segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Vozes da Literatura

"Como na esfera política, ensina-se a criança que ela é livre, é uma democrata, dispondo de vontade própria e mente livre, morando num país livre, e podendo tomar suas próprias decisões. Ao mesmo tempo, ela é prisioneira das suposições e dos dogmas de sua época, que ela não questiona, porque nunca lhe disseram que eles existiam. Quando um jovem chega à idade em que precisa escolher (continuamos a aceitar sem discutir que a escolha é inevitável) entre as artes e as ciências, ele costuma escolher as artes porque julga que nesse campo há humanidade, liberdade e opção. Ele não sabe que já se emoldurou ao sistema, não sabe que a própria escolha é resultado de uma falsa dicotomia enraizada no coração de nossa cultura. Os que o percebem e que não querem submeter-se a mais padrões, tendem a ir embora, num esforço meio inconsciente e instintivo de encontrar trabalho onde eles, como pessoas, não serão divididos entre si mesmos.“ Doris Lessing, in  Prefácio d' "O Caderno Dourado" , Editora Record
Morreu Doris Lessing, “uma das grandes vozes literárias do século XX"
A escritora britânica Doris Lessing, prémio Nobel da Literatura em 2007, morreu, ontem,  aos 94 anos
"Produziu cerca de um livro por ano, em quase 40 de escrita. Nobel da Literatura 2007, a britânica morreu ontem, aos 94 anos, em Londres
Poderia ter sido médica e não se teria dado mal como agricultora. "E muito mais coisas. Tornei-me escritora por frustração, motivo pelo qual, penso eu, muitos escritores se tornam escritores." A entrevista à "The Paris Review" é de 1987, vinte anos antes dessa notícia que chegou entre alcachofras e cebolas, com a banalidade de uma ida rotineira ao supermercado. "Sabia que ganhou o Nobel da Literatura?", pergunta-lhe o repórter da Reuters. "Oh Christ", solta Doris acabada de chegar das compras, voltando-se de imediato para trás para soldar a dívida da corrida com o taxista. No ano seguinte, à revista "Time", Lessing desvaloriza a invocação do nome do filho de Deus e a aparente excitação do seu desabafo. "Se me é permitido ser mazinha, a Suécia não tem mais nada. Não há grande tradição literária portanto tiram o maior partido possível do prémio." Bastava então que o ouvido estivesse ligado até ao final da frase para perceber que há poucas coisas mais aborrecidas que ser abordado quando há sacos para descarregar. "I couldn't care less". Para o bem e para o mal, a idade pouco ensina a amestrar os desencantos da infância e no estádio de adulta manteve-se igual a ela própria: controversa, de língua sem rédea e cabeça livre de restrições. "À medida que envelhecemos, não ficamos mais sensatos. Ficamos irritáveis", dizem os cabelos grisalhos à mesma publicação, indiferentes a cartas de apresentação dos senhores da academia, que louvaram a autora de "épicos sobre a experiência feminina", um sucedâneo de feminista, rótulo que a britânica enjeita - mas que na verdade recusaria menos que a brandura do eufemismo.
 Segundo Vinicius Jatobá,( escritor e crítico literário brasileiro), "a maior herança de Doris Lessing é uma atitude: seus livros sufocam, constrangem, não negoceiam. E isso porque sua grande cruzada sempre foi ideológica. Por trás de uma gramática que engloba conflitos entre indivíduos e sociedade, entre assumir um papel e uma responsabilidade determinada, seja no coração de uma família, como mãe e esposa, ou perante um partido e sindicato, há uma escrita feita de uma pátina de cores muito contrastantes - sem zonas de cinza. O que busca é retratar a verdade por trás das grandes ideias, e palavras. Toda rudeza de sua literatura é provocada por um compromisso inalienável com a verdade."
Nascida a 22 de Outubro de 1919 em Kermanshah na Pérsia, actualmente Irão, Doris Lessing é autora de uma obra vasta e diversificada com cerca de 50 títulos. Ficou conhecida pela sua militância de esquerda, mas também pelas suas posições anti-apartheid, anti-colonialistas e feministas." Artigo baseado em  recortes da imprensa e outros
Primeiro Poema
A palavra , vida inteira, mata.
O seu silêncio não fala nem cala: ri.
Sem antes, nem depois, nem agora.
É o infalável que fala.
Não o ouças: ouve-o.
Oh, falar sem ouvir,
como ri o riso
pleno dos mortos 
os meus e os teus mortos 
debaixo de nós. 
Manuel António Pina,1991 in " Primeiros Poemas - Todas as Palavras, poesia reunida" Assírio & Alvim, Abril de 2012 


Celebrar Manuel António Pina
"Os 70 anos do nascimento do escritor, falecido o ano passado, serão assinalados com diversas iniciativas que incluem leitura de poemas em cafés e locais que Pina frequentava, no Porto.
Um grupo de mais de 30 pessoas vai formalizar, em breve, a constituição do Círculo Literário e Artístico Manuel António Pina, anunciaram à Lusa dois dos fundadores desta associação, que pretende promover a figura do escritor e jornalista.
O anúncio é feito quando passam, nesta segunda-feira, 70 anos do nascimento do escritor, falecido o ano passado, data que será assinalada com diversas iniciativas que incluem leitura de poemas em cafés e locais que Pina frequentava, no Porto.
Agostinho Santos, artista plástico e jornalista, e Luís Humberto Marques, director do Museu da Imprensa, afirmam que “o leque de fundadores ainda não está fechado”, mas quiseram anunciar na altura do aniversário do escritor.
Os artistas José Rodrigues, Armando Alves, Graça Morais, os jornalistas Sérgio Almeida, Fernando Martins, Leite Pereira e Manuel Tavares, o director da Faculdade de Belas Artes, Francisco Laranjo, o presidente da cooperativa Árvore Amândio Secca, o subdirector do Museu Reina Sofia, João Fernandes, a presidente do Instituto Politécnico do Porto, Rosário Gambôa, e os familiares directos de Manuel António Pina, são algumas das pessoas anunciadas como integrando esta iniciativa.
O objectivo da associação é “promover sem fins lucrativos e por todos os meios ao seu alcance, o desenvolvimento de actividades culturais e científicas relacionadas com a vida e obra do jornalista e escritor Manuel António Pina”.
A edificação de um busto na cidade, que conta com a oferta de José Rodrigues para a concepção, é uma das primeiras iniciativas em ideia, revelou Agostinho Santos.
Hoje, segunda-feira, dia em que o escritor faria 70 anos, o Museu de Imprensa promove a leitura de dez poemas em sete locais frequentados pelo escritor, numa iniciativa intitulada “7 X 10 - Homenagem a Manuel António Pina”, que inclui também o descerrar de placas de homenagem.
O périplo poético que, do Museu, passa, a partir das 12:00 horas, pela padaria Ribeiro, Livraria Lello, café Piolho, estação de metro da Trindade, terminando nos cafés Orfeuzinho e Convívio, local onde a leitura caberá ao actor António Capelo. Neste local, haverá também um momento de fado, com Helena Sarmento, que interpretará “saudades da Prosa, de Manuel António Pina. “Lusa

Sem comentários:

Enviar um comentário