quinta-feira, 31 de março de 2011

Eventos literários em Portugal e em França


DISQUIET

O Centro Nacional de Cultura acolherá entre 19 de Junho e 1 de Julho aproximadamente sessenta escritores norte-americanos em Lisboa para uma Universidade de Verão em que terão ocasião de se encontrar com personalidades da cultura lusófona, nomeadamente escritores; António Lobo Antunes, Richard Zenith, José Eduardo Agualusa, José Luís Peixoto, valter hugo mãe, João Tordo, Fernando Pinto do Amaral, Patrícia Reis, Luísa Costa Gomes, Fernando Pinto do Amaral são alguns dos muitos participantes no programa que inclui leituras, conferências, conversas informais, passeios literários, etc. No âmbito deste programa tem lugar uma homenagem a Alberto de Lacerda (1928-2007), poeta que viveu em Moçambique, Londres e nos Estados Unidos da América. In site do CNC
Mais informações: http://www.dzancbooks.org/storage/ilp/program.html


GOA: PASSADO E PRESENTE

Por ocasião dos 500 anos de relacionamento Portugal-Goa, o Centro de Estudos dos Povos e Culturas de Expressão Portuguesa da Universidade Católica Portuguesa em colaboração com o Instituto de Estudos Orientais da mesma Universidade, com o Centro de História de Além Mar da Universidade Nova de Lisboa e da Universidade dos Açores, o Instituto de Etnomusicologia das Universidades Nova de Lisboa, de Aveiro e Técnica de Lisboa e ainda o Instituto de Estudos Asiáticos da AESE, a Casa de Goa, a Associação de Amizade Portugal-Índia e o Centro Nacional de Cultura, realizarão um Congresso Internacional em Lisboa, de 26 a 29 de Outubro próximo, subordinado ao tema «Goa: Passado e Presente».
O público interessado em participar ou assistir a este evento deverá consultar o site: http://www.cham.fcsh.unl.pt/congressogoa.html

Festival literário "Colibris", dos autores aos leitores
« Colibris» é um Festival Literário  que se realiza em  Marselha de 1 a  12 de Abril de 2011.  Nesta  quarta edição de encontros literários  latino-americanos , o México, a Argentina , o Brasil , a Colômbia e o Perú serão os convidados de honra.
« La cité phocéenne » poderá resplandecer com mil brilhos latinos de acordo com o programa :. « Nesta Primavera de 2011, CoLibriS abre as fronteiras para que os leitores possam descobrir os territórios imaginários e reais da América latina. Pela primeira vez, tendo particularmente  em destaque a Literatura Mexicana, o Festival propõe uma abordagem transversal sob o tema da  fronteira quer seja geográfica, social, linguística , cultural ou intimista. »
Para o efeito, foram convidados  doze autores publicados em França por diferentes Editoras (Belfond, Métailié, Verticales, Zumla, etc.) . O Festival terá ja algumas pré-manifestações a partir de 29 de Março.  


"Quand l'Europe s'éveillera" de Laurent Cohen-Tanugi
Auteur de nombreux ouvrages sur la question européenne L'Europe en Danger (1992) ou Le choix de l'Europe (1995) Laurent Cohen-Tanugi s'intéresse une nouvelle fois au Vieux Continent en révélant méthodiquement ses failles et ses occasions manquées à un moment critique de son histoire.
Crise financière mondiale de 2008, crise de la zone euro en 2010, désintérêt voire désaffection récurrente des Européens envers l'Union Européenne (UE) et ses institutions : cela fait beaucoup pour un seule entité qui doit survivre avec l'influence croissante de nouvelles superpuissances.
François Mitterrand avait affirmé à la veille du référendum sur Maastricht en 1992 : « la France est notre patrie, l'Europe, notre avenir ». L'idée défendue par Laurent Cohen-Tanugi d'un XXIe siècle européen, espéré par beaucoup, n’aura, selon l’auteur lui-même, pas lieu. Ce siècle sera asiatique, ou plutôt chinois, contre-balancé par des États-Unis en relatif déclin, mais toujours omniprésents, et il verra l'essor de moindres puissances comme le Brésil ou l'Inde... mais l'Europe dans tout ça, où en est-elle
?

Lire la suite :Quand l'Europe s'éveillera, de Laurent Cohen-Tanugi




PHOENIX,revue de poésie
O nº 2 da Revista de Poesia e Literatura PHOENIX  foi apresentado no dia 10 de Março de 2011, às 17h15 no  ESPACE CULTURE 42 ,la Cannebière 13001 MARSEILLE
Phoenix continuidade  à Revista "Autre Sud" , e a "Sud",  herdeiras   dos famosos  "Cahiers du Sud". Todas estas  revistas, criadas em  Marselha com uma visão mediterrânica, foram reconhecidas , ao longo dos tempos, no plano internacional.
Retour au silence

Toute écriture
tout poème
retournent
un jour
au silence

*C'est l'espoir
qui n'en finit pas
de nous rêver
dans l'insomnie
du sommeil

*Ma parole
est faite
du bruissement
de toutes
les autres
[…]
Bernard Mazo,in  Phoenix, Cahiers Littéraires Internationaux

O tu e o eu na paisagem

Não é o restolhar do vento.
É a tua lembrança
que se ergue em mim.

Não é a rosa do sol a esfolhar-se.
É a minha boca -sede e romã-
que sangra na tarde.

Não é a noite que desce.
É a sombra dos teus olhos
a fechar o horizonte.

Luísa Dacosta, in " A Maresia e o Sargaço dos Dias"

quarta-feira, 30 de março de 2011

Música do Brasil

Chico Buarque e Nana Caymmi, dois talentos brasileiros,  interpretando uma bela modinha.



