sábado, 31 de março de 2018

Era…

 
                                  Escrever é uma forma de a voz sobreviver à pessoa.
                                                                                 Margaret Atwood
Era…

Era o Oceano
Sem água, sem vaga
a acabar
o Mar do meu olhar.

Era o areal
Sem espuma, sem maresia
a fugir
a praia do meu dia.

Era o azul
Sem traço, sem tom,
a perder
a cor do meu céu.

Era a chuva
Sem força, sem bátega
a abafar
o desenho do meu corpo

Era o vento
Sem rumo , sem tino
a levar
o sonho do meu destino

Eras tu
Sem ti, sem mim
a apagar
o brilho da minha vida.
Maria José Vieira de Sousa, in Poesia do Mar e da Terra, 6.03.2015

quinta-feira, 29 de março de 2018

Música , arte profunda

"O que há de íntimo e inexplicável em toda a música, o que nos procura a visão rápida e passageira dum paraíso familiar e inacessível ao mesmo tempo, que compreendemos e que contudo não lograríamos explicar , é ela dar uma voz às profundas e surdas agitações do nosso ser, fora de toda a realidade, e por conseguinte sem sofrimento."
Artur Schopenhauer, in Dores do Mundo, Editores Santos & Vieira, Empresa Literária Fluminense, Lisboa, 1917, p. 148
Abel Korzeniowski, em And Just Like That.

quarta-feira, 28 de março de 2018

A desgraça da guerra, o terror

Paris, 1948 - o número

"Paris , casa de Picasso, em torno à mesa , somos uns poucos na tentativa de convencê-lo  a comparecer ao Congresso de Intelectuais pela Paz que se vai reunir em Wroclaw na Polónia: Louis Aragon, Alexandre Korneichuk, Pierre Gamara, Emílio Sereni e a cineasta polaca Wanda Jacubowska, cujo filme de estreia triunfa nas salas de cinema. Wanda está sentada ao lado do pintor .
Picasso, intransigente na recusa, não irá , peçam-lhe outra coisa, pode doar um quadro, se preciso. Comparecer, jamais , perda de tempo, tem mais o que fazer , deve pintar.  Gastaram-se  todos os argumentos , caíram todos no vazio, terminamos por desistir, o Congresso não contará com a estrela de Guernica. Queijos, vinhos, comenta-se o filme de Wanda Jacubowska.
Picasso demora o olhar no braço nu da cineasta, vê o número gravado, pergunta de que se trata.
- Meu número no campo de concentração onde estive durante a guerra.
Picasso passa de leve a ponta dos dedos  no braço da moça de Varsóvia, olha para nós, dirige-se a Aragon:
- Eu vou, podem contar comigo.
Foi e fez discurso, esteve o tempo todo. Depois desenhou para outros congressos, a Paloma signo da paz. Tocara com os dedos a desgraça da guerra, o terror."
Jorge Amado, in Navegação de Cabotagem, Publicações Europa-América, p 238

segunda-feira, 26 de março de 2018

A acção humana

"A virtude , assim como o génio, não se ensina; a ideia que se faz da virtude  é estéril, e só pode servir de instrumento, como as coisas técnicas em matéria de arte. Esperar que os nossos sistemas  de moral e as nossas éticas possam tornar os homens virtuosos, nobres e santos, é tão insensato  como imaginar que os nossos tratados  sobre estética possam produzir poetas , escultores, pintores e músicos.
Não há senão três causas fundamentais das acções humanas, e nada se faz sem elas. Temos primeiro a)  o egoísmo, que quer o seu próprio bem ( não tem limites); b) a maldade, que deseja o mal de outrem (vai até à extrema crueldade); c) a piedade, que quer o bem de outrem  ( vai até à generosidade, à grandeza  de alma).  Toda a acção humana depende duma destas três causas ou mesmo de duas."
Artur Schopenhauer, in Dores do Mundo, Editores Santos & Vieira, Empresa Literária Fluminense, Lisboa, 1917, pp.153,154

domingo, 25 de março de 2018

Ao Domingo Há Música

Qualquer coisa recorda nele
a força do vento e as ondas do mar:
o ar desprendido de adolescente
e a pureza intacta do olhar.
Alberto  de Lacerda, Oferenda I

Há sons tão eufónicos que nos trazem a saudade de um mundo que já trilhámos  e de  tantos  outros  desconhecidos. Elevam-nos para  lá  do sonhado ou  transportam-nos aos momentos já vividos. Momentos que marcarão e marcaram a vida de cada um de nós porque libertam a força  e a pureza que nos alimenta , transcende e redime .

Damien Rice é um caso singular de talento. Uma voz que se enche de diferentes tonalidades e que dá aos sons a memória de todos os tempos. 
Ei-lo,   numa  Soirée de Poche, promovida pela Arte Concert, em Paris.

Soirée de Poche : Damien Rice - ARTE Concert
"Damien Rice est devenu, avec "9 Crimes" et "The Blower's Daughter", le meilleur partenaire de nos petits coups de blues et autres instants de mélancolie. Avec sa voix légèrement éraillée,
accompagné d'une simple guitare ou d'un ensemble instrumental, Damien Rice réveille en nous des émotions singulières et nous emmène dans son univers sensible, à fleur de peau.
Cette Soirée de Poche très intime donnée dans un appartement parisien est une occasion rêvée de découvrir ou re-découvrir l'artiste et d'approcher sa musique au plus près de ce qu'elle est : une émotion communicative et instantanée. Portées par l'ensemble vocal Cantus Domus, ses compositions révèlent ici tout leur pouvoir cathartique et leur grande sincérité, nous arrachant au passage quelques larmes bouleversées."
ARTE Concert vous propose le meilleur de la scène européenne sur tous vos écrans

sábado, 24 de março de 2018

Saul Bellow

Saul Bellow justifica a sua saída da Universidade de Chicago, ao fim de três décadas, aos 78 anos, para aceitar o convite do reitor da Universidade de Boston com os seguintes argumentos: " Dei a Chicago os melhores anos da minha vida, como se diz nos tribunais de família(...) Quando as pessoas me perguntavam por que razão me ia embora, respondia: porque já não posso descer a rua sem pensar nos meus Mortos, e tinha chegado a hora. Aqui tinha uma namorada ou ali fui a uma festa ou acolá participei numa reunião e por aí fora. A maioria das pessoas que conhecera e amara tanto tinha morrido."
Sobre o registo da sua autobiografia , Bellow explicava que a não tinha escrito porque não tinha nada para contar , a não ser que estivera sempre insuportavelmente ocupado desde que fora circundado: ocupado a escrever romances, contos e alguns ensaios; a namorar, a casar, a ser pai, a divorciar-se, a fazer amigos e inimigos, a sofrer; a acompanhar os grandes acontecimentos históricos e os pequenos acontecimentos da vida literária ; a praticar o prodigioso hábito da leitura e a dedicar-se ao ensino para lá dos oitenta anos. E não menos ocupado a escrever cartas."
Saul Bellow, in Cartas e Recordações, Quetzal Editores, Março de 2018

