sábado, 30 de setembro de 2017

Inimitável o perfil de cada um

Almada Negreiros, Auto-retrato,
desenho, 1940
É inimitavel o perfil de cada um
"Cada um tem o destino universal de fazer consigo mesmo o modelo de mais uma estátua humana. E esta fabrica-se apenas com o íntimo pessoal.
O nosso íntimo pessoal é inatingível por outrem. E é este o fundamento de toda a humanidade, de toda a Arte e de toda a Religião. O nosso íntimo pessoal é de ordem humana, estética e sagrada. Serve apenas o próprio. E o seu único caminho. O me­lhor que se pode fazer em favor de qualquer é ajudá-lo a entre­gar-se a si mesmo. Com o seu íntimo pessoal cada um poderá estar em toda a parte, sejam quais forem as condições sociais, as mais favoráveis e as mais adversas. Sem ele, nem para fazer número se aproveita ninguém.
A individualidade e a personalidade são florescências desse invisível do nosso ser a que chamamos o nosso íntimo. Tudo quanto de bom ou de mau, de óptimo ou de péssimo exista em cada qual nasceu com ele e formou-se secretamente, intima­mente, a despeito de todo o aspecto que lhe venha do exterior, de toda a educação e acção alheias.
O papel da sociedade é imediatamente mais evidente sobre cada pessoa do que o atropelado movimento das gerações que a antecederam e lhe determinaram o seu sangue, mas aquela não vale esta. Que uma pessoa tome a seu cargo dirigir o próprio des­tino que lhe coube, é com ela. Que seja a sociedade quem se pro­ponha dirigi-lo, é ingenuidade. O mais que neste caso poderá a sociedade é eliminar esse destino pessoal. A sociedade só tem que ver com todos, não tem nada que cheirar com cada um!
Cada um nasce já bem ou mal educado. E depois de nascido bem ou mal educado, tudo quanto se faça pode pouco para ime­diatamente. Vereis gentes humildes, analfabetos, simples e per­feitamente bem educados, sabendo medir as distâncias entre pessoas, sem se atrapalharem com as escalas sociais, e perfeita­mente uníssonos com o seu próprio caso pessoal. Vereis, por outra, gentes de opinião, passados superiormente por cursos, e, uma vez na altura oficial, não saberem distinguir pessoas de formigas, e outras vertigens dos sítios altos, e, o que é pior, de costas voltadas para si mesmos como para o diabo. Isto é, aqui­lo em que eles poderiam merecer o nosso interesse é precisa­mente ao que eles voltaram as costas!
O autor destas páginas também desenha e não sabe expressar por palavras a extraordinária impressão que recebe sempre que copia o perfil de qualquer pessoa. A natureza chega tão com­plexa às feições de cada um, que somos forçados a não poder aceitar cada qual resumido ao lugar em que a sociedade o põe. Através dos séculos, uma linha única e incessantemente seguida acabou por tornar inimitável o perfil de cada um. Essa linha passa agora desde o alto da testa até por baixo do queixo, e às vezes lembra a de outros, mas é intransmissível.»
Almada Negreiros, in  "NOME DE GUERRA", Edições Europa, Lisboa
Sobre o Livro
Nome de guerra, romance de aprendizagem (Bildungsroman) de Almada Negreiros, foi escrito em 1925 e publicado em 1938. 
Em termos de construção narrativa, o romance representa a luta entre a personalidade do indivíduo e as normas da sociedade por adquirir uma certa autonomia. Antunes, o neófito, rebela-se contra os padrões sociais: "amava a verdade acima de tudo", "quem pensa sozinho não quer senão a verdade, as justificações são por causa dos outros". 
O problema começa com a tentativa dos pais, da sociedade e dos modelos culturais e psicológicos de exercer a sua influência sobre o destino do protagonista: "É sempre assim, temos sempre que perder o nosso tempo em desfazer o bem que os outros fizeram por nós". 

sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Teatro, Ópera , Fotografia e Desenho

Kafka, em "A Arte da Fome"
29 de SETEMBRO de 2017 - 07:47
A Arte da Fome é um espetáculo a partir de três contos de Franz Kafka, com encenação de Carla Bolito
Por José Carlos Barreto
"Um Artista da Fome", "Primeiro Sofrimento" e "Josefine, a Cantora ou o Povo de Ratos", os três contos que Carla Bolito pegou, seguindo mais o primeiro: Um Artista da Fome, essa relação do artista de palco e o público e a sua própria pulsão de vida.
Ir buscar aos contos de Kafka, essa vontade de mostrar que nem tudo foi fácil nos últimos tempos em Portugal para quem vive do público. Dois homens, a dificuldade de viver e essa fé que os leva a viverem do palco. Dois homens, uma parelha que há de continuar continuamente em palco, numa outra dimensão das suas próprias vidas
"A Arte da Fome", com encenação de Carla Bolito, na sala estúdio Mário Viegas, no Teatro São Luiz, em Lisboa, esta sexta-feira e sábado às 21h00, e no domingo, último dia, às 17h30.”TSF
 
