sábado, 31 de julho de 2010

" Lugar de Estudo" , Grande Prémio de Poesia da APE

"Lugar de Estudo" de Fernando Echevarría, publicado pelas Edições Afrontamento, recebe o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores(APE)/CTT.O Júri que analisou a obra declarou em comunicado que " Lugar de Estudo "representa um momento singularmente alto de Poesia Portuguesa Contemporânea. Os cerca 270 poemas inéditos que o compõem são a expressão vigorosa de uma arte poética que o título resume. A poesia é, para este autor, um lugar de Estudo e de, aperfeiçoamento do trabalho poético, o qual é também o lugar da língua.”

Lugar de Estudo

Começa na velhice a erguer-se um halo
de acolhimento. Promete,
não só indulgência, mas também um sábio
silêncio, de onde se difunde e deve
a auscultação desenvolver o pálio
de outro silêncio mais profundo. Que ergue
a escuta a um ponto, cada vez mais alto,
que, com maior intensidade, tende.
Terá esse exercício força de hausto?
Ou será padecê-lo que protege?
O certo é que a velhice encontra os anos.
E os anos sabem a fecunda messe
de estudos que, mesmo inacabados,
a outros estudantes se oferecem.
A escuta cresce por dentro
de estar atenta a escutar.
Traz um agudo silêncio
a estender cada vez mais
o seu domínio. Que a escuta,
arraigada, polariza
de forma a serem só uma
operação. Mais ainda,
uma unidade profunda
onde sofrê-la se activa.
Ou há um silêncio de escuta
onde só a escuta domina.
E aquilo a escutar
punge o grande sofrimento
da alegria, que se vai
na escuta recrudescendo.


A penúria da língua é a sua força.
Reconhecendo nela a indigência
mais o apuro se empolga
e a submissão empolga a subtileza
do espírito, dado à obra
e a mais nada que não seja ela.
De aí que se desenvolva
uma abertura hiante de surpresa
que pede língua cada vez mais nova
e de mais adequada obediência.
Ou, se quiserem, língua peremptória.
Porque, vinda do fundo da pobreza,
entrega apenas quanto falta. E torna
a sua falta uma abertura imensa,
indigitando o extremamente fora,
cuja ausência feliz se nos entrega.
Por trás do céu há o céu inteligível.
E, por trás deste, um céu aberto
a abrir-se ainda, sem qualquer limite,
mas puxando após si o pensamento.
Ou, se quiserem, o feliz requinte
de alargarem a paz a um céu inédito
onde o reino profundo do invisível
funda o visível no fecundo aspecto
de ímpeto. Lume imperioso. Riste
abrindo a um novo assunto de silêncio.
E através do silêncio silencia-se
o assunto. Apenas o incremento
do ímpeto se abstrai ao eco do que disse
para o luto do dito abrir assento
a um penúltimo cume. A um trampolim de
invisível a ir pelo invisível dentro.


Não cabe em nome algum. O que lhe demos
apenas dele nos diz quanto nos falta.
Que nomear é reduzir a objecto
de submissão quem alicerça a dádiva.
E a dádiva o que dá é um dar aberto.
Partindo de um recuo de distância
irradia, a nome algum sujeito
ou, se algum se lhe der, é o que o afasta
da precisão estrita de conceito.
Então só resta que uma escuta de alma
se intensifique para abrir-nos dentro essa profundidade inominada
a dar somente para o sempre imenso.
E desse imenso se divulga a flama,
não só invisível, mas também efeito
da pungência feliz da sua falta.
Estamos graves a ir
por esse longe que vem
ao nosso encontro. E assim
ir e vir resumem ver
como vai sendo feliz
o tempo que o tempo tem.
Mas o tempo tem-se a si
somente quando refém
da palavra que o diz.
Dizê-lo deixa-o, porém,
exposto a um vento sem fim,
que venta sem fim. Amen.
Promontório de Deus. De onde Ele se ausenta.
Só nos deixando a grande nostalgia
na sua massa espessa.
Que abre distância de recuo assídua
e alarga a inteligência
por uma busca quase que festiva.
Ou mais, talvez, por uma via tensa
de júbilo e sentido. E, até, sofrida
na sua panda activação de vela.
Que vai sofrendo e activando a vinda
da invisibilidade, da surpresa
inominada, que procura ainda
seu nome peremptório. Mas nomeia
essa distância a distanciar-se implícita.
Ou promontório de onde Deus se ausenta
para auscultarmos sua face viva.
Com Deus. E vivos. E andando sempre
ao sol. À chuva. E ainda ao vento.
Vivos, escutam. Nem sente
a aura oculta do seu corpo aceso
que à volta difundem e dispendem
como dispendem o conhecimento.
Que conhecer é reunir a febre,
o frio e o silêncio
num todo indivisível que só serve
a intimidade de sofrer o peso
do mundo, da intempérie.
E aquilo que eles trazem desde dentro.
E, desde dentro, emerge
de modo à tez iluminar o vento,
quando passarem quase a si se esquece,
embora punja em os estarmos vendo.
Estão com Deus. E, do fundo
de estarem ali, vem vindo
a grande escuta. Aí tudo
especifica o seu vínculo.
O mar instrui no marulho
sua imagem. Como o rio
a sua traça no fluxo
figurado do sentido.
Na grande escuta abre o mundo
o silêncio. E abre um sítio
onde só reina o estudo
aberto ao reino do espírito.
E com Deus aberto, ao fundo
de estarem ali ouvindo.