Até pensei

Junto à minha rua havia um bosque
Que um muro alto proibia
Lá todo balão caía
Toda maçã nascia

E o dono do bosque nem via
do lado de lá tanta aventura
E eu a espreitar na noite escura
A dedilhar essa modinha
A felicidade morava tão vizinha

Que, de tolo
Até pensei que fosse minha
Junto a mim morava a minha amada
Com olhos claros como o dia
Lá o meu olhar vivia
De sonho e fantasia
A dona dos olhos nem via

Do lado de lá tanta aventura
E eu a esperar pela ternura
Que enganar nunca me vinha
Eu andava pobre
Tão pobre de carinho

Que, de tolo
Até pensei que fosses minha
Toda a dor da vida
Me ensinou essa modinha
Que, de tolo
Até pensei que fosse minha
Composição: Chico Buarque

Dilma Rousseff regressa ao Brasil


A Presidente do Brasil foi recebida em Coimbra, em clima de grande alegria pelos estudantes brasileiros. Cumprindo a tradição,  lançaram as capas ao chão para  que Dilma Rousseff passasse.
"A presidente do Brasil, Dilma Rousseff, que ontem iniciou uma visita oficial a Portugal, decidiu antecipar o regresso ao Brasil para o início da tarde de hoje devido à morte do ex-vice-presidente brasileiro José Alencar, que perdeu uma longa luta contra o cancro. Ficam assim anulados os encontros que Dilma tinha previstos com o Presidente da República, Cavaco Silva, e com o primeiro-ministro demissionário, José Sócrates.Nós estamos num momento de muito sentimento. Foi uma grande honra ter convivido com ele [Alencar], ele vai deixar uma marca. Estamos muito emocionados", afirmou Dilma ontem ao final da tarde em Coimbra, onde hoje de manhã assiste à cerimónia de doutoramento Honoris Causa do seu antecessor no cargo, Luís Inácio Lula da Silva, o único acto oficial da agenda da visita que decidiu manter.Lula, que estava ao lado de Dilma quando ela recebeu a notícia da morte de Alencar e que vai acompanhar a presidente no regresso ao Brasil, chorou e desabafou: "Conheço poucos seres humanos que tenham a alma de José Alencar, a bondade dele. O Brasil perde um homem de dimensão excepcional", afirmou o ex-presidente.
José Alencar, de 79 anos, morreu ao final da tarde de ontem em São Paulo, vítima de um cancro no abdómen e falência múltipla de órgãos. Ele estava internado desde a tarde de segunda-feira no Hospital Sírio-Libanês, onde nos últimos anos fora hospitalizado inúmeras vezes e se submetera a 17 cirurgias e tratamentos de quimioterapia.A visita de pouco mais de 24 horas de Dilma Rousseff a Portugal foi assim substancialmente reduzida, com a presidente a regressar ao Brasil ao final da manhã de hoje, logo após a cerimónia de doutoramento de Lula na Universidade de Coimbra. A chefe de Estado brasileira devia ser recebida esta tarde em Lisboa por Cavaco Silva e pelo primeiro-ministro demissionário, José Sócrates, encontros que ficaram sem efeito."In CM

