O Tempo não pára, corre e flui incessantemente, mas o mundo nem sempre é composto de mudança. Se a História tem um devir ciclíco, a Literatura torna-o intemporal. O registo que Miguel Torga deixou no seu Diário há vinte anos , podê-lo-ia ter efectuado hoje. A afirmação de que os poetas sobrelevam o Tempo é confirmada pelas palavras que eles nos legam. Já Umberto Eco em " Sobre a Literatura" escrevia: "Os textos literários não só nos dizem o que nunca podemos pôr em dúvida, mas também, ao contrário do mundo, nos assinalam com soberana autoridade, o que neles se deve assumir como relevante e o que não podemos tomar como ponto de partida para interpretações livres."
Abramos, pois , o " Diário" de Miguel Torga, poeta e escritor maior da Língua Portuguesa, falecido a 17 de Janeiro de 1995.
Coimbra, 22 de Dezembro de 1990 - O mundo com vários abcessos prestes a rebentar. Ainda há pouco exultávamos de esperança, e já ninguém tem paz na alma. É que não há mais tempo de duração. Todas as nossas horas são ofegantes , e cadentes as estrelas anunciadas e anunciadoras . Temos tudo, e falta-nos o essencial. É como se de repente a vida ficasse do avesso e a não soubéssemos vestir."
Miguel Torga, in " Diário XVI", Círculo dos Leitores
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