segunda-feira, 18 de abril de 2011

Poemas da Liberdade II


Porque o mês de Abril também se escreve com a palavra LIBERDADE , cumpre-nos recordar alguns poetas que a cantaram. Poemas da Liberdade prossegue com o poema  "Mensagem" de Manoel de Andrade.

Mensagem
Vós que aguardais a vida no ventre dos séculos,
vós que sois a gestação da grande raça ainda por vir,
gerações futuras,
hoje é para vós que eu canto…
porque hoje nós vivemos num tempo de mártires
granadas desabrochando velozes
mil panteras famintas rondando nosso ventre
punhais atiçados em todos os punhos.

Homens do futuro
é para vós minha esperança
minha certeza ardente
as rosas rubras dos meus lábios.
Vós que sois as uvas
e o pão da justiça em nossos sonhos calcinados.
Vós que vireis para justificar o nosso sangue
e a nossa dor.

Vai meu verso, vai…
porque hoje é triste demais cantar nas trevas
cantar com os gritos do meu povo
com o murmúrio dos oprimidos
e com minha fala feita em prantos,
feita de pássaros torturados,
cantar com os corpos dos que tombam,
e sentir que morro tantas vezes
e saber que tantos já morreram
para que vós piseis um dia o chão da liberdade.

Vai,veleiro, vai...
meus versos transformados num solitário barco
a vos buscar além de muitas luas.
Vou-me daqui
para não ver minha canção murchando.
Vou-me daqui
para morar convosco na imortalidade da vida.

Vai,veleiro, vai...
e não encalhes a poesia nas águas rasas destes anos
porque aqui os poetas já não são ouvidos.
Navega em busca dos que virão ainda,
leva meu sonho pelo imenso mar do tempo,
leva-me para bem longe das minhas lágrimas.

Manoel de Andrade, in " Poemas para a Liberdade",Curitiba , Novembro de 1968, Edições Escrituras, São Paulo - Brasil

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