"O Monstro no Labirinto", na Gulbenkian
Por José Carlos Barreto
"O Monstro no Labirinto" é uma ópera comunitária, dramática, estreou esta quarta-feira na Gulbenkian, com mais de 300 pessoas no palco.
"O Monstro no Labirinto" é uma ópera comunitária, porque o compositor Jonathan Dove escreveu-a para vários níveis de construção, para os cantores e coro e músicos amadores e também para os profissionais cantores, coro e músicos que se juntam em palco para contar esta história.
O maestro do coro Sérgio Fontão sublinha esse factor, que marca esta obra, como os diferentes andares da música para cada uma das possibilidades e capacidades.
Na história da ópera, o mito grego do Minotauro, o monstro no Labirinto e o resgate das crianças gregas em Creta, que alimentavam o monstro, Teseu, o herói vai libertá-las.
O mito e a realidade, o resgate das crianças gregas em Creta, o mediterrâneo, lugar de morte e de esperança, mais de trezentas pessoas em palco para esta ópera comunitária em comunhão com a música.
"O Monstro no Labirinto", ópera de Jonathan Dove, estreou esta quarta-feira no grande auditório da Gulbenkian, em Lisboa e fica até  sexta-feira, sempre às 20h00.”TSF
 “Objectivo Mordzinski – Uma viagem ao coração da literatura ibero-americana”,
4 de Outubro e 29 de Dezembro
Casa da América Latina
A exposição fotográfica “Objectivo Mordzinski – Uma viagem ao coração da literatura ibero-americana”, do argentino Daniel Mordzinski, vai estar patente entre 4 de Outubro e 29 de Dezembro na Casa da América Latina, marcando os 39 anos de carreira deste artista que se dedicou ao retrato de escritores.
A exposição conta com centenas de retratos de escritores, 70 dos quais portugueses. Entre os escritores portugueses retratados, contam-se nomes como António Lobo Antunes, Agustina Bessa-Luis, Eduardo Lourenço ou José Saramago. Vários rostos da literatura latino-americana, desde Jorge Luis Borges, Julio Cortázar, Gabriel García Márquez, Mario Vargas Llosa, até aos atuais escritores emergentes na região, estão também representados numa mostra assente na relação que a fotografia mantém com a literatura.
“Objectivo Mordzinski é um olhar sobre o futuro, bem como um objectivo que reivindica e reclama a memória – a dos escritores que retrato, a dos seus livros e a minha também. Outro objectivo é incitar e promover a leitura: sempre fui da opinião que nos livros se escondem os verdadeiros segredos da vida, que não são nem o dinheiro, nem o poder, nem a fama. Comecei a retratar os autores que admiro aos dezoito anos e o meu objectivo é continuar, para poder compartilhar com os outros essas certezas de adolescente”, comenta o artista.
A sensibilidade literária de Mordzinski rendeu-lhe a estima e amizade entre os escritores que tem vindo a retratar na busca por um ambicioso “atlas humano” da literatura ibero-americana. A sua obra tem sido exposta em grandes museus da América Latina e nos principais centros culturais e festivais europeus, bem como representada em algumas das melhores coleções fotográficas contemporâneas.
O colombiano Juan Gabriel Vásquez foi um dos escritores retratados por Daniel Mordzinski. “As fotos de Daniel Mordzinski têm me acompanhado desde o início. O Daniel colocou-me em frente à sua câmara pela primeira vez há 20 anos, e, desde então, já o vi a trabalhar em dezenas de países. É uma honra para mim fazer parte destas imagens, ajudante de outras e testemunho de muitas mais”, afirma o escritor.
A secretária-geral da Casa da América Latina, Manuela Júdice, salienta que “a fotografia de Daniel Mordzinski dá-nos a ver rostos, corpos, poses, encenações. O que ele capta não é apenas uma imagem feita à medida do que o escritor vê de si próprio. Vai mais além do que poderia não passar de um estereótipo e procura sempre surpreender uma verdade, nem que seja na inquietação que por vezes nasce destas fotos”.
Esta exposição é organizada pela Acción Cultural Española, AC/E e pela Casa da América Latina, com o apoio da Embaixada de Espanha em Lisboa e o Instituto Francês de Madrid. no âmbito da Passado e Presente – Lisboa, Capital Ibero-americana da Cultura 2017. 

A exposição é inaugurada no dia 4 de Outubro, pelas 18h00, e poderá ser visitada na galeria da sede da Casa da América Latina, entre as 9h30 e as 18h30, de segunda a sexta-feira.


Além da famosa pintura "O Espelho de Vénus", uma das obras-primas da Colecção do Fundador, o Museu Calouste Gulbenkian conta agora com o desenho de Sir Edward Burne-Jones "Study for the Mirror of Venus", c.1873-1877. Trata-se de um estudo preparatório para a pintura e que foi adquirido recentemente pela Fundação.
O desenho a lápis (Burne-Jones fez inúmeros estudos integrais e parcelares para a pintura ao longo de quase uma década) tem o interesse de mostrar a composição numa concepção muito próxima do seu estado final, com a figura de Vénus ainda nua, pormenor que foi alterado na composição final.
Apesar de ter como limite temporal das aquisições o ano da morte de Calouste Gulbenkian (1955), a Colecção do Fundador incorporou no passado - pela relação directa com obras do seu acervo - quatro desenhos preparatórios para jóias de René Lalique, um desenho preparatório para uma pintura de Francesco Guardi, um desenho de Cochin e o designado álbum da Colecção Walpole, Houghton Hall, onde surge reproduzido o retrato de Helena Fourment, de Rubens.
Opéra de Paris
La saison 17/18 commence.
De Balanchine à Debussy en passant par Mozart, en noir et blanc ou en couleurs, l’épure des lignes et la délicatesse des tons marquent, tous différemment, la chorégraphie d’Anne Teresa De Keersmaeker, celle de Balanchine et la mise en scène de Bob Wilson. Au milieu d’eux, le contrepoint d’une éclatante opérette viennoise, une Veuve joyeuse aux airs bien connus… Pour ouvrir les portes de ce monde de formes et de sons, quelle meilleure clef que notre playlist de spectacles à l’affiche cet automne ?
Le Lac Perdu est une invitation au voyage, une déambulation onirique dans l’univers des Opéras Garnier et Bastille.
L’artifice et l’éphémère du spectacle sont mis en perspective dans une œuvre lumineuse et inquiétante.
Pour la 3e scène de l’Opéra de Paris, Claude Lévêque reprend le temps d’un film les perturbations sensorielles à l’œuvre dans ses dispositifs.

quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Música do Mundo

Mahsa Vahdat (Iran) e Mighty Sam McClain (USA), num espectáculo em Olavsfest, Trondheim, no Verão de 2010. Interpretam as canções Imprints, Flowers No One Has Ever Seen e Earth do Álbum "Scent of Reunion - Love songs across civilizations".

quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Leituras para o Outono


Ilustración de Fernando Vicente.

