domingo, 31 de janeiro de 2016

Ao Domingo Há Música

Silva Porto , Apanha do Sargaço, 1884

Uma língua é o lugar donde se vê o mundo e em 
que se traçam os limites do nosso pensar e sentir. 
Da minha língua vê-se o mar. Da minha língua 
ouve-se o seu rumor como da de outros se ouvirá
o da floresta ou o silêncio do deserto.
Vergílio Ferreira, Bruxelas 1991,
( in Discurso de entrega do Prémio Europália da Comunidade Europeia)

2016 é o ano do centenário de Vergílio Ferreira ( 28 de Janeiro de 2016 - 1 de Março de 1996)Em Portugal, há um programa muito variado para esta comemoração que vai de Colóquios internacionais , de exposições, do lançamento de um selo evocativo,  de actividades diversas em Gouveia a algumas evocações em Teatros. A Editora Quetzal está, também, a reeditar a obra completa do escritor. 
Por aqui, temos vindo a assinalar  este acontecimento. E porque Vergílio Ferreira  é o autor das célebres frases em epígrafe, seleccionámos algumas canções emblemáticas que evidenciam esta circunstância bastante determinante do modo de ser português. O mar ouve-se neste nosso Portugal. Com ele, para ele e por ele perpassam diferentes sonoridades que dão tom a muitas vozes.  
Eis algumas:
Meu amor é marinheiro, fado de Alain Oulman com poema de Manuel Alegre, nas vozes de Amália Rodrigues , Cristina Branco , Atlântida e Maria Bethânia (no final da música).

Meu amor é marinheiro

Meu amor é marinheiro
E mora no alto mar
Seus braços são como o vento
Ninguém os pode amarrar.

Quando chega à minha beira
Todo o meu sangue é um rio
Onde o meu amor aporta
Meu coração - um navio.

Meu amor disse que eu tinha
Na boca um gosto a saudade
E uns cabelos onde nascem
Os ventos e a liberdade.

Meu amor é marinheiro
Quando chega à minha beira
Acende um cravo na boca
E canta desta maneira.

Eu vivo lá longe, longe
Onde moram os navios
Mas um dia hei-de voltar
Às águas dos nossos rios.

Hei-de passar nas cidades
Como o vento nas areias
E abrir todas as janelas
E abrir todas as cadeias.

Assim falou meu amor
Assim falou-me ele um dia
Desde então eu vivo à espera
Que volte como dizia.


Aguarda-te ao chegar ,  um fado na voz de  Ana Moura.

Aguarda-te ao chegar

Calas-me a voz, voz do olhar
Sinto que o tempo, tarda em chegar
Distante ausente, sinto apertar
O peito ardente por te encontrar
Na minha alma, que anseia urgente
Pelo momento de ter-te presente
Pelo infinito estendo os meus olhos
Num mar de mil desejos, aguarda-te ao chegar
Encho a minha taça vazia com perfumes de poesia
Bebo a saudade amarga e fria e então adormeço ao luar
Calas-me a voz, p'ra lá do tempo
Estrelas que caem por um lamento
Espuma na areia solta no vento
O meu silêncio meu sentimento
Em minha alma que chora vazia
Por um momento se acende a magia
Pelo infinito estende o meu sorriso
Num mar azul de sonhos, acorda-me ao chegar
Encho a minha taça ardente, com incenso doce e quente
Sirvo de beber a alegria que sinto ao ver-te a chegar
Calas-me a voz
Em minha alma que chora vazia
Por um momento se acende a magia
P'lo infinito estende os meus olhos
Um mar de mil desejos aguarda-te ao chegar
Aguarda-te ao chegar


A bela  e famosa "Canção do Mar", na excelente voz de Dulce Pontes.


Gisela João, em Vieste do fim do mundo, acompanhada à guitarra portuguesa por Ricardo Parreira e à viola por João Tiago.

Vieste do fim do mundo

Vieste do fim do mundo
num barco vagabundo
Vieste como quem
tinha que vir para contar
histórias e verdades
vontades e carinhos
promessas e mentiras de quem
de porto em porto amar se faz

Vieste de repente
de olhar tão meigo e quente
bebeste a celebrar
a volta tua
tomaste'me em teus braços
em marinheiros laços
tocaste no meu corpo uma canção
que em vil magia me fez tua

Subiste para o quarto
de andar tão mole e farto
de beijos e de rum
a noite ardeu
cobri-me em tatuagens
dissolvi-me em viagens
com pólvora e perdões tomaste
o meu navio que agora é teu.
O grupo Contrabando interpreta o tema "Mar Português", de um poema homónimo de Fernando Pessoa. Este tema faz parte do segundo álbum deste grupo intitulado "coisas do ser e do mar" (2008) e é uma composição original do seu guitarrista, Henrique Lopes, na voz de Nuno Cabrita. Fernando Pessoa é um poeta referencial na obra deste grupo de música. O grupo, cujo primeiro álbum, "Fresta", foi editado em 2000, conta também com interpretações de outros importantes autores da língua portuguesa, o que, aliás, define a ideia deste projecto musical, como sejam, Agostinho da Silva, Branquinho da Fonseca, Ary dos Santos ou José Gomes Ferreira.

sábado, 30 de janeiro de 2016

Cet amour


Cet amour , um belo poema de Jacques Prévert , na voz maior de  Serge Reggiani .

Cet amour
Si violent
Si fragile
Si tendre
Si désespéré
Cet amour
Beau comme le jour
Et mauvais comme le temps
Quand le temps est mauvais
Cet amour si vrai
Cet amour si beau
Si heureux
Si joyeux
Et si dérisoire
Tremblant de peur comme un enfant dans le noir
Et si sûr de lui
Comme un homme tranquille au milieu de la nuit
Cet amour qui faisait peur aux autres
Qui les faisait parler
Qui les faisait blêmir
Cet amour guetté
Parce que nous le guettions
Traqué blessé piétiné achevé nié oublié
Parce que nous l'avons traqué blessé piétiné achevé nié oublié
Cet amour tout entier
Si vivant encore
Et tout ensoleillé
C'est le tien
C'est le mien
Celui qui a été
Cette chose toujours nouvelle
Et qui n'a pas changé
Aussi vrai qu'une plante
Aussi tremblante qu'un oiseau
Aussi chaude aussi vivante que l'été
Nous pouvons tous les deux
Aller et revenir
Nous pouvons oublier
Et puis nous rendormir
Nous réveiller souffrir vieillir
Nous endormir encore
Rêver à la mort,
Nous éveiller sourire et rire
Et rajeunir
Notre amour reste là
Têtu comme une bourrique
Vivant comme le désir
Cruel comme la mémoire
Bête comme les regrets
Tendre comme le souvenir
Froid comme le marble
Beau comme le jour
Fragile comme un enfant
Il nous regarde en souriant
Et il nous parle sans rien dire
Et moi je l'écoute en tremblant
Et je crie
Je crie pour toi
Je crie pour moi
Je te supplie
Pour toi pour moi et pour tous ceux qui s'aiment
Et qui se sont aimés
Oui je lui crie
Pour toi pour moi et pour tous les autres
Que je ne connais pas
Reste là
Lá où tu es
Lá où tu étais autrefois
Reste là
Ne bouge pas
Ne t'en va pas
Nous qui sommes aimés
Nous t'avons oublié
Toi ne nous oublie pas
Nous n'avions que toi sur la terre
Ne nous laisse pas devenir froids
Beaucoup plus loin toujours
Et n'importe où
Donne-nous signe de vie
Beaucoup plus tard au coin d'un bois
Dans la forêt de la mémoire
Surgis soudain
Tends-nous la main
Et sauve-nous.
Jacques Prévert, Extrait de  Paroles, Paris, Gallimard, 1946.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Trinta mandamentos para ser leitor, escritor e crítico