terça-feira, 29 de março de 2011

Javier Heraud, poeta e revolucionário


POEMA

Mil países que
eu não conheço,
mil estrelas e
túneis,
mil países e povoados,
mil e uma pontes
incontáveis.
Desconhecido país:
em tuas portas já
me sinto torturado,
em tua boca já me
sinto mastigado,
em teus rios já
me sinto agora
e sempre e nunca
afogado.
Javier Heraud, in “ POESÍAS COMPLETAS Y HOMENAJE”, Lima
O poeta Javier Heraud, (1942-1963), nasceu em Lima e faleceu com apenas vinte e um anos. Poeta precoce, detentor de uma fluida riqueza poética, publica o seu primeiro livro "El rio" com apenas dezoito anos de idade. Oriundo de uma família abastada e apesar de ter estudado e viajado pelo mundo , abandona um futuro brilhante e confortável para se entregar à luta pela  libertação do seu povo oprimido por uma   infame exploração. Morre baleado por uma forte  carga policial no meio do rio Madre de Dios, quando integrava as forças guerrilheiras do Perú.
Manoel de Andrade  escreveu um excelente artigo sobre este grande poeta revolucionário que se transcreve parcialmente.
JAVIER HERAUD: a poesia e a vida por um sonho
Por Manoel de Andrade
(...)Os vinte e um anos da vida de Javier Heraud Pérez é parte da história da literatura política da América Latina nas décadas de 60-70, e que ainda está por ser escrita. Nessa memória, a poesia rebelde ocupa uma mágica galeria de mártires e sobreviventes, lembrando dezenas de poetas que empenharam suas vidas, seus sonhos e o encanto de suas metáforas para cantar a mística revolucionária pela lírica dimensão da poesia.
Javier Heraud foi a poética expressão do espanto ao testemunhar sua esperança e sua angústia numa sociedade cruel. O Peru era um país marcado pela mais descarada opressão e o desprezo por um povo indígena com o mais belo passado de glória do continente americano e que desde a conquista galga um longo calvário em seu destino.
Nascido em Lima, em 19 de janeiro de 1942, conheceu na juventude uma pátria convulsionada pelo domínio estrangeiro sobre as comunidades quéchuas dos Andes Centrais, pelas mais perversas práticas de servidão no trabalho agrícola, e por uma infindável injustiça, cuja impunidade precipitava a nação num perigoso abismo social. Começava a década de 60 e, pelo país inteiro os trabalhadores, há anos sugados pelo trabalho das minas e do campo, faziam suas primeiras marchas, sangrados pela repressão. Os camponeses, literalmente, para não morrer de fome, preferiam cair lutando para retomar as terras que lhes foram usurpadas. Nas grandes fazendas de açúcar, os trabalhadores estavam na vanguarda dessa luta. As grandes empresas norteamericanas ditavam suas ordens e o governo peruano as cumpria com o dedo no gatilho e lotando as prisões.
Os primeiros contatos com a vida acadêmica em San Marcos trouxeram a Heraud novas concepções sociais e políticas e houve um dia, um momento, em que ele começou a trocar os encantos de Miraflores pelas solitárias trilhas andinas de seu país, e as paisagens humanas que encontrou encheram-lhe a alma de assombro e amargura:
(…)”E lembrei de minha pátria triste
meu povo amordaçado
suas crianças tristes, suas ruas
despovoadas de alegria.
Lembrei, pensei, entrevi suas
praças vazias, sua fome,
sua miséria em cada porta.
Todos recordamos o mesmo
triste Peru, dissemos, ainda é tempo
de recuperar a primavera,
de semear de novo os campos, (…)
Triste Peru, aguarda,
nascerão de novos rios,
novas primaveras serão
devastadas por novos outonos,
e em cada face brilhará
uma alegria transbordante
e no povo, com sua força,
reunido e santo ” [2]
(...)O marxismo, com seu caráter científico e analítico da sociedade, sua mística ideológica, sua dimensão moral do “homem novo”, seu legítimo romantismo semeado pela aventura da Sierra Maestra e a saga de Che Guevara, transformou-se numa mágica convocação, numa cartilha de sonhos que, iluminada pela imagem da justiça social e da solidariedade com os pobres e oprimidos, unia, num gesto plural e despojado, intelectuais, estudantes e trabalhadores. Javier Heraud foi um exemplo eloquente dessa opção. Consciente de que somente a insurreição armada poderia banir a dominação oligárquica e o indisfarçável colonialismo que ainda predominava no Peru, escolheu colocar sua vida na balança do destino, embora sabendo que poderia encontrar a morte na travessia do seu sonho. Renunciando a uma grandeza literária que já se anunciava nas letras peruanas como um provável sucessor do grande Cesar Vallejo, não vacilou em despedir-se de si mesmo e assumir, com o codinome de Rodrigo Machado, a sublime missão de defender os oprimidos.(...)Em 14 de maio, depois de vários dias por trilhas amazônicas, essa vanguarda tática, da qual fazia parte Javier Heraud, chega a Porto Maldonado, uma pequena cidade, capital do departamento de Madre de Dios, a uns 40 quilômetros da fronteira boliviana, onde ficaram os demais. Entram na cidade, e o chefe do grupo, Alaín Elías, com 24 anos, é confundido com o guerrilheiro Hugo Blanco.(...) Javier ferido se recosta e todos os tiros concentram-se no seu corpo. Os estampidos se sucederam das onze e meia à uma da tarde como um sádico tiro ao alvo. É um tempo irreal, apavorante para duas vítimas indefesas, porque marca o supremo desespero da sobrevivência. As explosões ecoavam como mágicos relâmpagos explodindo o sacrário da esperança de dois jovens sonhadores. De repente, o silêncio. Uma canoa que se mantém imóvel sobre as águas. A missão estava cumprida, a dignidade humana ultrajada, o massacre consumado por militares treinados para matar e por fazendeiros treinados pela ambição e pelo ódio. Estirado sobre o tronco flutuante, os olhos do poeta buscam ainda o azul, despedindo-se do querido céu da pátria. Quem sabe, no derradeiro alento, Javier Heraud tenha-se lembrado das palavras que alguma vez escreveu àquela que lhe embalou a infância:
“Recorda tu, recordem todos que meu carinho e meu amor crescerão sempre, que nada nem ninguém nos poderão separar, ainda que estejamos distantes, e que algum dia nos reuniremos para cantar e chorar juntos, para abraçar-nos e querer-nos mais. E que eu sempre serei o menino a quem tu tiveste nos braços ainda que haja crescido por este tempo que avança e destroça os anos, mas não as recordações.”(6 )
Depois de sua morte o Exército de Libertacão Nacional do Peru (ELN), em que militava, retomou a luta, em 1965, sob o comando de Héctor Béjar, e em sua memória a Organização passou a chamar-se Guerrilha Javier Heraud.
(...)No mês seguinte da morte do poeta, Neruda enviou esta carta à familia Heraud:
Universidade do Chile
Ilha Negra, junho de 1963
Li com grande emoção as palavras de Alejandro Romualdo sobre Javier Heraud. Também o valioso exame de Washigton Delgado, os protestos de Cesar Calvo, de Reinaldo Naranjo, de Arturo Corcuera, de Gustavo Valcárcel. Também li o comovente relato de Jorge A. Heraud, pai do poeta Javier.
Sinto que uma grande ferida foi aberta no coração do Peru e que a poesia e o sangue do jovem caído seguem resplandecentes, inesquecíveis.
Morrer aos vinte anos crivado de balas “desnudos e sem armas no meio do rio Madre de Dios, quando estava à deriva sem remos …” o jovem poeta morto ali, esmagado ali naquelas solidões pelas forças das trevas. Nossa América escura, nosso tempo escuro.
Não tive a ventura de conhecê-lo. Pelo que vocês contam, pelo que choram, pelo que recordam, sua curta vida foi um deslumbrante relâmpago de energia e de alegria.
Honra à sua memória luminosa. Guardaremos seu nome bem escrito. Bem gravado no mais alto e no mais profundo para que continue resplandecendo. Todos o verão, todos o amarão no amanhã, na hora da luz.
Pablo Neruda
[2] HERAUD,.Javier. Poesías Completas, in: “Vida y muerte en la poesía de Javier Heraud” Lima, Campodónico Ediciones, 1975.
(6)HERAUD, Javier. Op. Cit.
Manoel de Andrade, Curitiba, Brasil

Ler o artigo completo:http://palavrastodaspalavras.wordpress.com/2011/03/09/javier-heraud-a-poesia-e-a-vida-por-um-sonho-1-por-manoel-de-andrade-curitiba