La gran novela del otoño
Una guía para iniciar la temporada pertrechado con las mejores lecturas
Por Javier Rodríguez Marcos
"Cada nuevo curso, los lectores esperan la gran novela; los editores, también, pero a veces se conforman con que sea la primera en llegar. Se garantiza así la atención de los medios y de los libreros antes de la avalancha de premios nacionales, planetas y nobeles, y antes de la campaña de Navidad, momento de vender lo que ya se vende (la revolución rusa en papel de regalo). Si Anagrama lleva años colocando sus novedades la última semana de agosto (esta vez, Roberto Saviano), Duomo empalma éxitos madrugadores en una racha que inauguraron las memorias de André Agassi y que este año espera prolongar con La voz de los árboles, de Tracy Chevalier. Siguiendo su estela —y los consejos de sus distribuidores—, el resto de sellos tiende cada vez más a desembarcar cuando arranca septiembre, antes de que a los clientes se les vaya el moreno.
1. La gran novela sobre ETA
Una de las curiosidades del nuevo curso es saber qué libro desbancará a Patria del primer puesto de la lista de libros más vendidos. Aunque la novela de Fernando Aramburu —un puzle impecablemente armado para gustar a todo el mundo— será la vara con la que se medirá durante mucho tiempo cualquier ficción sobre ETA, la expectación esta temporada recae por ese lado en Mejor la ausencia (Galaxia Gutenberg), la primera novela de Edurne Portela. Su anterior libro, El eco de los disparos, era un ensayo sin paños calientes sobre el modo en que la cultura se ha ocupado del terrorismo etarra, y nada hay tan interesante como comprobar la coherencia entre teoría y práctica. La novela narra una sórdida historia familiar de terrorismo, machismo, alcoholismo y heroína desde la mirada de una niña —luego adolescente, luego mujer— que ve cómo su familia se va por el sumidero de los silencios, los secretos y las medias verdades. (Nota muy al margen: el inédito de Roberto Bolaño que Alfaguara publica el día 14 llevaba el título de uno de los relatos que contiene: Patria. Por razones obvias pasó a llamarse Sepulcro de vaqueros).
2. La gran novela sobre Google
“La capacidad de simular el futuro extrayendo consecuencias del pasado distingue, dicen, a los seres humanos de otros animales. El precio que pagan es el temor y la esperanza”, sostiene la voz narradora de Quédate este día y esta noche conmigo (Literatura Random House), la nueva novela de Belén Gopegui. A partir de una solicitud de trabajo a la madre de todos los buscadores —y padre de la transparencia universal—, Gopegui despliega el diálogo entre Olga, una matemática retirada, y Mateo, un joven inconformista marca de la casa. Ella es de las que se preguntan qué pasará “el día en que Google no solo procese búsquedas y mensajes, sino también genomas y recuerdos”. Él, de los que no quieren “chips en la cafetera” ni webs que registren su nivel de estrés: “Quiero que funcionen unas pocas cosas importantes”. Un diálogo entre generaciones —joven escritor / profesor de filosofía— recorre igualmente La mirada de los peces (también en LRH), el libro en el que Sergio del Molino demuestra que hay vida después de La España vacía.
3. La gran novela de la ‘era Trump’
La gran novela americana es como el partido del siglo: cada tanto celebramos uno. El 8 de noviembre, coincidiendo con el primer aniversario de la inesperada elección del Gran Hombre Blanco, se publica una de ellas: La decadencia de Nerón Golden (Seix Barral), de Salman Rushdie. La historia de un cineasta en ciernes sirve para retratar el viaje que va de Obama a Trump. Rushdie tendrá que competir por la medalla con su compañero de editorial, Paul Auster, que publica 4321, y, sobre todo, con Colson Whitehead, que desembarca en España con El ferrocarril subterráneo (Literatura Random House), una historia de esclavos y esclavistas — la cara B de América— que le valió los últimos Pulitzer y National Book Award. Como nada de lo que sucede en la capital del imperio es ajeno a las provincias, y menos cuando el racismo presidencial se convierte en tendencia, resulta oportuno el retorno a la ficción de la británica Zadie Smith con Tiempos de swing (Salamandra) y de Arundhati Roy con El ministerio de la felicidad suprema (Anagrama). Esta última publica su segunda novela en 20 años. La anterior fue El dios de las pequeñas cosas. ¿Se acuerdan? La leyó hasta el presidente del Gobierno.
4. La gran novela sobre Barcelona
Aunque Sergi Pàmies dinamitó toda pretensión titulando así —La gran novela sobre Barcelona— uno de sus libros de cuentos, en octubre, días después del referéndum independentista, llegará a las librerías otra aspirante al título: Taxi, de Carlos Zanón. Con los Clash como banda sonora, asistimos a la odisea semanal de un taxista que —insomne, melancólico y mujeriego— se mete en líos por ayudar a una compañera de oficio. Ella, disculpándose por quedar en el Port Olímpic: “No sé dónde se escucha la música que a ti te gusta”. Él: “En mi coche”. La actualidad se mueve tan rápido que no sería extraño que la edición digital se titulase Uber. Por lo pronto, en este taxi caben, como telón de fondo, la CUP, Millet, los hijos de Pujol, el turismo masivo y hasta un chaval marroquí que cambia el rap por la yihad. También las cenizas de una abuela y un pirado empeñado en resucitar a los muertos. “¿Has tenido una buena vida cuando toda la gente que va a tu entierro cabe en un taxi?”. El siguiente trabajo de Zanón será resucitar al Carvalho de Vázquez Montalbán.
5. La gran novela sobre el secreto
En tiempos de transparencia total, es posible que solo se pueda escribir sobre los secretos con una máquina eléctrica. Es lo que hace Javier Marías, que en Berta Isla (Alfaguara) retoma, con el MI6 británico de fondo, el principal motor de su narrativa: lo que sabemos y lo que creemos saber. Su propio autor la describe como “una novela de espías, pero sin espías”. La misma editorial publicará otra novela de espías pero con espías: Eva, de Arturo Pérez-Reverte, segunda entrega de la serie Falcó, ambientada en la Guerra Civil. A esa “guerra interminable” dedica Almudena Grandes el cuarto de sus episodios nacionales: Los pacientes del doctor García (Tusquets). Nazis y, por supuesto, espías, entre Madrid y Buenos Aires.
6. La gran novela del premio gordo
Lo de “eterno finalista” del Nobel es otro de los clásicos en las solapas de otoño. Este octubre puede ganarlo otra vez una polaca o un cantante de folk. Por si lo consigue alguien cuyo nombre sepamos pronunciar, ahí están las novedades de Adonis, Joyce Carol Oates, Margaret Atwood, Cynthia Ozick y Edna O’Brien. Esta última es la escritora favorita de Philip Roth, el eterno finalista por antonomasia. El día que se falle no faltará quien diga que los suecos nunca se atreven a premiar a un escritor popular de verdad. Como consuelo, Ken Follett, Dan Brown y John Grisham estrenan novela grande. También tendrá libro nuevo el único que los pondría de acuerdo a todos: Stephen King.
7. ¿Y si la gran novela fuera un poemario?
Por si acaso, el otoño trae libro nuevo de otro "eterno candidato" al Nobel, Adam Zagajewski –Asimetrías (Acantilado)– y la Poesía completa (1.500 páginas en Lumen) de Vicente Aleixandre, que lo ganó en 1977. Mientras, Visor publicará A puerta cerrada, de Luis García Montero, y la versión en castellano –la catalana la edita Proa– del 20° libro de uno de los grandes cantores de la Barcelona contemporánea: Joan Margarit. Puede que el título, –Un invierno fascinante–, sea premonitorio."
Javier Rodríguez Marcos , em Babelia , El País, 6 .09. 2017 