sexta-feira, 23 de março de 2018

A complexidade do real

Entre a paranóia , a racionalização e a racionalidade

"(...) Pretendo concluir sobre alguns princípios que podem ajudar-nos a pensar a complexidade do real.
Antes de mais, creio que temos necessidade de macro conceitos. Assim como um átomo é uma constelação de partículas , que o sistema solar é uma constelação à volta de um astro, assim temos necessidade de pensar por constelação e solidariedade de conceitos.
Por outro lado, devemos saber que nas coisas mais importantes, os conceitos não se definem nunca pelas suas fronteiras, mas a partir do seu núcleo. É uma ideia anticartesiana, no sentido em que Descartes pensava que a distinção e a clareza eram caracteres intrínsecos da verdade de uma ideia.
Consideremos o amor e a amizade. Pode reconhecer-se nitidamente no seu núcleo o amor e a amizade, mas há também amizade amorosa, amores amigáveis. Há pois situações intermediárias, mistas entre o amor e amizade, não há uma fronteira nítida. Nunca se deve procurar definir as coisas importantes por fronteiras. As fronteiras são sempre vagas, são sempre interferentes. É preciso pois procurar definir o coração, e esta definição exige frequentemente macroconceitos."
Edgar Morin , in "Introdução ao Pensamento Complexo", Ed. Instituto Piaget,   pp. 105, 106

domingo, 18 de março de 2018

Ao Domingo Há Música

One day I'll hear 
The laugh of children 
In a world where war has been banned. 

One day I'll see 
Men of all colors 
Sharing words of love and devotion. 

Há vozes que nunca deixam de nos surpreender. Criam momentos de insubstituível prazer. Apesar de as escutarmos ao longo de dias , meses e anos , chegam-nos sempre  radiosas e  harmónicas. 
Andrea Bocelli e  Katherine Jenkins, em  I Believe

One day I'll hear
The laugh of children
In a world where war has been banned.

One day I'll see
Men of all colors
Sharing words of love and devotion.

Stand up and feel
The Holy Spirit
Find the power of your faith.

Open your heart
To those who need you
In the name of love and devotion.

Yes, I believe.

I believe in the people
Of all nations
To join and to care
For love.

I believe in a world
Where light will guide us
And giving our love
We'll make heaven on earth.

I believe in the people
Of all nations
To join and to care
For love.

I believe in a world
Where light will guide us
And giving our love
We'll make heaven on earth

Yes, I believe.

I believe in the people
Of all nations
To join and to care
For love.

I believe in a world
Where light will guide us
And giving our love
We'll make heaven on earth.

I believe.
Compositores: Aja R. Volkman / Dan Reynolds / Dan G. Epand / Rich K. Koehler
E , de novo, Andrea Bocelli , num dueto  com Helene Fischer , em  When I Fall In Love  / 2012 
Andrea Boccelli ,em Brucia La Terra.
Brucia la luna n'cielu
E ju bruciu d'amuri
Focu ca si consuma
Comu lu me cori

L'anima chianci
Addulurata

Non si da paci
Ma cchi mala nuttata

Lu tempu passa
Ma non agghiorna
Non c'e mai suli
S'idda non torna

Brucia la terra mia
E abbrucia lu me cori
Cchi siti d'acqua idda
E ju siti d'amuri

Acu la cantu
La me canzuni

Si no c'e nuddu
Ca s'a affacia
A lu barcuni

Brucia la luna n'cielu
E ju bruciu d'amuri
Focu ca si consuma
Comu lu me cori
Letras de I Believe © Spirit Music Group, Downtown Music Publishing

sábado, 17 de março de 2018

Aparição


Filme baseado na obra ‘Aparição’, de Vergílio Ferreira, estreia nos cinemas portugueses
"A obra cinematográfica ganhou o Prémio de Melhor Filme Português no Fantasporto.
Vergílio António Ferreira nasceu em Gouveia a 28 de Janeiro de 1916. Decorria o ano de 1927, e tinha então o pequeno Vergílio 11 anos, quando os seus pais emigraram para o Canadá, ficando Vergílio em Gouveia com os seus irmãos. A separação da vivência conjunta com seus pais em tenra idade é retratada no seu livro “Nítido Nulo“, sendo que o autor se inspirava frequentemente na sua vida para criar as suas obras. Aos 12 anos entra no seminário do Fundão, onde permanece durante seis anos e esta vivência será o tema central de “Manhã Submersa“. Nas obras de Vergílio Ferreira a neve é também um elemento bastante presente, marcando a sua infância vivida na zona Serra da Estrela, esta pautada pelo branco a vestir toda a paisagem.
Já no ano de 1936, Vergílio abandona o seminário e conclui os estudos no Liceu da Guarda. Ingressa então na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra onde virá a licenciar-se em Filologia Clássica, no ano de 1940. Durante a época em que estudava na Universidade de Coimbra, Vergílio dedica-se à poesia, embora esta nunca seja publicada. As suas vivências em Coimbra serão mais tarde também retratadas em “Aparição“, sendo o personagem principal do livro natural da região de Coimbra.
Agora, em 2018, chega aos cinemas portugueses “Aparição“. O filme foi rodado em Évora e é realizado por Fernando Vendrell. Jaime Freitas, Victória Guerra ou Rita Martins fazem parte do elenco.
É uma adaptação do romance, mas não é uma adaptação canónica“, porque vai procurar “questionar alguns dos contextos do romance e também aspectos ligados à criatividade do Vergílio Ferreira“, afirmou o cineasta Fernando Vendrell à Agência Lusa, em 2016, e acrescentou ainda “Este trabalho vai também alertar para a preservação arquitectónica dos espaços de Évora, que estão ocultados“, realçou, dando como exemplo o Pátio do Salema,“um pátio seiscentista, que actualmente é um parque de estacionamento“.
Aparição” ganhou o Prémio de Melhor Filme Português no Fantasporto e estreia a 22 de Março nos cinemas portugueses." Redacção da Comunidade Cultura e Artes, 13.03.2018

sexta-feira, 16 de março de 2018

Carta de Baudelaire a Victor Hugo


Lettre de Charles Baudelaire à Victor Hugo, 1859
Par The Dissident le 26 février 2018
Retrouvez dans Pollens la lecture d’un extrait d’œuvre d’un philosophe, d’un intellectuel, d’un poète, d’un écrivain, d’un artiste ou d’un citoyen engagé dont la portée nous parait essentielle à (re)découvrir.