Yiu Rojas
1- Decalógo do leitor
Por Alberto Mussa
 “I - Nunca leia por hábito: um livro não é uma escova de dentes. Leia por vício, leia por dependência química. A literatura é a possibilidade de viver vidas múltiplas, em algumas horas. E tem até finalidades práticas: amplia a compreensão do mundo, permite a aquisição de conhecimentos objectivos, aprimora a capacidade de expressão, reduz os batimentos cardíacos, diminui a ansiedade, aumenta a libido. Mas é essencialmente lúdica, é essencialmente inútil, como devem ser as coisas que nos dão prazer.
II - Comece a ler desde cedo, se puder. Ou pelo menos comece. E pelos clássicos, pelos consensuais. Serão cinquenta, serão cem. Não devem faltar As mil e uma noites, Dostoiévski, Thomas Mann, Balzac, Adonias, Conrad, Jorge de Lima, Poe, García Márquez, Cervantes, Alencar, Camões, Dumas, Dante, Shakespeare, Wassermann, Melville, Flaubert, Graciliano, Borges, Tchekhov, Sófocles, Machado, Schnitzler, Carpentier, Calvino, Rosa, Eça, Perec, Roa Bastos, Onetti, Boccaccio, Jorge Amado, Benedetti, Pessoa, Kafka, Bioy Casares, Asturias, Callado,Rulfo, Nelson Rodrigues, Lorca, Homero, Lima Barreto, Cortázar, Goethe, Voltaire, Emily Brontë, Sade, Camilo Castelo Branco, Arregui, Verissimo, Bowles, Faulkner, Maupassant, Tolstói, Proust, Autran Dourado, Hugo, Zweig, Saer, Kadaré, Márai,Henry James, Stendhal, Castro Alves, Camus, Hemingway, Steinbeck, Herculano.
 III - Nunca leia sem dicionário. Se estiver lendo deitado, ou num ónibus, ou na praia, ou em qualquer outra situação imprópria, anote as palavras que  não conhece, para consultar depois. Elas nunca são escritas por acaso.
 IV - Perca menos tempo diante do computador, da televisão, dos jornais e crie um sistema de leitura, estabeleça metas. Se puder ler um livro por mês, dos 16 aos 75 anos, terá lido 720 livros. Se, no mês das férias, em vez de um, puder ler quatro, chegará nos 900. Com dois por mês, serão 1.440. À razão de um por semana, alcançará 3.120. Com a média ideal de três por semana, serão 9.360. Serão apenas 9.360. É importante escolher bem o que  vai ler.
 V - Faça do livro um objecto pessoal, um objecto íntimo. Escreva nele; assinale as frases marcantes, as passagens que o emocionam. Também é importante criticar o autor, apontar falhas e inverosimilhança. Anote telefones e endereços de pessoas proibidas, faça cálculos nas inúteis páginas finais. O livro é o mais interactivo dos objectos. Você pode avançar e recuar, folheando, com mais comodidade e rapidez que mexendo em teclados ou cursores de tela. O livro acompanha-o ao banheiro e à cama. Vai consigo de metro, de ónibus, e de táxi. Vai consigo para outros países. Há apenas duas regras básicas: use lápis; e não empreste.
VI - Não se deixe dominar pelo complexo de vira-lata. Leia muito, leia sempre a literatura brasileira ( e portuguesa).* Ela está entre as grandes. Temos o maior escritor do século XIX, que foi Machado de Assis; e um dos cinco maiores do século XX, que foram Borges, Perec, Kafka, Bioy Casares e Guimarães Rosa. Temos um dos quatro maiores épicos ocidentais, que foram Homero, Dante, Camões e Jorge de Lima. E temos um dos três maiores dramaturgos de todos os tempos, que foram Sófocles, Shakespeare e Nelson Rodrigues.
 VII - Na natureza, são as espécies muito adaptadas ao próprio habitat que tendem mais rapidamente à extinção. Prefira a literatura brasileira ( e portuguesa)*, mas faça viagens regulares. Das letras europeias e da América do Norte vem a maioria dos nossos grandes mestres. A literatura hispano-americana é simplesmente indispensável. Particularmente os argentinos. Mas busque também o diferente: há grandezas literárias na África e na Ásia. Impossível desconhecer Angola, Moçambique e Cabo Verde. Volte também ao passado: à Idade Média, ao mundo árabe, aos clássicos gregos e latinos. E não esqueça o Oriente; não esqueça que literatura nenhuma se compara às da Índia e às da China. E chegue, finalmente, às mitologias dos povos ágrafos, mergulhe na poesia selvagem. São eles que estão na origem disso tudo; é por causa deles que estamos aqui.
 VIII - Tente evitar a repetição dos mesmos géneros, dos mesmos temas, dos mesmos estilos, dos mesmos autores. A grande literatura está espalhada por romances, contos, crónicas, poemas e peças de teatro. Nenhum género é, em tese, superior a outro. Não se preocupe, aliás, com o conceito de género: história, filosofia, etnologia, memórias, viagens, reportagem, divulgação científica, auto-ajuda – tudo isso pode ser literatura. Um bom livro tem de ser inteligente, bem escrito e capaz de provocar alguma espécie de emoção.
 IX - A vida tem outras coisas muito boas. Por isso, não tenha pena de abandonar pelo meio os livros desinteressantes. O leitor experiente desenvolve a capacidade de perceber logo, no máximo em 30 páginas, se um livro será bom ou mau. Só não diga que um livro é ruim antes de ler pelo menos algumas linhas: nada pode ser tão estúpido quanto o preconceito.
 X - Forme seu próprio cânone. Se não gostar de um clássico, não se sinta menos inteligente. Não se intimide quando um especialista diz que determinado autor é um génio, e que o livro do génio é historicamente fundamental. O facto de uma obra ser ou não importante é problema que tange a críticos; talvez a escritores. Não leve nenhum deles a sério; não leve a literatura a sério; não leve a vida a sério. E faça o seu próprio decálogo: neste momento,  será um leitor.
*anotação do administrador deste blog
Yiu Rojas
2- Decálogo do autor
Por Miguel Sanches Neto
 Depois de leitor, pode- se tornar, então, escritor– embora, pasme, muitos hoje pulem a leitura, por julgá-la dispensável, e já desejem publicar
I - Não fique mandando os seus originais para todo mundo. Acontece que  escreve para ser lido extramuros, e deseja testar a sua obra num terreno mais neutro. E não quer ficar a vida inteira escrevendo apenas para uma pessoa. O que fazer então para não virar um chato? No passado, eu aconselharia mandar os textos para jornais e revistas literárias, foi o que eu fiz quando era um iniciante bem iniciante. Mas os jovens agora têm uma arma mais democrática. Publicar na internet. Há muitos espaços colectivos, uma liberdade de inclusão de textos novos e você ainda pode criar seu próprio site ou blog, mas cuidado para não incomodar as pessoas, enviando mensagens e avisos para que o leiam.
