mistérios de Lisboa", o fresco romanesco de quatro horas e meia integralmente rodado em Portugal e que se tornou num dos maiores sucessos internacionais do cineasta.
O filme, baseado na obra de Camilo Castelo Branco e com argumento de Carlos Saboga, foi exibido em França (onde continua em exibição, tendo sido visto por 100 mil espectadores), Estados Unidos, Espanha, Taiwan, Suíça e Bélgica e tem estreia assegurada noutros países, como Japão, Brasil, Reino Unido, Austrália e Nova Zelândia.
"Mistérios de Lisboa" foi galardoado com a Concha de Prata no Festival de San Sebastian, em Espanha, com o Prémio Louis Delluc, com o Prémio da Crítica na Mostra de São Paulo e com três Globos de Ouro nacionais.
Em declarações à Antena 1, Paulo Branco acrescentou que teve um "prazer enorme" em todas as colaborações com o cineasta, que totalizam 15 filmes.
O produtor português define Raoul Ruiz como "absolutamente surpreendente", uma pessoa "de uma humanidade e de um humor que raramente se conseguem encontrar".
Ruiz não resistiu a uma infecção pulmonar e o seu estado de saúde suscitava frequentes cuidados desde que lhe foi diagnosticado um tumor cancerígeno no decorrer das filmagens de "Mistérios de Lisboa".
Muitos especularam que esse seria o seu derradeiro filme. Mas depois de "Mistérios" concluiu, no decorrer deste ano, uma adaptação da novela "La Noche de Enfrente", do escritor francês Jean Giono, e tinha iniciado a pré produção de "As Linhas de Torres", cujas filmagens estão marcadas para começar em Setembro.
Paulo Branco já assumiu que pretende concretizar o filme histórico "As Linhas de Torres", uma produção com orçamento de 4,5 milhões de euros sobre a resistência anglo-portuguesa às invasões napoleónicas, com elenco internacional liderado por Mathieu Amalric e John Malkovich.
De acordo com a nota da produtora Clap Filmes, a cerimónia fúnebre realizar-se-á a 23 de agosto, às 10h30, na Igreja Saint-Paul, em Paris. O corpo do cineasta será sepultado no Chile.in Cinemax,RTP com Lusa e AFP - 20 agosto '11
Como pode Ruiz ter conhecido Paulo Branco em 1982 se ambos já tinham produzido juntos The Territory em 1981 ?
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