Manoel de Andrade esteve em Portimão. Partiu para Paris há dois dias, deixando nesta cidade uma plateia arrebatada pelo fulgor das suas palavras e pelo singular manancial de vivências que compõe a sua saga memorialista, registado no volumoso tomo, Nos Rastros da utopia, uma memória crítica da América Latina nos anos 70.
Manoel de Andrade, o escritor e poeta, proferiu duas palestras nesta cidade. A primeira aconteceu na Tertúlia que junta diversos amigos , desde há longo tempo. Aí, o poeta redesenhou o seu percurso poético e as causas que originaram o seu exílio na época dura do Golpe Militar, no Brasil.
Num discurso fluido e numa abordagem capitosa, Andrade fez do tempo uma verdadeira tela de grandes acontecimentos em que cada um se sentiu em profunda comunhão com a voz que a legendava.
Quer na Tertúlia, entre amigos e leitores, quer na Biblioteca Municipal Manuel Teixeira Gomes, este escritor brasileiro realizou duas excelentes palestras. Dois grandes eventos literários que marcaram quem os vivenciou.
Manoel de Andrade cativou. A sua poesia de resistência, inserta no célebre livro bilíngue Poemas para a Liberdade, ecoou com a força da voz clara de quem a escreveu. Um momento de intenso prazer que trouxe ao local o rodopiar libertário da Utopia.
De Cantares, um livro de poemas mais recente, extraiu para declamar , com lírica sonoridade, o poderoso poema Por que cantamos que despertou no público o curioso e irrecusável desejo pela descoberta integral da obra.
Manoel de Andrade visitou Portimão. Trouxe a obra e o homem que a construiu. A cidade agradece-lhe.
Ao poeta, ao bardo errante dos anos 70 , ao escritor e jornalista, ao homem, ao amigo o nosso bem-haja.