sábado, 31 de janeiro de 2015

Notícias de Angola

"Um fenómeno conhecido como halo solar mudou o céu de Luanda nesta sexta-feira.
Trata-se de um círculo colorido em volta do sol, resultado da interacção entre a luz e cristais de gelo que ocasionalmente surgem na atmosfera.
Os cristais provocam a reflexão e a refracção da luz em cores."

Mentalidade do barril de petróleo
por José Ribeiro
"A mentalidade do barril de petróleo regressou com a mesma rapidez com que desceu o preço do dito no mercado internacional.
E com ela, o amontoado de falsidades e especulações sobre a situação cambial e financeira pelos analistas cuja especialidade é  bater constantemente na tecla catastrofista, sempre que se trata de caracterizar a economia angolana. O eterno anti-angolano jornal “Público” exultava ontem com o regresso às suas manchetes dos velhos tempos: “choque do petróleo ameaça negócio de empresas com Angola”. Antes dele, Rui Machete, ministro dos Negócios Estrangeiros português, falando em Luanda, em visita oficial, até se propôs ajudar Angola com a “experiência da austeridade” de Portugal.
Mas quando a brincadeira ultrapassa os limites, ainda há quem tenha o discernimento e a competência suficiente para usar a palavra certa em momentos de transformação conjuntural. O governador do Banco Nacional de Angola, José Pedro de Morais, disse, com a serenidade que o caracteriza e advém da sua inquestionável sabedoria de obra feita, que os fundamentos macroeconómicos em Angola são robustos e não há qualquer razão para alarme.
Como sempre, coisas muito sérias, como é o caso da situação cambial e financeira do país, são tratadas com a superficialidade da mentalidade daqueles que se habituaram a viver à sombra do barril do petróleo, ainda que os recursos do país não se limitem a essa “commodity” e que há muito se tenha alertado para a necessidade da diversificação económica e a aposta no sector produtivo não petrolífero. Essa mentalidade está hoje muito incrustada na banca privada, onde muita gente tem poupanças externas, e facilmente desse sector se difundem os alarmismos.
Os bancos são organizações fiduciárias e a banca angolana tem de saber desempenhar o papel que lhe cabe, quando existe uma conjuntura de evidente alteração como a que está a passar. E se ainda não sabe fazer isso, algo vai mal num sector que vive da confiança dos seus clientes. 
De um dia para o outro desencadeou-se uma corrida vertiginosa às transferências de dinheiro para o exterior. Dada a pressão, os “tectos” a que se habituaram a operar, baixaram. E como consequência de uma situação lógica e justificada, começaram a circular os mais desencontrados boatos e os velhos detractores ressurgiram. O novo governador do BNA José Pedro Morais disse o essencial, no momento exacto: os fundamentos macroeconómicos são robustos. E não há qualquer justificação para o alarmismo gerado. Também o último número da revista “The Economist” sublinha que a expansão da economia de Angola em 2013 veio principalmente do sector manufactureiro e da construção civil. 
As pescas cresceram 10,0 por cento e a agricultura nove por cento. Esta revista especializada em assuntos económicos refere que um terço das receitas angolanas advêm hoje de fontes não petrolíferas, quando há uma década eram quase nada. 
Se numa década Angola conseguiu fazer tanto nesta área, nada justifica que se perca a fé na continuidade do sucesso e se continue a sustentar na economia angolana a mentalidade de que tudo começa e acaba no preço do barril do petróleo.Ou que o ciclo desta matéria-prima é sempre virtuoso, ao contrário do que acontece com as “commodities” menos valorizadas. 
Se para muitos países não produtores de petróleo a descida do preço do crude representa uma oportunidade de poupança e crescimento, nenhuma razão há para que o crescimento económico em Angola não se mantenha forte e os indicadores sociais prossigam no rumo da melhoria. Só por pura ironia e brincadeira de mau gosto ia agora Angola adoptar a austeridade portuguesa e voltar o “cobrador do microfone da SIC” ao nosso país, cobrar atrasos nos pagamentos a empresas portuguesas. 
Quanto ao alarmismo que perpassa pelos bancos, é evidente que os clientes têm a garantia do regulador de que nenhuma instituição financeira com balcões abertos ao público pode ignorar compromissos e contratos firmados. Se o fizer, está a violar as regras. Quem estimula e abastece o mercado negro de divisas está a cometer um crime que não pode passar sem castigo. 
O Governador do Banco Nacional de Angola, com serenidade, disse isso, por outras palavras. Mas o importante  é que ninguém o ouviu confirmar nada do que tem sido dito e publicado sobre a situação cambial e financeira.
O BNA já tomou as medidas que lhe cabem. Outras foram anunciadas há dias pelo ministro da Economia, Abraão Gourgel, e outras ainda vão ser tomadas para combater a mentalidade ligada ao petróleo e manter o rumo virtuoso da economia angolana. O Executivo liderado pelo Presidente José Eduardo dos Santos mostra assim que está tudo sob controlo. O regresso da “maquineta à portuguesa” a Angola tem de ser denunciada. Ao menor sinal de alteração da conjuntura económica, desta vez emitido em cima da queda brutal do preço do barril de petróleo, os que vivem da especulação de toda a ordem avançam de armas e bagagens contra o nosso país. Os métodos são sempre os mesmos."José Ribeiro, Jornal de Angola, 25.01.2015

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

O Mundo em cartoon

Henricartoon

Henricartoon
"This is the final episode of Season One of The Cartoon Lounge. It can be watched as a stand-alone episode, but gains a poignant resonance if you have seen the previous ones. You can binge-watch them here.
I’m warning you, take out your hankies: this is a real tearjerker. I hope it moves you just as much as it moved me—all the way downtown, into 1 World Trade Center, where next we’ll meet."Bob Mankoff is the cartoon editor of The New Yorker
Daily Cartoon by Joe Dator,The New Yorker
Rodrigo, Expresso
Rodrigo, Expresso
Le vignette di ItalliaOggi

Le vignette di ItalliaOggi
The daily Cartoon, The Independent
The daily Cartoon, The Independent

The daily Cartoon, The Independent
Chapatte,The International New York Times
Chapatte,Le Temps, Genève

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Talvez

Talvez

Talvez não ser, 
é ser sem que tu sejas, 
sem que vás cortando 
o meio dia com uma 
flor azul, 
sem que caminhes mais tarde 
pela névoa e pelos tijolos, 
sem essa luz que levas na mão 
que, talvez, outros não verão dourada, 
que talvez ninguém 
soube que crescia 
como a origem vermelha da rosa, 
sem que sejas, enfim, 
sem que viesses brusca, incitante 
conhecer a minha vida, 
rajada de roseira, 
trigo do vento, 


E desde então, sou porque tu és 
E desde então és 
sou e somos... 
E por amor 
Serei... Serás...Seremos...