II - Publique os seus textos em sites e blogs e deixe que sigam o rumo deles. Depois de um tempo publicando electronicamente, você vai encontrar alguns leitores. Terá de ler os textos deles, e dar opiniões e fazer sugestões, mas também receberá muitas dicas.
 III - Leia os contemporâneos, até para saber onde é o seu lugar. Existe um batalhão de internautas ávidos por leitura e em alguns casos atingirá o alvo e terá acontecido a magia de um texto encontrar a pessoa que o justifica. Mas todo texto escrito na internet sonha um dia virar livro. Sites e blogs são etapas, exercícios de aquecimento. Só o livro impresso dá status autoral. O que fazer quando eu tiver mais de dois gigas de textos literários? Está na hora de publicar um livro maior do que Em busca do tempo perdido? Bem, é nesse momento que pode continuar sendo um escritor iniciante comum ou subir à categoria de iniciante com experiência. Terá que reduzir essas centenas e centenas de páginas a um formato razoável, que não tome muito tempo de leitura de quem, eventualmente, se interessar por um livro de estreia. Para isso,terá de ser impiedoso, esquecer os elogios da mulher e dos amigos e seleccionar o seu produto, trabalhando duro para que fique sempre melhor.
 IV - Considere apenas uma pequenina parte de toda a sua produção inicial, e invista na revisão dela, sabendo que revisar é cortar. O livro está pronto. Não tem mais do que 200 páginas, você dedicou anos a ele e ainda continua um iniciante. Mas um iniciante responsável, pois não mandou logo imprimir as suas obras completas com não sei quantos tomos, logo que talvez nem tenha completado 30 anos. Mas quer fazer circular a sua literatura de maneira mais formal. Quer o livro impresso. E isso é hoje muito fácil. Conhece um amigo que conhece uma gráfica digital que faz pequenas tiragens e parcela em tantas vezes. O livro está pronto. E anda sobrando um dinheirinho, é só economizar na cerveja.
V - Gaste todo seu dinheiro extra em cerveja, viagens, restaurantes e não pague a publicação do próprio livro. Se  fizer isso, ficará novamente ansioso para mandar a todo mundo o volume, esperando opiniões que vão comparar o seu trabalho ao dos mestres. O livro impresso, mesmo quando auto-impresso, dá esta sensação de poder. Somos enfim Autores. E podemos montar frases assim: Borges e eu valorizamos o universal. Do ponto de vista técnico, Borges e eu estamos no mesmo nível: produzimos obras impressas; mas a comparação não vai adiante. Então como publicar o primeiro livro se não conhecemos ninguém nas editoras? E aí começa um outro problema: procurar pessoas bem postas em editoras e solicitar apresentações. Na maioria das vezes isso não funciona. E, mesmo quando o livro é publicado, ele não acontece, pois foi um movimento artificial.
VI - Nunca peça a ninguém para indicar o seu livro a uma editora. Se por acaso um amigo conhece e gosta de seu trabalho, ele vai fazer isso naturalmente, com alguma chance de sucesso. Tente fazer tudo sozinho, como se não tivesse ninguém mais para o ajudar do que o seu próprio livro. Sim, este livro em que colocou todas as suas fichas. E como só pode contar com ele...
 VII - Mande o livro a todos os concursos possíveis e a editoras bem escolhidas, pois cada uma tem seu perfil editorial. É melhor gastar o seu dinheiro com selos e fotocópias do que com a impressão de uma obra que não será distribuída e que terá de ser enviada a quem não a solicitou. Enquanto isso, dedique-se a actividades afins para controlar a ansiedade, porque essas coisas de literatura demoram, demoram muito mesmo. Pode traduzir textos literários para consumo próprio ou para jornais e revistas, pode fazer resenhas de obras marcantes, ler os clássicos ou simplesmente manter um diário íntimo. O importante é se ocupar. Com sorte e tendo o livro alguma qualidade além de ter custado tanto esforço, ele acaba publicado. Até o meu terminou publicado, e foi quando me tornei um iniciante adulto. Tinha um livro de ficção no catálogo de uma grande editora. E aí tive de aprender outras coisas. Há centenas de livros de iniciantes chegando aos jornais e revistas para resenhas e uma quantidade muito maior de títulos consagrados. E a maioria vai ficar sem espaço nos jornais. E é natural que os exemplares distribuídos para a imprensa acabem nos sebos, pois não há resenhistas para tantas obras.
 VIII - Não force os amigos e conhecidos a escrever sobre o seu livro. Não quer dizer que eles não possam escrever, podem sim, mas mande o livro e, se eles não acusarem recebimento ou não comentarem mais o assunto, esqueça e não lhes queira mal, eles são nossos amigos mesmo não gostando do que escrevemos. Se um ou outro amigo escrever sobre o livro, festeje mesmo se ele não entender nada ou valorizar coisas que não julgamos relevantes em nosso trabalho. E mande umas palavras de agradecimento, pois você teve enfim uma apreciação. E se um amigo escrever mal de nosso livro, justamente dessa obra que nos custou tanto? Se for um desconhecido, ainda vá lá, mas um amigo, aquele amigo para quem  fez isso e aquilo.
 IX - Nunca passe recibo às críticas negativas. Ao publicar se torna uma pessoa pública. E deve absorver todas as opiniões, inclusive os elogios equivocados. Deixe que as opiniões se formem em torno de seu trabalho, e talvez a verdade suplante os equívocos, principalmente se a verdade for que nosso trabalho não é lá essas coisas. O livro está publicado,  já pensa no próximo, saíram algumas resenhas, umas superficiais, outras negativas, uma muito correcta. É então um iniciante com um currículo mínimo. Daí, recebe a prestação de contas da editora, dizendo que, no primeiro trimestre, as devoluções foram maiores do que as vendas. Como isso é possível? Vejam quantos livros a editora mandou de cortesia. Eu não posso ter vendido apenas 238 exemplares se, só no lançamento, vendi 100, o gerente da livraria até elogiou – enfim uma vantagem de ter família grande.
 X - Evite reclamar de sua editora. Uma editora não existe para reverenciar nosso talento a toda hora. É uma empresa que busca o lucro, que tem dezenas de autores iguais a nós e que quer ter lucro com nosso livro, sendo a primeira prejudicada quando ele não vende. Não precisamos dizer que é a melhor editora do mundo só porque nos editou, mas é bom pensar que ocorreu uma aposta conjunta e que não se alcançou o resultado esperado. Mas que há oportunidades para outras apostas e, um dia, quem sabe...Foi tentando seguir estas regras que consegui ser o autor iniciante que hoje eu sou.
