terça-feira, 8 de julho de 2014

Os abraços de Galeano

“Foi na entrada da aldeia de Ollantaytambo, perto de Cuzco. Eu tinha-me livrado de um grupo de turistas e estava sozinho, olhando de longe as ruínas de pedra, quando um menino do lugar, esquelético, esfarrapado, se aproximou para me pedir que lhe desse como presente uma caneta. Eu não podia dar a caneta que tinha, porque estava a usá-la para fazer sei lá que anotações, mas ofereci-me para desenhar um porquinho na sua mão. Subitamente, correu a notícia. E de repente vi-me cercado por um enxame de meninos que exigiam, aos berros, que eu desenhasse nas suas mãozinhas, rachadas de sujidade e de frio, pele de couro queimado: havia os que queriam um condor e uma serpente, outros preferiam periquitos ou corujas, e não faltava quem pedisse um fantasma ou um dragão.
E então, no meio daquele alvoroço, um desamparadozinho que não chegava a mais de um metro do chão, mostrou-me um relógio desenhado com tinta negra no seu pulso:
Quem me mandou o relógio foi um tio meu, que mora em Lima —disse ele.
E funciona bem? —perguntei.
Atrasa um pouco —reconheceu.”
Eduardo Galeano, in “O livro dos abraços”,  L&PM Editores


Pobres,
lo que se dice pobres,
son los que no tienen tiempo para perder el tiempo.

Pobres,
lo que se dice pobres,
son los que no tienen silencio ni pueden comprarlo.

Pobres,
lo que se dice pobres,
son los que tienen piernas que se han olvidado de caminar,
como las alas de las gallinas se han olvidado de volar.

Pobres,
lo que se dice pobres,
son los que comen basura y pagan por ella como si fuese comida.

Pobres,
lo que se dice pobres,
son los que tienen el derecho de respirar mierda, como si fuera aire, sin pagar nada por ella.

Pobres,
lo que se dice pobres
son los que no tienen más libertad de elegir entre uno y otro canal de televisión.

Pobres,
lo que se dice pobres,
son los que viven dramas pasionales con las máquinas.

Pobres,
lo que se dice pobres,
son los que son siempre muchos y están siempre solos.

Pobres,
lo que se dice pobres, son los que no saben que son pobres.

Eduado Galeano

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