terça-feira, 1 de abril de 2014

Saudade

       
                              “ L’expression d’un sentiment est toujours absurde”  Paul Valéry

Regressar ao meu país  é sempre um exercício de profundo prazer e de grande emoção. Senti-o inúmeras vezes. A sensação de retorno ao chão que nos é familiar supera a alegria do filho pródigo que regressa a casa.
Não foi um abandono. Não foi uma deserção. Não foi um mal-querer. Não foi uma desilusão. Não foi um ponto final e nem sequer uma interrupção. Foi tudo e desse tudo nunca foi nada. 
Foi um sair para voltar. Foi um deixar para retomar. Foi um adeus para acenar. Foi um partir para regressar.  Foi um interromper para recomeçar. 
E recomeçar é amar. E amar é redescobrir. E redescobrir é sonhar. E sonhar é estar aqui. 
Aqui, com  as palavras  que se soltam sem comando . Palavras que acorrem para redesenhar uma saudação. Palavras que pretendem apelar. Palavras que gritam e acenam: estamos aqui. Sejam bem-vindos.
Neste espaço que esteve vazio, mas nunca ausente, retomo o meu país. 
O meu país de dias claros e sol dourado ausentou-se. No entanto, o  meu país permanece inteiro, igual ao dia em que parti. Cinzento, crispado, mergulhado numa Primavera chuvosa que pretende anunciar um Abril distante onde o sonho comandou e a utopia se esfumou.
O meu país tem dias, semanas, meses, anos de diferentes tempos e de tempo diferente. O meu país é um país diverso mas adverso à monotonia. O meu país teima em vingar apesar de renitentemente crísico. O meu país assume-se altivo nesta costa ocidental de uma  Europa decrépita e  decadente  em usos e costumes. O meu país alcança o mundo. E o mundo vem ao meu país. O mar acorda-o , embala-o e, por isso,  o meu país cheira a maresia.
O meu país tem um nome : Saudade.

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