                                                         Le 23 septembre 1859
Monsieur,

J’ai le plus grand besoin de vous, et j’invoque votre bonté. Il y a quelques mois, j’ai fait sur mon ami Théophile Gautier un assez long article qui a soulevé un tel éclat de rire parmi les imbéciles, que j’ai jugé bon d’en faire une petite brochure, ne fût-ce que pour prouver que je ne me repens jamais. — J’avais prié les gens du journal de vous expédier un numéro. J’ignore si vous l’avez reçu ; mais j’ai appris par notre ami commun, M. Paul Meurice, que vous aviez eu la bonté de m’écrire une lettre, laquelle n’a pas encore pu être retrouvée, L’Artiste ayant jugé à propos de la renvoyer à un domicile que je n’habite plus depuis longtemps, au lieu de la renvoyer à Honfleur, mon vrai domicile, où rien ne se perd. Il m’est impossible de deviner si votre lettre avait directement trait à l’article en question, et, quoi qu’il en soit, j’ai éprouvé un amer regret. — Une lettre de vous, Monsieur, qu’aucun de nous n’a vu depuis longtemps, de vous, que je n’ai vu que deux fois, et il y a de cela presque vingt ans, — est une chose si agréable et si précieuse ! — Il faut cependant que je vous explique pourquoi j’ai commis cette prodigieuse inconvenance de vous envoyer un papier imprimé sans joindre une lettre, un hommage quelconque, un témoignage de respect et de fidélité. Un des imbéciles dont je parlais (celui-là plein de trop d’esprit, je veux dire d’esprit pointu) me dit : Comment ! vous aurez l’effronterie d’envoyer cet article à M. Hugo ! Vous ne sentez donc pas que c’est fait pour lui déplaire ! — Voilà sans doute une énorme sottise. Eh bien ! Monsieur, quoique je sache que le génie contient naturellement tout l’esprit critique et toute l’indulgence nécessaire, je me suis senti intimidé, et je n’ai pas osé vous écrire.
J’ai donc maintenant quelques explications à vous donner. Je sais vos ouvrages par cœur, et vos préfaces me montrent que j’ai dépassé la théorie généralement exposée par vous sur l’alliance de la morale avec la poésie. Mais en un temps où le monde s’éloigne de l’art avec une telle horreur, où les hommes se laissent s’abrutir par l’idée exclusive d’utilité, je crois qu’il n’y a pas grand mal à exagérer un peu dans le sens contraire. J’ai peut-être réclamé trop. C’était pour obtenir assez. Enfin, quand même un peu un peu de fatalisme asiatique se serait mêlé à mes réflexions, je me considère comme pardonnable. L’épouvantable monde où nous vivons donne le goût de l’isolement et de la fatalité.
J’ai voulu surtout ramener la pensée du lecteur vers cette merveilleuse époque littéraire dont vous fûtes le véritable roi et qui vit dans mon esprit comme un délicieux souvenir d’enfance.
Relativement à l’écrivain qui fait le sujet de cet article, et donc le nom a servi de prétexte à mes considérations critiques, je puis vous avouer confidentiellement que je connais les lacunes de son étonnant esprit. Bien des fois, pensant à lui, j’ai été affligé de voir que Dieu ne voulait pas être absolument généreux. Je n’ai pas menti, j’ai esquivé, j’ai dissimulé. Si j’étais appelé à témoigner en justice, et si mon témoignage, absolument véridique, pouvait nuire à un être favorisé par la Nature et aimé par mon Cœur, je vous jure que je mentirais avec fierté ; — parce que les lois sont au-dessous du sentiment, parce que l’amitié est, de sa nature, infaillible et ingouvernable. Mais vis-à-vis de vous, il me semble absolument inutile de vous mentir.
J’ai besoin de vous. J’ai besoin d’une voix plus haute que la mienne et que celle de Théophile Gautier, — de votre voix dictatoriale. Je veux être protégé. J’imprimerai humblement ce que vous daignerez m’écrire. Ne vous gênez pas, je vous en supplie. Si vous trouvez, dans ces épreuves, quelque chose à blâmer, sachez que je montrerai votre blâme docilement, mais sans trop de honte. Une critique de vous, n’est-ce pas encore une caresse, puisque c’est un honneur ?
Les vers que je joins à cette lettre se jouaient depuis longtemps dans mon cerveau. Le second morceau a été fait en vue de vous imiter (riez de ma fatuité, j’en ris moi-même) après avoir relu quelques pièces de vos recueils, où une charité si magnifique se mêle à une familiarité si touchante. J’ai vu quelquefois dans les galeries de peintures de misérables rapins qui copiaient les ouvrages des maîtres. Bien ou mal faites, ils mettaient quelquefois dans ces imitations, à leur insu, quelque chose de leur propre nature, grande ou triviale. Ce sera là peut-être (peut-être !) l’excuse de mon audace. Quand Les Fleurs du mal reparaîtront, gonflées de trois fois plus de matière que n’en a supprimé la Justice, j’aurai le plaisir d’inscrire en tête de ces morceaux le nom du poète dont les œuvres m’ont tant appris et ont donné tant de jouissances à ma jeunesse.
Je me rappelle que vous m’envoyâtes, lors de cette publication, un singulier compliment sur la flétrissure que vous définissiez une décoration. Je ne compris pas très bien, parce que j’étais encore en proie à la colère causée par la perte de temps et d’argent. Mais aujourd’hui, Monsieur, je comprends très bien. Je me trouve fort à l’aise sous ma flétrissure, et je sais que désormais, dans quelque genre de littérature que je me répande, je resterai un monstre et un loup-garou.
Il y a quelque temps, l’amnistie mit votre nom sur toutes les lèvres. Me pardonnerez-vous d’avoir été inquiet pendant un quart de seconde ? J’entendais dire autour de moi : Enfin, Victor Hugo va revenir ! — Je trouvais que ces paroles faisaient honneur au cœur de ces braves gens, mais non pas à leur jugement. Votre note est venue qui nous a soulagés. Je savais bien que les poètes valaient les Napoléon, et que Victor Hugo ne pouvait pas être moins grand que Chateaubriand.
On me dit que vous habitez une demeure haute, poétique, et qui ressemble à votre esprit, et que vous vous sentez heureux dans le fracas du vent et de l’eau.
Vous ne serez jamais aussi heureux que vous êtes grand. On me dit aussi que vous avez des regrets et des nostalgies. C’est peut-être faux. Mais si c’est vrai, il vous suffirait d’une journée dans notre triste, dans notre ennuyeux Paris, dans notre Paris-New York, pour vous guérir radicalement. Si je n’avais pas ici des devoirs à accomplir, je m’en irais au bout du monde. — Adieu, Monsieur, si quelquefois mon nom était prononcé d’une manière bienveillante dans votre heureuse famille, j’en ressentirais un grand bonheur.

