quinta-feira, 30 de junho de 2016

98º aniversário de Cândida Ventura

Nasci em Lourenço Marques , mas passei a maior parte da minha infância nas Caldas de Monchique, termas a 250 metros de altitude , no vale  da serra de Monchique (Algarve), apenas  a 20 quilómetros da Praia da Rocha e a 290  quilómetros de Lisboa.
São estas as palavras com que Cândida Ventura inicia o primeiro capítulo do livro  O “socialismo” que eu vivi .  Cândida Ventura nasceu a 30 de Junho de 1918. É dia de a evocar. Faria 98 anos.
Cândida amava a vida. Saudar um novo ano era um acto de celebração que se reiterava nessa data. Um dia festivo que reunia um círculo de amigos que, por ela, tinha sido tocado. Havia, nesse dia , um sorriso que iluminava mais rasgadamente os olhos desta figura relevante da nossa  história . Sim da história da democracia portuguesa. Cândida Ventura foi dos mais importantes e notáveis combatentes  ao regime autoritário que dominou Portugal, durante  quatro décadas do século XX. Abdicou de uma vida promissora  em vários domínios para passar a uma vida em clandestinidade, na  defesa de uma ideologia que prometia cortar as assimetrias sociais e as  penosas restrições  da Liberdade. Passou a ser  o André. O nome esboroou-se entre os preceitos preventivos do Partido Comunista.
Cândida despojara-se de uma identidade. Foi André, Catarina (Catherine na Checoslováquia) e  altri. Quando readquiriu  o seu verdadeiro nome , o som das silabas que o compunham eram notas de uma música adormecida. 
Cândida era uma lutadora. Uma mulher que não se perdeu entre o desencanto e as agruras de quem descobriu que nem sempre a ideologia partidária é aquela que se anuncia. Soube descobrir o caminho e percorrê-lo com dignidade, com verdade, apregoando  os princípios que alicerçam a construção  de um verdadeiro socialismo, no perigo sempre iminente de perda da sua própria liberdade.
Cândida viveu longamente. Impregnava-a uma força que contagiava quem dela se aproximasse. Era a própria seiva que alimenta a vida. Tudo lhe interessava. Lia os jornais de todo o mundo. Escrevia, devorava livros …. compunha desafios futuros. Embrenhava-se em diferentes acções humanitárias. Participava em protestos, colóquios, conferências e ensinava todos aqueles que queriam aprender . Apesar dos seus noventa anos, Cândida mantinha uma energia permanente.
E era uma mulher formosa  e admirável .Tinha um sorriso largo. Peculiar. Sabia cativar-nos.
Era um ser de enorme verticalidade, de uma honradez singular que soube calar os grandes segredos que nela viviam e que poderiam fazer acender os holofotes sobre o Partido a que aderiu em acto de fé , em 1936.
Cândida tem lugar no Panteão de todos nós. Com ela conjuga-se a Liberdade, a Justiça, a Fraternidade.
À  Cândida a nossa admiração e a contínua saudade da sua alegria , da sua presença, do seu afecto.
Parabéns, Cândida.

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