quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Angola, quarenta anos depois




Quarenta anos depois , Angola festeja o dia em que conheceu o seu lugar no mundo: Angola um país africano, independente e diverso. Diverso pela multiplicidade de gentes que se distinguem em etnias e costumes. Africano pelo seu posicionamento na costa ocidental de um continente onde ocupa um espaço de grande dimensão. Independente porque as amarras com o pais colonizador foram cortadas.
Quarenta anos transformaram Angola num território diferente. As cidades cresceram com  novos traçados  arquitectónicos e viários  para albergar uma nova  população. A capital , a cidade de Luanda, cercou-se de aglomerados satélites , afirmando-se como uma metrópole, um enorme centro demográfico que não cessa de aumentar. 
As savanas, as montanhas, as florestas , o deserto, os rios e o mar permanecem em magnânima partilha de um  imponente território onde uma natural distribuição nasceu em espontânea harmonia . Tudo conspirou para fazer de   Angola um pais de uma beleza forte mas generosa, agressiva mas deslumbrante , suave mas firme permitindo a quem lá vive ou a quem a visita uma intensa , inesperada  e permanente descoberta.
Há de tudo nesta Angola. Gente que clama. Gente que cala. Gente que cresceu em posição e riqueza. Gente que trabalha e sobrevive. Gente que da terra extrai o pão de cada dia. E gente que nada tem e quer acreditar numa Angola para todos e de cada um.
Que se cumpra Angola. 
Felicitações ao país que sempre bem me recebeu. País do meu rememorar constante.

Mar Novo
1
E a embarcação aparecia como um barco de recreio.
Do pescador a musculatura dolorosamente suada
merecia uma simples pincelada
de silhueta negra
impressionismo fácil
afirmação exótica de que o dongo
não andava sozinho.
2
Mas é novo este azul    tela rasgada
é novo o nosso olhar.
É nova esta forma gestual de espuma
feita sabor de amor de guerra e de vitória
em nossas bocas férteis em nossa pálpebras
de antigo medo clandestino
soletrando a lágrima
quando era o nosso mar recordação também
escravizada:
caminho secular de ir e não vir.
3
É nova esta areia
este marulhar de fogo nos ouvidos
quase notícia do rebentamento maior
sobre o inimigo.
É novo este calor como se o sol
fosse um ananás colectivo suculento
rasgado pelos dedos da madrugada mais quente
e mais suave.
4
E é bom medir a água evaporada
sobre a concha
a alga
a rocha.
Medir também teu corpo natural
onde encontrar a boca
os pés
os olhos
a palavra.
5
E é bom verificar as mãos. Principalmente
as nossas mãos humedecidas pelo mar.
As mãos que tocam as coisas
As mãos que fazem as coisas
As mãos. As mãos terminal de carga
e de descarga do nosso pensamento
As mãos mergulhadas sob a água.
na (re)descoberta tímida das essências
no pulsar submarino de uma nova esperança.
6
Tudo é fugaz
entre o desenho do teu pé na areia
e a onda que desfaz
a marca
Entre a guerra e a paz
retorno fisicamente o poema  a onda
constante meditação primeira.
Nós e as coisas.
Nada permanece que não seja
para a necessária mudança.
Que o diga o mar.

(Cinco vezes onze - poemas em Novembro) Manuel Rui Monteiro, In 11 Poemas em Novembro, Luanda, Ed. Lavra e Oficina, 1976

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