Fernando Echevarría, in " Lugar de Estudo", Ed. Afrontamento
04.01.10

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Revisitando um grande escritor



Baptista-Bastos é um extraordinário escritor e um arguto analista da nossa época, da nossa sociedade , do nosso país, deste nosso PORTUGAL. A sua escrita nunca nos deixa indiferentes , pelo que frequentemente reponho, aqui, alguns dos seus artigos que, contínua e magistralmente, vai publicando. Sendo um dos maiores escritores da actualidade, tem uma memória vasta da cultura portuguesa e dos seus actores mais valiosos, companheiros de percurso.
Neste artigo que se transcreve , recorda Fernando Namora e a grandeza do projecto da sua obra que, tal como muitos outros, jaz em esquecimento neste país de fabrico rápido de não-talentosos fazedores de livros, cuja maioria nem sequer merece um obscuro lugar na designada Literatura de cordel, actualmente apelidada de Literatura light.
Ontem, Mário de Carvalho recebeu pela segunda vez o prémio Fernando Namora com o romance “Sala Magenta”, já que fora premiado, em 1996, com o romance “ Um Deus passeando pela brisa da tarde”. Assim, recordar este grande escritor com as palavras de outro grande escritor tem toda a validade.



Fernando Namora visto de perto
09 Julho2010 12:52
Baptista Bastos, In “Jornal de Negócios”

Fernando Namora pertenceu a uma época em que a cultura dispunha de poder, e a um grupo de intelectuais que tinha como objectivo realizar uma teoria de conjunto da injustiça social.


"Se não esqueceres os teus amigos, eles viverão enquanto tu viveres. Não há mortes individuais. Nem vidas."
ELIAS CANETTI - "Massa e Poder"