segunda-feira, 28 de março de 2011

O conceito de Bem Viver


"O conceito de Felicidade Nacional Bruta adoptado desde os anos 1970 no Butão, pequeno reino encravado na cordilheira do Himalaia, entre a China e Índia, define que o princípio básico para garantir a felicidade é que a economia esteja a serviço do bem-estar da população. Isso é bem diferente do que se viu na recente crise económica mundial, quando inimagináveis quantias de dinheiro público - suficiente para acabar com a pobreza e a exclusão social no mundo periférico - foram aplicadas pelos países capitalistas centrais para evitar a quebra de grandes empresas privadas, em nome da manutenção da produção, da virtual garantia de empregos e da sobrevivência do sistema. Como tudo isso tem a ver directamente com a qualidade de vida e a sobrevivência das pessoas, parece ser apropriado que a Bioética, nos próximos anos, comece a aprofundar debates que incorporem as relações entre bioética e política proposta pela “Bioética de Intervenção”, e o conceito de Biopolítica desenvolvido por Michel Foucault.
Uma contribuição interessante originada na América Latina e que traz novidades no debate contemporâneo sobre “desenvolvimento” é o conceito de Bem Viver, antiga filosofia de vida das sociedades indígenas da região andina, especialmente da Bolívia, que já a incluiu na sua Constituição. Nesse conceito não contam tanto as riquezas, ou seja, as coisas que as pessoas produzem, mas o que as coisas produzidas proporcionam concretamente para a vida das pessoas. Na formulação da Filosofia do Bem Viver não são levados em consideração apenas os bens materiais, mas outros referenciais como o conhecimento, o reconhecimento social e cultural, os códigos éticos e espirituais de conduta, a relação com a natureza, os valores humanos, a visão de futuro...
De acordo com esse contexto, a economia deve-se pautar por uma convivência solidária, sem miséria, sem discriminações, garantindo um mínimo de coisas necessárias para a sobrevivência digna de todos. O Bem Viver expressa a afirmação de direitos e garantias sociais, económicas e ambientais. Todas as pessoas têm igualmente o direito a uma vida decente que lhes assegure saúde, alimentação, água limpa, oxigénio puro, moradia adequada, saneamento ambiental, educação, trabalho, emprego, descanso e ócio, cultura física, vestuário, aposentadoria, etc.
Todas estas ideias têm relação directa com a Bioética que vários grupos de estudo e pesquisa latino-americanos comprometidos com a realidade sócio-cultural dos seus países haviam começado a produzir na região já nos anos 1990. Tal processo original de caminhada académica e construção científica se revelou acertado quando, em Outubro de 2005, com o apoio unânime de 191 nações e a participação decisiva dos países da América Latina, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura - UNESCO - homologou a Declaração Universal sobre Bioética e Direitos Humanos(1). O referido documento - o mais importante já produzido mundialmente sobre Bioética - politizou definitivamente a agenda internacional deste “novo território do saber” (no dizer de Francesco Bellino), incorporando à sua pauta praticamente todas as questões relacionadas com o contexto de Bem Viver.
Em Novembro de 2009 a UNESCO promoveu na Cidade do México a 16ª. Sessão do International Bioethics Committee - organismo composto por membros de 36 países e que tem a mais expressiva representatividade e legitimidade mundial da área de Bioética. A referida reunião reconheceu formalmente a paternidade da América Latina com relação à inclusão - na Declaração Universal de Bioética acima referida - das questões sanitárias, sociais e ambientais na nova agenda bioética do Século 21." Por Volnei Garrafa, Editor Chefe – RBB,2009
(1) consultar publicação do Blog de 2/09/2009

domingo, 27 de março de 2011

Ao Domingo há Música

A Europa estultificou e com ela o respeito pela independência dos países que a compõem. Ingerência, sobranceria e ousadia soberba vieram pelas vozes de uma precária Chanceler da Alemanha, do pretenso descendente directo de Napoleão Bonaparte e de outros quejandos que para Bruxelas emigraram por via da falta de espaço nos seus países de origem. Agregaram-se e não é que, de estultice em estultice, pretendem governar à distância este ainda nosso país.Regressar ao tempo de Castela, ao reinado dos Filipes,às invasões francesas ou aos tenebrosos sonhos pangermânicos é um execrando exercício e um atentado ao salutar e democrático espírito que deve gerir as relações entre os homens e os Tratados Internacionais.
Ouvir essa gente não faz falta para cumprir Portugal. E porque nesta semana também celebrámos a Poesia e o advento da Primavera ficam as palavras inconfundíveis de David Mourão Ferreira na voz maior de Mariza que apagam quaisquer indesejáveis ruidos predadores.



Primavera


Todo o amor que nos prendera
Como se fora de cera
Se quebrava e desfazia
Ai funesta primavera
Quem me dera, quem nos dera
Ter morrido nesse dia


E condenaram-me a tanto
Viver comigo meu pranto
Viver, viver e sem ti
Vivendo sem no entanto
Eu me esquecer desse encanto
Que nesse dia perdi


Pão duro da solidão
É somente o que nos dão
O que nos dão a comer
Que importa que o coração
Diga que sim ou que não
Se continua a viver


Todo o amor que nos prendera
Se quebrara e desfizera
Em pavor se convertia
Ninguém fale em primavera
Quem me dera, quem nos dera
Ter morrido nesse dia

