segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

To Night

IR

A minha intenção
 se a tivesse
 Era interromper de vez em quando as vossas falas
 E fazer-vos voltar a cabeça silenciosos
 Na única direcção em que os versos existem

Alberto de Lacerda, in “Poemas Portugueses,  Antologia da Poesia Portuguesa do Séc. XIII ao Séc. XXI”, Porto Editora


To Night
Esta noite vou embebedar os meus navios
Rasgar os meus poemas
e as minhas raras (raríssimas)
Cartas de amor

Esta noite vou ser horrível
Pior do que o costume
Vou desabobadar os céus da minha esperança
Viga por viga, estrela por estrela

Esta noite vou embebedar os meus navios
Vou deixar de falar a imensa gente
Vou encontrar um sábio chinês
Que me recitará poemas muito simples
Insuportáveis de tão belos

Esta noite vou destruir mapas antigos
Abrir certas janelas e quebrar
A possibilidade de alguém mais entrar na minha vida

Esta noite vou pedir perdão aos meus amigos
E escrever uma última carta sem a mínima sombra de sentimentalismo

Esta noite vou embebedar os meus navios
Alberto de Lacerda, in “ Antologia da Poesia Portuguesa Contemporânea, Um Panorama”,organização de Alberto da Costa e Silva e Alexei Bueno, Lacerda Editores

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