Vou ali à estante. Lá está ele, junto com os seus camaradas de geração. A densa capa do esquecimento tombou sobre ele; mas os seus camaradas, quase todos, não tiveram melhor sorte. Fernando Namora pertenceu a uma época em que a cultura dispunha de poder, e a um grupo de intelectuais que tinha como objectivo realizar uma teoria de conjunto da injustiça social. Hoje, talvez se olhe para aquele tempo e se examine aquele projecto com pequenos sorrisos desdenhosos. A ignorância sempre foi pedante e atrevida. E a grandeza daqueles jovens de então media-se pela dimensão do que ambicionavam e pela urgência do que diziam.
Seria, acaso, importante proceder-se à leitura de um antigo texto de Namora, contido numa reedição do belíssimo "Casa da Malta", e talvez se entendesse que a relação, a relação com o outro, é o traço principal identificador da cultura. A cultura como meio de transformação; a cultura como processo de mais uma criação do "outro."
Nesse grupo de escritores, que a definição de "neorealistas" tornou redutora, creio que somente o Fernando Namora não era marxista. Todos os outros o eram, habitualmente sem terem lido Marx, a não ser através dos seus intérpretes: Friedman, Goldman, Lukacs, Lefebvre, Costas Axelos, textos esparsos de Lenine, Staline; alguns artigos de Elio Vittorini, traduzidos, à socapa, da grande revista "Il Politecnico", na qual o romancista de "Os Homens e os Outros" polemizou com Palmiro Togliatti. De resto, a formação dessa gente fez-se com a argumentação da leitura. A lista de autores americanos, russos, italianos, franceses por eles consumida é impressionante, pelo tamanho e pela diversidade.
Curioso é o facto de o "neorealismo" ter surgido em locais tão separados pela distância como em Coimbra, no Porto, em Santiago de Cacém, Vila Franca de Xira - e nas tertúlias dos cafés de Lisboa. É o que se convencionou designar de "o ar do tempo", e de uma vontade reconstrutora do mundo e da sociedade. O propósito cabia nesta princípio: a cultura da exclusão leva, inevitavelmente, à exclusão da cultura. Portanto, a cultura como mediadora que se não subordinava à razão dominante.
Namora é um dos mais importantes partícipes desse projecto sem programa. Ergue um edifício literário no qual a estética se associa a uma ética muito pessoal: nele, na sua obra, o acto cultural é um compromisso que se não esvazia de um forte conteúdo moral. Instalando-se em Lisboa, nunca se adaptou às malícias e às artimanhas da cidade. Como Aquilino, sobre o qual escreveu um texto a vários títulos admirável, Fernando Namora nunca deixou de ser um homem do campo com a nostalgia dos grandes silêncios e dos imensos espaços.
Tenho várias fotografias com ele. A mais antiga, eu para aí com vinte anos, no gabinete onde ele trabalhava no Instituto de Oncologia. Fui entrevistá-lo para a revista "Eva", dirigida por uma senhora excepcional, Carolina Homem Christo, e em cuja Redacção escreviam Carlos de Oliveira, Maria Judite de Carvalho, José Cardoso Pires e Rogério de Freitas. A entrevista levava o título de "Retalhos da Vida de um Escritor." Na imagem, lá estão o seu rosto fechado, o seu sorriso magoado, o seu ar melancólico e, também, o registo da sua bondade, da sua compaixão e da sua generosidade. Não foi um homem feliz. E, no entanto, ele, Ferreira de Castro e Urbano Tavares Rodrigues eram, então, os escritores portugueses mais conhecidos, mais traduzidos, mais admirados e, até, adulados.
A notícia da próxima saída de um livro de Namora causava grande alvoroço. Ocasiões houve em que, antes de sair a público, a primeira edição de alguns dos seus livros (cinco mil, sete mil e quinhentos exemplares) já estavam esgotadas. E há títulos de Namora que constituem importantes documentos literários da vida portuguesa. O seu impressionante êxito: edições de milhares e milhares de exemplares, traduções constantes, ensaios, estudos exegeses, teses sobre a sua obra, amiudadas vezes requisitado pela Imprensa a fim de depor acerca de este e de aquele assunto; entrevistas, comentários - enfim, essa glória que o envolveu não deixou de causar invejas e ressentimentos. A vida literária portuguesa não é diferente da vida literária em outros países [leia-se, a título de exemplo, "Écrits Intimes", de Roger Vailland, outro grande esquecido]. E Namora, cuja generosidade e camaradagem eram lendárias, sentia, profundamente, a circunstância. No entanto, jamais deixou de ser amável e cortês, até efusivo, com muitos daqueles que o atropelavam nas tertúlias dos cafés.
Pessoalmente, devo-lhe favores, gentilezas e atenções. Foi ele quem se prestou, sem lho pedir, a falar com o seu editor de então, o Lyon de Castro, da Europa-América, sobre um livro meu "As Palavras dos Outros", cuja primeira edição foi lançada pela constância da sua bela camaradagem. Ele sabia muito bem das aleivosias, dos destratos de que era objecto. Nem uma vez, nem uma escassa e módica vez, se me queixou. Encontrávamo-nos nos cafés. Tentava animá-lo. Visitava-o em sua casa, na Infante Santo. Já muito doente, fez questão em assistir ao lançamento de um livro meu, "A Colina de Cristal", sobre o qual ainda me enviou uma carta fraterna e generosa.
Agora, tomo de mão o que, num depoimento ao "Diário de Lisboa", sobre a morte dele, disse Agustina Bessa-Luís, como só ela o sabia dizer: "Falta-nos o rio triste do seu olhar."