BAUDELAIRE

quarta-feira, 14 de março de 2018

Recordar Stephen Hawking



Eis um registo que nos traz este cientista que acaba de  desaparecer. 
O apresentador e comediante Dara O'Briain conversa com Stephen Hawking, um dos maiores estudiosos da física e do cosmo, autor da obra Uma Breve História Do Tempo.

Paul Ricoeur

"Paul Ricoeur: Penseur des Institutions Justes"
Constitui um importante dossiê da revista Esprit (Paris, Novembro 2017) coordenado por Jean-Louis Schlegel que merece reflexão aprofundada.
A VIDA DOS LIVROS, por Guilherme d'Oliveira Martins
De 5 a 11 de Março de 2018

O REGRESSO DAS IDEIAS
"Nos tempos que correm, persiste a dúvida sobre se, como tem sido afirmado em alguns meios intelectuais, estão a regressar as ideias, para substituir a lógica apenas centrada no pragmatismo. É verdade que a vida política precisa de consciência prática, mas, como tem ficado demonstrado, a ausência de reflexão gera a decadência e induz o oportunismo. Os populismos correspondem ao resultado dessa tendência dominada pelo curto prazo e pela inversão de valores – na qual se desvaloriza a capacidade de orientar e vence o predomínio dos sentimentos inorgânicos e dos interesses momentâneos e egoístas. Não podemos esquecer o que afirmou Fernando Henrique Cardoso: “a política é a arte de transformar o possível em necessário”. No entanto, tem havido a renúncia a pensar, prevalecendo o imediato, o deixar ir e a tirania da indiferença. E assim no tema dos refugiados emerge sobretudo o medo do outro, em lugar da ponderação da humanidade. Também nas reformas sociais falta dimensão de futuro – não se inserindo a coesão económica e social e a sustentabilidade na consolidação das instituições democráticas mediadoras, capazes de representar a sociedade e de garantir a participação dos cidadãos – em nome da legitimidade do voto e do exercício. Como temos visto, a lógica da indignação não favorece a democracia como cidadania ativa e partilhada. A fragmentação social gera movimentos incapazes de encontrar soluções duradouras e estáveis. As redes sociais, em lugar de fazerem convergir responsabilidades, formam grupos separados, em circuito fechado, incapazes de criar movimentos de emancipação e de mobilização no sentido da justiça e do desenvolvimento, da liberdade e da igualdade.

NÃO HÁ DEMOCRACIA SEM IDEIAS
O certo é que não há democracia sem ideias, sem pluralismo, sem tempo para a reflexão. A possibilidade de alternativas é essencial, O tempo para ponderar e decidir é crucial. A pressa induz a ilusão e a mentira. Só a mediação das instituições impede a manipulação das vontades. Eis por que razão os referendos devem ser usados com conta, peso e medida. O mesmo se diga do uso das tecnologias de informação, para que não se tornem instrumentos da tirania cega do número. Os casos do «Brexit» e da crise catalã revelam a contradição entre uma suposta vontade da maioria e a proteção das minorias e do bem comum. A crise financeira de 2008 e os seus efeitos obrigam a repensar a democracia e a vida dos partidos e das instituições. Se é certo que tem havido a tentação (como nos anos trinta do século passado) das respostas nacionalistas, populistas e protecionistas, à direita e à esquerda, a verdade é que foram, apesar de tudo, os frágeis instrumentos supranacionais que puderam minimizar os males. Sem dimensão orçamental adequada na União Europeia e depois de muitas hesitações, só o Banco Central Europeu pôde encontrar uma terapêutica de recurso para atacar a doença – que tinha diversas origens (bancária, orçamental, de endividamento público e privado). Não foram a social-democracia e a economia social de mercado postas em causa – mas sim a tentação das receitas indiferenciadas. Voltou-se à fórmula do pós-guerra: o mercado tanto quanto possível, o Estado tanto quanto necessário. A austeridade foi defensiva – incapaz de compreender que a sustentabilidade não é apenas financeira ou orçamental, mas sim económica, ambiental, social e cultural… Os casos irlandês e português são bem demonstrativos de que foi a sociedade a encontrar a economia, o que permitiu o sucesso e não a rigidez das receitas preconizadas.

VIDA BOA E INSTITUIÇÕES JUSTAS
Temos de compreender o alcance prático da afirmação de Paul Ricoeur, segundo a qual temos por objetivo: “uma vida boa, com e pelos outros, no âmbito de instituições justas. O alcance ético da democracia encontra-se aqui. De facto, o cerne da cidadania responsável e partilhada está na mediação assegurada pelas instituições. É de uma sociedade e de uma economia de pessoas que falamos. A justiça consiste em atribuir a cada um a sua parte – o que pressupõe a justiça distributiva (de Rawls e Habermas), mas também a correção das desigualdades na justiça complexa (de M. Walzer), a igual consideração e respeito de Ronald Dworkin, o republicanismo (de Quentin Skinner e Philip Pettit) ou a relação entre diferentes culturas (de Charles Taylor e Will Kymlicka). O tema que tem de estar presente na reflexão democrática obriga a ir ao encontro da ideia de confiança e de coesão, que encontramos em Robert Putnam e na noção de capital social. Afinal, as conceções de justiça têm tudo a ver com o aperfeiçoamento da legitimidade democrática, já essencialmente baseada no exercício. A sociedade é cada vez mais conflitual porque complexa, carecendo da regulação mediadora. O justo e o bom, a igualdade e a autonomia entram em contradição. Mas a sociedade humana, sendo imperfeita, é perfectível. Daí a importância da disponibilidade para ser melhor. A democracia é, assim, a abertura permanente a esse caminho, sem nunca o considerar adquirido. E Ricoeur dá especial importância à relação interpessoal, ao que designa por amor, como modo de completar o justo pelo bom… Mas importa não esquecer as lógicas diferentes em presença – a da superabundância no amor, e a da equivalência na igualdade. Perroux falava, por isso, de troca e de dom – considerando o que tem preço e não o tem, entendendo-se que aquilo que tem mais valor é o que não tem preço (desde a honra até às relações e bens especialmente estimados)… Hoje, o ponto essencial na construção democrática está no equilíbrio entre as dimensões singular e comunitária. Mas a democracia exige cada vez mais a subsidiariedade contra a autossuficiência. Deve tratar-se o que é mais próximo a nível local, compreendendo ainda que muitas decisões passam pela ação das regiões ou do Estado-nação e outras, desde o ambiente até à paz, passam pelo nível supranacional.