Pablo Neruda, in "Antologia Breve, ( Cadernos de Poesia)", Publicações  Dom Quixote, Fevereiro 1969

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

EUGÉNIO LISBOA

Eugénio Lisboa prossegue galhardamente a publicação das suas memórias, que constituem documentos essenciais para a compreensão da vida e da cultura portuguesas do século XX. Falamos de «Acta est Fabula, Memórias IV, Peregrinação: Joanesburgo, Paris, Estocolmo, Londres (1976-1995)» (Opera Omnia, 2014)
EUGÉNIO LISBOA, PEREGRINO CURIOSO
Por Guilherme d'Oliveira Martins
"Nada melhor do que fazer um fim-de-semana em Londres, em visita à família, acompanhado de um livro desejado – de memórias e serena atitude crítica. Entre as deambulações citadinas, as obrigações, as livrarias e tudo o mais, foi muito bom contar com a companhia do último livro de Eugénio Lisboa - «Acta est Fabula, Memórias IV, Peregrinação: Joanesburgo, Paris, Estocolmo, Londres (1976-1995)». E a verdade é que ao regressar a Londres, sempre recordo os nossos primeiros encontros, há mais de vinte anos. Eugénio Lisboa, cuja amizade se foi reforçando com o tempo, é um peregrino curioso, uma personalidade especial, em quem o conhecimento literário e a vasta cultura são complementos naturais de uma simpatia inesquecível. Conheci-o primeiro, como é óbvio, através da sua obra e em especial da sua relação fundamental com José Régio. Não é, aliás, possível compreender o lugar da «Presença» na literatura e na cultura portuguesa sem conhecer a visão de conjunto, a leitura crítica e o acompanhamento pormenorizado por Eugénio do autor de «A Velha Casa» e da sua geração. E se houve quem o classificasse como presencista, foi certamente por desatenção ou desleitura, já que, admirando Lisboa a personalidade de Régio, possui luz própria, sendo um leitor crítico praticante.
CICERONE DA CULTURA 
Eugénio é, nos seus ensaios, um extraordinário cicerone da cultura do século XX, sempre capaz de encontrar o singular e o melhor, mas também de descobrir os mais inusitados pecadilhos, às vezes onde menos se espera. Foi este crítico que cedo encontrei e que depois conheci pessoalmente em Londres (como Hélder Macedo). O contacto com a sua personalidade tornou a admiração antiga natural proximidade e especial afeição, extensiva a sua mulher Antonieta… A verdade é que a obra memorialística de Eugénio Lisboa vem trazer-nos a ligação da sabedoria, da cultura e do conhecimento ao humanismo e à independência de espírito (que nos levam a António Sérgio…). A cada passo, se nota, de facto, essa independência crítica que permite reconhecer a importância das suas apreciações e comentários, nunca tributários de qualquer favor, mútuo elogio ou cedência à moda. Estamos perante um crítico fiável, muitas vezes incómodo, mas sempre livre. O problema não está em concordar ou discordar, mas em sabermos que a sinceridade é a fidelidade suprema à busca da verdade e da justeza. Nesse sentido, Eugénio Lisboa cita, a propósito do que viu, com tristeza, em Moçambique, nas «nacionalizações selvagens e desordeiras, anunciadas e prontamente executadas, à ponta das kalashnikovs», a afirmação de Alfred North Whitehead, o matemático e lógico, amigo de Bertrand Russell: «a arte do progresso é preservar a ordem, no meio da mudança e preservar a mudança no meio da ordem». Assim, o autor de «Acta est Fabula», se conhece a história e o género humano como poucos, nunca desiste de fazer a democracia uma questão séria.
NOVA PARTIDA DE MOÇAMBIQUE
O volume agora dado à estampa inicia-se com uma nova partida de Moçambique, depois da independência, desta feita sob a invocação (dramática) de Tennessee Williams: «há um tempo para partir, mesmo quando não há um lugar certo para ir», com um aceno comovedor inspirado em Robert Graves: «Good-bye to all that». Estamos perante nostalgia, desprendimento, amargura, mas também a consciência plena de que o melhor seria mesmo partir. Ao longo de toda a obra, vê-se, contudo, que o autor nunca esquece essas raízes fortes e ternas da África Oriental… Se a peregrinação passa por Joanesburgo (onde a memória do Pai fica indelevelmente lembrada), por Paris (sem festa nem companhia…), por Estocolmo («um controlo suave, apoiado na abundância e na segurança») e sobretudo por Londres, por entre as estadas portuguesas, a verdade é que Eugénio liga sempre o seu ofício ao gosto da vida e das pessoas. O livro deve ser lido, pois, atentamente, contando com partes suculentas de um diário inédito e reflexões atualíssimas. Muitas vezes, deixa-nos mesmo ver o avesso das coisas para que entendamos melhor a superfície real. Há episódios tocantes, como o da terrível destruição da valiosa papelada que estava na garagem na avenida Massano de Amorim, ou o da chegada ao aeroporto de Mavalane, quando os zelosos funcionários moçambicanos se negaram a tratar Eugénio como estrangeiro, apesar do passaporte português. «Havia muita gente boa naquela boa terra moçambicana, mas, infelizmente, não era necessariamente essa que detinha nesse momento as rédeas do poder». E entre as referências sentidas ao longo do volume, temos a recordação de personalidades marcantes como Rui Knopfli, Fernando Namora (criador da insubstituível Biblioteca Breve do velho ICALP), David Mourão-Ferreira, Fernando de Mello Moser, Luís Amaro, Alberto Lacerda e Luís de Sousa Rebelo (que deveria ter merecido outras atenções, que não teve).
MEMORIALISTA DE ELEIÇÃO
Em Londres, o memorialista descreve-nos, com sentido prático, a situação um pouco peculiar do diplomata: «vive dentro da Embaixada, onde fala português com os colegas portugueses e lida com assuntos que dizem respeito a Portugal. E comunica todo o tempo com Lisboa. Mas, lá fora, é Londres com a sua vida própria, os seus valores, os seus sons, os seus ritmos, as suas atrações e repulsões. Há o teatro, os concertos, os pubs, os museus, o Tamisa, os parques, os scones, a língua… Estamos e não estamos instalados, somos e não somos londrinos, somos e não somos portugueses». Há quem pretenda dizer que estamos desenraizados, eu prefiro sustentar que fiquei pluralmente enraizado. Fui gostando e não gostando: nem tudo (…) é admirável». A cada passo sente-se o domínio do tempo, com uma fantástica capacidade de contar os pequenos nadas de que a vida é feita – em especial a paciência para lidar com a estupidez, com os empatas e com os burocratas, apesar das boas surpresas. E, com o humor, que nunca deixa, lembra G. B. Shaw a dizer que todos os prazeres do cidadão inglês podem ser partilhados com o seu cão e recorda H.G. Wells a invocar a lenta passagem da compreensão à ação na Albion quanto às mudanças necessárias… Ao meditar sobre a cultura, porém, arremete justamente contra os nossos que acham que é um «meio acessório chic, uma espécie de flor na lapela que dá jeito, mas não tem propósito de maior (…). A prova do bolo está em comê-lo, ou seja, no dinheiro que estão dispostos a investir nela (…) (que) foi sempre uma autêntica miséria». Longe do elogio, temos sempre a broca crítica, de quem se define assim: «Sou refilão (…) mas não sou ingrato e desprezo a ingratidão. Simplesmente o formato da minha gratidão não se compadece com curvar o espinhaço, para tomar do Eça, a contundente fórmula (…). As minhas admirações foram sempre críticas, que é para isso que serve a cultura…». 
Guilherme d'Oliveira Martins, in " A PAIXÃO DAS IDEIAS", Blogue do CNC

