sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

O verão em Argel

"Da caixa de Pandora, na qual fervilham os males da humanidade, os gregos fizeram sair a esperança em último lugar, por considerá-la o mais terrível de todos. Não conheço símbolo algum mais emocionante do que este. Porque a esperança, ao contrário do que se crê, equivale à resignação. E viver não é resignar-se.
Esta, acima de tudo, é a austera lição dos verões da Argélia. Mas a estação já estremece e o verão oscila. As primeiras chuvas de Setembro, após tantas violências e obstinações, são como as primeiras lágrimas da terra libertada, como se, durante alguns dias, todo o país se envolvesse em ternura. Enquanto isso, desprende-se das alfarrobeiras um perfume de amor que invade toda a Argélia. À noite ou depois da chuva, o ventre regado por um sémen com odor de amêndoa amarga, a terra inteira repousa de ter sido possuída pelo sol durante todo o verão. Então, novamente, esse odor consagra as núpcias do homem e da terra, despertando em nós o único amor verdadeiramente viril deste mundo: perecível e generoso." Albert Camus , in " Núpcias", Círculo do Livro

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