COMO CHEGAR A CONSENSOS?
É difícil haver consensos nas chamadas reformas estruturais, mas deve haver compromissos essenciais, que permitam completar políticas de interesse vital comum – como a assunção de um planeamento estratégico relevante, como as políticas de Educação, Cultura e Ciência (veja-se o caso da Perfil dos Alunos à saída da ensino obrigatório, num horizonte estável independente dos ciclos eleitorais) ou a consolidação e sustentabilidade do Estado Social. Da qualidade e da exigência dependem os resultados de longo prazo – sobretudo quando a aprendizagem é o fator distintivo do desenvolvimento humano. O mesmo se diga da cultura de paz, da política externa e de defesa… Também a construção europeia e a dimensão internacional exigem compromissos estáveis. Muito mais do que temas abstratos, estamos diante de desafios que obrigam ao debate de ideias, à superação da tentação de pôr em causa tudo em cada nova legislatura. Há opções diferentes e escolhas relevantes a fazer, mas há que dar estabilidade às decisões fundamentais. Eis por que razão as ideias e o seu debate são tema de sobrevivência, sempre."
Guilherme d'Oliveira Martins,CNC
Oiça aqui as minhas sugestões - Ensaio Geral, Rádio Renascença

terça-feira, 13 de março de 2018

Prémios literários e Teatro

Prémio Literário Fundação Inês de Castro 2017
A Fundação Inês de Castro atribuiu  o prémio de carreira,  Tributo de Consagração ao escritor Eugénio Lisboa.
Eugénio Lisboa é autor de uma longa e multifacetada  obra que se estende  pela Poesia,  Ensaio, Crónica, Crítica Literária até à magnifica obra memorialística, - "Acta Est Fabula". Uma obra composta por sete volumes, cujo último tomo foi editado  em Novembro  de 2017.
Eugénio Lisboa nasceu em Lourenço Marques , a 25 de Maio de 1930 . É um  nome maior da Literatura, um arguto e excepcional intelectual, um  relevante e extraordinário homem da Cultura. Dotado de uma vivacidade imperecível, continua um dinâmico e prolífico escritor que não cessa de produzir . No prelo, desenha-se uma nova obra  a que outras se seguirão. 
Nesta 11ª edição, o Prémio Literário Fundação Inês de Castro recaiu sobre o livro de poesia "Tardio" de Rosa Oliveira
"O júri da edição de 2017 foi constituído pelos professores, escritores e ensaístas José Carlos Seabra Pereira, Mário Cláudio, Isabel Pires de Lima, Pedro Mexia e António Carlos Cortez. A organização informa, em comunicado, que “Cláudio votou em “A queda de um homem”, de Luís Osório, e Mexia em “Hoje estarás comigo no Paraíso”, de Bruno Vieira Amaral”. 
O galardão será entregue numa cerimónia marcada para sábado, no Hotel Quinta das Lágrimas, em Coimbra. Rosa Oliveira receberá um troféu da autoria do escultor João Cutileiro, enquanto o seu livro "Tardio"  será apresentado por António Carlos Cortez.
Pedro Mexia proferirá uma palestra sobre a obra de Eugénio Lisboa.
FITA - FESTIVAL INTERNACIONAL DE TEATRO DO ALENTEJO
NA CASA DA AMÉRICA LATINA
ORLANDO - UM PRÓLOGO (Argentina)
15 de março, às 21h30, na Casa da América Latina
TIEMPOS DE PAZ (Brasil)
17 de março, às 21h30, na Casa da América Latina

segunda-feira, 12 de março de 2018

O Poder das Palavras


Noam Chomsky, en su despacho de la Universidad de Arizona en Tucson.
Noam Chomsky, en su despacho de la Universidad 
de Arizona en Tucson.

—Todos nos consideramos a nosotros mismos moderados y razonables.
Pues defínase ideológicamente.
—Creo que toda autoridad tiene que justificarse. Que toda jerarquía es ilegítima hasta que no demuestre lo contrario. A veces, puede justificarse, pero la mayoría de las veces no. Y eso…, eso es anarquismo.
Una luz seca envuelve a Chomsky. Después de 60 años dando lecciones en el Massachusetts Institute of Tech­nology (MIT), el profesor se ha venido a vivir a los confines del desierto de Sonora. En Tucson, a más de 4.200 kilómetros de Boston, ha abierto casa y estrenado despacho en el Departamento de Lingüística de la Universidad de Arizona. El centro es uno de los pocos puntos verdes de la abrasada ciudad. Fresnos, sauces, palmeras y nogales crecen en torno a un edificio de ladrillo rojo de 1904 donde todo queda pequeño, pero todo resulta acogedor. Por las paredes hay fotos de alumnos sonrientes, mapas de las poblaciones indígenas, estudios de fonética, carteles de actos culturales y, al fondo del pasillo, a mano derecha, el despacho del mayor lingüista vivo.

“La gente se percibe menos representada y lleva una vida precaria. El resultado es una mezcla de enfado y miedo”
El lugar nada tiene que ver con el rompedor espacio de Frank Gehry que le daba cobijo en Boston. Aquí, apenas cabe una mesa de trabajo y otra para sentarse con dos o tres alumnos. Recién estrenada, la oficina de uno de los académicos más citados del siglo XX aún no tiene libros propios, y su principal punto de atención recae en dos ventanas que inundan de ámbar la estancia. A Chomsky, pantalones vaqueros, pelo largo y blanco, le gusta esa atmósfera cálida. La luz del desierto fue uno de los motivos que le hizo mudarse a Tucson. “Es seca y clara”, comenta. Su voz es grave y él deja que se pierda en los meandros de cada respuesta. Le gusta hablar con largueza. La prisa no va con él.