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Para que não se esqueça

"Há precisamente 70 anos eram libertados os prisioneiros do maior e mais terrível campo de concentração nazi. A 27 de Janeiro de 1945. Auschwitz-Birkenau foi construído pelas forças alemãs em 1940 para ser um lugar de encarceramento de cidadãos polacos. A partir de 1942, o campo transformou-se no maior local de assassínio em massa da História. Entre 1940 e 1945 perderam a vida naquele complexo mais de 1,3 milhões de pessoas, a maioria judeus, mas também polacos, ciganos, prisioneiros de guerra soviéticos e prisioneiros de outras etnias.Os nazis iniciaram o processo de evacuação a 17 de Janeiro de 1945. Entre nove mil e 15 mil pessoas terão morrido durante as “Marchas da Morte”. O complexo de concentração e extermínio no sul da Polónia seria libertado dez dias depois pelas forças soviéticas.O Museu de Auschwitz-Birkenau foi aberto em 1947 nas instalações do antigo campo de concentração, declarado Património da Humanidade pela UNESCO em 1979, passando a ser um dos principais símbolos do Holocausto." Rtp


Veja o portal da instituição"

Da América Latina

"Vámonos patria a caminar, yo te acompaño.
Yo bajaré los abismos que me digas.
Yo beberé tus cálices amargos.
Yo me quedaré ciego para que tengas ojos.
Yo me quedaré sin voz para que tú cantes.
Yo he de morir para que tú no mueras,
para que emerja tu rostro flameando al horizonte
de cada flor que nazca de mis huesos."
Otto René Castillo, poeta, guerrilheiro e mártir guatemalteco

"Ai América,
que longo caminhar!
(...)
Ai América,
eu venho em nome do homem e sua agonia,
em nome de uma infância sem doçura.
E por isso eu venho falar de outra colheita
e de um vale semeado na montanha.
Eu venho anunciar o mel e a espiga
e a terra fértil e doce e repartida"
Manoel de Andrade , "Canção de amor à América", in " Poemas para a Liberdade",Ed. Escrituras, Brasil

Redução da pobreza na América Latina está estagnada, aponta Cepal
"A pobreza atingiu 167 milhões de pessoas na América Latina em 2014, o equivalente a 28% da população latino-americana. Destes, 71 milhões, ou 12% dos habitantes da região, estão na extrema pobreza, de acordo com estimativas do Panorama Social da América Latina 2014, divulgadas hoje (26) pela Comissão Económica para a América Latina e o Caribe (Cepal).
O relatório mostra que a situação da pobreza na região vem se mantendo estável desde 2012, quando afectou 28,1% da população. Em 2013, o índice também foi 28,1%. Já a extrema pobreza na América Latina aumentou de 11,7%, em 2013, para 12%, em 2014. Segundo a secretária executiva da Cepal, Alicia Bárcena, a alta dos preços dos alimentos e a desaceleração económica da região são alguns dos factores para essa estagnação. “A pobreza persiste sendo um fenómeno estrutural e, desde 2012, a redução da pobreza estancou-se.”
Para Alicia, a recuperação da crise financeira internacional “não parece ter sido aproveitada suficientemente para o fortalecimento de políticas de protecção social que diminuam a vulnerabilidade diante dos ciclos económicos.” Segundo ela, num cenário de possível redução dos recursos fiscais disponíveis na região, são necessários mais esforços para assegurar as políticas sociais.
No Brasil, de acordo com o organismo regional, a pobreza caiu de 18,6% da população, em 2012, para 18%, em 2013. Já a extrema pobreza aumentou: de 5,4% para 5,9%. Segundo o director do escritório da Cepal no Brasil, Carlos Mussi, dos cerca de 34 milhões de brasileiros que estão na pobreza, 11 milhões estão em situação de extrema pobreza.
“O aumento dos preços dos alimentos tem impacto forte na indigência no Brasil e na América Latina. Ainda que o mercado de trabalho brasileiro tenha seu dinamismo, este vem diminuindo”, disse Mussi.
Para Alicia, o desempenho brasileiro vai depender muito “da intensidade e da duração do ajuste fiscal”.  “Até ao momento, a Cepal não detectou redução no mercado laboral, mas pode ser que [o ajuste] tenha algum impacto no mercado de trabalho”. Para ela, a retomada do crescimento, a manutenção do investimento e das políticas anticíclicas e a geração de emprego são importantes para a redução da pobreza.
O relatório ainda recomenda o “desenho de uma nova geração de políticas sociais associadas ao investimento com instrumentos e mecanismos que aumentem sua eficácia, eficiência, impacto e sustentabilidade”, e um foco maior nos jovens e nas mulheres” Ana Cristina Campos - Repórter da Agência Brasil ,  Edição: Denise Griesinger