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Dia dos Avós


Como é grande a mão quando a ternura entra pelos dedos de uma criança.

Memórias musicais IV

No tempo em que a música francesa dominava, distinguia-se a voz suave de Sylvie Vartan. Ei-la em "La Plus Belle Pour Aller Danser", (1964)

domingo, 25 de julho de 2010

Canção Mínima


No mistério do sem-fim
equilibra-se um planeta.

E, no planeta, um jardim,
e, no jardim, um canteiro;
no canteiro uma violeta,
e, sobre ela, o dia inteiro,

entre o planeta e o sem-fim,
a asa de uma borboleta.

Cecília Meireles, in “ Antologia Poética “

sábado, 24 de julho de 2010

A actualidade em cartoon

The Daily Cartoon, Schrank in " The Independent", 21/07/2010


Cartoon Bandeira publicado no DN, em 21/07/2010

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Portugal estival


O Banco de Portugal vai revelar o resultado dos testes do stress à Banca Portuguesa. Que a Banca tinha stress constitui uma inopinada revelação. Acreditei sempre que o stress acometia aqueles que procuram a Banca ou que a ela recorreram e que de juros e de taxas exorbitantes se vão calamitosamente afundando. Deve haver por aí uma excessiva apropriação linguística que confunde, já que não remete para a causa , mas apenas para o efeito.
São 701 Escolas do Ensino Básico que vão encerrar e o Portugal do interior ficará cada vez mais desertificado. O desnorte continua a marcar a política educativa. Os grandes aglomerados que se combatiam num passado bem recente, passam a ser opção de excelência para o sucesso educativo. E assim se despem aldeias, vilas e se coarcta a acção de muitas autarquias na fixação da sua população.
O ano parlamentar fechou, ontem, com balanços e atropelos entre os nossos calorosos Deputados. Entretanto, Jaime Gama fez um balanço da actividade desenvolvida e considerou-a positiva: A bancada da oposição não obstruiu o exercício da governação e a bancada do Partido do Governo apoiou-o. Com uma análise perspectivada desta maneira, quase concluimos que a harmonia foi soberana.
Em Angola, o Presidente da República vai exortando os empresários ao investimento fora da capital angolana e a CPLP não aprova a entrada da Guiné Equatorial . Os interesses estratégicos transformam os valores linguísticos ou fazem assumir um passado histórico que se pensava esquecido.
Está assim o nosso Verão. Dizem que é a " silly season "e certamente têm razão.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Memórias musicais III

Creedence Clearwater Revival, "Have you ever seen the rain?", 1971

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Memórias musicais II

A voz inconfundível de Janis Joplin em "Cry Baby" num concerto em 1970, em Toronto, no Canadá.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Memórias musicais I

The Moody Blues interpretando a lendária canção " Night's in White Satin" no célebre " Isle Of Wight Festival", em 1970.


segunda-feira, 19 de julho de 2010

Angola revisitada



O Presidente da República está em Angola, numa visita oficial. Rodeou-se de uma comitiva de 115 empresários, entre os quais os presidentes dos três maiores Bancos privados portugueses, BCP, BES e BPI, que o acompanhará na Inauguração da Feira Internacional de Luanda e nas viagens ao Lobito e ao Lubango.
Num tempo em que Portugal vive uma crise económica acentuada, Angola,o quarto destino das nossas exportações, é revisitada pelo poder político e pelo poder empresarial. O reforço do estatuto de " parceiro estratégico" é um dos objectivos primordiais.
Angola , familiar lusófono de grande dimensão, deverá ser também contínua e assertivamente motivada para o desenvolvimento integral da liberdade individual, onde cada um possa usufruir dos direitos fundamentais que a dignidade humana requer.
Angola, país de paisagens imensas, é também país de múltiplas assimetrias e de grandes clivagens.

domingo, 18 de julho de 2010

Cântico VI


Tu tens um medo:
Acabar.
Não vês que acaba todo o dia.
Que morres no amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que te renovas todo o dia.
No amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que és sempre outro.
Que és sempre o mesmo.
Que morrerás por idades imensas.
Até não teres medo de morrer.