PREGUNTA. ¿Vivimos una época de desencanto?
RESPUESTA. Hace ya 40 años que el neoliberalismo, de la mano de Ronald Reagan y Margaret Thatcher, asaltó el mundo. Y eso ha tenido un efecto. La concentración aguda de riqueza en manos privadas ha venido acompañada de una pérdida del poder de la población general. La gente se percibe menos representada y lleva una vida precaria con trabajos cada vez peores. El resultado es una mezcla de enfado, miedo y escapismo. Ya no se confía ni en los mismos hechos. Hay quien le llama populismo, pero en realidad es descrédito de las instituciones.
P. ¿Y así surgen las fake news (bulos)?
R. La desilusión con las estructuras institucionales ha conducido a un punto donde la gente ya no cree en los hechos. Si no confías en nadie, por qué tienes que confiar en los hechos. Si nadie hace nada por mí, por qué he de creer en nadie.
P. ¿Ni siquiera en los medios de comunicación?
R. La mayoría está sirviendo a los intereses de Trump.
P. Pero los hay muy críticos, como The New York Times, The Washington Post, CNN…
R. Mire la televisión y las portadas de los diarios. No hay más que Trump, Trump, Trump. Los medios han caído en la estrategia que ha diseñado Trump. Cada día les da un aliciente o una mentira para situarse él bajo los focos y ocupar el centro de atención. Entretanto, el flanco salvaje de los republicanos va desarrollando su política de extrema derecha, recortando derechos de los trabajadores y abandonando la lucha contra el cambio climático, que precisamente es aquello que puede terminar con todos nosotros.
P. ¿Ve en Trump un riesgo para la democracia?
R. Representa un peligro grave. Ha liberado consciente y deliberadamente olas de racismo, xenofobia y sexismo que estaban latentes pero que nadie había legitimado.


Noam Chomsky.
Noam Chomsky.

P. ¿Volverá a ganar?

R. Es posible, si consigue retardar el efecto letal de sus políticas. Es un consumado demagogo y showman que sabe cómo mantener activa su base de adoradores. A su favor juega también que los demócratas están sumidos en la confusión y puede que no sean capaces de presentar un programa convincente.
P. ¿Sigue apoyando al senador demócrata Bernie Sanders?
R. Es un hombre decente. Usa el término socialista, pero en él significa más bien new deal demócrata. Sus propuestas, de hecho, no le serían extrañas a Eisenhower [presidente por el Partido Republicano de 1953 a 1961]. Su éxito, más que el de Trump, fue la verdadera sorpresa de las elecciones de 2016. Por primera vez en un siglo hubo alguien que estuvo a punto de ser candidato sin apoyo de las corporaciones ni de los medios, solo con el respaldo popular.
P. ¿No advierte un deslizamiento hacia la derecha del espectro político?
R. En la élite del espectro político sí que se ha registrado ese corrimiento; pero no en la población general. Desde los años ochenta se vive una ruptura entre lo que la gente desea y las políticas públicas. Es fácil verlo en el caso de los impuestos. Las encuestas muestran que la mayoría quiere impuestos más altos para los ricos. Pero esto nunca se lleva a cabo. Frente a esto se ha promovido la idea de que reducir impuestos trae ventajas para todos y que el Estado es el enemigo. ¿Pero quién se beneficia de que recorten en carreteras, hospitales, agua limpia y aire respirable?
“Trump ha liberado deliberadamente olas de racismo, xenofobia y sexismo latentes pero no legitimadas”
P. ¿Ha triunfado entonces el neoliberalismo?

R. El neoliberalismo existe, pero solo para los pobres. El mercado libre es para ellos, no para nosotros. Esa es la historia del capitalismo. Las grandes corporaciones han emprendido la lucha de clases, son auténticos marxistas, pero con los valores invertidos. Los principios del libre mercado son estupendos para aplicárselos a los pobres, pero a los muy ricos se los protege. Las grandes industrias energéticas reciben subvenciones de cientos de millones de dólares, la economía high-tech se beneficia de las investigaciones públicas de décadas anteriores, las entidades financieras logran ayudas masivas tras hundirse… Todos ellos viven con un seguro: se les considera demasiado grandes para caer y se los rescata si tienen problemas. Al final, los impuestos sirven para subvencionar a estas entidades y con ellas a los ricos y poderosos. Pero además se le dice a la población que el Estado es el problema y se reduce su campo de acción. ¿Y qué ocurre? Su espacio es ocupado por el poder privado y la tiranía de las grandes entidades resulta cada vez mayor.
P. Suena a Orwell lo que describe.
R. Hasta Orwell estaría asombrado. Vivimos la ficción de que el mercado es maravilloso porque nos dicen que está compuesto por consumidores informados que adoptan decisiones racionales. Pero basta con poner la televisión y ver los anuncios: ¿buscan informar al consumidor y que tome decisiones racionales? ¿O buscan engañar? Pensemos, por ejemplo, en los anuncios de coches. ¿Ofrecen datos sobre sus características? ¿Presentan informes realizados por entidades independientes? Porque eso sí que generaría consumidores informados capaces de tomar decisiones racionales. En cambio, lo que vemos es un coche volando, pilotado por un actor famoso. Tratan de socavar al mercado. Los negocios no quieren mercados libres, quieren mercados cautivos. De otro modo, colapsarían.
P. Y ante esta situación, ¿no es demasiado débil la contestación social?
R. Hay muchos movimientos populares muy activos, pero no se les presta atención porque las élites no quieren que se acepte el hecho de que la democracia puede funcionar. Eso les resulta peligroso. Puede amenazar su poder. Lo mejor es imponer una visión que te dice que el Estado es tu enemigo y que tienes que hacer lo que puedas tú solo.
P. Trump emplea a menudo el término antiamericano, ¿cómo lo entiende?
R. Estados Unidos es el único país donde por criticar al Gobierno te llaman antiamericano. Y eso supone un control ideológico, encender hogueras patrióticas por doquier.
P. En algunos sitios de Europa también pasa.

“Las grandes corporaciones han emprendido la lucha de clases, son marxistas pero con los valores invertidos”
R. Pero nada comparable a lo que ocurre aquí, no hay otro país donde se vean tantas banderas.

