sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Sobre a Ascensão do Ocidente

" O Triunfo do Ocidente - a verdadeira história de uma vitória fundada na Razão, Ciência e Liberdade" chegou às Livrarias portuguesas, no final de Setembro último. O seu autor , Rodney Stark, é natural dos Estados Unidos da América. 
Rodney Stark é licenciado em Berkeley, foi professor  na Universidade de Washington e é, desde 2004, professor de Ciências Sociais  na Universidade  de Baylor, onde é também co-director  do Instituto  para o Estudo das Religiões. Autor de 32 livros, está traduzido em 13 línguas , do chinês  ao alemão, do francês  ao japonês. O Triunfo do Ocidente é o seu primeiro livro  a ser publicado em Portugal. 
Na Introdução, sob o título Aquilo que não se sabe sobre a ascensão do Ocidente , Rodney Stark apresenta algumas das razões que conduziram à redacção deste livro. Apresentam-se excertos das primeiras páginas dessa Introdução.

"Este é um livro invulgar: escreve-se ao avesso dos ditames da moda.
Quarenta anos atrás, " Civilização Ocidental" era o curso mais importante e popular no leque de opções disponíveis para os alunos que entravam nas melhores universidades americanas. Cobria não só a história geral do Ocidente como incluía ainda estudos generalizados sobre arte, música, literatura, filosofia e ciência. Mas este curso desapareceu há muito do currículo da maior parte das faculdades com a justificação de que a civilização ocidental é apenas uma entre muitas civilizações e de que estudar essa civilização, que é a nossa, é uma atitude etnocêntrica, uma posição arrogante da nossa parte. 
Ganha cada vez mais terreno a ideia de que abrir um curso sobre "Civilização Ocidental" ´e tornar-se apologista da "hegemonia e opressão do Ocidente" ( nas tão adequadas palavras do classicista Bruce Thornnton) . Assim sendo, Stanford deixou cair o seu curso, altamente cotado, sobre Civilização Ocidental poucos meses apenas depois de o reverendo Jesse Jackson ter entrado no campus, à frente de um grupo de membros da União de estudantes Negros, ao som de cânticos que reclamavam a sua eliminação: " Hey-hey-hey, ho-ho, Western Civ has got to go". (...)
Enquanto prevalecer esta política, será cada vez maior a ignorância dos americanos sobre o processo que deu origem ao mundo moderno. Pior ainda: correm o perigo de ser terrivelmente enganados  por um dilúvio de invenções  absurdas, politicamente correctas, todas elas extremamente populares nos campus universitários: que os gregos  copiaram toda a sua cultura dos egípcios  negros. Que a ciência europeia teve as suas origens no Islão. Que a opulência ocidental foi roubada a sociedades não ocidentais. Que a modernidade ocidental foi roubada a sociedades não ocidentais. Que a modernidade ocidental se iniciou na China e, para dizer a verdade, em tempos não tão longínquos  como isso. A verdade  é que, embora o Ocidente tenha  sensatamente importado da Ásia diversos elementos tecnológicos , a modernidade é totalmente um produto da civilização ocidental.
Uso o termo "modernidade" para definir  essa reserva de conhecimentos e procedimentos científicos, tecnologias de ponta, feitos artísticos ,liberdades políticas, acordos económicos, sensibilidades morais e melhoria de padrões e de vida que caracterizam os países ocidentais e estão agora a revolucionar a vida no resto do mundo. A verdade, porém, é outra: sempre que outras culturas incapazes de adoptar , pelo menos, os aspectos mais significativos do modo  de vida ocidental, o atraso e a pobreza continuaram, nelas , a ser soberanos.
As ideias têm peso
Este livro, contudo, não se limita  a ser um sumário das  aulas-padrão  dos velhos cursos  de "Civilização Ocidental". Apesar do seu valor, esses cursos reflectiam muitas vezes um completo enamoramento pela filosofia e pela arte, eram demasiado relutantes em reconhecer os efeitos positivos do cristianismo e branqueavam inacreditavelmente os progressos na tecnologia, em especial aqueles que transformam ocupações práticas tais como a agricultura e actividade bancária.
Além disso, ao escrever este volume, foi-me muitas vezes necessário contestar os conhecimentos que recebera sobre a história do Ocidente. Para referir apenas alguns exemplos:

  •  Muito além de uma grande tragédia, a queda de Roma foi o acontecimento singular mais benéfico na ascensão da civilização ocidental.Os muitos séculos de embrutecimento sob o domínio romano viram apenas dois exemplos significativos de progresso: a invenção do cimento e a ascensão do cristianismo, acabando esta última por impor-se apesar das tentativas de Roma para o evitar.
  • A «Época das Trevas» nunca existiu - foi, isso sim, uma época de progresso e inovação que incluiu a invenção do capitalismo.
  • Os cruzados não avançaram para Oriente em busca de terras e despojos.Ficaram profundamente endividados para poderem financiar a sua participação naquilo que consideravam uma missão religiosa. A opinião generalizada era a da improbabilidade da sua sobrevivência e consequente regresso a casa ( e, na esmagadora maioria dos casos, foi precisamente isso que aconteceu).
  • Embora a maior parte dos historiadores continue a ignorá-las, as mudanças drásticas no clima desempenharam um papel fundamental na ascensão do Ocidente - a um  período de tempo invulgarmente quente ( de cerca de 800 até cerca de 1250) seguiram-se séculos de um frio extremo, hoje conhecido como a Pequena  Idade do Gelo ( de cerca de 1300 até cerca de 1850).
  • Não houve nenhuma «Revolução Científica» durante o século XVII - as brilhantes conquistas que a caracterizaram foram o culminar do progresso científico normal que remonta à fundação das universidades no século XII por filósofos escolásticos da Natureza.
  • As reformas não originaram a liberdade religiosa: limitaram-se a substituir o monopólio de igrejas católicas repressivas pelo monopólio de igrejas protestantes igualmente repressivas (celebrar a missa, na maior parte da Europa protestante, passou a considerar-se uma ofensa punível como um crime).
  • A Europa não enriqueceu sugando as colónias de todas as suas riquezas; pelo contrário: foram as colónias a sugar a riqueza da Europa - ganhando com isso todos os benefícios da modernidade.
Tanto os textos de apoio como os orientadores dos velhos cursos de Civilização Ocidental se contentavam também em descrever a ascensão da civilização ocidental, evitando de forma geral quaisquer comparações com o Islão ou com a Ásia e ignoravam a questão de porque a modernidade acontecera apenas no Ocidente. É essa a história pouco conhecida que me proponho contar.
Aprofundar esta questão não é ser etnocêntrico: é a única maneira de conseguir perceber, a um nível que não seja meramente superficial, a forma como veio a surgir o mundo moderno e a razão por que isso aconteceu.
Recuando no tempo, observamos que a China estava bem à frente  da Europa no que se refere a muitas das tecnologias vitais. Mas, quando os navegadores portugueses chegaram à China em 1517, foram lá encontrar uma sociedade atrasada onde as classes privilegiadas estavam muito mais preocupadas em estropiar as raparigas enfeixando-lhes os pés do que em desenvolver e aprofundar métodos de agricultura produtiva, apesar de a escassez alimentar e a fome  serem frequentes. Porquê?"
Rodney Stark, in " O Triunfo do Ocidente - a verdadeira história de uma vitória fundada na Razão, Ciência e Liberdade", 1ª edição, Setembro de 2014, Guerra e Paz Editores

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