Cartaz de João Vaz de Carvalho sobre Dia Mundial do Livro 2011 |
"Le livre ne se donne pas si on le parcourt. Le grand lecteur est celui qui sait «s’abandonner totalement à lui,esprit comme corps, esprit plongeant dans les pages comme la tête ». Charles Dantzig
Gabriel García Márquez afirmou que " A literatura é tão importante para conservar, como para inovar , como para criar." Autor de livros fabulosos, mestre do imaginário fantástico traduzido de forma sublime numa prosa mais poética que alguma da melhor poesia, este grande homem das letras terá sempre o seu nome associado a qualquer acto que tenha como objecto o livro. O exercício do encanto que pratica magistralmente nos seus romances sobre a condição humana transforma o leitor num amante incondicional. O talento deste escritor mede-se pela fruição vertiginosa que a leitura das suas obras provoca. Romances como " Amor em Tempo de Cólera ", composto de 400 páginas mágicas sobre a intemporalidade do amor, estruturadas circularmente através da recuperação de uma memória imaculada sem qualquer infíma mancha de esquecimento ou como a outra extraordinária obra-prima " Cem Anos de Solidão", romance eterno e registo perfeito de um realismo sublimado, são lidas em puro estado de deslumbramento . Garcia Márquez não é apenas um símbolo da referenciada como nova era do romance latino americano é primordialmente o ícone da excelência do romance .
Milan Kundera, outro grande escritor, em " Arte do Romance" enuncia a importância de quatro séculos de romance europeu para a compreensão dos tempos Modernos e de todos os grandes temas existenciais. Para ele o fundador dos tempos Modernos não é apenas Descartes mas também Cervantes ou seja: " Um por um, o romance descobriu à sua própria maneira , pela sua própria lógica, os diferentes aspectos da existência : com os contemporâneos de Cervantes interroga-se sobre o que é a aventura ; com Samuel Richardson, começa a examinar " o que se passa no interior ", a desnudar a vida secreta dos sentimentos ; com Balzac descobre o enraizamento do homem na História; com Flaubert explora a terra até então incógnita do quotidiano; com Tolstoi debruça-se sobre a intervenção do irracional nas decisões e no comportamento humanos. Sonda o tempo ; o fugidio momento passado com Marcel Proust; o fugidio momento presente com James Joyce. Interroga-se , com Thomas Mann, o papel dos mitos que , vindos do fundo dos tempos, teleguiam os nossos passos. Et caetera, et caetera.
O romance acompanha o homem constante e fielmente desde o começo dos Tempos modernos. A "paixão de conhecer" ( aquela que Husserl considera a essência da espiritualidade europeia) apoderou-se então dele para que prescrute a vida concreta do homem e a proteja contra " o esquecimento do ser "; para que mantenha " o mundo da vida " sob uma iluminação perpétua. É nesse sentido que compreendo e partilho a obstinação com que Hermann Broch repetia : Descobrir aquilo que só um romance pode descobrir , é a única razão de ser de um romance . O romance que não descobre uma porção até então desconhecida da existência , é imoral. O conhecimento é a única moral do romance."
Os livros e aquilo que encerram enriquecem as mentes e recriam o mundo. O romance não examina a realidade, mas sim a existência.O romancista não é um historiador nem um profeta: é um explorador da existência.
Ler e mergulhar nos livros intensamente é um momento decisivo porque é um acto de abandono , uma acto de entrega e de isolamento quase um acto de pura solidão de leitor com o texto que vai descobrir. E nessa entrega constrói-se uma relação que tão depressa é densa como suave, de paixão como de ódio, de sonho como de pesadelo, de paz como de violentação, de amor como de raiva, de combate como de entrega , enfim é uma relação dialógica do intérprete com o seu texto.
E é assim a glória da leitura e o milagre do livro. Prestemos-lhe homenagem neste dia mundial do Livro.
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