terça-feira, 26 de setembro de 2017

Sobre a tirania

"Eugène Ionesco , o grande dramaturgo romeno, pôde assistir ao sucessivo resvalar dos amigos  na linguagem do fascismo durante a década de 1930. Esta experiência tornara-se o fundamento para a sua peça de teatro do absurdo, Rhinocéros, escrita em 1959, na qual aqueles que se tornam presas da propaganda são transformados em gigantes criaturas com cornos. Acerca das suas experiências pessoais, Ionesco escreveu:
Professores universitários, estudantes, intelectuais, todos estavam a tornar-se nazis, membros  da Guarda de Ferro, uns a seguir aos outros. Ao princípio, não eram por certo nazis. Juntávamo-nos, cerca de uns quinze no grupo, para conversarmos e tentarmos arranjar argumentos que contrariassem os deles.
Não era fácil…De tempos a tempos, um dos nossos  amigos dizia: “ Não concordo com eles, isso posso garantir, mas em certas questões, ainda assim, tenho de admitir que os judeus , por exemplo…” etc..  E isto era um sintoma. Três  semanas mais tarde,  essa pessoa acabava por tornar-se nazi. Era apanhada pelo mecanismo, passava a aceitar tudo, tornava-se num rinoceronte. Lá para o fim , só três ou quatro de nós ainda se opunham.

O propósito de Ionesco foi o de nos ajudar a ver o quão bizarra é de facto a propaganda, e ao mesmo tempo o quão normal parece para aqueles que acedem à sua linguagem. Ao apropriar-se  da absurda imagem de rinoceronte, Ionesco procurava chocar as pessoas de forma que elas se apercebessem da estranheza do que estava realmente a acontecer.
Os rinocerontes vão-se passeando pelas nossas savanas neurológicas. Actualmente, damos por nós especialmente interessados  em algo a que chamamos “ pós-verdade”, e assim revelamos uma tendência para achar que o menosprezo por factos do quotidiano e a construção de realidades alternativas, meras consequências  desse conceito, referem-se a algo novo ou pós-moderno. Porém , pouco ou nada há nisto  que George Orwell não tenha  concebido há sete décadas , com a sua noção de “duplo-pensar” (Doublethink). De acordo com a sua filosofia, a pós-verdade restabelece a atitude fascista perante a verdade -  e é por isso que nada neste nosso mundo poderia alguma vez deixar Klemperer ou Ionesco verdadeiramente surpreendidos.
Os fascistas deprezavam as pequenas verdades do quotidiano, tinham uma adoração por slogans que ressoavam como uma nova religião e davam preferência à invenção de mitos em detrimento da história e do jornalismo. Usavam novos meios de comunicação, que na altura  se resumiam à radio, com o objectivo  de criarem um constante ruído de fundo propagandístico que acabava por estimular as emoções antes que as pessoas  tivessem tempo para averiguar os factos. E nos tempos actuais, como aliás no passado, muitas pessoas passaram a confundir  a sua fé num líder dado aos piores defeitos com a verdade do mundo que todos nós partilhamos.
Pós-verdade significa pré-fascismo.”
Timothy Snyder, in “Sobre a Tirania – Vinte Lições do Século XX”, Relógio D’Água Editores, Julho 2017, pp. 56, 57

domingo, 24 de setembro de 2017

Ao Domingo Há Música

“Ainda que chova, ainda que doa. Ainda que a distância corroa as horas do dia e caia a noite sem estrelas, o mundo brilha um pouquinho mais a cada vez que sorri.” 
                                                  Pablo Neruda

Palavras para quê? Expressão que se repete, quando já está tudo dito . E o poeta acabou de o fazer.  E se sorrir faz brilhar o mundo, a música tem esse poder.
Eis a bela voz de Noa, na sorridente canção "Beautiful that way", ilustrada na areia,  pelo talento de Ilana Yahav.


Noa e  Sting, em  Fields of Gold, num espectáculo no Olympia, Paris.

sábado, 23 de setembro de 2017

Entrevista

Entrevista


Telefonam-me do jornal: 
-Fale de amor - 
diz o repórter, 
como se falasse 
do assunto mais banal. 
-Do amor? -Me rio 
informal. Mas 
ele insiste: 
-Fale-me de amor - 
sem saber, displicente, 
que essa palavra 
é vendaval. 

-Falar de amor? - Pondero: 
o que está querendo, afinal? 
Quer me expor 
no circo da paixão 
como treinado animal? 

-Fala...-insiste o outro 
-Qualquer coisa. 
Como se o amor fosse 
“qualquer coisa” 
prá se embrulhar no jornal. 

-Fale bem, fale mal, 
uma coisa rapidinha 
-ele insiste, como se ignorasse 
que as feridas de amor 
não se lavam com água e sal. 

