Viajar é nascer e morrer a todo o instante.
Victor Hugo
Viajar foi o mote de partida para, através da força da escrita de Eugénio Lisboa, no ensaio " Há viagens e viagens", iniciar uma pequena viagem por algum Mundo, com registos de olhares que marcaram.
Assim nasceu o post de sexta -feira, 29 de Julho, publicado neste blog. Uma viagem inicia-se no local onde se vive. O Algarve, tão populoso neste momento estival, era o lugar de onde. Lisboa não ficava na rota. Os amantes desta cidade reclamaram, pelo que se aproveita o Domingo, dia de Música, para dar voz a esta Lisboa que eu amo.
O Fado é de Lisboa. Alguém o afirma , a Severa o cantou e Portugal acredita.
Lisboa e eu ficamos redimidas com as vozes maiores de dois grandes fadistas que cantam com mestria esta nossa bela cidade: Amália Rodrigues e Carlos do Carmo.
Lisboa menina e moça
No castelo, ponho um cotovelo
Em Alfama, descanso o olhar
E assim desfaz-se o novelo
De azul e mar
À ribeira encosto a cabeça
A almofada, na cama do Tejo
Com lençóis bordados à pressa
Na cambraia de um beijo
Lisboa menina e moça, menina
Da luz que meus olhos vêem tão pura
Teus seios são as colinas, varina
Pregão que me traz à porta, ternura
Cidade a ponto luz bordada
Toalha à beira mar estendida
Lisboa menina e moça, amada
Cidade mulher da minha vida
No terreiro eu passo por ti
Mas da graça eu vejo-te nua
Quando um pombo te olha, sorri
És mulher da rua
E no bairro mais alto do sonho
Ponho o fado que soube inventar
Aguardente de vida e medronho
Que me faz cantar
Lisboa menina e moça, menina
Da luz que meus olhos vêem tão pura
Teus seios são as colinas, varina
Pregão que me traz à porta, ternura
Cidade a ponto luz bordada
Toalha à beira mar estendida
Lisboa menina e moça, amada
Cidade mulher da minha vida
Lisboa no meu amor, deitada
Cidade por minhas mãos despida
Lisboa menina e moça, amada
Cidade mulher da minha vida
Letra e musica: Ary dos Santos e Paulo de Carvalho
É varina, usa chinela,
tem movimentos de gata;
na canastra, a caravela,
no coração, a fragata.
Em vez de corvos no xaile,
gaivotas vêm pousar.
Quando o vento a leva ao baile,
baila no baile com o mar.
É de conchas o vestido,
tem algas na cabeleira,
e nas veias o latido
do motor duma traineira.
Vende sonho e maresia,
tempestades apregoa.
Seu nome próprio: Maria;
seu apelido: Lisboa.
Poema de David Mourão-Ferreira
Musica: Alain Oulman
Se uma gaivota viesse
trazer-me o céu de Lisboa
no desenho que fizesse,
nesse céu onde o olhar
é uma asa que não voa,
esmorece e cai no mar.
Que perfeito coração
no meu peito bateria,
meu amor na tua mão,
nessa mão onde cabia
perfeito o meu coração.
Se um português marinheiro,
dos sete mares andarilho,
fosse quem sabe o primeiro
a contar-me o que inventasse,
se um olhar de novo brilho
no meu olhar se enlaçasse.
Que perfeito coração
no meu peito bateria,
meu amor na tua mão,
nessa mão onde cabia
perfeito o meu coração.
Se ao dizer adeus à vida
as aves todas do céu,
me dessem na despedida
o teu olhar derradeiro,
esse olhar que era só teu,
amor que foste o primeiro.
Que perfeito coração
morreria no meu peito morreria,
meu amor na tua mão,
nessa mão onde perfeito
bateu o meu coração.
Poema de Alexandre O´Neill
Música de Alain Oulman
Gaivota, um fado memorável, um dos mais belos da discografia de Amália.
Carlos do Carmo recorda as águas do Tejo e as canoas típicas do rio que banha Lisboa.