Cresce o número de brasileiros em situação de pobreza extrema, revela Cepal
Estadão Conteúdo
BRASÍLIA - Dados da Comissão Económica para a América Latina e o Caribe (Cepal) divulgados nesta segunda-feira, 26, mostram uma elevação de 5,4% para 5,9% na quantidade de brasileiros que vivem em situação de extrema pobreza entre 2012 e 2013. Esse índice estava em 10,7% em 2005, segundo os critérios da Cepal.
O número de brasileiros situados em um quadro de pobreza, no entanto, continuou diminuindo: passou de 18,6% em 2012 para 18% em 2013 - eram 36,4% em 2005. A situação do Brasil difere dos demais países da região. O estudo da Cepal indica que o equivalente a 167 milhões de latino-americanos, ou 28,1% dos habitantes da região, estavam na condição de pobreza em 2013 - rigorosamente o mesmo índice registado um ano antes.
"A recuperação da crise financeira internacional não parece ter sido aproveitada suficientemente para o fortalecimento de políticas de protecção social que diminuam a vulnerabilidade frente aos ciclos económicos", afirmam os especialistas da Cepal no relatório "Panorama Social da América Latina 2014".
A piora do quadro da extrema pobreza no Brasil se opõe às manifestações públicas da presidente Dilma Rousseff ao longo da campanha do ano passado. Além de negar uma deterioração dos indicadores devido aos sucessivos anos de crescimento econômico fraco e de inflação recorrentemente rondando 6% ao ano, o governo também atravessou o ano de 2014 com embates políticos internos.
A direcção do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) barrou, por três meses, a divulgação de um relatório técnico da sua área de estudos e políticas sociais, que divulgaria análises semelhantes à da Cepal sobre o quadro de pobreza no Brasil.
O documento da Cepal é montado a partir de dados levantados por cada país. No caso brasileiro, os dados vem da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad). O estudo da Pnad, apesar de mostrar uma melhora do indicador de pobreza no País, indica que, em 2013, o Brasil continuava sendo o país com maior desigualdade de renda na região. Parte disso decorre justamente da piora do indicador de pobreza extrema.
Procurado, o Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) afirmou, por meio de sua assessoria, desconhecer os critérios de análise e formação dos indicadores de pobreza e de extrema pobreza da Cepal. O ministério informou que o governo brasileiro trabalha com o conceito do Banco Mundial e da Organização das Nações Unidas (ONU), que considera extrema pobreza alguém que vive com menos de US$ 1,25 por dia. A taxa de extrema pobreza aumentou de 2,9% para 3,1% entre 2012 e 2013, segundo o MDS.
"Entre 2001 e 2013 a taxa de extrema pobreza teria caído mais da metade, saindo de 8,1% para 3,1% da população; a taxa de pobreza teria caído quase três vezes, passando de 22,8% para 7,9%", cita o ministério em estudo técnico divulgado no fim do ano passado.”Agência Brasil
Diferentes manifestações da arte negra são premiadas no Rio de Janeiro
A terceira edição do Prémio Nacional de Expressões Culturais Afro-Brasileiras, na noite de hoje (26), no Teatro Rival, no centro do Rio de Janeiro, contemplou 20 projectos de diferentes regiões do país, que actuam com expressões da cultura negra através da arte. O evento é uma iniciativa do Centro de Apoio ao Desenvolvimento Osvaldo dos Santos Neves (Cadon), Petrobras e Fundação Cultural Palmares com o objectivo de abrir espaço às manifestações artísticas de estética negra.
Este ano foram inscritos 405 projectos, e a premiação totalizou R$ 1,4 milhão, distribuídos nas categorias dança, artes visuais, teatro e, pela primeira vez, música.
De acordo com a presidenta do Cadon, Ruth Pinheiro, o prémio contribui para elevar a cultura negra de todo o país, demonstrado pelo número de diferentes cidades que apresentaram projectos. "Foi o primeiro prémio nacional feito exclusivamente para contemplar projectos de cultura afro-brasileira, visando contemplar não só os artistas, mas também os produtores que trabalham com esta área e não têm recursos. A ação faz parte da democratização dos recursos de cultura. Já estamos na terceira edição, e tem sido um sucesso", relatou.
Além do prémio em dinheiro, os seleccionados também receberam troféu e tiveram seus nomes impressos em catálogo com todos os trabalhos vencedores, com o intuito de promover os trabalhos dos artistas.
Na categoria música, foram premiados projectos do Mato Grosso, Maranhão, Pará e de Minas Gerais. Já na categoria teatro, os prémios foram para o Ceará, Rio Grande do Norte, Pará, para Minas Gerais e o Rio de Janeiro. Na dança, os estados premiados foram Alagoas, Pernambuco, Tocantins, Minas Gerais e Rio de Janeiro; e nas artes visuais foram Distrito Federal, Paraíba, Pará, São Paulo e Paraná.
A ideia do prémio surgiu na Bahia, em 2006, durante o II Fórum Nacional de Performance Negra que abordou a necessidade de políticas públicas e editais de financiamento de valorização da cultura e dos artistas afro-brasileiros. A partir daí, já foram duas edições do prémio, em 2010 e 2011, com apoio do Ministério da Cultura. Elas premiaram em torno de 40 Projectos e artistas de todo o país.”Agência Brasil

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

In Memoriam 2014

A revista Time publicou um vídeo que reúne alguns nomes  que deixaram marca no Mundo e morreram em 2014.
Eis o " In Memoriam 2014"

A vitória do Syriza da Grécia é também o resultado de uma memória longa de grande perda e sofrimento. 2014 fechou e a memória que dele ficou reacendeu-se em mudança na Grécia.
"O povo grego deixa a austeridade atrás dele", disse Tsipras, afirmando que a vitória do Syriza é um sinal importante para a Europa em mudança". "O veredicto do povo grego significa o fim da troika", a estrutura que junta a Comissão Europeia, o Banco Europeu e o FMI na liderança de empréstimos no valor de 240 mil milhões de euros, para financiar a Grécia em troca de reformas profundas.
O líder do partido da esquerda radical Syriza, Alexis Tsipras, conquistou este domingo o direito de formar um novo Governo na Grécia e tornou-se, aos 40 anos, no rosto da contestação à política de austeridade na União Europeia.
Nascido em Atenas em 28 de Julho de 1974, alguns dias após o fim da ditadura dos coronéis, Alexis Tsipras, de aspecto jovial, cultiva um estilo descontraído: raramente usa gravata e tinha por hábito deslocar-se para o parlamento de moto. Casou-se com a namorada dos tempos do liceu, tem dois filhos, vive numa casa alugada num bairro de Atenas e é adepto do Panatinaikos, clube de futebol da capital grega.
Alexis Tsipras iniciou a actividade política nas mobilizações do ensino secundário em 1990-1991, quando militava na Juventude Comunista Grega, com ligações ao Partido Comunista Grego (KKE). Na Universidade Técnica de Atenas, onde termina o curso de engenharia civil, torna-se dirigente associativo e membro eleito pelos estudantes para o senado da universidade.
Entre 1995 e 1997, integra o conselho central do Sindicato Nacional de Estudantes da Grécia. Após romper com o KKE, junta-se à Synaspismos, uma organização da esquerda alternativa e o principal partido da coligação Syriza - fundada em 2004, englobando mais 11 organizações radicais e que em julho de 2013 formaram único partido.
Aos 25 anos, Tsipras torna-se no primeiro líder da juventude da Synaspismos, que liderou até 2003, participando na organização dos movimentos pela globalização alternativa e no Fórum Social Grego. Após as legislativas de 2009, torna-se no líder da bancada parlamentar da ainda coligação Syriza, que em 2014, já como partido, obtém uma clara vitória nas europeias, rompendo o tradicional bipartidarismo de conservadores e socialistas.
Perfeccionista, Tsipras é definido como um orador respeitado e temido pelos adversários políticos. No seu gabinete do partido tem uma foto de Che Guevara e dizem-no admirador do falecido presidente venezuelano Hugo Chávez, com quem partilhava a data de aniversário mas com 20 anos de diferença.
Defensor dos direitos dos imigrantes e dos refugiados, faz a ponte entre diversas gerações da esquerda militante grega e a confirmação do seu carisma surgiu em 2014, ao ser apresentado como candidato a presidente da Comissão Europeia pela Esquerda europeia. Com a vitória nas eleições deste domingo, Alexis Tsipras confirmou-se como alternativa política aos partidos tradicionais, na sequência do "tratamento de choque" imposto à Grécia desde 2010, como contrapartida a um avultado empréstimo internacional."