E então serás eterno.

Cecília Meireles, in " Antologia Poética "

Cântico II


Não sejas o de hoje.
Não suspires por ontens...
não queiras ser o de amanhã.
Faz-te sem limites no tempo.
Vê a tua vida em todas as origens.
Em todas as existências.
Em todas as mortes.
E sabes que serás assim para sempre.
Não queiras marcar a tua passagem.
Ela prossegue:
É a passagem que se continua.
É a tua eternidade.
És tu.

Cecília Meireles, in "Antologia Poética"

PARABÉNS MADIBA

Nelson Mandela faz hoje 92 anos. Rendendo homenagem ao altruísmo, à luta contra o racismo , ao respeito pela igualdade de direitos e oportunidades que Madiba desenvolveu ao longo da vida , a ONU instituiu em Novembro de 2009, o Dia Internacional Nelson Mandela a ser celebrado no dia do seu aniversário, 18 de Julho.
Na Sexta-Feira passada , o Secretário Geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, iniciando as festividades, referia-se a Mandela como sendo « a encarnação dos mais altos valores da humanidade » (...) « A sua vida , a sua força e a sua decência são um exemplo para todos nós. Combateu durante anos aqueles que o oprimiam e perdoou-lhes. »
Passar 26 anos na prisão apenas por desejar um mundo melhor é uma punição intolerável, mas saber perdoar a quem decretou essa pena é um feito extraordinário. Num mundo de rivalidades crescentes e de ódios emergentes, Mandela que carinhosamente é apelidado de Madiba pela sua gente é e será sempre o herói do nosso tempo.
PARABÉNS MADIBA.

sábado, 17 de julho de 2010

I Dont Want To Talk About It

Rod Stewart & Amy Belle numa grande interpretação da memorável canção de Danny Whitten.



I Don't Want to Talk About It

I can tell by your eyes that you've
probably been crying forever
And the stars in the sky don't mean
nothing to you they're a mirror

I don't wanna talk about it
How you broke my heart
If I stay here just a little bit longer
If I stay here won't you listen to my heart
Oh oh my heart

If I stand all alone will the shadows
hide the colours of my heart
blue for tears, black for the night
fears the stars in the sky
don't mean nothing to you they're a mirror

I don't wanna talk about it
How you broke my heart
If I stay here just a little bit longer
If I stay here won't you listen to my heart
Oh oh my heart

quinta-feira, 15 de julho de 2010

A Nação ausente

Ainda lá estão. Discurso sobre Discurso e o verdadeiro Debate sobre o estado da Nação não aconteceu. A Nação nem sequer esteve presente. O Primeiro Ministro tornou-a ausente, já que discorreu sobre qualquer outra Nação que não esta, a nossa. Apoiou-se em números e em estatísticas fora de prazo.
E vieram as palavras e mais palavras. Vagas , belicosas, mas sem validade pela sucessiva e abusiva repetição. E assim foram falando, esgrimindo armas que de tão falsas se tornam inúteis. As debilidades da Nação ficaram sem tratamento e certamente irão crescer .
A Casa da Nação foi apenas o palco de uma triste Feira de Vaidades.
Meu pobre, pobre Portugal.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Le 14 Juillet



O tradicional desfile do 14 de Julho ocorreu hoje, em Paris, e foi realizado pelas tropas das antigas colónias francesas cuja independência celebra já o 50º aniversário. As cores fortes de África contrastaram com o cinzento do céu que impiedosamente foi fustigando com uma chuva rala mas contínua quem pretendeu festejar na rua, o célebre dia 14 de 1798, dia da tomada da Bastilha que marcou o início da Revolução Francesa. Posteriormente, a 16 de Agosto, a "Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão" foi proclamada com o ideário dos revolucionários, inspirados na Declaração de Independência dos Estados Unidos, que assentava em três princípios, "Liberdade, Igualdade e Fraternidade", ficando para sempre como um dos grandes símbolos patrimoniais franceses. A injustiça social era um dos combates promovidos pela Revolução que defendia a Liberdade onde o direito à propriedade fosse real.
Hoje , lá e aqui, a injustiça social grassa avassaladoramente, continuando a coexistir a pobreza e a riqueza assimetricamente distribuida . Em dois séculos o mundo evoluiu , mas nem sempre com o ideário revolucionário defendido por quem pretendia um mundo mais justo e digno.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Um Verão quente