Composição:
David Mourão-Ferreira e Pedro Rodrigues

sábado, 26 de março de 2011

O povo é quem mais ordena


Crise financeira mundial
Islândia. O povo é quem mais ordena. E já tirou o país da recessão
"A crise levou os islandeses a mudar de governo e a chumbar o resgate dos bancos. Mas o exemplo de democracia não tem tido cobertura nos media internacionais.
Os protestos populares, quando surgem, são para ser levados até ao fim. Quem o mostra são os islandeses, cuja acção popular sem precedentes levou à queda do governo conservador, à pressão por alterações à Constituição (já encaminhadas) e à ida às urnas em massa para chumbar o resgate dos bancos.
Desde a eclosão da crise, em 2008, os países europeus tentam desesperadamente encontrar soluções económicas para sair da recessão. A nacionalização de bancos privados que abriram bancarrota assim que os grandes bancos privados de investimento nos EUA (como o Lehman Brothers) entraram em colapso é um sonho que muitos europeus não se atrevem a ter. A Islândia não só o teve como o levou mais longe.
Assim que a banca entrou em incumprimento, o governo islandês decidiu nacionalizar os seus três bancos privados - Kaupthing, Landsbanki e Glitnir. Mas nem isto impediu que o país caísse na recessão. A Islândia foi à falência e o Fundo Monetário Internacional (FMI) entrou em acção, injectando 2,1 mil milhões de dólares no país, com um acrescento de 2,5 mil milhões de dólares pelos países nórdicos. O povo revoltou-se e saiu à rua.
Lição democrática n.º 1: Pacificamente, os islandeses começaram a concentrar-se, todos os dias, em frente ao Althingi [Parlamento] exigindo a renúncia do governo conservador de Geir H. Haarde em bloco. E conseguiram. Foram convocadas eleições antecipadas e, em Abril de 2009, foi eleita uma coligação formada pela Aliança Social-Democrata e o Movimento Esquerda Verde - chefiada por Johanna Sigurdardottir, actual primeira-ministra.
Durante esse ano, a economia manteve-se em situação precária, fechando o ano com uma queda de 7%. Porém, no terceiro trimestre de 2010 o país saiu da recessão - com o PIB real a registar, entre Julho e Setembro, um crescimento de 1,2%, comparado com o trimestre anterior. Mas os problemas continuaram.
Lição democrática n.º 2: Os clientes dos bancos privados islandeses eram sobretudo estrangeiros - na sua maioria dos EUA e do Reino Unido - e o Landsbanki o que acumulava a maior dívida dos três. Com o colapso do Landsbanki, os governos britânico e holandês entraram em acção, indemnizando os seus cidadãos com 5 mil milhões de dólares [cerca de 3,5 mil milhões de euros] e planeando a cobrança desses valores à Islândia.
Algum do dinheiro para pagar essa dívida virá directamente do Landsbanki, que está neste momento a vender os seus bens. Porém, o relatório de uma empresa de consultoria privada mostra que isso apenas cobrirá entre 200 mil e 2 mil milhões de dólares. O resto teria de ser pago pela Islândia, agora detentora do banco. Só que, mais uma vez, o povo saiu à rua. Os governos da Islândia, da Holanda e do Reino Unido tinham acordado que seria o governo a desembolsar o valor total das indemnizações - que corresponde a 6 mil dólares por cada um dos 320 mil habitantes do país, a ser pago mensalmente por cada família a 15 anos, com juros de 5,5%. A 16 de Fevereiro, o Parlamento aprovou a lei e fez renascer a revolta popular. Depois de vários dias em protesto na capital, Reiquiavique, o presidente islandês, Ólafur Ragnar Grímsson, recusou aprovar a lei e marcou novo referendo para 9 de Abril.
Lição democrática n.º 3: As últimas sondagens mostram que as intenções de votar contra a lei aumentam de dia para dia, com entre 52% e 63% da população a declarar que vai rejeitar a lei n.o 13/2011. Enquanto o país se prepara para mais um exercício de verdadeira democracia, os responsáveis pelas dívidas que entalaram a Islândia começam a ser responsabilizados - muito à conta da pressão popular sobre o novo governo de coligação, que parece o único do mundo disposto a investigar estes crimes sem rosto (até agora).
Na semana passada, a Interpol abriu uma caça a Sigurdur Einarsson, ex-presidente-
executivo do Kaupthing. Einarsson é suspeito de fraude e de falsificação de documentos e, segundo a imprensa islandesa, terá dito ao procurador-geral do país que está disposto a regressar à Islândia para ajudar nas investigações se lhe for prometido que não é preso.
Para as mudanças constitucionais, outra vitória popular: a coligação aceitou criar uma assembleia de 25 islandeses sem filiação partidária, eleitos entre 500 advogados, estudantes, jornalistas, agricultores, representantes sindicais, etc. A nova Constituição será inspirada na da Dinamarca e, entre outras coisas, incluirá um novo projecto de lei, o Initiative Media - que visa tornar o país porto seguro para jornalistas de investigação e de fontes e criar, entre outras coisas, provedores de internet. É a lição número 4 ao mundo, de uma lista que não parece dar tréguas: é que toda a revolução islandesa está a passar despercebida nos media internacionais." In Jornal I, por Joana Azevedo Viana, Publicado em 26 de Março de 2011

sexta-feira, 25 de março de 2011

O poder da estupidez


"A questão acerca da qual muitas vezes as pessoas razoáveis se interrogam é a de que como e porquê pessoas estúpidas conseguem atingir posições de poder e de autoridade. Não é difícil compreender como o poder político, económico ou burocrático aumenta o potencial nocivo de uma pessoa estúpida. Mas temos ainda de explicar e perceber o que torna essencialmente perigosa uma pessoa estúpida, ou seja, em que consiste o poder da estupidez.
Os estúpidos são perigosos e funestos principalmente porque as pessoas razoáveis acham difícil imaginar e entender um comportamento estúpido. Uma pessoa inteligente pode entender a lógica de um bandido. As acções do bandido seguem um modelo de racionalidade. O bandido quer algo “ mais “ na sua conta. Dado que não é suficientemente inteligente para cogitar métodos com os quais obter algo “ mais “ para si, proporcionando ao mesmo tempo algo “ mais “ também para os outros, ele obterá o seu algo “mais “ causando algo “ menos “ ao seu próximo. Tudo isto não é justo, mas é racional e se somos racionais podemos prevê-lo. Em suma, podemos prever as acções de um bandido, as suas sujas manobras e as suas deploráveis aspirações e muitas vezes podemos preparar as defesas apropriadas.
Com uma pessoa estúpida tudo isto é absolutamente impossível. Como está implícito na Terceira Lei Fundamental, uma criatura estúpida persegui-lo-á sem razão, sem um plano preciso, nos tempos e nos lugares mais improváveis e mais impensáveis. Não há qualquer maneira racional de prever se, quando, como e porquê, uma criatura estúpida vai desferir o seu ataque. Perante um indivíduo estúpido está-se completamente vulnerável.
Dado que as atitudes de uma pessoa estúpida não são conformes às regras da racionalidade, disso resulta que :
a)      geralmente somos apanhados de surpresa pelo ataque ;
b)      quando temos consciência do ataque não conseguimos organizar uma defesa racional, porque o ataque em si não tem qualquer estrutura racional.
O facto de a actividade e os movimentos de uma criatura estúpida serem absolutamente erráticos e irracionais, não só torna a defesa problemática como torna ainda extremamente difícil qualquer contra-ataque – é como  tentar disparar contra um objecto capaz dos mais improváveis e inimagináveis movimentos. Isto é o que Dickens e Schiller tinham em mente quando um deles afirmou que “ com estupidez e boa digestão o homem pode enfrentar muitas coisas “ , e o outro que “ contra a estupidez os próprios Deuses combatem em vão “.
Devemos ter ainda em conta uma outra circunstância. A pessoa inteligente sabe que é inteligente. O bandido tem consciência de ser um bandido. O crédulo está penosamente ciente da sua própria credulidade. O estúpido, ao contrário de todos estes personagens, não sabe que é estúpido. Isso contribui decisivamente para dar maior força, incidência e eficácia à sua acção devastadora. O estúpido não é inibido por aquele sentimento a que os anglo-saxónicos chamam self-consciousness. Com um sorriso nos lábios, como se fizesse a coisa mais natural do mundo, o estúpido aparecerá inopinadamente para lhe dar cabo dos seus planos, destruir a sua paz, complicar-lhe a vida e o trabalho, fazer-lhe perder dinheiro, tempo, bom humor, apetite e produtividade – e tudo isto sem malícia, sem remorsos e sem razão. Estupidamente.
Carlo M.Cipolla, " As leis fundamentais da estupidez", in " Allegro Ma Non Troppo",Celta Editora