domingo, 25 de janeiro de 2015

Ao Domingo Há Música

Ilha do Mussulo, Luanda
Mar
Nosso caminho
Nossa estrada...

Mar
Nosso confidente
E companheiro...

Mar
Nossa casa
E cemitério
Mar!
Mário António, "Mar", in Mário António. 100 Poemas. Luanda, Edições ABC, 1963, p.22-23.

Angola recebe-nos, à chegada, em traje estival de grande sedução. Impossível não a sentir e dizer-lhe que é igual a tantas outras paragens que enchem a nossa memória. Não. Angola teima  em marcar a diferença. Saúda-nos num jeito quente que invade e acaricia como a  repetir que  voltar é sempre um acontecimento inevitável. Angola tem-nos desde que nela nos descobrimos .Retomá-la é  apenas um processo de renovada partilha. 
Neste domingo, em Angola, a música tem nova identidade.
Imagens de Angola ao ritmo da música de Lilly Tchiumba (N'Zambi).

Paulo Flores em " Maria Diapambala". Os sons de Angola marcam o ritmo das palavras que retratam a  vida de cada dia.

Waldemar Bastos, uma popular voz de Angola, canta, em "Querida Angola", um país de muitos  contrastes e de infindável  beleza . Angola, a terra prometida,  tenta ainda abrir os braços a todos os que  a amam. 

sábado, 24 de janeiro de 2015

Os Professores

Os professores
O mundo não nasceu connosco. Essa ligeira ilusão é mais um sinal da imperfeição que nos cobre os sentidos. Chegámos num dia que não recordamos, mas que celebramos anualmente; depois, pouco a pouco, a neblina foi-se desfazendo nos objectos até que, por fim, conseguimos reconhecer-nos ao espelho. Nessa idade, não sabíamos o suficiente para percebermos que não sabíamos nada. Foi então que chegaram os professores. Traziam todo o conhecimento do mundo que nos antecedeu. Lançaram-se na tarefa de nos actualizar com o presente da nossa espécie e da nossa civilização. Essa tarefa, sabemo-lo hoje, é infinita.
O material que é trabalhado pelos professores não pode ser quantificado. Não há números ou casas decimais com suficiente precisão para medi-lo. A falta de quantificação não é culpa dos assuntos inquantificáveis, é culpa do nosso desejo de quantificar tudo. Os professores não vendem o material que trabalham, oferecem-no. Nós, com o tempo, com os anos, com a distância entre nós e nós, somos levados a acreditar que aquilo que os professores nos deram nos pertenceu desde sempre. Mais do que acharmos que esse material é nosso, achamos que nós próprios somos esse material. Por ironia ou capricho, é nesse momento que o trabalho dos professores se efectiva. O trabalho dos professores é a generosidade.
Basta um esforço mínimo da memória, basta um plim pequenino de gratidão para nos apercebermos do quanto devemos aos professores. Devemos-lhes muito daquilo que somos, devemos-lhes muito de tudo. Há algo de definitivo e eterno nessa missão, nesse verbo que é transmitido de geração em geração, ensinado. Com as suas pastas de professores, os seus blazers, os seus Ford Fiesta com cadeirinha para os filhos no banco de trás, os professores de hoje são iguais aos de ontem. O acto que praticam é igual ao que foi exercido por outros professores, com outros penteados, que existiram há séculos ou há décadas. O conhecimento que enche as páginas dos manuais aumentou e mudou, mas a essência daquilo que os professores fazem mantém-se. Essência, essa palavra que os professores recordam ciclicamente, essa mesma palavra que tendemos a esquecer.
Um ataque contra os professores é sempre um ataque contra nós próprios, contra o nosso futuro. Resistindo, os professores, pela sua prática, são os guardiões da esperança. Vemo-los a dar forma e sentido à esperança de crianças e de jovens, aceitamos essa evidência, mas falhamos perceber que são também eles que mantêm viva a esperança de que todos necessitamos para existir, para respirar, para estarmos vivos. Ai da sociedade que perdeu a esperança. Quem não tem esperança não está vivo. Mesmo que ainda respire, já morreu.
Envergonhem-se aqueles que dizem ter perdido a esperança. Envergonhem-se aqueles que dizem que não vale a pena lutar. Quando as dificuldades são maiores é quando o esforço para ultrapassá-las deve ser mais intenso. Sabemos que estamos aqui, o sangue atravessa-nos o corpo. Nascemos num dia em que quase nos pareceu ter nascido o mundo inteiro. Temos a graça de uma voz, podemos usá-la para exprimir todo o entendimento do que significa estar aqui, nesta posição. Em anos de aulas teóricas, aulas práticas, no laboratório, no ginásio, em visitas de estudo, sumários escritos no quadro no início da aula, os professores ensinaram-nos que existe vida para lá das certezas rígidas, opacas, que nos queiram apresentar. Se desligarmos a televisão por um instante, chegaremos facilmente à conclusão que, como nas aulas de matemática ou de filosofia, não há problemas que disponham de uma única solução. Da mesma maneira, não há fatalidades que não possam ser questionadas. É ao fazê-lo que se pensa e se encontra soluções.
Recusar a educação é recusar o desenvolvimento.
Se nos conseguirem convencer a desistir de deixar um mundo melhor do que aquele que encontrámos, o erro não será tanto daqueles que forem capazes de nos roubar uma aspiração tão fundamental, o erro primeiro será nosso por termos deixado que nos roubem a capacidade de sonhar, a ambição, metade da humanidade que recebemos dos nossos pais e dos nossos avós. Mas espero que não, acredito que não, não esquecemos a lição que aprendemos e que continuamos a aprender todos os dias com os professores. Tenho esperança.
O vermelho da terra e o desfile  nos enchem os olhos de também aquelas cores em autêntica guerra de tons. Qual deles o mais vibrante? 
José Luis Peixoto em Artigo de Opinião, publicado na revista Visão (Outubro, 2011)

