" Vim-me embora sem ousar tocar-lhe. Sem ousar tocar-lhe o rosto, apesar de estar perfeitamente ao meu alcance durante aquilo a que ela chamou o meu sermão. Sem ousar tocar-lhe os cabelos longos que estavam ao meu alcance. Sem ousar pousar-lhe a mão na cintura . Sem ousar dizer que já tinhamos estado juntos uma vez. Sem ousar dizer nenhuma das palavras que um homem mutilado como eu diz a uma mulher desejável quarenta anos mais nova sem ficar coberto de vergonha por ceder à tentação de um deleite que não pode saborear e de um prazer que está morto. Já me bastava o facto de não ter acontecido nada entre nós para além da nossa conversa curta e agreste sobre Kliman( ...).
Estava a aprender aos setenta e um anos o que é ficar confuso. A provar que afinal a descoberta de mim mesmo ainda não tinha acabado. A provar que o drama que normalmente está associado aos jovens quando começam a entrar plenamente na vida - aos adolescentes , aos homens jovens e decididos como o novo capitão da " Linha de Sombra" - também pode sobressaltar e assediar os velhos ( incluindo um velho resolutamente armado contra todo o tipo de dramas), mesmo quando as circunstâncias os preparam para a partida.
Talvez as descobertas mais poderosas estejam guardadas para o fim. "
Philip Roth, in " O Fantasma Sai de Cena", Editora Dom Quixote, 2007A escrita de Philip Roth tem sido premiada com as mais altas distinções. É uma escrita peculiar , debruçada sobre a condição e vulnerabilidade humanas. O retrato do homem marcado pelo devir do tempo é uma das temáticas constantes da sua obra. A agudeza com que estabelece a dialéctica entre o corpo vivido e o corpo sentido é magistralmente desenvolvida. Em obras como " O Fantasma Sai de Cena", e " Todo -O -Mundo" essa realidade é palapável . O homem em pleno confronto com a sua trágica finitude. A velhice Rothiana é um extraordinário exercício de excelente escrita e de profunda sabedoria sobre a experiência humana. Assim, é com todo o mérito que novamente este escritor é galardoado com um prestigiado prémio.
"O romancista norte-americano Philip Roth foi galardoado com o Prémio Internacional Booker de 2011, que de dois em dois anos distingue um autor pelo conjunto da sua obra.
A lista de nomeados de 2011 englobava 12 autores.
Os anteriores laureados com o prémio nos últimos anos foram a canadiana Alice Munro (2009), o nigeriano Chinua Achebe (2007) e o albanês Ismail Kadaré (2005).
"Durante mais de 50 anos, os livros de Philip Roth estimularam, provocaram e divertiram um publico imenso, que continua a aumentar", afirmou Rick Gekoski, presidente do júri, durante o anúncio do vencedor, em Sydney, na Austrália.
"A sua imaginação não só refundou a nossa ideia de identidade judaica, como reanimou a ficção, não apenas norte-americana, mas em geral", acrescentou.
Philip Roth, 78 anos, escreveu duas dezenas de romances como "Adeus Colombo", "A Pastoral Americana", pelo qual recebeu o prémio Pulitzer em 1998, "O Complexo de Portnoy" e "A conspiração contra a América".
A sua obra foi particularmente dedicada à sua personagem fetiche e duplo literário Nathan Zuckerman, cujo ciclo começou com "O escritor fantasma", em 1979, e terminou com o "O fantasma sai de cena", em 2007.
O prémio Internacional Booker foi lançado em 2005, em complemento ao prestigiado Prémio Booker.
A diferença entre os dois prémios reside no facto do Prémio Internacional Booker não recompensar uma obra em particular mas o conjunto do trabalho do autor, qualquer que seja a sua nacionalidade."Lusa
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