Ele perguntando 
eu resistindo, 
porque em matéria de amor 
e de entrevista 
qualquer palavra mal dita 
é fatal.
Affonso Romano de Sant'Anna 

"Nasceu em Juiz de Fora, M.G., em 1938. Poeta, ensaísta, professor e doutor em literatura pela UFMG. Teve actuação destacada no movimento literário dos anos 1950 e 1960, além de intensa vida académica no Brasil e no exterior. Publicou o primeiro livro Canto e palavra em 1965 e passou a escrever para os principais jornais do país, sem jamais abandonar a poesia. Publica, em 1975, Poesia sobre poesia ,1980, Que país é este? e em 1981, A morte da baleia (1991). Na prosa, destacam-se: Carlos Drummond de Andrade – análise da obra (1980), a sua tese de doutoramento, Análise estrutural do romance brasileiro (1973) e Por um novo conceito de literatura brasileira(1978). Por seis anos (1990-1996) dirigiu a Biblioteca Nacional, dotando-a de uma flexibilidade administrativa e modernizando muitos de seus serviços. Em 1998, foram reeditados e reunidos num só livro A grande fala do índio guarani e A catedral de Colónia. O interesse pela arte barroca rendeu dois livros: Barroco, a alma do Brasil (1997) e Barroco, do quadrado à elipse (2001). Tem cerca de 70 livros publicados, e em 2000 prestou uma contribuição significativa a quem quisesse  aventurar-se pelos caminhos da literatura, lançando A sedução da palavra, uma espécie de manual introdutório à criação literária. Em 2004 foi publicada a sua Poesia reunida 1965-1999, em dois volumes. Em 2007 publicou uma colectânea de ensaios ou cronicas culturais, como o autor prefere chamá-las: A cegueira e o saber. Obras mais recentes: Perdidos na Toscana (2009), Crónicas para jovens (2011), Ler o mundo ( 2011) e Como andar no labirinto (2012), uma colectânea reunindo 65 crónicas. "


sexta-feira, 22 de setembro de 2017

O coração do menino

O coração do menino e o menino do coração
"O miúdo nasceu com as acertadas aparências. Só em altura de ensaiar primeiras marchas lhe notaram o defeito, o enviesamento nos pezinhos, cada um não sendo como cada qual. Sobre as pegadas estrábicas a avó vaticinou:
- “Este menino vai caminhar para dentro dele mesmo”.
Depois outra malconveniência se somou: o rapaz engrumava as falas, tatebitudo. Os outros não entendiam mais que cuspes e assobios, até os parentes o escutavam com riso parvo de quem finge concordância. Não há medo maior que não se entender humana a voz de outra humana pessoa.
A mãe conduziu a criança ao hospital. O doutor lhe mergulhou o ouvido no peito e se ensurdeceu de tanto coração. O menino tinha o pulsar à flor da pele. O médico parecia entusiasmado com o inédito do caso.
- “Necessitamos que ele fique, para mais exames. . .
- “Nem pensar. Esse menino entrou comigo, há-de sair comigo.
- “Mas a senhora nem faz ideia... temos que encontrar um nome para a doença dele.
- “Como um nome?
- “Essa doença: eu tenho que lhe encontrar um nome!
- “Mas esse nome, será que esse nome vai curar a doença dele?”
O médico sorriu. Ai, essa gentinha simples, tão exímia em ser pensada pelos outros. E assim, sorriso descaindo no lábio, ficou olhando mãe e filho se afastarem no corredor. O menino levava em sua mão, descaída como pétala, uma carta que ele mesmo redigira. Queria ter dado ao doutor esse papelinho que sua inabilidade enchera de letrinha. Com desatenta ternura, a mãe lhe tirou o papel dos dedos e o lançou no latão. A mania desse mirabolhante! Deveria ser outra dessas tantíssimas cartas que o tontinho fingia escrever para sua apaixonada priminha.
- “Você ainda se carteia com Marlisa?”
O menino negou com veemência. A mãe sacudiu a cabeça. Enfim, quanto ela se esforçara em vão. Valera a pena insistir ensinamentos em quem nunca aprendera? Também Marlisa, a visada sobrinha, jamais cedera a abrir tais cartas. Nem valia a pena espreitar a caligrafia do atarantonto. Uns andam na lua. No caso, a lua é que andava nele.
Certa vez, o rabiscador daqueles engatafunhos desabou no fundo do tempo. O menino faleceu, em azulidão de pele, todo frio como se nenhuma luz dele tivesse vontade. Os médicos acorreram para levar o corpo e lhe administrarem a extrema-autópsia. Lhe arrancaram o coração, o universátil músculo, enormíssimo como um planeta carnudo. O órgão ficou em vitrina, exposto às ciências e aos noticiários. Os cardiologistas disputavam, em sucessivos colóquios, um apropriado nome para baptizar a anormalidade.
Passaram-se os dias, anónimos. Era um fim de tarde, a prima Marlisa, ao arrumar as poeiras de casa, deparou com o monte das inúteis cartas. Sopesou-as antes de as lançar em fogo. Hesitou por um segundinho: o moço sabia abecedar uma simples linha? Pelo sim pelo talvez, ela se aventurou a espreitar o primeiro envelope. E ali se sentou em espanto, ruga na fronte, mãos enrolando um demorado cabelo. Ficou horas, no assentado degrau. Aquilo não eram cartas mas versos de lindeza que nem cabiam no presente mundo. Marlisa inundou a tristeza, tingiram-se as letras. Quanto mais a prima primava em seguir leitura mais rimava com nenhuma outra mulher, toda ela fora do contexto de existir. A moça se apaixonava postumamente?
Mas ali, arremessada na escada, nem Marlisa imaginava o que, no simultâneo tempo, se passava com o coração do primo que Deus e a ciência guardavam. Pois que, na vitrina gelada do Hospital, mal se rasgou o primeiro envelope, o coração do primo deflagrou em sobressalto. Um “oh” se estilhaçou nos visitantes. E à medida que Marlisa, mais longe que mil paredes, ia desfolhando versos, o coração mais se desembrulhava, tremelusco-fuscando. Até que, daquele novelo vermelho, se viu desprender um braço, mais adiante um pé e a redondez de um joelho e mais argumentos que faziam valer o facto: aquele coração estava em flagrante serviço de parto! E se confirmava, vinda das entranhas do útero cardíaco, uma total recém-criança.
E quando, finalmente, o parto se desfechou se viu que o menino nascera igual ao seu progenitor de peito. Fazia medo como um quimicava o outro a papel chapado. Em tudo se semelhavam menos no desenho do pé. Os pés do nascido eram divergentes, como quem viesse para procurar, fora de si, gente de outras estórias."
Mia Couto, in Contos do nascer da Terra , Editorial Caminho

quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Mas é música...