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Encontro de Escritores em Luanda

Ministra da Cultura reitera apoio à produção literária
Luanda - A ministra da Cultura de Angola, Rosa Cruz e Silva, reiterou nesta quarta-feira, em Luanda, o apoio e colaboração com os escritores angolanos ou de expressão portuguesa no tocante ao processo de divulgação e promoção do produto literário
Segundo a governante, que fez este pronunciamento na abertura do V Encontro de Escritores de Língua Portuguesa, que se realiza de 21 a 23 do corrente mês, em Luanda, sob o lema “as cidades na literatura”, pretende-se promover um trabalho que contribua na promoção do livro e da leitura em todos os cantos do país. 
Rosa Cruz e Silva exortou os participantes a trabalharem para o engrandecimento cada vez mais da cultura dos países de língua portuguesa, tendo reconhecido que a história destes povos é rica em conteúdo que deve ser narrado pelos escritores.
Para a ministra, o que os escritores apresentam é a confirmação de um legado que assumiram para  contribuir no processo de desenvolvimento e afirmação da sociedade angolana no contexto das nações.
O V EELP tem como tema geral “As cidades na Literatura”, no qual serão analisados três subtemas centrais: “As Migrações e as Cidades”, “Dinâmicas, Transformações e Ambiente Social” e “A Infância nas Cidades”.
Este encontro, em torno da língua portuguesa, contribui para o diálogo e enriquecimento recíproco entre escritores dos diferentes continentes. A edição deste ano integra-se nas comemorações dos 439 anos da fundação da cidade de Luanda.
Prémio Cidade de Luanda volta a distinguir escritores 
Luanda- O presidente da Comissão Administrativa da cidade de Luanda, José Tavares, anunciou hoje, quarta-feira, que o Prémio Literário Cidade de Luanda voltará a distinguir escritores, de forma a contribuir para o engrandecimento da cultura angolana.
O responsável fez este anúncio na abertura do V Encontro de escritores de língua portugues.
Segundo José Tavares, nesta linha de pensamento e tradição o prémio visa reconhecer o trabalho e contributo da literatura, fortalecendo a identidade nacional.
Para o presidente da comissão administrativa de Luanda, a língua portuguesa é mais do que um simples veículo de comunicação, é sobretudo um elo do desenvolvimento cultural, político e social entre os países que falam português.
Adiantou que o encontro servirá para se promover uma reflexão em torno do tema “as cidades na literatura”, abordagens cuja qualidade será garantida pelos artistas presentes.
“Trata-se para nós de uma abordagem de grande utilidade, se tivermos em atenção particularidades de Luanda tem, quer pela sua história, pela sua estrutura e densidade populacional, e ser caracterizada como destino de muitos emigrantes, com as implicações estruturais e culturais que daí advêm ”, acrescentou.
Segundo José Tavares, trata-se de uma mudança complexa, quer do ponto de vista económico, cultural, cuja compreensão e dinâmica, através da literatura poderão ser compreendidas pelas abordagens que vão ser feitas.
O presidente da Comissão Administrativa de Luanda disse que o tema central do encontro “as cidades na literatura” serve de igual modo para elucidar as novas gerações sobre a importância cultural no desenvolvimento de uma sociedade.
Explicou que o intercâmbio cultural tem a vantagem de servir de meio de troca de experiência das diferentes culturas e ganha ainda mais por ser exprimida numa mesma língua entre os países participantes.
Angola: Escritor brasileiro faz avaliação positiva da literatura angolana
Luanda - O escritor brasileiro Marco Guimarães avaliou positiva a literatura angolana, sendo constituída por autores excelentes que têm mostrado à África e ao Mundo todo o seu potencial
Em declarações à Angop, à margem do V encontro de escritores de língua portuguesa, Marcos Guimarães sublinhou que os angolanos são muito conhecidos no Brasil, e têm sido motivo de estudos de mestrado e doutoramento por estudantes brasileiros.
“Tenho trabalhado no meu dia-a-dia com nomes de escritores angolanos, pelo facto de trabalhar com estudantes que investigam sobre a literatura e os escritores angolanos como Manuel Rui, Ondjaki, Pepetela, Agualusa, entre outros, que têm muita projecção no Brasil”, explicou.
O autor brasileiro salientou que o encontro dos escritores de língua portuguesa é importante por poder debater a problemática que os países enfrentam no âmbito literário e permitir a troca de experiências entre os participantes.
Nestes fóruns, disse, pode-se saber mais sobre os autores, os seus pensamentos e o ponto de vista de cada escritor ou agente literário. 
Escritores de língua portuguesa devem reflectir sobre o estado da arte
Luanda- A escritora angolana Canguimbo Ananás considerou nesta quarta-feira, em Luanda, ser necessário uma reflexão por parte dos escritores da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa em torno do estado das artes e a forma de aproximação entre os criadores.
Em declarações à Angop à margem do encontro dos escritores de língua portuguesa, Canguimbo Ananás  considerou que uma reflexão é crucial, porquanto permite congregar escritores de diferentes países  sobre o que se tem feito em torno da literatura.
Segundo a escritora, o intercâmbio entre artistas de outros países crescem as possibilidades não só de conhecer as obras mais como também permite a troca de experiência e estreitar os laços de cooperação entre os artistas.
“Devemos nos unir para criarmos um projecto para a confecção de uma antologia sobre as vivências dos nossos países, fundamentalmente nas zonas rurais, e levar ao conhecimento dos leitores o modo de vida de cada comunidade”, reforçou.
Quanto ao estado da literatura no país, a escritora afirmou que regista avanços, mas assegura que ainda é necessário muita orientação aos novos valores.
Para já, é necessário redobrar esforço no que  tange aos conteúdos dos livros infantis a serem colocados no mercado, para que a criança, ao ter contacto com a obra, transporte para o seu interior as fantasias que retratam a real identidade cultural de Angola." Angop