Yiu Rojas
3- Decálogo do crítico
Por Michel Laub
Ler por obrigação, ganhar pouco, ser odiado por autores criticados ou ignorados. Ante tantos dissabores, saiba para que serve, afinal, fazer crítica literária
 I - Um bom começo pode ser a leitura de O imperador do vinho, de Elin McCoy, a biografia do americano Robert Parker. Trata-se da figura mais polémica do universo milionário da enologia. Uma nota alta na The Wine Advocate, a sua newsletter, é capaz de enriquecer um fabricante; uma nota baixa pode significar a falência. O olfacto de Parker é segurado em cerca de US$ 1 milhão. Ao longo dos anos, percebeu-se que ele gostava de vinhos frutados. Muitas propriedades, até algumas tradicionais da França, passaram a chamar especialistas para estudar o solo, mudar a forma do plantio e da colheita, tudo para colher uvas que originassem vinhos adequados a esse gosto.
 II - Saiba que esse talvez seja o exemplo máximo de crítico bem-sucedido no mundo de hoje – rico de facto, influente de facto, uma presença de facto essencial no seu meio. Quase todos os outros profissionais da categoria, trabalhem eles com música, cinema, gastronomia, televisão ou concursos de beleza, estão bem mais próximos da figura descrita por George Orwell em Confissões de um resenhista: “Trinta e cinco anos, mas aparenta cinquenta(...) [trabalha num] conjugado frio, mas abafado (...). Dos milhares de livros que aparecem todo ano, é quase certo que existam 50 ou 100 sobre os quais teria prazer em escrever. Se for de primeira categoria na profissão, pode conseguir dez ou vinte. É mais provável que consiga dois ou três”.
III - Ou seja, prepare-se para uma actividade enfadonha e mal-remunerada. Você lerá só por obrigação. Nunca mais irá atrás de um livro indicado por um amigo. Nunca mais fechará um livro com a sensação de que, para o bem ou para o mal, não há nada a dizer sobre ele. Porque sempre haverá o que dizer. Se não houver, as contas não são pagas.
 IV - Não se preocupe, porém. Há muitos truques para encher essas páginas em branco. Se quer desancar um livro e não sabe como, recorra a alguns adjectivos algo abstractos em se tratando de literatura, mas ainda assim úteis numa resenha. A timidez, por exemplo. Argumente que o autor não explora suficientemente os conflitos de sua obra. Afinal, explorar conflitos é uma tarefa que não tem fim, e há um momento em que todo autor, por mais extrovertido que seja, precisa parar. Outros chavões sempre à mão: excesso de objectividade ,excesso de subjectivismo, excesso de frieza, excesso de dramaticidade. A categoria das “ideias fora de lugar”, deslocada de seu contexto original, também ajuda bastante. Um romance correcto, instigante e envolvente pode ser atacado por reproduzir um modelo “burguês” de contar histórias, incompatível com o nosso tempo. Um romance sem essas características pode ser destruído, justamente, por ser mal-escrito e não envolver o leitor.
 V - Para o caso contrário, isto é, se quer elogiar um livro que acha ruim – o das linhas finais do item IV, por exemplo –, há dois recursos clássicos: a) em relação à prosa desagradável, escatológica e/ou ilegível, diga que ela reproduz o incómodo e a irredutibilidade de sentidos do mundo contemporâneo; b) em relação à trama caótica e fragmentária, quando não se entende o que é início, o que é fim e do que é mesmo que estamos falando, afirme que a maçaroca reproduz, como uma “metáfora estrutural”, o caos fragmentário da sociedade pós-industrial.
VI - Usando desses truques, está pronto para fazer nome devido à afinação com o vocabulário crítico de sua época. Mas se, por um desses acasos raros,  está decidido a realmente dizer o que pensa, há também dois caminhos a seguir. O primeiro é confiar cegamente nos seus juízos pessoais, não temendo a exposição de seus preconceitos íntimos em público. Assim,  terá mais chances de ser considerado um sujeito ranheta, excêntrico e/ou pervertido.
 VII - O segundo caminho é considerar-se porta-voz de um “sistema”, para o qual são válidas mesmo obras que não são do seu agrado (por questões sociológicas, por exemplo). Mesmo que os motivos sejam nobres – a sua humildade para não se considerar o juiz definitivo sobre o que é ou não relevante em termos estéticos –, há boas probabilidades de  ser visto como um crítico sem alma, sem coragem, sem graça.
 VIII - Independentemente de sua escolha, é inevitável que seja desprezado. Todos dirão que seu desejo secreto era ser ficcionista ou poeta, que é leviano demais, complacente demais, que tem algum interesse obscuro – ascender na carreira, agradar aos pares da universidade, arrumar um(a) namorado(a) – ou está a soldo de alguma entidade obscura – grupos literários rivais, editores, maçons, seitas religiosas, partidos políticos de esquerda (se  escrever numa pequena publicação) ou de direita (se receber salário de alguma corporação de media).
IX - Mais que isso: será odiado. Pelos autores que desanca. Pelos autores que  ignora. Pelos autores que  elogia (os motivos serão sempre os errados, na opinião deles). Pelos outros críticos. Por boa parte do público, mesmo por aquele que o lê com frequência.
X - Mas se, apesar de tudo isso,  ainda insiste em abraçar a profissão, é bom se perguntar o motivo. Quando criança, usando o olfacto, Robert Parker era capaz de listar todos os ingredientes dos pratos que estavam sendo cozinhados na vizinhança, habilidade que o tornaria um campeão absoluto dos “testes cegos” de identificação de uvas e safras. Isso se chama vocação. É o seu caso? Sente-se preparado para conjugar erudição e capacidade interpretativa em tamanha escala? Sendo a resposta afirmativa, trata-se de uma óptima notícia. Não só para si, que talvez tenha achado um modo honesto de ganhar a vida, mas para o próprio meio literário. Porque não há nada de que ele necessite mais, hoje ou em qualquer tempo: alguém que o ajude a firmar tendências, corrigir rumos, separar o joio do trigo. Diferentemente do que se diz, um crítico autêntico não é apenas o advogado do público. Ele é, em última instância, o maior defensor da própria literatura.” in Revista Entrelivros ( Brasil).