A música, sim a música...

A música, sim a música...
Piano banal do outro andar.
A música em todo o caso, a música..
Aquilo que vem buscar o choro imanente
De toda a criatura humana
Aquilo que vem torturar a calma
Com o desejo duma calma melhor...
A música... Um piano lá em cima
Com alguém que o toca mal.
Mas é música...

Ah quantas infâncias tive!
Quantas boas mágoas?,
A música...
Quantas mais boas mágoas!
Sempre a música...
O pobre piano tocado por quem não sabe tocar.
Mas apesar de tudo é música.

Ah, lá conseguiu uma música seguida —
Uma melodia racional —
Racional, meu Deus!

Como se alguma coisa fosse racional!
Que novas paisagens de um piano mal tocado?
A música!... A música...!
 19-7-1934

Álvaro de Campos , em  Livro de Versos . Fernando Pessoa. (Edição crítica. Introdução, transcrição, organização e notas de Teresa Rita Lopes.) Lisboa: Estampa, 1993.

quarta-feira, 20 de setembro de 2017

29 de Junho de 1941

Iasi - Arrested Jews being escorted to police headquarters with their hands in the air
        Arrested Iasi Jews being escorted to police headquarters
        with their hands in the air.  From The Iaşi Pogrom, June-
        –July 1941: A Photo Documentary from the Holocaust 
       in Romania, by Radu Ioanid, (Sept. 2017), Indiana Univ.
       Press in assoc. with U.S. Holocaust Memorial Museum.
Were These Holocaust Survivors Forced Into a Ghetto? The Answer Will Determine Their Financial Future
Updated: Jun 28, 2017 11:08 AM ET
"She was only 6 years old when the pogrom began, but Frances Flescher remembers everything.
As a little girl, Flescher was part of the substantial Jewish population of the Romanian  city of Iasi. But, though 30% of the city's population was Jewish by 1930, according to Yad Vashem, anti-Semitism spread during that decade, and the country ended up on the Axis side once World War II began. Then, on June 29, 1941, her father said he was going out to buy cigarettes and never returned.
In fact, by then, it was already the second day of the pogrom during which police, soldiers and civilians killed or arrested thousands of Jewish citizens of Iasi. On the heels of bombing of the city by Soviet forces — after which, according to Radu Ioanid’s history of the pogrom, Jews were accused of Soviet collaboration and systematically hunted down by their neighbors — thousands of people were murdered in the streets. Following that massacre, about 4,000 more Jews from Iasi, by Yad Vashem’s count, were put on “death trains.” Packed tightly and sealed, without enough water or even air for those on board, they ran back and forth between stations until more than 2,500 had died.
Flescher knows that her uncle and cousin ended up on the trains; that her father never came home means, she believes, that he did, too.
With the family's apartment destroyed and the breadwinner gone, Flescher and her brother and mother went to live with a relative, in the area of the city to which the surviving Jews — almost all women and children — were constrained. They wore the required yellow stars on their clothes and obeyed a strict curfew. They stayed for years as the city was bombed to ruins, surviving almost exclusively on mamaliga, a cornmeal porridge.
"I remember every minute of my fear and my suffering," Flescher, who now lives in Queens, N.Y., tells TIME. "I suffered every single day — I'm not even talking about being hungry and thirsty. We were persecuted."
What happened in Iasi has been described as “the best-known event in the history of the Romanian Holocaust," but what exactly Flescher went through is still being debated. Specifically, was her experience in Iasi after the pogrom — in which her and her family's movements were curtailed by regulations and threats, but not by walls — mean that she lived in a ghetto? Though it may seem like mere semantics in light of the specifics of the suffering, the answer could even today have an immediate effect on Flescher's daily life, and that of roughly a thousand other people, too.
That's because, under the complicated structure of compensation and restitution that has been established for Holocaust survivors over the intervening decades, those who were in a concentration camp or ghetto can receive a monthly pension from the German government, whereas many other survivors (those who fled before the Nazi advance, for example) were eligible for a one-time payment. The Jews of Iasi did receive such a payment, back in the 1950s, but their representatives believe that they are in fact owed the pension instead.
This question of the status of Iasi is one of the matters that those representatives hope might be resolved in the first week of July, in the next regularly scheduled round of annual negotiations between the German government and the organization known as the Conference on Jewish Material Claims Against Germany , or the Claims Conference, which represents a range of Jewish interests around the world. A delegation from the Conference, led by a survivor named Roman Kent and Ambassador Stuart Eizenstat, a long-time advisor to the U.S. on Holocaust issues, will meet in Berlin with representatives from Germany's Finance Ministry, under a system that has been in place since the early 1950s, when West Germany, Israel and the Claims Conference agreed that Germany would "make moral and material amends" for the Holocaust, as Chancellor Konrad Adenauer put it. What he meant and to whom it applies has evolved over the years, as understanding of the Holocaust has changed and as survivors have aged, but there's little question that the system reflects the new understanding of personal and national responsibility that arose in the post-Holocaust world.
“I can say that what [Germany] has done is historic. There’s never been in the history of world a defeated power that has paid not reparations like in World War I to governments, but to individual civilians who were harmed," Eizenstat told TIME. “I’m negotiating with people who — and this has been really inspiring — are second and third generation, and yet they continue to feel a moral obligation to help survivors until the last one is gone.”
The reaction to the idea of such reparations when they were first organized, in the 1950s, was mixed, as explored by Menachem Z. Rosensaft and Joana D. Rosensaft in their history of the development of the reparations structure. Some believed that the world's Jews should maintain a policy of "absolute non-fraternization" with Germany, and others shuddered at the suggestion that any dollar amount might be suggested as compensation for the Holocaust. Over the years, however, the two sides have gradually come to see each other as having to "work together to come to resolution," says Greg Schneider, executive vice president of the Claims Conference, who will also be attending the negotiations. (Even today, however, Schneider is careful to make the same point his predecessors made six decades ago: though the relationship between the Conference and Germany has produced many successes, no compensation will ever be satisfactory.)
So far, according to figures provided to TIME by the German Federal Ministry of Finance, Germany has given a total of more than 74.5 billion euros — or about $85 billion at today's exchange rate — to Holocaust survivors, who fall under a variety of statutory umbrellas. Under current agreements, about 55,000 Jewish people due monthly payments receive 336 euros, or about $381, a month. The Iasi question is part of a larger outstanding issue the Conference is focusing on, in trying to expand the number of people who can gain access to such pensions.
Despite the cooperation that now characterizes the annual negotiations between the Claims Conference and Germany, any distribution of funds on such a large scale involves complicated legal, definitional, financial and moral questions. That's part of the reason why, according to Schneider, negotiation sessions can run for up to 12 hours straight at a time, covering everything from frank discussions of feasibility to the recounting of survivors' stories.
“We’re deeply disappointed that this [Iasi] issue hasn’t been resolved and we’re strongly pressing for the resolution, hopefully in the next few weeks, because we think it’s a miscarriage of justice," said Greg Schneider, executive vice president of the Claims Conference, who will also be attending the negotiations. "But it's only possible to do so because of the leadership that Germany has taken on this issue."
Compensating those persecuted by the Nazis is of the highest priority for the German federal government, a spokesperson for the German Federal Ministry of Finance told TIME in statement in German.
As Eizenstat points out, keeping that priority in mind only gets more urgent as the decades pass, as survivors age and the resolution of these material claims against Germany enters what he calls its "last phase." He says there are 500,000 surviving Holocaust victims. They are elderly people by definition and many of them struggle to make ends meet, such that a few hundred dollars a month would make a big difference to them.
That is certainly true for Frances Flescher, who is still reeling from her losses in the the Iasi pogrom. While she says "it could help a lot financially" to receive a pension for what she went through, the satisfaction of recognition ranks first in her thoughts about the matter.
“I don’t understand why they kept quiet all this time. The Romanian people, we went through hell, and they didn’t recognize it," Flesher said. "Do I know why? I only suffer. We were wondering what happened — they forgot about the Romanian people? We were persecuted and wore yellow stars and the hunger that we went through and everything. I don’t know every place, but I know in Iasi what we went through.”Lily Rothman, Time