P. ¿Teme al nacionalismo?
R. Depende, si significa estar interesado en tu cultura local, es bueno. Pero si es un arma contra otros, sabemos a donde puede conducir, lo hemos visto y experimentado.
P. ¿Cree posible que se repita lo que ocurrió en los años treinta?
R. La situación se ha deteriorado; tras la elección de Barack Obama se desencadenó una reacción racista de enorme virulencia, con campañas que negaban su ciudadanía e identificaban al presidente negro con el anticristo. Ha habido muchas manifestaciones de odio. Sin embargo, Estados Unidos no es la República de Weimar. Hay que estar preocupados, pero las probabilidades de que se repita algo así no son altas.
P. Arranca su libro recordando la Gran Depresión, un tiempo en el que “todo estaba peor que ahora, pero había un sentimiento de que todo iría mejor”.
R. Me acuerdo perfectamente. Mi familia era de clase trabajadora, estaba en paro y no tenía educación. Objetivamente, era un tiempo mucho peor que ahora, pero había un sentimiento de que todos estábamos juntos en ello. Había un presidente comprensivo con el sufrimiento, los sindicatos estaban organizados, había movimientos populares… Se tenía la idea de que juntos se podía vencer a la crisis. Y eso se ha perdido. Ahora vivimos la sensación de que estamos solos, de que no hay nada que hacer, de que el Estado está contra nosotros…
P. ¿Tiene aún esperanzas?
R. Claro que hay esperanza. Aún hay movimientos populares, gente dispuesta a luchar… Las oportunidades están ahí, la cuestión es si somos capaces de tomarlas.
Chomsky termina con una sonrisa. Deja vibrando en el aire su voz grave y se despide con extrema cortesía. Luego sale del despacho y baja las escaleras de la facultad. Afuera, le esperan Tucson y la luz seca del desierto de Sonora.
El poder de las palabras, las palabras del poder


Noam Chomsky: “La gente ya no cree en los hechos”

Réquiem por el sueño americano. Los diez mandamientos de la concentración de la riqueza y el poder. (Basado en el documental del mismo título realizado por Peter Hutchison, Kelly Nyks y Jared P. Scott). Traducción de Magdalena Palmer. Sexto Piso, 2017. 160 páginas. 16,90 euros.
Porque lo decimos nosotros. Ideal democrático, estrategias de poder y manipulación en el siglo XXI. Traducción de Albino Santos Mosquera. Paidós, 2017. 254 páginas. 22 euros.
Estados fallidos. El abuso de poder y el ataque a la democracia. Traducción de Gabriel Dols Gallardo. Ediciones B, 2017. 364 páginas. 8 euros.
Optimismo contra el desaliento. Sobre el capitalismo, el imperio y el cambio social. Entrevistas de C. J. Polychroniou. Traducción de Francesc Reyes Camps. Ediciones B, 2017. 17 euros.
El miedo a la democracia. Traducción de Mireia Carol. Crítica, 2017.419 páginas. 18.90 euros.
¿Qué clase de criaturas somos? Traducción de Jorge Paredes. Ariel, 2017. 192 páginas. 18.90 euros.
¿Por qué solo nosotros? Evolución y lenguaje. Con Robert C. Berwick. Traducción de Fina Marfá. Kairós, 2016. 224 páginas. 16 euros.


MÁS INFORMACIÓN



domingo, 11 de março de 2018

Ao Domingo Há Música

A música. E eu estou preso
na sua tapeçaria, com os
braços erguidos, como uma figura
da arte popular.
    Tomas Tranströmer 
O movimento, os sons , o corpo, os gestos , o palco, a magia da dança e o encanto da música para anular a intempérie dos dias.
Porz Goret , de Yann Tiersen, interpretado por Tarek Rammo & Kami-Lynne Bruin

ORIGINAL,  Polina Semionova ( Ballet - H. Grönemeyer - instrumental) 

sábado, 10 de março de 2018

A Cultura em movimento


Entre 13 e 17 de Março, o FLM - Funchal oferece um programa imperdível que inclui a sessão de abertura, a sessão de encerramento e muitas conversas cruzadas em torno do tema Jornalismo e Literatura – Palavra que prende, palavra que liberta
Durante cinco dias a ilha da Madeira é cenário de partilha e cruzamento de saberes que fazem deste um festival de referência no panorama cultural português.
A 13 de março (18h), Mick Hume, jornalista e escritor inglês, autor do livro Direito a Ofender – a liberdade de expressão e o politicamente correcto, marca a abertura do FLM, numa conversa com o autor e humorista Ricardo Araújo Pereira, conduzida pelo jornalista João Paulo Sacadura. A frase de Salman Rushdie “O que é a liberdade de expressão? Sem a liberdade para ofender, cessa de existir.” é o ponto de partida para este diálogo.
“Jornalismo é literatura com pressa.” (Matthew Arnold) é o mote da conversa que encerra o festival, a 17 de Março (18h), com o escritor peruano Daniel Alarcón e o escritor e tradutor espanhol Javier Cercas, moderada pela jornalista Maria João Costa.

Entre estes dois momentos outras cinco conversas têm lugar no mesmo palco, o do Teatro Municipal Baltazar Dias:

“O trabalho da boa ficção é confortar o perturbado e perturbar quem está confortável” (David Foster Wallace), com a escritora neozelandesa Eleanor Catton, o escritor José Luís Peixoto e a escritora finlandesa Sofi Oksanen, moderada pela jornalista Ana Daniela Soares (14 Março, 18h).
“A realidade é mais inatingível que Deus – porque não se pode rezar para a realidade.” (Clarice Lispector), entre o escritor e tradutor norte-americano Benjamin Moser e a jornalista Raquel Marinho (15 Março, 18h);
“O mundo está à espera de uma grande história, de um furo jornalístico, de uma narrativa sensacional escrita debaixo de uma chuva de balas.” (Ryszard Kapu?ci?ski), entre os jornalistas e repórteres Cândida Pinto, Carlos Fino e Paulo Moura, moderada pelo jornalista Paulo Jardim (16 Março, 18h);
“A vista de Jerusalém é a história do mundo; é mais do que isso; é a história do céu e da terra.” (Benjamin Disraeli), entre Esther Mucznik, fundadora do Museu Judaico de Lisboa, o frade dominicano Frei Bento Domingues e Sheik David Munir, imã da mesquita central de Lisboa, moderada pelo jornalista João Céu e Silva (17 Março, 15h);
“Compreender as pessoas não tem nada a ver com a vida. O não as compreender é que é a vida.” (Philip Roth), com a escritora e jornalista Clara Ferreira Alves, a escritora norte-americana Otessa Moshfegh e o escritor José Gardeazabal, moderada pelo editor Nuno Seabra Lopes (17 março, 16h30);

A 8ª edição do FLM fica ainda marcada por sessões de conversas com autores em outros pontos da ilha.

