Em 1928, Ida Rubinstein encomendou a Ravel a criação de uma peça para balett.
Ravel compôs uma nova obra que ficou para sempre conhecida como " O Bolero de Ravel". A estreia efectuou-se a 22 de Novembro de 1928, em Paris, na Ópera Garnier sob a direcção de Walther Straram, com coreografia de Bronislava Nijinska e cenários de Alexandre Benois. A grande dançarina foi Ida Rubinstein.
Ravel compôs uma nova obra que ficou para sempre conhecida como " O Bolero de Ravel". A estreia efectuou-se a 22 de Novembro de 1928, em Paris, na Ópera Garnier sob a direcção de Walther Straram, com coreografia de Bronislava Nijinska e cenários de Alexandre Benois. A grande dançarina foi Ida Rubinstein.
Neste excerto do romance, " A Música da Fome", o autor, Le Clézio, descreve magistralmente a plêiade de movimentos e de instrumentos que, em articulação, se conjugam num crescendo triunfal nesse grandioso Bolero.
"Os últimos compassos do Bolero são tensos, violentos, quase insuportáveis. O som sobe, enche a sala, agora toda a assistência está de pé, olha para o palco onde os bailarinos rodopiam, aceleram o movimento. Há pessoas que gritam, os tantãs retumbam e sobrepõem-se às vozes. Ida Rubinstein, os bailarinos são fantoches arrebatados pela loucura. As flautas, os clarinetes, os saxofones, os violinos, os tambores, os címbalos, os timbales, todos os instrumentos se flectem, extremamente tensos, até à estrangulação, até quebrarem as cordas e as vozes, até quebrarem o egoísta silêncio do mundo.
A minha mãe , quando me contou a estreia do Bolero, falou-me da sua emoção, dos gritos, dos aplausos e dos assobios, do tumulto. Algures na mesma sala encontrava-se um homem que ela nunca conheceu, Claude Lévi-Strauss. Como ele , muito mais tarde, minha mãe confiou-me que aquela música mudara a sua vida.
Agora, compreendo porquê. Sei o que significava para a sua geração aquela frase repetida, seringada, imposta pelo ritmo e o crescendo. O Bolero não é uma peça musical como as outras. É uma profecia. Conta a história de uma raiva, de uma fome. Quando termina em violência, o silêncio que se segue é terrível para os sobreviventes atordoados."
"Os últimos compassos do Bolero são tensos, violentos, quase insuportáveis. O som sobe, enche a sala, agora toda a assistência está de pé, olha para o palco onde os bailarinos rodopiam, aceleram o movimento. Há pessoas que gritam, os tantãs retumbam e sobrepõem-se às vozes. Ida Rubinstein, os bailarinos são fantoches arrebatados pela loucura. As flautas, os clarinetes, os saxofones, os violinos, os tambores, os címbalos, os timbales, todos os instrumentos se flectem, extremamente tensos, até à estrangulação, até quebrarem as cordas e as vozes, até quebrarem o egoísta silêncio do mundo.
A minha mãe , quando me contou a estreia do Bolero, falou-me da sua emoção, dos gritos, dos aplausos e dos assobios, do tumulto. Algures na mesma sala encontrava-se um homem que ela nunca conheceu, Claude Lévi-Strauss. Como ele , muito mais tarde, minha mãe confiou-me que aquela música mudara a sua vida.
Agora, compreendo porquê. Sei o que significava para a sua geração aquela frase repetida, seringada, imposta pelo ritmo e o crescendo. O Bolero não é uma peça musical como as outras. É uma profecia. Conta a história de uma raiva, de uma fome. Quando termina em violência, o silêncio que se segue é terrível para os sobreviventes atordoados."
J.M.G. Le Clézio, in " A Música da Fome ", Edições D. Quixote, 2009
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