sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Quem tem medo da Cultura?

As pessoas devem ser o centro dos acontecimentos
Póvoa de Varzim, 26.02.2015
"A Conferência de Abertura do 16º Correntes d’Escritas, esta quinta-feira, dia 26, às 15h00, no Cine-Teatro Garrett, reuniu uma plateia atenta para ouvir a resposta à pergunta provocatória lançada a Guilherme d’Oliveira Martins, presidente do CNC (Centro Nacional de Cultura) e do TC (Tribunal De Contas): “Quem tem medo da Cultura?”
O convidado do Correntes referiu-se ao medo da cultura como “conhecimento, como transformação da natureza, como letras, artes, ideias, como educação e ciência…” e, embora possa parecer estranho trazer a economia para esta conversa, o certo é que, “etimologicamente, não podemos esquecer que a «regra da casa», que vem do grego oikos e nomos, só tem sentido se puser as pessoas no centro dos acontecimentos e se entendermos que nem tudo tem preço, mas que tudo tem valor, até porque o que tem mais valor é o que não tem preço. Eis porque a economia humana tem a ver com gente de carne e osso, com a exigência de garantir que ninguém nos seja indiferente. A economia é, pois, para aqui bem chamada para nos dizer que a cultura começa exactamente quando as pessoas têm de cuidar do valor de tudo o que as rodeia, muito para além do preço, que não compra nem a honra nem a dignidade que são matéria-prima da cultura. (…) Como disse T.S. Eliot num ensaio célebre sobre a definição da cultura: «Tal como ‘democracia’, a palavra cultura precisa não só de ser definida, mas também ilustrada, cada vez que a empregamos”.
É através da cultura que somos levados a perceber que a “identidade e a diferença se completam, a tal ponto que, fechando-se uma cultura sobre si mesma, torna-se depressiva e decadente, ficando cega à memória e ao entendimento dos outros. Assim, quem tem medo da cultura é quem baixa os braços perante a força avassaladora do imediato, da simplificação e da indiferença. E quem se deixa vencer por esse medo atávico, verifica para mal dos seus pecados que, se tudo começa na cultura, segue rapidamente para a economia humana, porque o que verdadeiramente importa é saber se a vida das pessoas é fim ou é meio”.
E prosseguindo a reflexão afirma Guilherme d’Oliveira Martins “«Os cérebros mal preparados vergam sob a diversidade de conhecimentos – e os quadros da cultura, à força de se alargarem, quebram-se». Marguerite Yourcenar em «Diagnóstico da Europa» (1929) toca assim no tema difícil do empobrecimento da cultura e das humanidades”.
O conferencista defendeu que é preciso um “grito de alerta” e avisou que “a ameaça à cultura vem da facilidade, do autocomprazimento e da mediocridade”.
Em conclusão, Oliveira Martins refere-se a um património cultural não retrospectivo, “é passado, presente e futuro, é material e imaterial, são pedras mortas e pedras vivas, é um dever, é memória e é criação presente, não pode ser assunto do Estado burocrático, mas da República moderna, livre e democrática, centrada nos cidadãos, como nos ensinou António Sérgio há cem anos, nas páginas de «A Águia», na sua inolvidável «Educação Cívica». Eis porque devemos dar à sociedade civil um papel mais activo nos valores, se soubermos contrapor uma ética de cidadania, aliada à qualidade na educação, formação, ciência e cultura. A defesa das humanidades tem de corresponder à recusa da facilidade e do novo-riquismo e ao apelo à vontade e à criação. Como poderemos defender a cultura que nos foi legada sem mobilização dos cidadãos e sem democratização do Estado? Medo da cultura é, afinal, medo da liberdade e da democracia”. CMP
O grande movimento era-nos sempre
margem de olhar um rio.
Ia-se-nos perdendo
ver algum navio
entrar nas águas de tê-lo
alguma vez ouvido.
Ou, se quiserem, havia o movimento.
E, à volta dele, o rio
estava perto de sermos
lugar. Ponto de frio
de onde os amantes sempre
partiram esquecid
os.
Fernando Echevarría, in Sobre as Horas
Fernando Echevarría ganha prémio em dia de aniversário
 «O poeta Fernando Echevarría venceu o prémio literário Casino da Póvoa com a obra "Categorias e outras paisagens", editada pela Afrontamento, anunciou hoje a organização do encontro de escritores de expressão ibérica Correntes d'Escritas.
Nascido a 26 de Fevereiro de 1929 (sendo nesse dia o seu aniversário), na localidade espanhola de Cabezón de la Sal, "veio para Portugal ainda muito novo, tendo cursado Humanidades em Portugal e Filosofia e Teologia em Espanha", de acordo com a biografia disponível na Infopédia, da Porto Editora.
Echevarría, que "escreveu sempre em português, só ocasionalmente nas línguas castelhana e francesa", já antes recebeu distinções como o grande prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores, o prémio António Ramos Rosa, o prémio Fundação Luís Miguel Nava e o prémio Dom Dinis.
O júri que atribuiu por maioria o grande prémio do 16.º Correntes d'Escritas foi constituído por Afonso Cruz, Almeida Faria, Ana Paula Tavares, Maria Flor Pedroso e Valter Hugo Mãe.
Na declaração de voto do prémio, o júri referiu que o livro de Echevarría "revela um carácter monumental, impressionante pelo seu fôlego".
Na ata, o júri considerou que a obra "constrói uma poética da lucidez e do rigor", tratando-se de um "monumento à capacidade de dizer o indizível no limite da palavra".
Durante a cerimónia de anúncio dos premiados deste ano, foi ainda revelado que o conto infantil ilustrado "Uma Amizade Misteriosa", da turma 4.º A, do Externato Infantil e Primário "Paraíso dos Pequeninos", de Lourosa, venceu o prémio Correntes d'Escritas/Porto Editora 2015.
Adicionalmente, o prémio literário Correntes d'Escritas/Papelaria Locus, que distingue trabalhos inéditos de jovens entre os 15 e 18 anos, foi atribuído a Cândida Filipa Oliveira de Sousa, pelo poema "Insone".
Já o prémio Fundação Dr. Luís Rainha, que galardoa textos cuja temática seja a Póvoa de Varzim, foi dado a João José da Conceição Morgado pelo trabalho "O Céu do Mar".» DN

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