quarta-feira, 15 de abril de 2015

Morreu Günter Grass

"O escritor alemão Günter Grass, Prémio Nobel de Literatura e Príncipe das Astúrias das Letras, morreu aos 87 anos de idade na cidade de Lübeck, conforme informou nesta segunda-feira (13) a editora Steidl. Grass nasceu em Dantzig, hoje Gdansk, cidade polaca que foi uma das primeiras cartadas no jogo de Hitler pela conquista do ‘espaço vital’ que queria para a Alemanha – nessa Polónia que foi uma das trinta moedas do negócio entre o Führer e Estaline, firmado no famoso Pacto Molotov-Ribbentrop de 1939.
Considerado o mais importante escritor em língua alemã do pós-guerra e uma referência em seu país, Grass conquistou fama mundial com a publicação do romance "O tambor de lata", em 1959. ‘O tambor de lata’ foi também passado ao cinema por Volker Scholondorf em fins dos anos 70: teve a Palma de Ouro em Cannes e o Óscar de melhor filme estrangeiro. Quarenta anos depois, em 1999, recebeu os dois mais importantes Prémios da literatura mundial, o Nobel e o Príncipe das Astúrias das Letras.
O ‘meu século’ foi o título que o Prémio Nobel de 1999 deu a um dos seus livros menos lembrados e talvez um dos mais notáveis: cem curtos contos, um por cada ano do malfadado século XX. O século XX, o ‘nosso’ século – um século normalmente contado na sua versão para crianças das escolas como uma simples batalha entre as forças do Mal e os ’justos’. Até 2006, Günter Grass era um desses ‘justos’, sentencioso e celebrado. Depois da guerra e de uns largos meses entregue aos cuidados das tropas americanas, teve vários ofícios, estudou arte em Dusseldorf e Berlim.
Outras obras de destaque do autor foram "Descascando a cebola" (2006),  polémico livro de memórias; "A passo de caranguejo" (2002), além de  "Uma longa história" (1995). Recebeu em 1965 o Prémio Georg Büchner, em 1977 a Medalha Carl von Ossietzky, foi nomeado membro honorário da Academia Americana de Artes e Ciências. 
Grass é considerado uma autoridade moral e política na Alemanha, por seu compromisso constante com o passado recente do país e a sua capacidade de entrar em qualquer polémica e controvérsia. O escritor apoiou a política do Partido Social-Democrata (SPD) nos tempos do chanceler Willy Brandt e, embora tenha posteriormente se afastado da legenda, por considerá-la centrista demais, apoiou sucessivas campanhas eleitorais, incluindo a de Gerhard Schröder, que governou a Alemanha de 1998 a 2005.
Foi um crítico ferrenho dos conservadores, especialmente nos tempos do chanceler Helmut Kohl (1982-1998). No terreno literário, tornou-se lendária a sua inimizade com o mais feroz crítico do país, Marcel Reich-Ranicki.
Era, além de escritor, pintor, escultor, ensaísta, artista gráfico. Desconfiava da reunificação alemã. Olhava com suspeita o ‘sonho americano’.
Nos últimos tempos, esteve envolvido em sucessivas polémicas, tanto pelo reconhecimento, nas memórias publicadas em 2006, que serviu nas tropas nazis  SS Waffen, como pelas críticas a Israel, algo considerado um tabu na Alemanha. Grass afirmou há dois anos atrás que Israel era uma ameaça para a paz mundial."Artigo refundido da Imprensa Nacional e Internacional

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