quinta-feira, 24 de março de 2011

Portugal na Imprensa Internacional

APF , «  Le Point »,França
Le chef du gouvernement a pris cette décision après le rejet par le Parlement des mesures d'austérité qu'il proposait
Le Premier ministre portugais José Socrates a démissionné, mercredi, après le rejet par le Parlement des mesures d'austérité proposées par le gouvernement socialiste minoritaire. José Socrates avait averti que le rejet de ce nouveau train de mesures contraindrait le Portugal, à l'instar de la Grèce et de l'Irlande, à solliciter une aide internationale, une solution à laquelle il est hostile. Socrates et les socialistes, ainsi que la plupart des petites formations, s'opposent à un plan de sauvetage, qui serait sans doute assorti de sévères restrictions budgétaires. Le Portugal garde un mauvais souvenir d'une période d'austérité ordonnée par le Fonds monétaire international dans les années 1980.

« EL  País »,  Espanha
La crisis del euro
El Parlamento portugués rechaza el ajuste y fuerza la dimisión de Sócrates
"Seamos claros, una coalición negativa de fuerzas políticas ha impuesto la dimisión del Gobierno porque le retiró las condiciones mínimas para gobernar", dijo anoche el primer ministro portugués, José Sócrates (socialista) después de presentar la dimisión al presidente de la República, Aníbal Cavaco Silva. La Asamblea de la República acababa de certificar la crisis política al rechazar las nuevas medidas de ajuste contenidas en el Programa de Estabilidad y Crecimiento (PEC) presentado por el Gobierno, que solo contó con el apoyo de sus 97 diputados de los 230 escaños.La oposición en bloque, desde la derecha a la izquierda radical, dio la puntilla al Gobierno al aprobar cinco proyectos de resolución contra el plan gubernamental. Sin la confianza de la Cámara, el primer ministro puso anoche su cargo a disposición del presidente de la República, Aníbal Cavaco Silva, quien, después de recibir mañana a todos los partidos, convocará elecciones anticipadas en un periodo máximo de 55 días

“The Independent”, Grã Bretanha
Portugal's PM forced out over budget plans
Portugal's leader, Jose Socrates, was forced to resign last night after opposition parties said they could not back his minority Socialist government's austerity plan – making a financial bailout of one of Europe's weakest economies almost certain. The rejection "had taken away from the government all conditions to govern", the Prime Minister said in a televised statement. Opinion polls put Pedro Passos Coelho, the leader of Social Democratic party (PSD), Portugal's largest opposition group, as the frontrunner for the next prime minister. Mr Socrates' cost-cutting plan had involved raising taxes and introducing the deepest spending cuts in three decades – an unpopular combination, but something the government claimed was necessary to decrease debt and avoid a bailout. The European Union, which has already scheduled a two-day summit in Brussels starting today to hammer out its plan for dealing with the eurozone's burgeoning debt crisis, will be forced to discuss Portugal's future. Markets have been predicting a Portuguese bailout since Greece and Ireland sought similar rescues last year.

“La Stampa”, Itália
Bocciata la manovra anti-crisi:il premier Socrates si dimette
LISBONA
Scatta per il Portogallo, da mesi a rischio salvataggio Ue-Fmi dopo Grecia e Irlanda, lo scenario più difficile: quello della crisi politica parallela a quella economica e monetaria, con il governo minoritario socialista caduto che cade dopo la bocciatura questa sera in Parlamento della manovra antideficit concordata con Bruxelles dal premier Josè Socrates.
Il capo del governo, subito dopo il voto contrario di tutti i partiti d’opposizione, di destra e di sinistra, si è recato al palazzo presidenziale di Belem, dove ha annunciato le dimissioni al capo dello Stato Anibal Cavaco Silva. Lo scenario più probabile è che il presidente convochi rapidamente elezioni anticipate, che potrebbero tenersi nella seconda metà di maggio. I sondaggi danno come probabile vincitore il principale partito di opposizione, il Pds (centrodestra) di Pedro Passos Coelho
 

“O Estadão” AE - Agência Estado, Brasil
Presidente de Portugal fará Reunião sobre novo governo
24 de março de 2011 | 8h 48
O presidente de Portugal, Aníbal Cavaco Silva, vai iniciar amanhã reuniões com os líderes de todos os partidos políticos representados no parlamento, em um primeiro passo no processo que deverá resultar em eleições antecipadas. Ontem, o primeiro-ministro José Sócrates renunciou a seu cargo após os parlamentares rejeitarem um novo plano de austeridade.
Sócrates ainda terá todos os poderes até que Cavaco Silva aceite sua renúncia. Depois disso, ele passará a atuar como primeiro-ministro interino, enquanto um novo governo não for empossado. Sócrates e Pedro Passos Coelho, líder do Partido Social Democrático (PSD), estão em Bruxelas, Bélgica, para a cúpula da União Europeia (UE) na qual a possibilidade de uma ajuda financeira a Portugal deverá ser discutida.
A incerteza política vai tornar mais difícil para Sócrates lidar com os problemas financeiros do país e negociar um acordo com a União Europeia e o Fundo Monetário Internacional (FMI), segundo analistas.
Cavaco Silva vai começar a consultar os partidos para determinar se um novo governo pode ser formado sem a realização de novas eleições. Caso os partidos não consigam chegar a um acordo, o presidente irá então dissolver o parlamento e convocar o pleito, que poderá ocorrer depois de um período mínimo de 55 dias