A canícula aí está. Medonha. Aquecendo-nos infernalmente e quase diluindo em água as reservas que fomos acumulando. Não há guarda-sol que nos acalme, protegendo-nos desses raios abrasadores. E se o Mar continua imenso, a solução almejada não chega a terra. E é Portugal a esvair-se, arrastando com ele um povo. Temos de novo um " Verão quente". Talvez o mais quente de sempre.
Na próxima Quinta-Feira, 15 de Julho, registar-se-á na Casa que deveria ser do Povo, a Assembleia da República, o Debate sobre o estado da Nação. Será que a Nação vai ser realmente vista, (re)visitada, olhada, analisada, ou teremos um Debate entre obtusos gladiadores em busca de falsas vitórias através da vacuidade das palavras ocas que apenas sabem esgrimir?
O aumento dos impostos, a redução das prestações sociais, o flagelo do desemprego, a voragem do compadrio e da corrupção, a inércia dos governantes, a fome e a miséria emergem à primeira vista em dimensões assustadoras na Nação deste Estado quase em errância.
Que fizeram ao país, Senhores Governantes ? E por que razão o permitiram, Senhores Deputados?
Esperemos pelas respostas. Até Quinta.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Para um amigo tenho sempre



Para um amigo tenho sempre um relógio
esquecido em qualquer fundo de algibeira.
Mas esse relógio não marca o tempo inútil.
São restos de tabaco e de ternura rápida.
É um arco-íris de sombra, quente e trémulo.
É um copo de vinho com o meu sangue e o sol.

António Ramos Rosa, in "Viagem Através de uma Nebulosa"

quinta-feira, 8 de julho de 2010

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Em memória de uma grande escritora


Em memória de Matilde Rosa Araújo, apresenta-se uma pequena transcrição de um dos seus extraordinários contos. A maior homenagem a prestar a um escritor é recordar as suas palavras. Aqui ficam estas palavras plenas de magia e de verdade.

O MENINO DOS PÉS FRIOS
"Era uma vez uma casa. Muito grande. Com um tecto altíssimo, nem sempre azul. Uma casa enorme onde habitava uma grande família: uma família tão grande que, por vezes, não julgavam os seus membros que se conheciam. E se deviam amar.
Houve um menino que entrou nesta casa estava ela toda branca. No chão tapetes de neve, cristais de água de uma brancura que estremecia. E as próprias árvores escorriam essa brancura. E frio. Iluminava-a uma estrela tão brilhante que, sobre o tecto, parecia que poisava sobre as nossas mãos.
Ora um dia, em que fazia anos em que esse menino entrara nessa casa, outro menino por ela andava com frio. Pelo chão, pelos milhões de cristais, caminhavam os seus pezitos enregelados. Tanto frio que nem podia olhar a estrela brilhante. Nem os milhões de cristais que pisava.
Uma mulher chorava a um canto dessa casa. E era triste essa mulher. Estava triste e cansada. Na casa nem tudo era belo. Ali estava aquele menino cheio de frio. E, como ele, tantos meninos.
E, já há quase dois mil anos, um menino entrara na asa, que ficou mais clara com a luz brilhante do tecto. O menino entrou só para dizer uma palavra pequenina: AMOR.
Então essa mulher perguntou ao menino dos pés frios:
– Tu não tens a tua casa?
O menino olhou a mulher triste e ficou triste. Ambos estavam tristes. E disse quase envergonhado que não.
– Tu não tens roupa? Sapatos? Um lume? Pão? A cabeça (tão linda!) do menino ia abanando sempre a dizer não. A mulher triste começou a ter vergonha.
Então ela consentia que na sua casa, na casa de todos, de tecto nem sempre azul, houvesse um menino sem roupa, sem lume, sem pão? Ela consentia uma coisa assim? E os outros também?
Escorregaram-lhe pela face já enrugada duas lágrimas transparentes. De água. Água como a que tombava do tecto, como a que se estendia nos mares.
E perguntou mais ao menino:
– E para onde vais? Eu dou-te qualquer coisa para o caminho...
O menino olhou para ela admirado. Não lhe disse para onde ia. Observou-lhe apenas:
– Tens duas gotas de água nos teus olhos que reflectem o céu azul e a lâmpada do tecto. Não sentes?
A mulher deixou cair pelo rosto enrugado as duas lágrimas. A pele, então, ficou-lhe mais lisa. E ela tornou-se menos curva. Ergueu-se. Estendeu, sorrindo, os dois braços ao menino. E disse:
– Fica. Perdoa.
E o menino ficou. Nos seus braços. Encostado ao seu peito. Com os pés aquecidos sobre o campo de neve.
E a mulher entendeu que não adiantava chorar ao canto da casa. E o seu vestido era uma bandeira. E o seu coração uma flor. Com o menino a seu lado."
Matilde Rosa Araújo, in "O Sol e o Menino dos Pés Frios " – contos, 7ª edição, Livros Horizonte, 1986