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Cem anos de Vergílio Ferreira

Toda a arte é uma recuperação da vida através do que se lhe julga essencial, perfeito, unificado. O seu domínio sobre a realidade restringe-se a uma criação de sinais que não anulam a realidade, antes a afirmam muitas vezes (e para o sentir do verdadeiro artista, sempre) com uma força maior.
Vergílio Ferreira, in Do mundo original,Pp. 245-246.

Vergilio Ferreira completaria , hoje, cem anos. Nasceu em Melo, aldeia do concelho de Gouveia, no dia 28 de Janeiro, filho de António Augusto Ferreira e de Josefa Ferreira. "A ausência dos pais, emigrados nos Estados Unidos, marcou toda a sua infância e juventude. Após uma peregrinação a Lourdes, e por sugestão dos familiares, frequenta o Seminário do Fundão durante seis anos. Sai para completar o Curso Liceal na cidade da Guarda.Ingressa, em 1935, na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, onde concluirá o Curso de Filologia Clássica, em 1940. Dois anos depois, terminado o estágio no liceu D. João III, nessa mesma cidade, parte para Faro onde iniciará uma prolongada carreira como docente, que o levará a pontos tão distantes como Bragança, Évora ou Lisboa."
É dia de o recordar. Escritor laborioso teceu uma obra volumosa distribuída por diferentes géneros. 
Em jeito de homenagem, apresentamos algumas notas e dois documentários sobre este importante homem da Literatura Portuguesa. 
Vergílio Ferreira
Vergílio Ferreira (1916-1997)
Por Pedro Calafate
"Vergílio Ferreira iniciou a sua actividade literária na década de quarenta do século XX.
Seduzido pela força do neorealismo, sofrerá uma sensível mudança que o tornou marginal à ideologia marxista, mas que o afastará também do catolicismo. O que essencialmente o fez mudar, como ele próprio escreveu, não foi a aspiração ao humanismo e à justiça, mas um conceito prático de justiça e de humanismo, pois que se os modos de concretização de um sonho podem sofrer correcção, não o sofreu neste caso, a aspiração que visava concretizar. Transparecia seguramente nesta mudança.
O que seja esse equilíbrio ele no-lo diz, remetendo-o para o insondável e incognoscível de nós, um substrato gerado ao longo dos infinitos acidentes, encontros e desencontros e que nos surge como anterioridade radical às nossas escolhas e opções. Por isso "o impensável e o indiscutível subjaz a todo o pensar, e para lá dele, ao sentir", sendo sobre esse impensável que se nos organiza a harmonia do pensar, que ulteriormente tentamos explicar ou demonstrar com a disciplina da razão. Este é um dos temas mais recorrentes no pensamento de VF, a que já se referira na sua mais importante obra filosófica, a Invocação ao meu Corpo, ao considerar que "há duas zonas no homem que são a das origens e a da concretização, a do indizível e a do dizível, a do absoluto e a da redutibilidade".
Daí a relevância do tema da "aparição", consentânea com a revelação momentânea de uma verdade que em nós se pode gerar lentamente, mas cujo momento culminante tem quase sempre o instantâneo da estrada de Damasco e a dimensão fulgurante do mistério. "O mistério e o seu alarme são o tecido de tudo", dirá em Carta ao Futuro (1957).
Daí também o estatuto da arte, ao longo de toda a sua obra: o mundo da arte é o mundo da aparição, o mundo inicial. A arte será, como disse, "o arauto do impensável, ou o lugar onde se lhe vê a face, cabendo ao filósofo explicitá-la em pensamento", ou, noutra afirmação não menos explícita: "a arte inscreve no coração do homem o que a vida lhe revelou sem ele saber como, e o filósofo transpõe a notícia ao cérebro, na obsessiva e doce mania de querer ter razão", repetindo aqui uma ideia que sempre lhe foi cara: a de que a filosofia é um pobre sobejo do milagre da arte, e vem depois, já tarde, "como os corvos ao cadáver", pois que, como escreveu em Invocação ao meu Corpo, "todo o pensar é póstumo ao que se é, à aparição da verdade essencial, da revelação do originário. Por isso é que a filosofia é uma aventura perene como a arte. Cada filósofo recupera esse espanto inicial, de interrogação suspensa, degradando-a em pergunta quando lhe reponde com razões", deixando patente que a degradação a que se refere se reporta a uma filosofia de matriz racionalista.
A arte não interpreta, revela; não explica, mostra o lado oculto do homem, por isso, em arte, saber é comover-se. Já em Espaço do Invisível III afirmara a mesma tese, em justificação do título: "mas se em todo o horizonte está presente um horizonte que o margina, até um horizonte final, se na mais breve palavra está o aviso do insondável, se o espaço do invisível se anuncia no do visível, é na obra de arte que mais presente e visível se nos revela o invisível".
Em todo o caso, dando corpo a um pensamento de base existencialista, emerge o primado do sentir, "o essencial não é para se pensar mas para se sentir", que nos diz que "a verdade é amor", pelo que é a verdade emotiva a primeira e a última que nos liga ao mundo.
Daí também um dos seus temas preferidos, o das "verdades de sangue": um autor que se admira mas que se não ama, "vai para o lado de nós, onde o sangue não circula ou é uma aguadilha", ou, como dirá em Do Mundo Original, "uma verdade só interfere na vida quando o sangue a reconhece", pelo que uma razão ajuda, mas não decide uma receptividade.
E daí de novo a arte, inclusive a arte que lhe coube, que foi a da escrita, a do romance lírico, onde as coisas adquirem a sua essencialidade, a sua verdade emotiva, tornando visível o mistério.
Mistério e espanto perante o estremecimento íntimo das coisas em nós. Aí , a raíz da atitude lírica que integrará na sua actividade romanesca, fazendo do romance o lugar de cruzamento entre o lirismo e a reflexão filosófica de vertente existencial, na convicção, por si afirmada, de poder perfeitamente escoar em prosa a poesia que lhe coube, e com a preocupação acrescida de teorizar em ensaios múltiplos - apesar das suas invectivas contra a pobreza da razão - as questões apresentadas ficcional e literariamente.
Todavia, o cântico ao homem é à sua irredutibilidade individual que tanto o afastou do estruturalismo e nele via a morte do homem, o cântico ao homem que assistiu à morte de Deus, tragicamente vivida em Manhã Submersa, e se colocou no seu altar com a força iluminadora que de si próprio descobriu irradiar, coexiste com a amarga experiência da desagregação dos valores artísticos, sociais, históricos e ideológicos. Entre todos, a morte da arte é a que assume a dimensão mais trágica, uma morte que é autodestruição, e que justifica muita da frieza que empresta aos seus últimos romances, nomeadamente em Para Sempre.
Ao tema regressará em Pensar, numa comparação singela do aldeão que sempre foi: "Dar um sentido à vida. Para lho darem aos domingos, quando não trabalham, os campónios da aldeia embebedam-se e dão-se facadas. A arte do nosso tempo sabe-o e faz o mesmo". Entre os quatro grandes mitos modernos, Acção, Erotismo, Arte e Deus, foi a morte da Arte que mais o ocupou, a par da morte de Deus. A arte moderna esquecera o "mundo original", autonomizara as formas e divorciara-se do homem?
Em todo o caso, o tema essencial de toda a sua obra foi certamente o da procura do sentido da existência num universo sem sentido, fazendo-o navegar no que Eduardo Lourenço chamou um "niilismo criador" e um "humanismo trágico", explorando até à exaustão o tema do "eu", ao mesmo tempo eterno e inscrito na finitude, a mesma finitude que o embrenha na temática da morte, num homem que heroicamente, e também angustiadamente, suporta o desafio da finitude.
"Tenho a corrupção lenta do tempo, tenho a eternidade a executar". Eis, numa breve expressão de Rápida a Sombra, a dimensão trágica do seu pensar, onde se desenrola uma intensa reflexão sobre o corpo e a morte. Há em todo o homem são um impulso para um mais daquilo que se é no presente, e que jamais se alcança, ou que se sabe jamais poder alcançar-se ("um apelo ao máximo" que vem do máximo que o homem é), num processo infindo a que só o absurdo da morte põe termo: "Na profundidade de nós, o nosso eu é eterno, e todavia é justamente o corpo que nos contesta a eternidade". Todavia, em Invocação ao meu corpo, VF pretendeu divinizar o corpo, naquele sentido em que o "homem é espírito e corpo", e por isso realiza o espírito no corpo ou é corpo espiritualizado, estando todo o homem nele "como um Deus panteista".
No entanto, novo conflito deflagra entre essa exaltação divinatória, e a consciência trágica da sua corruptibilidade e da sua objectiva degradação, lançando o homem na angustiante consciência da sua "infinitude limitada", e ao mesmo tempo no plano heróico de saber que a morte o espera, devendo viver "como se ela não contasse", ou, como escreveu em Nítido Nulo: "viver a eternidade e, num momento de distracção, cortarem-la rente.
Obras
O Caminho Fica Longe, 1943; Onde Tudo Foi Morrendo, 1944; Vagão J, 1946; Mudança, 1949; A Face Sangrenta, 1953; Manhã Submersa, 1954; Carta ao Futuro 1958; Aparição, 1959; Cântico Final, 1960; da Fenomenologia a Sartre, 1962; Introdução a O Existencialismo é um Humanismo, de Jean Paul Sartre, 1962; Estrela Polar, 1962; Apelo da Noite, 1963; Alegria Breve, 1965; Do Mundo Original, 1957; Invocação ao meu corpo, 1969; André Malreaux -- Interrogação ao Destino, 1963; Espaço do Invisível, 4 volumes, 1965- 76- 77- 87; Nítido Nulo, 1971; Apenas Homens, 1972; Rápida a Sombra, 1974; Contos, 1976; Signo Sinal, 1979; Para Sempre, 1983; Até ao Fim, 1987; Pensar, 1992; Conta-Corrente, cinco volumes, 1980-1988; Carta a Sandra, 1997 (edição póstuma)
Bibliografia: Eduardo Lourenço, "Vergílio Ferreira e a Geração da Utopia", em O Canto e o Signo. Existência e Literatura, Lisboa, 1993; id., "O itinerário de Vergílio Ferreira", ibidem; id. Mito e obsessão na obra de Vergílio Ferreira", ibidem; id., "Sobre Mudança" ibidem; id., "Vergílio Ferreira -- Do alarme ao júbilo" ibidem; id., "Pensar Vergílio Ferreira", ibidem; id., "Desesperadamente, alegria", ibidem; António Quadros, "Vergílio Ferreira", em Logos-Enciclopédia Luso-Brasileira de Filosofia, Lisboa-São Paulo, 1989-92; Rosa Goulart, O Romance Lírico de Vergílio Ferreira, Lisboa 1990; Eduardo Prado Coelho, "Signo Sinal, ou a resistência do invisível", em Colóquio/Letras, 54 (1980); Jacinto do Prado Coelho, "Vergílio Ferreira um estilo de narrativa à beira do intemporal", em Ao contrário de Penélope, Lisboa 1976; Maria Lúcia Dal Farra, O narrador ensimesmado, São Paulo, 1978; João Décio, Vergílio Ferreira: a ficção e o ensaio, São Paulo, 1977; Helder Godinho, O universo imaginário de Vergílio Ferreira, Lisboa, 1985; id., Estudos sobre Vergílio Ferreira, Lisboa, 1982; José Luis G. Laso, Vergílio Ferreira -- espaço simbólico e metafísico; Lisboa, 1989; Maria da Rosa Padrão, Um Escritor Apresenta-se, Lisboa, 198; José de Almeida Pavão, "Entre o neo-realismo e a problemática metafísica em Vergílio Ferreira", em Arquipélago, Série Línguas e Literaturas, IX, 1987; Alexandre Pinheiro Torres, "Entrada no universo angustiado de Vergílio Ferreira", em Romance: o mundo em equação, Lisboa, 1967."
Pedro Calafate, IC
Vergílio Ferreira