Aldina Duarte, uma das grandes vozes actuais do fado, apresenta-se pela primeira vez na Madeira levando ao palco do Teatro Municipal Baltazar Dias o espectáculo Quando Se Ama Loucamente, título homónimo do seu mais recente álbum. (16 Março, 21h30).

O Centro Cultural Palácio do Egipto, em Oeiras, vai apresentar a exposição “Portugal à Flor da Pele”, do artista plástico Mário Portugal. 

Portugal à Flor da Pele é exactamente aquilo que lhe será dado ver e sentir ao visitar, contemplar e desfrutar do conjunto de cerca de 40 trabalhos (entre óleos, aguarelas, guaches e tintas da china), da autoria de Mário Portugal, que poética e enfaticamente revelam “o que demais genuíno habita o pintor: a sua alma de Ser Português!”
Rigor e diversidade técnica, traço vigoroso e dinâmico, geometrização de figuras e planos, composição espacial centrada, desfragmentação de volumes, cromatismo vivo e genericamente quente, conferem uma coerência estilística a esta mostra e denotam a destreza plástica e a maturidade artística do pintor.
Com especial enfoque na temática do FADO, para além de breves incursões pelo Portugal rural e piscatório, suas tradições, sentimentos e vivências inerentes à condição humana, os quadros espelham “o pulsar vibrante da nossa terra e das nossas gentes”.
Venha ao Palácio do Egipto sentir-se mais Português!
Visita-Jogo para público familiar: 07  Abril, sábado, 15H00
Inscrições gratuitas: ccpegipto@cm-oeiras.pt
 214 408 391 (Gabinete técnico CCPE) 214 408 781 (Loja do CCPE)
Visita guiada para público geral: 21 Abril, sábado, 15H00
Horário da exposição:Terça- feira a sábado, das 12H00 às 18H00.
Encerrado aos feriados.
15 Mar a 21 Abr

Centro Cultural Palácio do Egipto
Rua Álvaro António dos Santos, 2780-182 Oeiras
ÑAQUE- ENSAIO SOLIDÁRIO
13 de Março| 21h30 | Teatro Villaret
Preço único 10€
A totalidade das receitas reverte a favor da RE-FOOD.
No dia 13 de Março venha assistir ao ensaio solidário de ÑAQUE e apoie a RE-FOOD uma instituição que tem desenvolvido um trabalho admirável no combate ao desperdício alimentar e à fome.
A RE-FOOD tem como missão eliminar o desperdício de alimentos e a fome, envolvendo toda comunidade numa causa comum.
É uma organização independente, orientada por cidadãos, 100% voluntária, uma comunidade de caridade eco-humanitária, que trabalha para eliminar o desperdício de alimentos e a fome em cada bairro operando na e para a comunidade, trabalhando sem salários e evitando todo e qualquer custo ou investimentos que não servem a sua missão.
Saiba mais sobre o trabalho desenvolvido pela RE-FOOD no site oficial: https://www.re-food.org/pt
ÑAQUE é um texto original do dramaturgo espanhol José Sanchis Sinisterra, estreado em 1980. O espectáculo reinventa-se em 2018, à luz de um novo século, e assinala o reencontro em palco de dois gigantes do teatro português, José Pedro Gomes e José Raposo.
Onde estamos?
Num teatro…
A sério?
… ou algo parecido.
Outra vez?
Outra vez.
Isto é o palco?
Sim.
E aquilo é o público?
Sim.
Parece-te estranho?
Diferente.
Dois actores errantes, miseráveis, mas com uma esperança inimaginável na sua existência de criadores de sonhos por palavras. Acompanhamo-los ao longo da sua jornada, sorrimos com eles, choramos com eles, temos fome com eles, maravilhamo-nos com eles, impacientamo-nos com eles… e no final, percebemos, somos todos iguais. Somos seres humanos. Como eles…
Texto José Sanchis Sinisterra Encenação, Cenário e Figurinos Marco Medeiros
Tradução e Adaptação Maria João Rocha Afonso Desenho de Luz Luís Duarte Música Original Filipe Melo Assistente de Encenação David Ferreira Produção Força de Produção
Com JOSÉ PEDRO GOMES e JOSÉ RAPOSO
TEATRO VILLARET
A partir de 15 de Março
Quinta a Sábado às 21h30 I Domingo às 16h30
Preço dos Bilhetes 16€
    

ÚLTIMOS DIAS 

Almada Negreiros no Porto

Terça a domingo, 10:00-18:00, Museu Nacional de Soares dos Reis




Autorretratos, estrelas de cinema, desenho animado ou realidades imaginadas fazem parte das nove dezenas de trabalhos que, no Museu Soares dos Reis, pretendem mostrar a importância da linguagem cinematográfica na obra de Almada. E acredite: em José de Almada Negreiros. Desenho em Movimento ainda vai conseguir encontrar trabalhos inéditos do autor.

SABER MAIS

MÚSICA

Cappella Andrea Barca

Segunda, 19 Março, 21:00, Grande Auditório


O maestro e pianista húngaro András Schiff já o confessou: não passa um só dia sem que dedique alguns minutos do seu tempo a Johann Sebastian Bach, seu compositor de eleição. É este trabalho, esta dedicação, que Schiff traz ao Grande Auditório, para ser tocado pelo agrupamento que criou em 1999: o Cappella Andrea Barca.
SAIBA MAIS
CINEMA — ESTREIA

Correspondências

De Rita Azevedo Gomes

Baseado nas cartas trocadas entre Sophia de Mello Breyner Andresen e Jorge de Sena, durante as duas décadas em que este se viu forçado a viver fora de Portugal, o filme Correspondências, realizado por Rita Azevedo Gomes e apoiado pela Fundação Calouste Gulbenkian, já estreou. Agora, pode vê-lo numa sala de cinema perto de si.

LER NOTÍCIA

ESTUDO — APRESENTAÇÃO

Tablets nas escolas: sim ou não?

Terça, 13 março, 18:00, Auditório 3 


A Fundação Gulbenkian quis perceber o que acontece quando os tablets fazem parte do dia a dia das escolas. Entregou aparelhos a alunos e professores de duas turmas de uma escola Básica e Secundária de Lisboa e acompanhou-os durante dois anos. O que se ganhou, em termos de ensino e aprendizagem? O resultado, publicado em Tablets no Ensino e na Aprendizagem. A sala de aula Gulbenkian: Entender o presente, preparar o futuro, de José Luís Ramos e José Moura Carvalho, será apresentado na próxima terça-feira.
LER NOTÍCIA