por BAPTISTA-BASTOS
O desemprego não pára de aumentar na Europa. Uma análise honesta do problema autoriza-nos a concluir que a crise do sistema está a prolongar-se e a de-senvolver-se com resultados finais previsivelmente assustadores. Em Portugal, a percentagem de desempregados atingiu os 10,5 por cento, e a tendência é para aumentar substancialmente. Pode-se olhar para o lado, criando a torpe ilusão de que as desgraças só acontecem aos outros. Não é verdade. Como no poema de Brecht, tudo é com todos, e já estão a tocar no batente da nossa porta.
À incapacidade total dos nossos governantes, já não digo para resolverem, mas, pelo menos, para enfrentar o problema, junta-se o facto de obedecerem, cegamente, às combinações únicas do elemento standard. Os módulos do mercado, quer dizer: as exigências brutais do capitalismo, encontraram as mais servis concordâncias nos chamados partidos de poder. Mas que poder?, tendo em conta que esse próprio conceito se desvaneceu. Partidos conservadores, socialistas, sociais-democratas ou demoliberais pouco possuem, hoje, que os distinga uns dos outros. Politicamente, agem de forma semelhante. A perda das suas identidades, absorvidas pela "economia única", põe em risco a própria democracia. A "democracia totalitária" está aí.
No caso português, o Governo é, averiguadamente, inepto para resolver o problema. A sua indeterminação ideológica pode explicar a decomposição da nossa vida cívica. Por outro lado, as representações actuais do PSD (três candidatos à chefia) não são animadoras. Nada se sabe dos projectos "alternativos", talvez porque, na realidade não existam, a não ser a continuidade de "políticas de aquiescência". Cada qual apenas pretende gerir, a seu modo, a crise geral do capitalismo, sem demonstrar a necessidade da sua crítica. O mimetismo, com ligeiras modificações de pormenor, tornou-se comum aos partidos. O mundo da economia substituiu o da política, com os nefastos resultados que se conhecem. O futuro não augura nada de bom para os portugueses. Os portugueses desempregados, pobres e assustados, bem entendido. Para uma escassa minoria, vencimentos obscenos, reformas escabrosas, as coisas correm pelo melhor.
Entre outras, há uma pergunta a colocar: um país pode ser governado assim, ausente das relações sociais, mantendo, obstinada e cegamente, a ruptura com a dimensão colectiva?
O PS deixou, há muito, de advogar uma identidade específica, que o colocasse entre a Direita do PSD e a Esquerda do PCP. É um imbróglio sem convicções, como o PSD é o que sempre foi: um jogo de dependências sem grandeza nem glória. Poderemos, alguma vez, recuperar o nosso "não" e o nosso "sim"? Duvido.
Artigo de Opinião de Baptista Bastos, publicado no DN, em 3/03/2010
O desemprego não pára de aumentar na Europa. Uma análise honesta do problema autoriza-nos a concluir que a crise do sistema está a prolongar-se e a de-senvolver-se com resultados finais previsivelmente assustadores. Em Portugal, a percentagem de desempregados atingiu os 10,5 por cento, e a tendência é para aumentar substancialmente. Pode-se olhar para o lado, criando a torpe ilusão de que as desgraças só acontecem aos outros. Não é verdade. Como no poema de Brecht, tudo é com todos, e já estão a tocar no batente da nossa porta.
À incapacidade total dos nossos governantes, já não digo para resolverem, mas, pelo menos, para enfrentar o problema, junta-se o facto de obedecerem, cegamente, às combinações únicas do elemento standard. Os módulos do mercado, quer dizer: as exigências brutais do capitalismo, encontraram as mais servis concordâncias nos chamados partidos de poder. Mas que poder?, tendo em conta que esse próprio conceito se desvaneceu. Partidos conservadores, socialistas, sociais-democratas ou demoliberais pouco possuem, hoje, que os distinga uns dos outros. Politicamente, agem de forma semelhante. A perda das suas identidades, absorvidas pela "economia única", põe em risco a própria democracia. A "democracia totalitária" está aí.
No caso português, o Governo é, averiguadamente, inepto para resolver o problema. A sua indeterminação ideológica pode explicar a decomposição da nossa vida cívica. Por outro lado, as representações actuais do PSD (três candidatos à chefia) não são animadoras. Nada se sabe dos projectos "alternativos", talvez porque, na realidade não existam, a não ser a continuidade de "políticas de aquiescência". Cada qual apenas pretende gerir, a seu modo, a crise geral do capitalismo, sem demonstrar a necessidade da sua crítica. O mimetismo, com ligeiras modificações de pormenor, tornou-se comum aos partidos. O mundo da economia substituiu o da política, com os nefastos resultados que se conhecem. O futuro não augura nada de bom para os portugueses. Os portugueses desempregados, pobres e assustados, bem entendido. Para uma escassa minoria, vencimentos obscenos, reformas escabrosas, as coisas correm pelo melhor.
Entre outras, há uma pergunta a colocar: um país pode ser governado assim, ausente das relações sociais, mantendo, obstinada e cegamente, a ruptura com a dimensão colectiva?
O PS deixou, há muito, de advogar uma identidade específica, que o colocasse entre a Direita do PSD e a Esquerda do PCP. É um imbróglio sem convicções, como o PSD é o que sempre foi: um jogo de dependências sem grandeza nem glória. Poderemos, alguma vez, recuperar o nosso "não" e o nosso "sim"? Duvido.
Artigo de Opinião de Baptista Bastos, publicado no DN, em 3/03/2010
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