sábado, 5 de março de 2016

Nudez

Nudez

O ar circula mais leve em toda a parte
Os sinais transmitem o silêncio habitável

É um sonho é um logro e é a presença viva
Brilha o brilho animal do ar imóvel

Cálida substância nova une a linguagem e a vida
varandas varandas sobre a água sobre o céu

Uma infinita plenitude uma infinita ligeireza
a beleza nua sem exaltação e incandescente
o lugar transparente uma clareira indevisa

Torre de pássaros e de barro e de ervas
torre fresquíssima obscura e clara
torre na margem extrema do mistério
tudo se compreende e tudo é incognoscível
Tudo passa tudo deriva e tudo é imóvel
Somos e não somos somos sempre mais

Aceita aceita a terra breve a única
que os deuses povoam na transparência breve
Aqui a terra revelou-se um horizonte aberto
e as palavras antigas reacendem-se

De novo é a primeira vez e a única
Luz primeira luz da terra primeiros lábios
sopro de fibras mais intensas mais ligeiras
e nomes mais simples mais animais mais nus

António Ramos Rosa, in  GRAVITAÇÕES, Litexa Portugal, 1983

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