The Washington Post” , USA
Portuguese vote stokes Europe debt concerns
Portugal’s government collapsed Wednesday after the parliament rejected a budget-cutting plan, pushing the country closer to an international bailout and triggering another test of Europe’s ability to deal with an ongoing public debt crisis
The developments occurred in advance of a summit Thursday at which European leaders were expected to approve an economic program they hope will convince world markets that the 17 nations that share the euro will stand behind each other, better coordinate economic policies, and guarantee that none will default on their loans.
Instead, the European leaders will meet amid a new round of uncertainty. Strapped for cash and mired in slow economic growth, Portugal must raise $6 billion or more next month, and it faces high interest rates demanded by investors who are not confident in the government’s ability to pay. After the resignation Wednesday of Socialist Party Prime Minister Jose Socrates, the country will be forced to go to the market in the middle of an election campaign — with no guarantee that an incoming government will make the reforms likely to be demanded by the International Monetary Fund or other European governments in return for financial help.
Portugal is essentially doomed,” said Jacob Kirkegaard, an analyst at the Peterson Institute for International Economics who has followed the European debt crisis. “They cannot finance themselves.”
Portugal’s economy is small, and it does not have the extensive banking system or other global ties that would make its crisis an immediate cause for broader concern. But the resolution of Portugal’s problems will be important in determining whether the euro area puts a lingering debt crisis behind it and adds to the world recovery with a stronger outlook for growth, or whether it remains under a cloud of possible sovereign default.
More significant European economies such as Spain, Belgium and Italy also have high levels of public debt. Although analysts say it is unlikely that any will need international help, the situation is volatile. Spanish banks have about $100 billion at risk in Portugal, the type of transnational “exposure” that could allow problems in Portugal to spill beyond its borders. By Howard Schneider, Wednesday, March 23, 

quarta-feira, 23 de março de 2011

NÃO, NÃO e NÃO




E ao PEC  disseram NÃO.  E Sócrates que já abandonara o Parlamento antes do Debate nem sequer o quis ouvir. A cultura democrática esboroou-se nos bolsos de quem  a rejeitou, ou de quem nunca a absorveu. Em Democracia a forma não fica apenas pelas palavras. Em  Democracia a substância está  no "ser" e no "fazer". A forma  como hoje o Primeiro Ministro de Portugal  abandonou  a Assembleia da República, a Casa  da Nação, não consubstancia a urbanidade democrática minimamente exigível a um chefe de um governo. Que infelicidade. Meu pobre, pobre Portugal.
"O Primeiro-ministro já “apresentou o seu pedido de demissão” ao Presidente da República. Cavaco Silva recebe partidos no dia 25 de Março.
“O Presidente da República recebeu hoje, em audiência, o Primeiro-Ministro, o qual lhe apresentou o seu pedido de demissão”, revela uma nota publicada no site da Presidência da República.
“Com vista à resolução da situação política decorrente do pedido de demissão do Primeiro-Ministro, o Presidente da República, nos termos constitucionais, irá promover, no próximo dia 25, audiências com os partidos representados na Assembleia da República, mantendo-se o Governo na plenitude de funções até à aceitação daquele pedido”, adianta a mesma fonte." in Jornal de Negócios

O martírio do PEC em cartoon












 

Cartoons Elias o Sem Abrigo , de  R. Reimão e Aníbal F, in "JN", Março 2011

terça-feira, 22 de março de 2011

A banalização da violência

"É notória a escalada da violência nos tempos actuais. O quotidiano está permeado de cenas reais dessa violência, a qual vai assumindo proporções “espantosas”, mas que, para assombro, já não causa tanto espanto. Trata-se de uma violência que se alastra e se banaliza. A sua banalização  dá-se na medida em que já não tem mais face e nem limites. Mostra-se capaz de atingir extremos quase inimagináveis e de ser praticada por todos aqueles que, apesar de humanos, de algum modo, são refractários à ideia de agirem como pessoas em relação aos semelhantes." Marcius Nadur

segunda-feira, 21 de março de 2011

Celebrar a Poesia

 Hoje , dia mundial da Poesia, as palavras são todas e apenas dos poetas.À poesia de todo o mundo e aos poetas de todos os tempos um imenso agradecimento.

ARTE POÉTICA II
«A poesia não me pede propriamente uma especialização pois a sua arte é uma arte do ser.Também não é tempo ou trabalho que a poesia me pede. Nem me pede uma ciência nem uma estética nem uma teoria. Pede-me antes a inteireza do meu ser, uma consciência mais funda do que a minha inteligência, uma fidelidade mais pura do que aquela que eu posso controlar. Pede-me uma intransigência sem lacuna. Pede-me que arranque da minha vida que se quebra, gasta, corrompe e dilui uma túnica sem costura. Pede-me que viva atenta como uma antena, pede-me que viva sempre, que nunca me esqueça. Pede-me uma obstinação sem tréguas, densa e compacta. Pois a poesia é a minha explicação com o universo, a minha convivência com as coisas, a minha participação no real, o meu encontro com as vozes e as imagens. Por isso o poema não fala duma vida ideal mas sim duma vida concreta: ângulo da janela, ressonância das ruas, das cidades e dos quartos, sombra dos muros, aparição dos rostos, silêncio, distância e brilho das estrelas, respiração da noite, perfume da tília e do orégão. É esta relação com o universo que define o poema como poema, como obra de criação poética. Quando há apenas relação com uma matéria há apenas artesanato. É o artesanato que pede especialização, ciência, trabalho, tempo e uma estética. Todo o poeta, todo o artista é artesão duma linguagem. Mas o artesanato das artes poéticas não nasce de si mesmo, isto é da relação com uma matéria, como nas artes artesanais. O artesanato das artes poéticas nasce da própria poesia à qual está consubstancialmente unido. Se um poeta diz «obscuro», «amplo», «barco», «pedra» é porque estas palavras nomeiam a sua visão do mundo, a sua ligação com as coisas. Não foram palavras escolhidas esteticamente pela sua beleza, foram escolhidas pela sua realidade, pela sua necessidade, pela seu poder poético de estabelecer uma aliança. E é da obstinação sem tréguas que a poesia exige que nasce o «obstinado rigor» do poema. O verso é denso, tenso como um arco, exactamente dito, porque os dias foram densos, tensos como arcos, exactamente vividos. O equilíbrio das palavras entre si é o equilíbrio dos momentos entre si. E no quadro sensível do poema vejo para onde vou, reconheço o meu caminho, o meu reino, a minha vida.» Sophia Mello Breyner Andresen

