sexta-feira, 29 de julho de 2016

Viajar

Algarve, Ria do Alvor
Há Viagens e Viagens
Por Eugénio Lisboa
                                                     Heureux qui comme Ulysse,
                                                       a fait un bom voyage.
                                                                                            Du Bellay
"Quase ninguém é indiferente ao apelo à viagem. E quase toda a gente inveja Ulisses, que, se não fez, exactamente, uma boa viagem, como canta Du Bellay, perpetrou, pelo menos, uma longuíssima e acidentada odisseia de retorno.
Há gostos para tudo. Du Bellay invejava Ulisses. Gide torcia o nariz à odisseia do grego, porque, no fim da viagem, esperava-o Penépole, que, para sempre, o iria amarrar ao lar. Exaltava, em contrapartida, Sindbad, o das Mil e Uma Noites, por ser livre como um passarinho: no fim da viagem, esperava-o, não uma amarra, mas uma nova viagem. Para Gide, também, uma viagem era apenas o prefácio à viagem seguinte, em contraste com a de Ulisses, que não passou de uma obrigatória navegação de regresso. Gide tinha igualmente um lar à espera, em Cuverville, mas fazia de conta que não dava por isso, e traiu, tanto quanto pôde – e sem complacências – a sua fiel Penélope que, para o caso, se chamava Madeleine. O que ele queria, está-se a ver, era copiar, com “gusto” e mesmo frenesi, o fluir libérrimo do marinheiro Sindbad. 
Viajar tem boa e tem má imprensa. Há quem elogie, há quem diga mal e há quem, simplesmente, se aborreça. O actor e escritor Al Boliska propôs uma definição célebre que hoje anda citada por todo o lado: “Viajar de avião”, disse ele, “são horas de tédio interrompidas por puro terror.” Ainda assim, Boliska só critica o viajar de avião, não todo o viajar. Mas há quem demita qualquer espécie de viagem. O conhecido romancista Paul Theroux, com obra assinalável transposta para o cinema, observava que “viajar só é glamoroso em retrospecto”, isto é, só funciona depois de terminada a viagem, ao contá-la, ao serão, aos amigos. William Trevor dizia o mesmo, de outra maneira: “Ele só viajava para poder voltar para casa”, isto é, o melhor da viagem era o regresso. Nem Ulisses foi tão longe: suspeito que gostou mais da ida do que da volta…
Algarve, Marina da Praia da Rocha
Algarve, Praia da Rocha
De entre os demolidores do mito da viagem, citarei o talvez mais antigo (será?): Sócrates, que disse, imaginem, esta barbaridade: “Vê um promontório, uma montanha, um mar, um rio e viste tudo.” Como se não houvesse rios e rios, promontórios e promontórios, cidades e cidades! Quem pode ser de opinião que o Amazonas é o mesmo que qualquer pífio afluente de um rio de trazer por casa… Quem pode afirmar que ver Leiria é o mesmo que ver Paris ou Veneza! Ou como se Florença fosse o mesmo que Alguidares de Baixo! Ou como se o Iguaçu não diferisse grande coisa das pindéricas “cascatas” da Namaacha, da minha saudosa infância africana!
Claro que é preciso saber viajar, saber ver e, sobretudo, gostar de ver. Viajar por viajar é inútil e fica caro. Como dizia o outro, não vale a pena dar a volta ao mundo só para contar o número de gatos que há em Zanzibar.(…)
Viajar – o convite à viagem! Há quem proteste em termos paradoxais: “É pena”, dizia Chesterton, “as pessoas viajarem por países estrangeiros; estreita-lhes de tal maneira o espírito.” Sterne, no seu imenso Tristram Shandy, não vai tão longe, mas faz uma recomendação: “Um homem deve também conhecer alguma coisa do seu próprio país, antes de ir para o estrangeiro.”(...)
“Viajar é quase como falar com homens de outros séculos”, dizia Descartes. (...)”
Eugénio Lisboa, em ensaio publicado no JL
Angola, Quedas de Kalandula
Angola, Quedas de Kalandula
Angola, Praia do Lifune
Angola, Pedras Negras de Pungo Andongo
Angola, peregrina da Muxima
Angola, Rio Queve
Angola, Kalandula


Brasil, Rio de Janeiro
Brasil, Rio de Janeiro
Brasil, Rio de Janeiro

Brasil, Curitiba
Brasil, Curitiba
USA, New York
USA, New York
USA, New York
Estónia, Tallin


Estónia, Tallin
Finlândia, Helsínquia
Finlândia, Helsínquia
Finlândia, Helsínquia

Itália, Veneza
Itália, Veneza
Itália, Veneza

Áustria, Viena

Áustria, Viena
Hungria, Budapeste
Hungria, Budapeste
República Checa, Praga
República Checa, Praga
Roma, Itália
Roma, Itália
Roma, Itália
Pádua, Itália
Pádua, Itália
Pádua, Itália
Florença, Itália

Florença, Itália
Florença, Itália
Florença, Itália
Algarve, costa vicentina
Algarve, costa vicentina
Algarve, costa vicentina
Algarve, Praia da Rocha
Viajar é desaparecer, uma incursão solitária por uma estreita linha geográfica até ao esquecimento.
Paul Theroux, O Velho Expresso da Patagónia, Quetzal, p.23

3 comentários:

  1. E eu, com 14 anos de idade, vi as cataratas do Zambeze, e ouvi o ruído estrondoso das suas águas, quando passei de comboio ao lado delas. Um espectáculo impressionante e quase assustador, até porque o comboio não era rápido.

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  2. E eu, com 14 anos de idade, passei de comboio ao lado das imponentes e até assustadoras cataratas do Rio Zambeze. Impressionantes porque o ruído era enorme, e porque a altura da queda das águas tanbém o era! Mas muito belo!!

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  3. Já agora ....e eu que fiz 800 km para ver as Quedas de Calandula ( Duque de Bragança do antigamente ) Ainda hoje me estou a ver naquele miradouro superior e a visitar a Pousada ali existente e que entretanto foi invadida pelo mato. Uma pena !!!
    JÁ AGORA, lamento haver aqui poucas ou nenhumas imagens de Lisboa cidade actualmente a bater records diários de turistas estrangeiros.

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