terça-feira, 6 de julho de 2010

Matilde Rosa Araújo

A escritora Matilde Rosa Araújo morreu hoje aos 89 anos. Era uma grande mulher, extremamente simples, afável e discreta. Acedia sempre aos convites que lhe eram formulados com uma humildade autêntica e um magnífico sorriso. De toda a sua escrita irradia um deslumbramento que nos prende e nos deixa para sempre cativos do poder encantatório que os seus livros exercem. Através de uma admirável prosa poética, ou através de uma primorosa poesia foi construindo uma obra que será sempre actual e grandiosa pela qualidade e profundidade temática e estilística. Matilde Rosa Araújo era uma das maiores e mais valiosas escritoras vivas deste século. Escreveu essencialmente literatura infanto-juvenil criando um universo mágico em que a criança era soberana .
Em 2004, quando recebeu o Prémio de Carreira da SPA, Matilde Rosa Araújo afirmou à Lusa que "os jovens lhe ensinaram uma espécie de luz da vida", porque "o seu olhar é de uma verdade intensa e absoluta".
Entre os seus livros para a infância contam-se "Os direitos das crianças", "O palhaço verde" e "O livro da Tila", nome pelo qual era conhecida entre os amigos.
Matilde Rosa Lopes de Araújo nasceu a 20 de Junho de 1921 .Foi aluna de Jacinto do Prado Coelho e Vitorino Nemésio e colega de Sebastião da Gama, Luísa Dacosta, David Mourão-Ferreira e Urbano Tavares Rodrigues. Licenciou-se em Filologia Românica pela Faculdade de Letras da Universidade Clássica (1945) com uma tese em que o jornalismo era objecto de análise académica.

Para a melhor entender e recordar, transcreve-se um excerto da Entrevista de Luís Souta , in Jornal "A Página" , ano 11, nº 114, Julho 2002, p. 40

"José António Gomes, ao analisar em vários textos a sua produção literária, defende que nela há três grandes temáticas: a infância dourada, a infância agredida e a infância como projecto. Pode-me falar de cada uma delas?
A infância dourada é a do sonho e a da inocência, mas uma inocência sábia. A criança sente o mal mas não desconfia e vê as coisas com os olhos de quem vê pela primeira vez, é maravilhoso. Foi um deslumbramento que eu fui apreendendo e vendo ao longo da vida.
A infância agredida é terrível. Agora, a comunicação social faz, muitas vezes, tema desta infância. Os direitos das crianças estão reconhecidos mas, infelizmente, ainda há muita criança agredida. Essa é uma mágoa que vou sentindo, o saber que a criança ainda não é respeitada, amada como devia. E estou a falar de Portugal mas por esse mundo fora a guerra põe até armas nas mãos das crianças. Já no fim da "caminhada" saber tudo isto dói mais ainda.
Quanto à terceira, qualquer Estado deve olhar a infância como um projecto social comprometido, sério. Estamos a deixar de parte o lado maravilhoso do nascer e do crescer. A criança é sensível ao afecto, percebe bem quando gostam dela. Ela precisa de um amor responsável. Uma criança que cresce sem amor é uma criança quase sempre condenada. E não é necessário infantilizar a infância mas sim encontrar a sua poesia. A criança que tem uma força e uma fragilidade tão grande deve ter voz. A verdadeira raíz de uma sociedade justa, fraterna reside nos Direitos da Criança, no seu real cumprimento.