Pátria
Por um país de pedra e vento duro
Por um país de luz perfeita e clara
Pelo negro da terra e pelo branco do muro

Pelos rostos de silêncio e de paciência
Que a miséria longamente desenhou
Rente aos ossos com toda a exactidão
Do longo relatório irrecusável

E pelos rostos iguais ao sol e ao vento
E pela limpidez das tão amadas
Palavras sempre ditas com paixão
Pela cor e pelo peso das palavras
Pelo concreto silêncio limpo das palavras
Donde se erguem as coisas nomeadas
Pela nudez das palavras deslumbradas

- Pedra rio vento casa
Pranto dia canto alento
Espaço raiz e água
Ó minha pátria e meu centro

Me dói a lua me soluça o mar
E o exílio se inscreve em pleno tempo.
Sophia de Mello Breyner Andresen,in “ Livro Sexto”, 1962

CÓDIGO
Proclamo um código alternativo:
alheio às palavras,
uma linguagem sem frases,
uma língua que não possa ser condenada à memória,
uma prosa para enganar promessas,
um dialecto mudo sem
listas de preços ou formas de denúncia,
uma fonte gratuita de significados ambíguos,
um modo de expressar tudo quanto não pode ser expresso
MIREN AGUR MEABE(poeta basca),in Six Basque Poets

NOMEIO COM O SILÊNCIO
Posso nomear o inominável com a palavra
posso nomear a pátria
o amor o oiro uma rosa
posso gritar ou calar
posso enunciar as cores
os mares as ilhas os pássaros os frutos.
Digo o nome de minha amada
à pátria chamo-a pelo seu nome
repito duas vezes uma palavra
chamo o inominável com o silencio.
TADEUSZ RÓŻEWICZ (poeta polaco), in Poesia abierta (1944-2003)"

UMA COISA É NECESSÁRIA
Uma coisa é necessária – aqui
neste nosso mundo díficil
de sem-abrigos e desterrados:

Fixares residência em ti.

Entra pela escuridão
e limpa a fuligem da lâmpada.

Para que as pessoas na estrada
possam entrever uma luz
em teus olhos habitados.
HANS BØRLI ,(poeta norueguês) in“We Own the Forests and other Poems


Barco de Papel
Quem sabe por tantos barcos
navegaram a minha infância
herdei essa enorme ânsia
por navios, terras e mares.

Nesse mar dos meus pesares
meu porto é uma ilha perdida
e assim naveguei na vida
passageiro do horizonte.

Hoje pergunto a mim mesmo
se não remei sempre a esmo
a bordo do meu batel...

com meu sonho de criança
navegando na esperança
num barquinho de papel.
Manoel de Andrade,Curitiba, 16/12/2004,in "Cantares",Editora Escrituras 

Se cada dia cai
Se cada dia cai, dentro de cada noite,
há um poço
onde a claridade está presa.

há que sentar-se na beira
do poço da sombra
e pescar luz caída
com paciência.
Pablo Neruda (Últimos Poemas)

 Flor da Liberdade
                       
 Sombra dos  mortos, maldição dos vivos.
 Também nós…Também nós…E o sol recua. 
 Apenas o teu rosto continua
 A sorrir como dantes,
 Liberdade!
 Liberdade do homem sobre a terra,
 Ou debaixo da terra.
 Liberdade!
 O não inconformado que se diz
 A Deus, à tirania, à eternidade.

 Sepultos insepultos,
 Vivos amortalhados,
 Passados e presentes cidadãos:
 Temos nas nossas mãos
 O terrível poder de recusar!
 E é essa flor que nunca desespera
 No jardim da perpétua primavera.
Miguel Torga, in “Orpheu Rebelde “, 1958

SEM DATA
Esta voz com que gritei às vezes
não me consola de só ter gritado às vezes.

Está dentro de mim como um remorso, ouço-a
chiar sempre que lembro a paz de segurança estulta
sob mais uma pedra tumular sem data verdadeira.

Quando acabava uma soma de silêncios,
gritava o resultado, não gritava um grito.

Esta voz, enquanto um ar de torre à beira-mar
circula entre as folhas paradas,
conduz a agonia física de recordar a ingenuidade.

Apetece-me explicar, agora, as asas dos anjos.
Jorge de Sena ,27/Janeiro/1942,in ” Perseguição”, 1942


"ESTÃO PODRES AS PALAVRAS..."  
                                            A JORGE DE SENA
Estão podres as palavras, Jorge.
De passarem por sórdidas mentiras...
Assim o dizes e não pões nem tiras
Ao rio inventário do teu denso alforge
De palavras talhadas em duro corno
A doçura de uma vírgula que pudesse
Iludir a corrupção que aqui comece
Minando de cuspo a pureza em torno.
Mentem os que falam e os que se calam
Mentem os que ficam e os que se vão
Agitam-se os cobardes em fresca encarnação
Da nova coragem com que já abalam.
Que merda de gente ó filho de Camões!
Junto de um seco fero estéril monte
Para onde me retiro, olho e vejo a ponte
Por onde fogem os altos sonoros campeões!
Usá-las puras as palavras—dizes...
Que pureza desta língua envilecida
Por mil flexões de prostituta ardida?
Língua coleante, dupla, rica de matizes...
Possam as palavras ficar enfim erguidas
Um dia como torres entre céu e terra!
Façamos com elas a nossa guerra
Aos heróis que hoje confundem as saídas!
               EUGÉNIO LISBOA