quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Todos os nossos sentidos

A sós com a noite

A luz que se arredonda
Alongando uma sombra sozinha
A saudade a bater
Uma dor que ao doer é só minha
Um desvio inquieto
Um olhar indiscreto na esquina
Um rapaz de blusão
Arrastando pela mão a menina
Passa um velho a pedir
Incapaz de sorrir pelos passeios
Um travesti que quer
Assumir-se mulher sem receios
O alarme de um carro
Um cigarro apagado indulgente
Um cheiro inusitado
O semáforo fechado para a gente
Sobe o fado de tom
E o fadista que é bom improvisa
Estão em saldos sapatos
Desce o preço dos fatos de cor lisa
Um eléctrico cheio
Uma voz de permeio vai chover
Bate forte a saudade
Como é grande vontade de te ver

'A Sós com a Noite' (letra e música: Jorge Fernando), in álbum 'Para Além da Saudade' (2007)

Para além da saudade

Vaga, no azul amplo solta,
Vai uma nuvem errando.
O meu passado não volta.
Não é o que estou chorando.

Lo que lloro es diferente
Está en el centro del alma
Mientras, en cielo silente
La nube se mece en calma

E isto lembra uma tristeza
E a lembrança é que entristece,
Dou à saudade a riqueza
De emoção que a hora tece.

Pero al fin, lo que es llanto
En esta triste amargura,
Vive en el cielo mas alto.
En la nostalgia mas pura.

No se lo que es, ni consiento / Não sei o que é nem consinto
Al alma saberlo bien. / À alma que o saiba bem.
Visto el dolor con que miento / Visto da dor com que minto
Dolor que en mi alma es ser. / Dor que a minha alma tem
Fernando Pessoa
Música de Patxi Andión



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