Quanto ao diarismo, em que também existo, foi deliberado a certa altura. /.../ Inventei-
o à medida que o realizava. De todo o modo, foi-me das margens de ir sendo.
Vergílio Ferreira, in Conta-Corrente
As histórias que nós contamos não são um meio de nelas revermos a nossa vida, mas um desesperado esforço para que nos possamos rever. Não são a síntese de uma constatação, mas uma forma de podermos constatar.
Vergílio Ferreira, in Invocação ao meu Corpo,Lisboa, 1969, p.46.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

A grande voz do mar

"Quando regresso do mar venho sempre estonteado e cheio de luz que me trespassa. Tomo então apontamentos rápidos – seis linhas – um tipo – uma paisagem. Foi assim que coligi este livro, juntando-lhe algumas páginas de memórias. Meia dúzia de esboços afinal, que, como certos quadrinhos do ar livre, são melhores quando ficam por acabar. Estas linhas de saudade aquecem-me e reanimam-me nos dias de Inverno friorento. Torno a ver o azul, e chega mais alto até mim o imenso eco prolongado... Basta pegar num velho búzio para se perceber distintamente a grande voz do mar. Criou-se com ele e guardou-a para sempre. – Eu também nunca mais a esqueci..." 
Raul Brandão, in "Os Pescadores - Introdução", 1923, Verbo

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

A nossa vida é uma viagem

Avª. Marginal, Lourenço Marques- Moçambique
"Eugénio Lisboa, Doutor Honoris Causa pela Universidade de Aveiro e professor dessa Universidade, entre 1996 e 2002, foi homenageado com a edição de um livro, “Eugénio Lisboa: vário, intrépido e fecundo – Uma Homenagem”, lançado a 22 de Outubro de 2011, na Universidade de Aveiro, por ocasião do seu 80º aniversário.
Leitor omnívoro e possuidor de vastíssima cultura, Eugénio lê furiosamente. Lê de tudo porque tudo se dispõe a aprender. E, se privilegia a literatura, é porque acreditou sempre nela como meio especialmente capaz de penetrar na realidade poliédrica do mundo, feita não apenas de números e ideias, mas também das emoções que a arte permite fundir num todo”, escrevem, na introdução ao livro, Otília Martins, professora da Universidade de Aveiro, e Onésimo Teotónio de Almeida, professor da Brown University, responsáveis pela organização do volume que reúne 70 contributos de outras tantas personalidades. Eis o singular – e inspirador – percurso deste intrépido visitante das duas culturas, num texto escrito pela sua própria mão e lido no final da apresentação do livro “Eugénio Lisboa: vário, intrépido e fecundo – Uma Homenagem”, editado pela Opera Omnia.
A NOSSA VIDA É UMA VIAGEM
Por  Eugénio Lisboa
"Mas é uma viagem com muitas viagens dentro. Não é por isso uma viagem arrumada, limpidamente euclideana, com um guião rectilíneo impecável. É uma viagem aos trambolhões, cheia de sobressaltos e de objectivos não realizados, cheia de fracassos e, até, de alguns acertos.
A primeira vez que sonhei com este conceito de viagem foi na minha adolescência, em Lourenço Marques (Moçambique): como era bom aluno, sabia que meu pai tudo faria para me mandar para Portugal, para aqui tirar um curso, uma vez concluído o liceu, naquela cidade do Índico.
Lourenço Marques