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Os poetas não morrem jamais

Os poetas não morrem  
Por Manoel de Andrade 
     " Neste mês de Janeiro comemora-se na Nicarágua os 45 anos da morte do poeta e combatente sandinista Leonel Rugama, e no Peru, os 73 anos do nascimento do poeta e guerrilheiro Javier Heraud. Mortos respectivamente aos 20 e 21 anos, Heraud e Rugama são os exemplos mais precoces, na América Latina, de poetas que caíram em combate, dando a vida por um sonho.
Leonel Rugama nasceu no Vale de Matapalos, em março de 1949, e aos 18 anos entra para a Frente Sandinista de Libertação Nacional, quando a Nicarágua vivia sob o tacão perverso da ditadura de Anastásio Somoza Debayle. Era o ano de 1967, quando os sandinistas declararam guerra aberta a Somoza e sob essa bandeira Leonel Rugama interna-se como combatente nas montanhas do país, onde escreve seus primeiros poemas.
     Ingressa depois na Universidade Nacional, passa a dar aulas de matemática e publicar o jornal El Estudiante. Publica seus primeiros versos no Diário La Prensa e seu poema La Tierra es un satélite de la Luna é um dos mais difundidos na poesia latinoamericana. O cineasta e escritor nicaraguense Ricardo Zambrana fez um curta-metragem com o nome do famoso poema, onde mostra os últimos momentos de resistência de Rugama e seus companheiros, antes de caírem, em 15 de janeiro de 1970, cercados e metralhados por um batalhão de elite da Guarda Nacional de Somoza. O grande poeta e sacerdote da Nicarágua Ernesto Cardenal retrata, poeticamente, a imagem de sua inquebrantável bravura e o transe de sua morte em "Reevaluación de Leonel Rugama". Honrou seu nome e a cidade de Manágua num poema chamado “Oráculo sobre Managua”, assim como gravou, declamando os versos de La Tierra es un salétite da la Luna.
   Javier Heraud, nasceu em Lima, em 19 de Janeiro de 1942, e desde a juventude passou a tomar consciência de uma pátria ajoelhada ante os intereses imperialistas,  acumpliciados com as burguesias urbanas e as oligarquias agrárias. O avançado ideário político vivenciado na Universidade de San Marcus, o histórico das lutas coloniais marcados pelo heroísmo libertário e o martírio de Túpac Amaru, as massas indígenas sangradas pela usurpação de suas terras, pela servidão desumana do trabalho no campo, o êxodo rural e a marginalização urbana sobrevivendo na miséria e na desesperança foram os ingredientes que determinaram o seu engajamento pelas causas sociais.
     Heraud escreve seus primeiros versos aos 15 anos e aos 18 publica o primeiro livro: El Rio. Nesta mesma época seu segundo livro El Viaje, divide o primeiro prêmio com o poeta Cesar Calvo ao vencerem o concurso “El Joven Poeta del Peru”.
     Em 1961, é nomeado professor de literatura num importante colégio de Lima e no mesmo ano, a convite do Fórum Mundial da Juventude, viaja à União Soviética, estende seu roteiro por países da Ásia, chega à França onde visita o túmulo do poeta peruano Cesar Vallejo e tem um encontro com o jovem escritor Mario Vargas Llosa.
      Depois de passar pela Espanha, volta ao Peru, e no ano seguinte recebe uma bolsa para estudar cinema em Cuba. Nesta época já se encontravam em Havana os revolucionários peruanos que iriam comandar as quatro frentes guerrilheiras que abririam as grandes trincheiras da guerrilha peruana em 1965, entre eles Luis de la Puente Uceda,  Guillermo Lobatón, Gonzalo Fernández Gasco e Hector Béjar. Após percorrer os caminhos da Revolução Cubana pela Sierra Maestra, o grupo de 40 bolsistas, ao qual estava integrado Javier Heraud, decide preparar-se militarmente para voltar ao Peru como combatentes.
    No início de 1963, o grupo, sob o comando de Hector Béjar, deixa Havana e através de Praga e Paris chega ao Rio de Janeiro. No dia 19 de janeiro, Heraud comemora seus 21 anos na passagem clandestina por São Paulo rumo ao Peru, para unir-se às forças de Hugo Blanco no vale de La Convención, em Cusco. Foi durante essa longa caminhada durante cinco meses por cidades, vilarejos e pela selva peruana que o poeta, inspirado pela fé revolucionária e pelo sonho de redenção social dos indígenas e camponeses, secularmente explorados e humilhados em seu país, transforma em versos suas esperanças e sua entrega incondicional à causa revolucionária:
                              Porque minha pátria é formosa
                             como uma espada no ar
                             e tão grande agora e ainda
                             mais bela
                             eu canto e a defendo
                             como minha vida.(...)
      Em 14 de maio, a vanguarda tática à qual pertencia Javier Heraud chega a Porto Maldonado e lá são abordados pela polícia. Nesse enfrentamento a tiros, um sargento cai morto e os guerrilheiros se dispersam em varias direções. No dia seguinte, fugindo em direção ao rio Madre de Dios, Javier Heraud e Alaín Elías tentam escapar numa canoa, mas são alcançados por uma lancha militar que chega atirando. Ambos levantam as mãos, acenam a rendição com uma camisa, mas são abatidos pelas armas de grosso calibre dos militares e fazendeiros.
     Depois de sua morte, o Exército de Liberação Nacional do Peru (ELN) em que o poeta militava, passou a chamar-se Guerrilha Javier Heraud e retomou a luta em 1965, comandado por Hector Béjar. Laureado como ensaísta com o Prêmio Literário Casa de Las Américas e atualmente sociólogo, catedrático da Universidad de San Marcus e conferencista internacional, Béjar, referindo-se tempos depois ao poeta, declarou:
 (...)"Creio que Javier é um caso extraordinário em que a poesia e a revolução se entrelaçam com uma força sem precedentes na nossa história. Javier continuou a escrever até mesmo na guerrilha (...)
     Um mês depois da morte, em uma homenagem universitária em Lima, feita à memória do poeta, o grande escritor peruano José Maria Arguedas declarou:
(...) “E agora me permitam dizer algumas palavras sobre o puríssimo poeta Javier Heraud, cuja afeição ganhei honestamente.
       Tendo em conta a personalidade de Javier Heraud, apenas duas possibilidades lhe foram oferecidas no Peru: a glória literária, ou o martírio. Preferiu a mais árdua, a que não oferece as recompensas à que humanamente aspiram quase todos os homens. É raro que num país como o nosso  se apresentem  exemplos como este.
      Até o dia de hoje, os que têm a responsabilidade do governo e do destino do Peru, não permitiram um único campo de ação sequer para aqueles que anseiam a verdadeira justiça, ou seja, o caminho aberto para a igualdade econômica e social  que corresponda à igualdade da natureza humana;  esse caminho é o da rebelião, do assédio e o da morte. Javier o escolheu, mas não nos esqueçamos que ele foi forçado a escolher. Talvez tivesse agido de forma diferente em um país sem tanta crueldade para os despossuídos, sem a crueldade que se requer para manter as crianças escravas, "colonos" escravos e “barriadas” onde o cão sem dono e a criança abandonada comem o lixo, juntos.(...)
      Acho que Javier encontrou a imortalidade verdadeira, aquela que a poesia, por si só, quem sabe não lhe teria dado. Não o esqueçamos.” (...)
     No mês seguinte ao seu assassinato, Pablo Neruda escreveu à família do poeta:

