terça-feira, 10 de junho de 2014

Celebrar Portugal com Camões

Que me quereis, perpétuas saudades?

Que me quereis, perpétuas saudades?
Com que esperança ainda me enganais?
Que o tempo que se vai não torna mais,
e se torna, não tornam as idades.

Razão é já, ó anos, que vos vades,
Porque estes tão ligeiros que passais,
Nem todos para um gosto são iguais,
Nem sempre são conformes as vontades.

Aquilo a que já quis é tão mudado
que quási é outra cousa; porque os dias
têm o primeiro gosto já danado.

Esperanças de novas alegrias
não mas deixa a Fortuna e o Tempo errado,
que do contentamento são espias.
Luis de Camões, in “ Poemas Portugueses Antologia da Poesia Portuguesa do Séc. XIII ao Séc. XXI”, Porto Editora
Luís Vaz de Camões (nasceu em 1524; morreu em Lisboa, a 10 de Junho de 1580).




Com que voz chorarei meu triste fado,
que em tão dura paixão me sepultou.
Que mor não seja a dor que me deixou
o tempo, de meu bem desenganado.

Mas chorar não estima neste estado
aonde suspirar nunca aproveitou.
Triste quero viver, pois se mudou
em tristeza a alegria do passado.

Assim a vida passo descontente,
ao som nesta prisão do grilhão duro
que lastima ao pé que a sofre e sente.

De tanto mal, a causa é amor puro,
devido a quem de mim tenho ausente,
por quem a vida e bens dele aventuro.

Poema de Luís Vaz de Camões, música de Alain Oulman
Alain Oulman  (15 de Junho de 1928, em Cruz Quebrada-Dafundo, 29 de Março de 1990 em Paris )

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