segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Adeus, doce França

Adeus, doce França 
Por José Lins do Rego
“Volto hoje às minhas criaturas, aos rudes homens do cangaço, às mulheres, aos sertanejos castigados, às terras tostadas de sol e tintas de sangue, ao mundo fabuloso do meu romance, já no meio do caminho.
Os dias de França me deram uma sensação de pausa, de espanto, de novos contactos sonhados desde menino. Vi terras por onde andaram os doze pares de França, os heróis do meu Carlos Magno, lido e relido como história de Trancoso. Vi terras do sul, o mar Mediterrâneo, o mar da história, o mar dos gregos, dos egípcios, dos fenícios, dos romanos. Mas o nordestino tinha que voltar à sua realidade, à realidade maior que a história do mundo, isto é, à história dos seus homens, dos cangaceiros brutais, carregados de vida bárbara, de instintos cruéis de uma força, porém, que não se extingue nunca, porque é a energia de uma raça de homens mais duros do que as pedras dos seus lajedos.
Volto aos “Cangaceiros” e desde logo tudo o que vi e senti se refugia no fundo da sensibilidade, para que a narrativa corra, como em leito de rio que a estiagem secara, mas que as águas novas enchem, outra vez, de correntezas.
Volto ao terrível Aparício que mata igual a um flagelo de Deus, ao monstruoso Negro Vicente, ao triste Bentinho, ao místico Domício, aos umbuzeiros carregados de frutos, aos mandacarus de floração de sangue, aos cantadores de estrada, às mulheres sofredoras, às noites de lua, aos tiroteios, ao crime e ao amor, à poesia barbaresca e vigorosa de um povo que é maior do que a terra que o criou.
Volto contente e disposto a tudo.
Adeus, doce França. Agora os espinhos me arranham o corpo e as tristezas me cortam a alma.” José Lins do Rego, Escritor brasileiro
José Lins do Rego (1901-1957) foi um escritor brasileiro.Com o seu primeiro livro  "Menino de Engenho", romance do Ciclo da Cana-de-Açúcar, conquistou o prémio Graça Aranha. Mais tarde ,o  romance "Riacho Doce" foi transformado, com muito sucesso,  em minissérie para a televisão. 
É autor de uma obra extensa que marcou a Literatura brasileira. Integrou o "Movimento Regionalista do Nordeste". Tornou-se patrono da Academia Paraibana de Letras. Foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras, para a cadeira 25, em 1955
José Lins do Rego  nasceu no engenho Corredor, no município de Pilar, Paraíba, no dia 3 de Julho de 1901. Em 1920 ingressou na Faculdade de Direito do Recife.
Em 1923 conheceu Gilberto Freire, que exerceu grande influência na sua vida literária.
Manteve intensa actividade literária, publicou um livro por ano.
Em 1935 foi para o Rio de Janeiro. Em 1937 publicou "Pureza", o primeiro romance que foge à temática do ciclo da cana-de-açúcar, seguindo-se  "Pedra Bonita" e "Riacho Doce". Com "Fogo Morto" (1943) retorna à temática nordestina.  Fogo Morto foi  considerado uma das obras mais importantes de José Lins  do Rego. É um romance extraordinário  em que criou figuras que se tornaram  imortais. Este romance ficou marcado pelo vigor   de  personagens como o Mestre José Amano (seleiro; vira lobisomem); o capitão Vitorino Carneiro da Cunha, vulgo  Papa-Rabo (espécie de Dom Quixote do sertão) e o Coronel Lula de Holanda (fazendeiro).
José Lins do Rego morreu no Rio de Janeiro, no dia 12 de Setembro de 1957."
Obras de José Lins do Rego
Menino de Engenho, romance, 1932
Doidinho, romance, 1933
Banguê, romance, 1934
O Moleque Ricardo, romance, 1934
Usina, romance, 1936
Histórias da Velha Totonia, literatura infantil, 1936
Pureza, romance, 1937
Pedra Bonita romance, 1938
Riacho Doce, romance, 1939
Água Mãe, romance, 1941
Gordos e Magros, 1942
Fogo Morto, romance, 1943
Pedro Américo, 1943
Poesia e Vida, 1945
Conferências no Prata, 1946
Eurídice, romance, 1947
Homens, Seres e Coisas, 1952
Cangaceiros, romance, 1953
A casa e o Homem, 1954
Roteiro de Israel, 1954
Meus Verdes Anos, memória, 1956
Presença do Nordeste na Literatura Brasileira, 1957
O Vulcão e a Fonte, 1958

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