Universidade do Chile
                                                             Ilha Negra, junho de 1963
      Li com grande emoção as palavras de Alejandro Romualdo sobre  Javier Heraud. Também o valioso exame de Washington Delgado, os protestos de Cesar Calvo, de  Reinaldo Naranjo, de Arturo Corcuera, de Gustavo Valcárcel. Também li o comovente relato de Jorge A. Heraud, pai do poeta  Javier.
       Sinto que uma grande ferida foi aberta no coração do Peru e que a poesia e o sangue do jovem caído seguem resplandecentes, inesquecíveis.
      Morrer aos vinte anos crivado de balas "desnudos e sem armas no meio do rio Madre de Dios, quando estava à deriva sem remos ...”  o jovem poeta morto ali, esmagado ali naquelas solidões  pelas forças das trevas. Nossa América escura, nosso tempo escuro.
       Não tive  a ventura de conhecê-lo. Pelo que vocês contam, pelo que choram, pelo que recordam, sua curta vida foi um deslumbrante relâmpago de energia e de alegria.
      Honra à sua memória luminosa. Guardaremos seu nome bem escrito. Bem gravado no mais alto e no mais profundo para que continue resplandecendo. Todos o verão, todos o amarão no amanhã, na hora da luz.

Pablo Neruda

  Vale a pena ampliar essa agenda para lembrarmos aqui de outros poetas que, na América Latina, também tombaram, executados cruelmente pelo arbítrio das ditaduras que mancharam com a mais refinada crueldade as trincheiras das lutas libertárias. Entre eles, vale citar os casos mais torturantes do poeta e guerrilheiro  guatemalteco Otto René Castillo e do poeta chileno Ariel Santibañez.
    
 Otto René Castillo nasceu em 1936, em Quetzaltenango, e pela sua precocidade revolucionária, aos 18 anos teve que asilar-se em El Salvador. Posteriormente, segue para  a Alemanha como bolsista para estudar Letras em Leipzig. Em 1964, volta à Guatemala, reinicia sua vida política e cultural, publica o livro Tecún Umán e é nomeado diretor do Teatro Municipal da cidade de Guatemala. Sofre novo exílio e é escolhido pelas organizações revolucionárias da Guatemala como representante do país, no Comitê Organizador do Festival Mundial da Juventude a realizar-se na Argélia. Com essa missão, percorre a Alemanha, Áustria, Hungria, Chipre, Argélia e Cuba.
      Em 1966, volta clandestinamente ao país e integra-se na luta armada. No ano seguinte, é preso em combate, barbaramente torturado e mutilado na base militar de Zacapa. Ante seu silêncio, seu rosto era cortado com lâmina de barbear, enquanto um capitão do exército da Guatemala recitava com deboche os versos de seu famoso poema Vamos patria a caminar. Seus torturadores, perplexos frente sua inalterável resistência, passaram a queimar seu corpo num inenarrável e mortal suplício, entre os dias 19 e 23 de março de 1967.
     Seu nome hoje é uma referência histórica na Guatemala, quer pela beleza de sua poesia, quer pela imagem do seu comprometimento político, aureolado com a coroa do martírio.O poeta e ensaísta salvadorenho Roque Dalton descreveu com as seguintes palavras os últimos momentos de seu camarada:
  Seus próprios verdugos testemunharam sua coerência e sua coragem ante o inimigo, a tortura e a morte: morreu como um inquebrantável lutador revolucionário, sem ceder um milímetro no interrogatório, reafirmando seus princípios embasados no marxismo-leninismo, em seu fervente patriotismo guatemalteco e internacional, em seu convencimento de estar seguindo – por sobre todos os riscos e derrotas temporais – o único caminho verdadeiramente libertário para nossos povos, o caminho da luta armada popular.”
      Ariel Dantón Santibañez Estay nasceu em 15 de novembro de 1948, em Antofagasta. Na adolescência panfletava seus poemas, bem como distribuía, na cidade,  um jornal que ele mesmo datilografava. Cursou Pedagogia, em língua castelhana, na Universidade do Chile, em Arica, onde dirigia a Revista Tebaida e participava politicamente da vida acadêmica e do ambiente literário que contagiava toda a cultura da cidade, no fim da década de 60.
     A partir de 1970, alguns de seus poemas começam a ter destaque internacional, publicados na Argentina pela revista Cormorán y Delfin,  bem como na revista Nuevo Mundo, em Paris. Dois poemas seus, “Ídolo roto” e “Esos viejos” aparecem na Road Apple Review, editada pela Universidade de Wisconsin, e a revista estudantil Oclae, de Havana, também publica seus versos.
     No início de 1973, está em Cuba passando por treinamento militar, como militante do MIR (Movimiento de Izquerda Revolucionario). Volta ao Chile antes do golpe sanguinário contra Allende e em novembro daquele ano, é detido por três dias e torturado em Antofagasta. Entra na clandestinidade e posteriormente é preso em Santiago. Em 22 de dezembro foi visto entre os prisioneiros da Villa Grimaldi, as sinistras dependências usadas para interrogatório e tortura pelos agentes da ditadura de Pinochet. Não é difícil imaginar o que aconteceu a Ariel Santibañez ante a cultura de terror e assassinatos que se instaurou no Chile. Ariel desapareceu para sempre aos 26 anos e a obstinação com que se levanta atualmente a sua memória de poeta e de mártir se compara ao trabalho de pesquisa com que se constrói, no Peru, a imagem do poeta guerrilheiro Javier Heraud, Em dezembro de 2009, o ex-general Manuel Contreras  recebeu a pena de cinco anos de prisão, em segunda condenação,  pelo sequestro e desaparecimento do poeta Ariel Santibañez, em 13 de novembro de 1974.
     Esta relação estaria incompleta se não nomeássemos também o poeta andaluz Federico Garcia Lorca, que aos 38 anos cai metralhado em Granada, como uma das primeiras vítimas da Guerra Civil Espanhola e do célebre poeta inglês Lord Byron, que morreu em Missolonghi, aos 36 anos, quando lutava pela independência da Grécia.
     Os poetas não morrem jamais, seguem vivos no lirismo e na magia dos seus versos, na memória agradecida dos povos e nos registros indeléveis da História." 
Manoel de Andrade, poeta brasileiro