terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Fernando Pessoa, um homem franzino


" De resto, a minha vida gira em torno da minha obra literária -boa ou má, que seja, ou possa ser. Tudo o mais na vida tem para mim um interesse secundário." Fernando Pessoa

Fernando António Nogueira Pessoa nasceu  em 1888 e faleceu em 1935, há noventa e seis anos. Era filho "dum modesto funcionário, inteligente e culto, jornalista , crítico musical, que morreu tuberculoso em 1893", quando Pessoa tinha cinco anos. Tinha ascendência de cristãos-novos e uma avó paterna louca." A mãe provinha de uma abastada  família açoreana. Era uma mulher culta e educada. Em 1895 volta a casar e parte para Durban ( África do Sul) onde  o  poeta irá efectuar os estudos que o levarão até à Universidade do Cabo(1903-04).De retorno a Lisboa, passa pelo Curso Superior de Letras que abandona , preferindo  estudar isolado. A par da sua grande produção literária, Fernando Pessoa trabalha até à sua morte, como correspondente comercial de várias firmas.
(Nota: Muito se tem escrito sobre Fernando Pessoa. Grandes obras, algumas que serão aqui referidas, outras de carácter mais superficial e outras, ainda, diferentes  pela originalidade na abordagem à figura pessoana.
Por considerarmos que,  na obra literária, a  originalidade é um  traço essencial,  transcrevemos excertos de duas diferentes abordagens que têm esse estímulo precioso.)

Retrato Possível de Fernando Pessoa
“Era um homem magro, com uma figura esguia e franzina, media 1,73 m de altura. Tinha o tronco meio corcovado. O tórax era pouco desenvolvido, bastante metido para dentro, apesar da ginástica sueca que praticava. As pernas eram altas, não muito musculadas e as mãos delgadas e pouco expressivas. Um andar desconjuntado e o passo rápido, embora irregular, identificavam a sua presença à distância.
“Vestia habitualmente fatos de tons escuros, cinzentos, pretos ou azuis, às vezes curtos. Usava também chapéu, vulgarmente amachucado, e um pouco tombado para o lado direito.
“O rosto era comprido e seco. Por detrás de uns pequenos óculos redondos, com lentes grossas, muitas vezes embaciadas, escondiam-se uns olhos castanhos míopes. O seu olhar quando se fixava em alguém era atento e observador, às vezes mesmo misterioso. A boca era muito pequena, de lábios finos, e quase sempre semicerrados. Usava um bigode à americana que lhe conferia um charme especial. Quando falava durante algum tempo e esforçava as cordas vocais, um dos seus pontos sensíveis, o timbre de voz alterava-se, tornando-se mais agudo e um pouco monocórdico. A modulação da passagem de um tom para o outro acabava por reduzir o seu volume vocal natural e o som então emitido ficava mais baixo e um pouco gutural, tornando-se menos audível.
“Nos últimos dez anos de vida, talvez provocado pelo fumo dos oitenta cigarros diários, adquiriu um pigarrear característico, seguido de uma tosse seca.
“Embora não muito dado ao riso, Fernando Pessoa tinha uma certa ironia e algum humor, sobretudo se estava bem disposto, o que acontecia algumas vezes quando os amigos mais próximos o desafiavam para jantares. Curiosamente libertava-se então da sua timidez e gesticulava de um modo mecânico e repetitivo, deixando escapar um riso nervoso, às vezes irritante.(...)"

"O RETRATO POSSÍVEL DE FERNANDO PESSOA" In "À mesa com Fernando Pessoa" de Luís Machado e  pref. Teresa Rita Lopes.- Lisboa,  Pandora, 2001. 

"Pessoa e mais Pessoa... A pergunta mais difícil é essa de quem foi, é, (visto que a sua actualidade não parece perder-se), Fernando Pessoa.Os estudiosos que querem investigar a sua personalidade, carácter, comportamento face à realidade da vida e do seu quotidiano banal, tentando distinguir a vida da obra, têm dificuldades várias a ultrapassar. A mais importante é a de que Pessoa não queria separar vida e obra, fazendo da obra a sua verdadeira vida.Foi biografado por João Gaspar Simões : Vida e Obra de Fernando Pessoa, História de uma Geração.Trata-se de uma obra indispensável para qualquer estudioso, pois nela se retrata uma infância (mais tarde sonhada e perdida, que podemos ir acompanhando pelos diversos poemas dos diversos heterónimos), uma adolescência e uma vida madura, esta já plenamente integrada nas correntes (nos ismos) da época com os projectos que despontavam e regularmente se iam abandonando porque tudo era difícil num país que vivia ainda de um Messianismo mais do que ultrapassado, mas em que Pessoa, com alguns outros, teimava em acreditar.Portugal não chegou a ter esse destino de eleição, mas Pessoa acabou por tê-lo, ainda que tardiamente, com a riqueza e complexidade da sua obra.Omitindo agora a produção poética, é sobretudo nas suas leituras que descobrimos um espírito ávido de saber: dos clássicos aos modernos, há de tudo na sua biblioteca pessoal. E quando digo modernos digo Joyce, na literatura, Freud, na psicanálise ou Eisnstein na teoria da relatividade.Não se pode esquecer a paixão pelo esoterismo que até na poesia veio a ter marca especial.Começou pelas Histórias da Religião, depois passou aos Gnósticos, à Mísitica judaica, com a Kabala em pano de fundo, seguiu pelos caminhos que Goethe já seguira ( e Pessoa tinha o Fausto na sua biblioteca) dos Rosa-Cruz e da Maçonaria. Fosse ou não iniciado, - ora dizia que não, ora deixava entender que sim, mas em quê? Na dormente Ordem do Templo, sobre a qual escreveu? Na Sociedade de Teosofia, que nega haver nos arquivos algum documento que se lhe refira? Pouco importa. Se querer conhecer é já ser iniciado, Pessoa foi, por tal desejo, que o acompanhou toda a vida, um iniciado na Espiritualidade.É extensa a bibliografia disponibilizada ao longo dos anos pelos estudiosos da obra pessoana, encontra-se publicada por José Blanco: Fernando Pessoa, Esboço de Uma Bibliografia.Junto com esta, mas sem a substituir, a edição de João Rui de Sousa, Fernando Pessoa, FOTOBIBLIOGRAFIA, 1902-1935.
Mas o que escreve o jovem, nos seus apontamentos, só depois da sua morte conhecidos, mais concretamente quase cinquenta anos mais tarde, quando o espólio começou a ser estudado, àcerca de si mesmo?(...)"
In “ Simbologia e Alquimia”, de Yvette Centeno

Leia o artigo integral : Pessoa e mais Pessoa...

2 comentários:

  1. Fernando Pessoa oferece sempre novas abordagens.Esta é uma óptima escolha.

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  2. Monica Alves da Silva Lopes Diniz7 de março de 2011 às 20:15

    Adoro esse poeta. Tem um estilo ótimo.

    Monica Alves da Silva Lopes Diniz

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