segunda-feira, 2 de junho de 2014

O poeta e a poesia

"O poeta é uma árvore
com frutos de tristeza
e com folhas murchas
de chorar o que ama.

O poeta é o médium
da Natureza
que explica sua grandeza
por meio de palavras.

O poeta compreende
todo o incompreensível
e as coisas que se odeiam,
ele, amigas as chama.

Sabe que as veredas
são todas impossíveis,
e por isso de noite
vai por elas com calma.

Nos livros de versos,
entre rosas de sangue,
vão passando as tristes
e eternas caravanas

que fizeram ao poeta
quando chora nas tardes,
rodeado e cingido
por seus próprios fantasmas.

Poesia é amargura,
mel celeste que emana
de um favo invisível
que as almas fabricam.

Poesia é o impossível
feito possível. Harpa
que tem em vez de cordas
corações e chamas.

Poesia é a vida
que cruzamos com ânsia,
esperando o que leva
sem rumo a nossa barca.

Livros doces de versos
sãos os astros que passam
pelo silêncio mudo
para o reino do Nada,
escrevendo no céu
suas estrofes de prata.

Oh ! que penas tão fundas
e nunca remediadas,
as vozes dolorosas
que os poetas cantam !

Deixaria neste livro
toda a minha alma..."
Federico Garcia Lorca, in  "Este é o Prólogo"- "Antologia Poética", Editora Relógio D'Água

Poesia
Por Henry Miller
"Se a missão da poesia é despertar, há muito tempo que deveríamos ter acordado. É inegável que alguns acordaram. Mas agora são todos que devem despertar - e imediatamente -, senão pereceremos. Só que o homem jamais perecerá, fiquem tranquilos. O que corre o risco de perecer é a cultura, a civilização, o estilo de vida. Quando esses mortos despertarem, e é certo que despertarão, a poesia será a própria essência da vida. Podemos arcar com a perda do poeta se em troca preservarmos a poesia. Não se precisa de papel nem tinta para criar ou disseminar a poesia. De modo geral, os povos primitivos são poetas da acção, poetas da vida. Embora não nos comovam, ainda estão fazendo poesia. Se fôssemos susceptíveis ao poético, não seríamos imunes a seu modo de vida: teríamos incorporado essa poesia à nossa, teríamos impregnado nossas vidas da beleza que permeia as deles. A poesia do homem civilizado sempre foi exclusiva, esotérica. Isso acarretou a sua própria extinção".Henry Miller , in  "A Hora dos Assassinos (Um estudo sobre Rimbaud)",1956 ,L&PM ed.

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