terça-feira, 3 de junho de 2014

Flip, a Festa Literária de Paraty

Vem aí uma Flip mais latina
Ares de mudança sopram em Paraty, anunciando boas tempestades literárias 
"Tudo começa com um novo curador, o jornalista Paulo Werneck, de 35 anos, que foi responsável pelo caderno Ilustríssima, do jornal Folha de S. Paulo, até Agosto do ano passado - e agora ocupa o lugar que foi de Miguel Conde no último biénio. E passa por um bem-vindo esforço de recuperar certo “tiempo perdido”, sem que nos 11 anos anteriores da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) a literatura latino-americana tenha tido presença expressiva.
A actual edição, que acontecerá entre os dias 30 de Julho e 3 de Agosto, começou a ser divulgada no começo de Abril justamente com esse objectivo: mudar a ideia de que a feira, que se tornou uma das mais importantes da região, não se interessa pelos vizinhos. Por isso e pela inegável qualidade de suas obras, o chileno Jorge Edwards, a argentina Graciela Mochkofsky, o mexicano Juan Villoro e o peruano-americano Daniel Alarcón já são nomes confirmados.
Para quem acompanha os rumos da produção literária contemporânea na América Latina, o menu é absolutamente atraente. Mas quem não sabe tanto a respeito ou não se atém a geografias literárias ou utopias regionais, também há muito o que  descobrir e aproveitar.
O veterano do grupo, Jorge Edwards, de 83 anos, é um dos ícones da chamada Geração de 50 chilena, com uma vasta e sólida carreira como escritor de romances e de poesia - ainda que no Brasil tenha só um de seus mais de 20 livros publicados.É um embaixador chileno (actualmente na França), assim como foi o amigo Pablo Neruda, e pelo livro “Persona non grata” (1973), em que relatou a sua experiência como embaixador do governo de Salvador Allende em Cuba durante três meses e meio, fazendo observações pessoais e pouco favoráveis ao regime castrista,  às vezes, visto como um “esquerdista de direita”. Quem edita o autor - prémio Cervantes em 1999 - no Brasil, actualmente, é a Cosac Naify que  lançou (em pré-venda, por enquanto) “A origem do mundo”, que fala sobre a decadência e o renascimento do amor e do desejo, o fracasso dos sonhos políticos e a ficção como elemento de resistência indispensável à vida.Já Juan Villoro é provavelmente o escritor de maior destaque no México nos dias actuais. Com mais de 30 títulos publicados, é um autor prolífico e de interesses variados, que usa as paixões “pop” (rock, futebol, quadrinhos...) como inspiração para uma literatura de qualidade, que  encaixa nos mais variados géneros - inclusive no infantil. É jornalista premiado, dono de uma coluna publicada às sextas-feiras no jornal mexicano “Reforma” e colaborador assíduo de revistas de jornalismo narrativo como a colombiana El “malpensante” e a peruana “Etiqueta Negra”.
Por seu romance “El testigo”, recebeu o prémio Herralde em 2004, e aqui no Brasil é editado pela Companhia das Letras, que já lançou “O livro selvagem” e, para a FLIP, prepara o lançamento de “Arrecife”, sobre a violência no México, vista a partir de um olhar fetichista, explorada em parques turísticos. Outro título seu, “La cancha de los deseos” (“O estádio dos desejos” é o título provisório), que tem a ver com crianças e futebol, será publicado pela Editora Terceiro Nome com tradução de Eric Nepomuceno.
Autora de não ficção, Graciela Mochkofsky é um dos grandes talentos do jornalismo argentino, intensa pesquisadora das relações entre Media e poder em seu país. Seu livro mais famoso é “Pecado original” (2011), uma reportagem literária sobre a disputa do casal Kirchner e o jornal “Clarín”, expondo interesses políticos e económicos de ambos os lados. Ainda é autora inédita em português, mas já colaborou algumas vezes com a revista Piauí. É editora da revista online “El puercoespín”.
Finalmente, o peruano Daniel Alarcón, radicado nos Estados Unidos desde os oito anos, é um autor de 37 anos que figura em várias listas de melhores escritores latino-americanos, como a da Granta em espanhol. Escreve em inglês, mas seus temas passam quase sempre pelo Peru de sua infância e também pelas ruas de sua Lima imaginada - como ele mesmo diz. É jornalista, editor associado da revista Etiqueta Negra, colaborador da revista The New Yorker e produtor executivo de uma rádio online especializada em crónicas de personagens latino-americanos.
No Brasil, tem publicado pela Rocco o romance “Rádio Cidade Perdida”, em que lança um olhar sobre o terrorismo numa nação indefinida e conflituosa. Durante a Flip, ele lançará seu trabalho mais recente, “À noite andamos em círculos”, com, novamente, a violência política de pano de fundo, pela Alfaguara.” Artigo de Camila Moraes, in Opera Mundi, São Paulo ( adaptado)

Em Portugal, na Casa da América Latina:

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