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Um livro da rentrée

Ces rêves qui piétine: Les derniers jours de Magda Goebbels
Cécile  Pellerin, 15.09.2017
"Le premier roman du journaliste Sébastien Spitzer saisit immédiatement le lecteur qui s’en empare. Et éblouit. La force du sujet, la profondeur des personnages, le réalisme du contexte historique, l’écriture expressive, pénétrante, intensément musicale, quasi-magnétique et la structure narrative, construite  subtilement autour d’une alternance de voix obsédantes offrent à ce roman, une intensité rare et belle. Exceptionnelle.
La lecture est incandescente, à la fois déchirante et douloureuse, relate l’horreur absolue et macabre mais conserve une distance à la fois juste et très digne. Empreinte d’une humanité salutaire.
Passeur d’Histoire, dépositaire du Devoir de Mémoire, le récit va plus loin et interroge sur la notion de survie, l’amour des siens, le sens du sacrifice.
De plus, il mélange habilement fiction et faits réels, entraîne le lecteur dans l’intimité des personnages et crée une proximité troublante, même avec les plus monstrueux. Habile à exprimer les doutes, les peurs, les interrogations et les contradictions, les fragilités humaines, le roman d’Antoine Spitzer, conserve aussi la rigueur de l’enquête historique. Et s’il ne transforme rien des événements passés, sa sensibilité d’écrivain, son talent romanesque prennent (et c’est tant mieux !) le dessus.
L’Allemagne est vaincue. Berlin est désormais une ville assiégée, bombardée. Sous terre, Magda Goebbels, son mari, ses sept enfants, Hitler et quelques autres se cachent en attendant la mort, proche désormais. « Speer distribue de petites capsules de cuivre. Tous ceux qui ont compté avaleront leur cyanure, parce qu’il faut du courage pour lever un canon contre une tempe et presser la détente. »
L’Allemagne est vaincue. Des hommes et des femmes, survivants des camps, déambulent sur les routes pour rejoindre les villes, hagards et affamés. Le chemin vers la liberté est long, encore peuplé d’ennemis, de paysans hostiles. Parmi ces déportés, Judah, Fela et sa petite fille Ava, tour à tour détenteurs d’un rouleau de cuir contenant des lettres de prisonniers des camps d’extermination. Ils sont porteurs de la Vérité.

Parmi ces lettres, il y a celles de Richard Friedländer, Juif déporté, père de Martha Goebbels.
Dans ce bunker sordide, « parcouru par les rats, les spasmes des bombes d’en haut, l’humidité, l’odeur des chiens qui défèquent partout », Magda rêve, livre ses angoisses et se souvient, raconte ses origines modestes,  « une vie au ras de la vie des autres », son enfance chez les Ursulines belges, sa soif d’exister, de devenir quelqu’un jusqu’à renier ses origines, oublier père et mère et devenir l’épouse d’un gauleiter. « La gloire l’a portée quinze années durant. C’est long quinze ans. Elle s’y est habituée. » 