Nessa altura (anos quarenta, do século passado), não havia viagens de avião entre Lourenço Marques e Lisboa. Por isso, teria que viajar de barco, durante cerca de um mês. Ia fazer grande parte do percurso que fizera Vasco da Gama, contado nos Lusíadas, que os bons professores do liceu laurentino não me tinham feito odiar. A eles – a estes notáveis professores, a quem rendo homenagem de gratidão – devo não ter preferido as ciências às letras nem o seu inverso. Gostei de tudo e o único problema, ao longo da minha vida, foi o embaraço da escolha ou, antes, a estúpida impossibilidade da escolha. Se me perguntassem: “De qual gostava mais: da álgebra, da geometria de Euclides ou das letras?”, teria respondido com a inocência lúcida das crianças: “Gosto mais das três”.
A viagem, começada em 10 de Setembro de 1947 e terminada, com a chegada a Lisboa, em 5 de Outubro (25 dias), deu-me o gosto deslumbrado das viagens e a suspeita de que esta era apenas um antegosto de uma viagem maior e mais turbulenta, que está agora muito perto de terminar. Nessa outra e mais pequena viagem – com muita gente diversa concentrada na pequena superfície de um navio – comecei a perder alguma inocência e adquiri, com espanto e sofrimento, temperados de ironia e cepticismo, alguma incipiente sabedoria. Aprendi até o amargo desencanto da chegada, ao verificar que Lisboa me pareceu quase repulsiva por ter o enorme e irredimível defeito de não ser Lourenço Marques. Quando se sai de um ninho, o lugar que se encontra a seguir não resiste nunca à comparação.
Depois, habituei-me a Lisboa, resignei-me e, com o tempo, acabei mesmo por me render aos seus encantos, aos seus recursos e à sua beleza. Mas não perdi nunca o amor fundo pela terra onde nasci e onde voltei, concluído o curso, para ali ficar mais vinte e um anos inesquecíveis: de convívios estimulantes, de aventuras profissionais e culturais, de emoções aquecidas ao rubro, de leituras, que o tempo, dilatado pelo calor, permitia com abundância. E havia o Índico que inculcava a olhos vistos, grandeza e viagem.
O Instituto Superior Técnico, onde fizera o curso de engenharia electrotécnica, era uma escola de grande prestígio, mas nem tudo era ouro, na altura em que o frequentei. Se havia ainda professores  como Mira Fernandes, António da Silveira, Ferreira Dias, Moncada, gente de grande gabarito, abundava também um verdadeiro enxame de mediocridades confrangedoras que nos davam vergonha de lhes frequentar as aulas. Tive dali momentos bons e até invulgares, alguns inesquecíveis, mas na generalidade, a frequentação das aulas era deprimente e, em não poucos casos, a solução era não ir lá e estudar em casa ou, em vez disso, ler Proust e Stendhal, de bem melhor alimento...
Saído definitivamente de Moçambique em Março de 1976, e após um total de 38 anos lá vividos, devido a mudanças que eram inevitáveis e desejadas, mas que não trouxeram, inevitavelmente de começo, as soluções mais apropriadas, a viagem continuou por Joanesburgo, Paris, Estocolmo, Londres (17 anos) e, finalmente, Lisboa e Aveiro. Deixar o Índico não foi fácil: terra de estudo, trabalho, amores e amizades, ali sentira – e isso, nada mo tira – “embalado no berço das profundidades” marítimas, para citar uma senhora que provavelmente nunca lá esteve. Joanesburgo significou o deliberado mergulho na técnica nua e crua, alheado de vez dos problemas e dramas da gestão a quente dos humanos, em tempos de mutação política, social e profissional, como fora o último ano e meio, em Moçambique: sem tempo para reflectir e muito menos para dormir. Estocolmo foi o sanatório, a utopia, o ter tempo para tudo, para pensar, para escrever (dois livros, no ano que ali passei, com dias de um sol prolongado quase até à meia-noite), para pensar no que diria ser a minha vida, no regresso a um Portugal desarrumado, empobrecido, mal fichu, cheio de utopias e de cofres vazios. Caiu-me inesperadamente no colo uma oferta feita por esse príncipe da cultura, que foi David Mourão-Ferreira: ir para Londres, como Conselheiro Cultural da Embaixada de Portugal, solução quase miraculosa para o buraco negro que se me abria à frente. Fui – e foram dezassete anos fabulosos de Inglaterra. Mas, de que Inglaterra? Eis a grande questão! É que a Inglaterra é, no espírito das pessoas, muito mais do que aquilo que é realmente a Inglaterra. Esse estrangeiro George Mikes, um dos grandes escritores cómicos do século XX, que se tornou inglês, para ser capaz de os caracterizar e deles troçar como poucos, nessa obra-prima de humor britânico que é o livro How to be an Alien (1946), observa, a certa altura, com muita justeza: “Quando as pessoas dizem Inglaterra, querem, às vezes, dizer Grã-Bretanha, às vezes Reino Unido e, às vezes, Ilhas Britânicas – mas nunca querem dizer Inglaterra.”
Piccadilly Circus, Londres, Inglaterra