É uma escritora com um "olhar dorido sobre os socialmente desafortunados e simpatia pelos mais fragilizados". Como vê essa sua constante chamada de consciência?
Como um apelo para a justiça. Tenho visto muita infância marginalizada, e não é só marginalidade, mesmo entre os que não têm carências económicas. Há famílias que são pobres do ponto de vista humano da sensibilidade para a vida, já nem digo para a sua poesia... Há o cultivar de um certo egoísmo, eu sei que temos que nos defender, até da vida, mas se por um lado caminhamos para uma consciencialização dos direitos das crianças, para a sua efectivação, por outro lado o homem também se deixa envolver num egoísmo que o empobrece bastante. Mas é verdade que tenho podido contactar com presenças humanas comoventes de um verdadeiro entendimento da Infância e da Juventude. "
Até sempre.

domingo, 4 de julho de 2010

Do sentimento trágico da vida


Não há revolta no homem
que se revolta calçado.
O que nele se revolta
é apenas um bocado
que dentro fica agarrado
à tábua da teoria.

Aquilo que nele mente
e parte em filosofia
é porventura a semente
do fruto que nele nasce
e a sede não lhe alivia.

Revolta é ter-se nascido
sem descobrir o sentido
do que nos há-de matar.

Rebeldia é o que põe
na nossa mão um punhal
para vibrar naquela morte
que nos mata devagar.

E só depois de informado
só depois de esclarecido
rebelde nu e deitado
ironia de saber
o que só então se sabe
e não se pode contar.

Natália Correia

sábado, 3 de julho de 2010

Os invernos deste Verão





Imagens da nossa velha Europa neste Verão invernoso. Por cá, o Sol brilha, mas as praias não estão cheias. As férias não são para muitos de nós.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

I still haven't found what I'm looking for

U2 & Bruce Springsteen ao vivo no "Rock And Roll Hall Of Fame"



"I Still Haven't Found What I'm Looking For " dos U2

I have climbed the highest mountains
I have run through the fields
Only to be with you (2x)

I have run I have crawled
I have scaled
These city walls (2x)
Only to be with you

(2x)
But I still haven't found
What I'm looking for

I have kissed honey lips
Felt the healing in her fingertips
It burned like fire
This burning desire

I have spoke with the tongue of angels
I have held the hand of the devil
It was warm in the night
I was cold as a stone

(2x)
But I still haven't found
What I'm looking for

I believe in the Kingdom Come
Then all the colors will
Bleed into one (2x)
But yes I'm still running

You broke the bonds and you loosed the chains
You carried the cross
And my shame (2x)
You know I believe it

(4x)
But I still haven't found
What I'm looking for

Composição: Bono Vox / The Edge / Adam Clayton / Larry Mullen Jr

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Hoje, ficámos mais pobres


O aumento de todas as taxas de IVA começou à meia-noite. Os bens essenciais passam de 5% para 6%, os bens sujeitos à taxa intermédia passam de 12% para 13% e os restantes sofrem igual aumento e passam de 20% para 21%.
Tudo vai aumentar: alimentos incluindo o pão e o leite, produtos para a casa, água , electricidade . O gás chega a ter um aumento de 3,2%.
Enfim , todos vamos ficar mais pobres com este imposto generalizado a qualquer um, seja rico, pobre ou esteja em miséria total. A cegueira do governo não enxerga uma equidade harmónica. Carrega e penaliza sempre quem já não pode.
Tito Rodrigues da associação de defesa do consumidor confirma: "o aumento do imposto indirecto não contempla a diferença entre os consumidores. Estamos a falar de 1% que faz com que o governo esqueça as famílias mais carenciadas."
Nos últimos dez anos, Portugal foi o país onde se registou o maior aumento do IVA. Contudo, continuamos em crise profunda quase abismal. O caminho da recuperação não passa pelo aumento dos impostos, mas essa evidência ainda não foi absorvida pelos nossos doutos governantes.
Meu pobre Portugal.