En alternance avec ces souvenirs, des images de camps surgissent et dépeignent des conditions de (sur)vie épouvantables, notamment pour les femmes  de Silésie du block 24-A où naîtra Ava.  Beaucoup de vies exterminées maintenues en mémoire par des lettres dont celles (imaginaires) de Richard, dévoilées à plusieurs reprises au fil du roman.
Un livre tout en mouvement, finement révélateur (très précis) de l’effondrement et de la folie d’une femme et d’un pays vaincu et robuste en même temps à rendre compte sans pathos mais avec justesse des horreurs que la libération des camps révèle.
Accompagnée par une écriture efficace, directe et ardente, vraiment très belle, les histoires entremêlées (de Magda, de son mari, de son père, des déportés, des soldats américains), créent l’Histoire avec brio et fascinent sans préférence. Chacune entête, martèle l’esprit, touche à vif. Chacune est essentielle." Cécile Pellerin, in ActuaLitté, les univers du livre
Sébastien Spitzer – Ces rêves qu'on piétine – Editions de L’Observatoire – 9791032900710 – 2 € / Ebook 9791032900727 – 13,99 €
Les critiques de la rentrée littéraire 2017

Rentrée littéraire 2017, la fashion week des libraires


domingo, 17 de setembro de 2017

Ao Domingo Há Música

Todos os sonhos são um pouco misteriosos, e é nisso que reside a sua beleza; mas alguns são muito misteriosos, ou seja , não se percebe nada; são como os enigmas. Mas enquanto os enigmas  têm solução, os sonhos não têm. Podemos atribuir-lhes uma  centena de significados diferentes, cada um deles tão bom como o outro. 
                                                         Luigi Malerba, Il serpente

Todos os sonhos são sonhos. Mas há sonhos que parecem reais e há outros que nos confundem. Que não entendemos. Que nos decepcionam ou intrigam. E, por vezes, há aqueles que nos deliciam, que nos cativam, que nos estimulam e que nos despertam para a vida.  
A Música propicia o sonho.  Não sei se será o mesmo para todos, ou se todos têm a mesma capacidade de sonhar. Sei, apenas,  que do sonho nasce música e  com a Música se sonha.
O que desejo , neste Setembro de 2017, é que todos possamos sonhar. A música que se apresenta é apenas o leitmotiv. Exploremo-lo.

Voices of Change, Harlem Gospel Choir e  Gigi Radics numa excelente interpretação de Amazing grace , com a HAVASI Symphonic Arena Show, em 21 de Dezembro de 2013.

About Voices of Change
During our lives, we keep developing by the things we go through. We continuously learn from each other, the influences that affect us and of course from our own actions. Some change through religion, others by helping people and yet others by the positive force of music. What matters is positive change itself, not the way you achieve it. In addition, Voices Of Change says while we were born in different continents, we speak the same language deep in our hearts. And that common language is the language of music.

sábado, 16 de setembro de 2017

Carta aberta a meu pai

Querido Pai
Todas as cartas que lhe escrevo são abertas. Deixou de ter morada certa. Apenas ficou em mim, para sempre. E será um sempre muito precário. Também partirei qualquer dia. É esta a nossa maior premonição. Prever a nossa finitude. Sem hora, dia e ano, mas certa. Sem erro. Acontecerá. 
Não sei e nem tenho a certeza se me juntarei a si, pai. Quem dera que assim acontecesse. E que me  estivesse esperando com a mãe. Pensaria , então, que estaria a regressar da Escola ou talvez da Faculdade, quando alguns cabelos brancos adornavam já a sua cabeça. Que de solicitude havia em vós. Transformava-se em carinhosas e preocupadas  perguntas sobre o dia.   Se tinha sido  frutífero,  compensador,  agradável. E eu beijava-vos e contava-vos o que descobrira, o que me assombrara naquele percurso diurno . Era o tempo do meu crescimento.
Crescer, pai. Cresceram já os meus filhos . Hoje  são os meus netos que partem e regressam da Escola. Olho-os diariamente e revejo todos aqueles momentos tão semelhantes, mas irrepetíveis. Feita em saudade, tenho agora a mesma  idade, desse vosso/nosso  tempo distante
“Parece que crescemos mas não crescemos/ foram as coisas grandes que há/ o amor que há, a esperança que há/ que ficaram mais pequenos.” Palavras belas de um poema de Manuel António Pina. O mundo mudou muito desde que partiu , pai. Ontem , em Londres , houve um outro atentado terrorista. Não, não tem qualquer semelhança com o tempo do IRA. Há, sim e apenas,  um rótulo que se diz religioso, também. São atentados em nome de um grupo que se reclama islamita. E o mundo ficou exposto à facínora mão de alguém que aparece sem ser visto, sem marca , sem identificação mas cruel. Mata porque quer matar. Morre-se , sem idade, sem doença, sem previsão, em qualquer parte deste mundo, pelos planos obscuros de um grupo de loucos que invoca um deus que não pode existir. Sim, existir. Como é possível existir um deus que deseja e permite tantas mortes e tanto sofrimento em seu nome?
É este o nosso tempo.  Um tempo de muito (des)amor. Partiu, pai, antes que tudo isto se mostrasse. Diria que desejou tanto a Liberdade  , neste nosso Portugal, que não compreenderia como foi possível  o mundo ficar à mercê de grupos ignotos. Viveu os dias de Democracia. Veio do dealbar da República . Enfrentou a opressão da ditadura. Lutou e viveu a vitória da Liberdade: o reconhecimento de que nos projectamos em cada um . O rosto do outro é a nossa imagem. Era esta a nossa divisa.
Não é mais, pai. Nem sei se ela vingou. Quando e como? Talvez entre nós, enquanto família. E convosco entre nós.
Hoje é dia do seu aniversário. Nasceu há 107 anos. Ultrapassa um século. O mundo mudou muito. Assistiu a muita dessa mudança.  Outras vieram . Nem todas fizeram o mundo pior. Há momentos de grande progresso. De consciência interplanetária. De descoberta científica e de um progressivo sentir ecológico. 
O Homem tem novas ferramentas para ser feliz e tornar o mundo melhor. Basta apenas descobrir o caminho que chegue a todos e a cada um, em completude. 
Quero, entretanto, dizer-lhe que permanece intenso e incólume o amor ,o carinho que sempre lhe tive. A  saudade aumenta e dói porque me faz falta, pai.  Como  seria  bom  poder felicitá-lo, como sempre o fiz. Eram dias maravilhosos. Só na memória os vivo intensamente. Consumo-os com ardoroso afecto. Enchem-me o coração.
Parabéns, pai.