Se observar os suecos, me intrigava e, às vezes, me deprimia, observar os ingleses, os seus hábitos e costumes, deixava-me perplexo e divertia-me. Em primeiro lugar, os ingleses não cessam de se maravilhar com a grandíssima sorte que é ter-se nascido inglês! Enquanto o português só pensa em ser outra coisa, o inglês não concebe que se possa não ser inglês. A gabarolice não começou mas atingiu as proporções de medalha, com esse construtor de impérios, que se chamou Cecil Rhodes: “Lembra-te”, advertia ele, “que és um inglês e que, por conseguinte, te saiu o primeiro prémio na lotaria da vida.” E o impagável juiz Lord Denning, que ainda mexia, quando eu por ali andei, não fazia a coisa por menos, quando afirmava: “Há muitas coisas, na vida, mais meritórias que o dinheiro. Uma delas é ser criado e educado nesta nossa Inglaterra que é ainda a inveja de terras menos felizes.” Ser inglês é tão bom, que se sobrevive a todos os malefícios, incluindo o de uma culinária próximo de intragável: alguém dizia que a Inglaterra é o único país do mundo em que a culinária é francamente mais perigosa do que o sexo. Há ali, na terra de Dickens, de tudo e para todos os gostos. Há, eminentemente, o prazer indiscutível, para eles, de se manter a diferença de classes: “Sem a diferença de classes, a Inglaterra deixaria de ser o teatro vivo que ainda é,” observava Anthony Burgess, o celebrado autor de A Laranja Mecânica. Os ditos e dichotes, sobre os ingleses, abundam – e são, quase todos, ferinamente certeiros (e os ingleses adoram, masoquistamente, ver-se assim caricaturados). A culinária inglesa é o alvo predilecto de povos para os quais a comida é importante para o paladar, para o estômago e para a conversa. Assim, Domenico Caracciolo, governador da Sicília, observava, com não escondido desprezo: “Na Inglaterra, há sessenta religiões diferentes e um só molho.” A grande capacidade organizadora dos ingleses, que chega à mania, mas funciona admiravelmente – imaginem que uma coisa marcada para as quatro horas começa mesmo às quatro horas! – não se furta à caricatura: o impagável e já citado George Mikes, no seu clássico How to be an allien, observa: “Um inglês, mesmo quando está sozinho, forma logo uma bem ordenada fila de um.” Há várias maneiras de se pronunciar o inglês, as quais se desprezam mutuamente com alguma convicção. Por isso, Alan Jay Lerner, o co-autor de My Fair Lady, observava com humor certeiro: “O modo de um inglês falar classifica-o irremediavelmente. No momento em que fala leva logo outro inglês a desprezá-lo.” Mas ainda a melhor maneira de um estrangeiro ali viver é seguir a recomendação do escritor americano Henry James, que aconselhava: “É bom ter um pé na Inglaterra, ou, pelo menos tão bom, ter o outro fora dela."
Uma coisa que irrita ou, pelo menos, desassossega os estrangeiros que, como eu, ali foram abundantemente felizes, durante dezassete anos, é a chamada sobriedade inglesa. Reagem pouco e seco, mesmo aos maiores deslumbramentos cósmicos. O conhecido romancista E.M. Forster (A Passage to India), observava, a este respeito: “Um inglês não deve nunca expressar grande alegria ou tristeza, ou mesmo abrir demasiado a sua boca, enquanto fala – corre o risco de o seu cachimbo cair, se o fizer.” Também inquieta o meridional mais sanguíneo, notar a já aludida e não muito oculta tendência para um certo masoquismo cristão. Todos os anos, um ou mais britânicos de monta vão aos Estados Unidos, a convite, celebrar com humildade supostamente louvável, a coça que os americanos deram aos britânicos, na luta pela independência. E faz parte do protocolo serem submetidos ao mais acutilante ridículo e achincalhamento. É quase tão mau como as praxes nas universidades portuguesas. Mas os filhos de Albion sofrem tudo com um sorriso estóico e, se calhar, gostam. Como dizia o já citado E.M. Foster, “o inglês é incapaz de gostar de alguém que o não ponha K. O.” Seja como for, gosto dos ingleses, com todas as suas manias e tics, mesmo do seu formalismo um bocadinho hirto, que levou o impagável Bob Hope a dizer de um certo lugar: “O sítio é tão inglês, que eu não ficaria surpreendido se visse os ratinhos todos de monóculo.”
Foi numa Inglaterra mais ou menos assim (e não dei, da missa, metade...), que fui abundantemente feliz, durante dezassete anos, tentando mostrar aos ingleses, sempre desconfiados, que em Portugal havia alguma cultura não totalmente desprezível e, de caminho, abastecendo-me com a deles, que é muita, mesmo quando sabe a pouco. Fi-lo com a ajuda de muita gente, alguma na Embaixada, como, por exemplo, o meu amigo e excepcional diplomata Francisco Seixas da Costa, outra, fora da embaixada, como o meu amigo Kim Taylor, director da Gulbenkian, em Londres, e grande amigo e conhecedor das coisas lusas. Não vou maçar-vos com pormenores – direi, apenas, com sobriedade pilhada aos britânicos, que procurei não dormir em serviço. Um dia, nas minhas memórias – se os deuses deixarem – darei alguns exemplos. Para isso, não vai ser preciso dizer mal de ninguém e vai ser um privilégio e um prazer dizer bem de muita gente. Dei e recebi, com júbilo e sem cansaço, porque, como dizia o sábio Samuel Johnson, “quem está farto de Londres, está farto da vida”.
Lisboa, Portugal
De ali, em 1995, com a alma a sangrar, saí, de regresso a Lisboa. Não sangrava por vir para Lisboa, mas tão só por deixar Londres – onde havia o melhor teatro do mundo e o mais que aqui não vou dizer.
Depois foi a UNESCO e, ao fim de um ano, em acumulação que me atirou a tensão arterial para 19, a Universidade de Aveiro, entre 1996 e 2002. Aqui, nesta Universidade agora classificada internacionalmente como a melhor universidade portuguesa e uma das 400 melhores do mundo, conheci e fiz amizade com colegas, conheci e fiz amizade com alunos, conheci e fiz amizade com pessoas que não eram nem colegas nem alunos e fiz amizade com Aveiro, que é uma cidade lindíssima e o que, de Veneza, se pode aqui arranjar... Ensinei alguma coisa, aprendi muito e fui, como em Londres, extraordinariamente feliz. Dizia um bispo inglês, o bispo de Creighton, que “o único e verdadeiro objecto da educação é deixar uma pessoa em condições de fazer perguntas.” Também o penso e assim procurei fazer: como professor, como escritor, como conviva, busquei sempre incitar os meus alunos, os meus leitores, os meus amigos e convivas a não irem nisso, a pensarem por si, a exercerem o espírito crítico, a não aceitarem a tirania dos ventos que sopram (mesmo quando soprados por senhores de grande aparato e de alegado génio incontornável), a verificarem por si se, por acaso, o rei não vai nu. Infelizmente, nem as universidades (algumas, pelo menos), – esse terreno, por excelência, do debate e do exercício do espírito crítico – se têm revelado constantemente imunes à tirania da moda, do nome sonante (que é importante citar, para não parecer que se perdeu o comboio). Era talvez neste sentido que esse espírito arguto e intemerato, que foi Bertrand Russell, observava, com mais do que alguma justiça: “Deparamos [hoje] com o paradoxo de que a educação se tornou o principal obstáculo à inteligência e à liberdade de pensamento.” Contra tudo isto procurei lutar e precaver os meus alunos, porque eram meus alunos e porque viriam a ser cidadãos que eu gostaria de ver de espírito livre, galhardamente autónomo e corajoso: marimbando-se, regiamente, para os génios de serviço, os quais também debitam, no dia-a-dia, o seu par de egrégios disparates.
Ria de Aveiro ( Crepúsculo ),   por Carlos Frazão
Esta longa viagem – a vida – é uma viagem em que se parte do não-ser e a ele se regressa. Faz lembrar o dito: “Ele viajava apenas para poder regressar a casa.” Neste caso, a casa de onde se parte e a que se regressa – é o nada. A ele me acolherei, num dia não muito longínquo, com a serenidade e a filosofia que me for dado municiar. Confesso-vos que não tenho pressa: como dizia o célebre actor e cançonetista francês, Maurice Chevalier, “prefiro uma idade avançada à outra alternativa”. Levo comigo alguns contentamentos e alguns remorsos. Entre estes, o que mais me aflige é o de alguma desatenção com que possa ter ferido quem de mim esperava atenção. Nunca foi por mal, mas tão só porque não se dispõe nunca de recursos ilimitados. Seja como for, creio que a atenção que se não dá é sempre uma ferida funda que se inflige. Poder tê-lo feito punge-me, nesta hora de balanços. E tanto mais, quanto sou eu próprio, hoje e aqui, alvo de uma carinhosa e imerecida atenção de colegas e amigos, que quiseram, caridosamente, vir dizer-me que talvez não tenha feito apenas coisas erradas. Mesmo que não seja tão verdade como dizem, faço de conta que acredito e agradeço-lhes do coração com um singelo “Muito obrigado!”»
Eugénio Lisboa

Este texto, da autoria do Professor Eugénio Lisboa, Doutor Honoris Causa pela UA, e lido na sessão de 22 de Outubro, integra a edição nº 16 da Linhas - Revista da Universidade de Aveiro, 29.12.2011